Anti-herói Invocado - Capítulo 16
— Até parece que foi ontem. Ainda assim, três meses depois, posso sair desse lugar. Sei que não foi visitá-los nenhuma vez desde aquele dia, mesmo que esteja bem distante de vocês, espero que estejam bem.
Aquele sol que mesmo forte, não trazia calor algum com sigo, iluminando não só Miguel, mas todo o lugar onde estava.
O garoto estava sentado na grama de olhos fechados, a sua direita havia uma pequena barraca improvisada, feita de madeira e conjuntos de folhas. A sua esquerda, havia o início daquela floresta, poucos metros longe do garoto.
— Não acho que tenho mais muito tempo, vou me preparar pra… sei lá.
Miguel se apoia em seu joelho e levanta vagarosamente. Já ereto, ele vai até a barraca e começa a amontoar todas as coisas que podia lá.
—Não tenho tempo pra dormir aqui hoje, vou arrumar o restante e ralar peito.
Em meio a todos os entulhos e restos de comidas e galhos, o garoto pegou uma camisa escolar e a vestiu por cima da que já usava.
Após olhar por mais um tempo todas aquelas sobras, o garoto pegou mais alguns panos e se levantou.
— Preciso de carne de novo, o que vou achar hoje?
O garoto desceu um pequeno morro de pedras, pedra pó pedra enquanto segura sua perna, se deparando com a floresta a sua frente. Miguel empina seu nariz e da várias fungadas, até se virar em uma única direção.
— Fudeu, fudeu, fudeu. — disse Miguel, enquanto subia rapidamente o morro de pedras.
Miguel se deitou e continuou olhando fixamente na parte inferior do morro. Após alguns segundo, um barulho altíssimo era ouvido, além dos estrondosos passos, uma poeira se levantava em uma direção distante, se aproximando rapidamente.
Em menos de dois minutos, um bando de animais grandes semelhantes a bois comuns, corriam em conjunto, logo abaixo do morro.
“Que perfeito”.
Miguel segurou em uma corda e a puxou com força. Com quase todo o bando já tendo ido embora, uma grassa corda é erguida pelo caminho onde o bois passavam, fazendo o último tropeçar e rolar pelo chão.
— Sem tempo!
Miguel pulou pó cima do animal é cravou-lhe uma adaga cinzenta, que fez o animal se contorcer.
Não demorou muito e o bovino já estava se levantando. Miguel não esperou e cravou novamente a faca no adversário, duas vezes maior que o garoto.
O garoto puxou a adaga desde onde havia feito o corte nas costas do animal, até sua barriga, causando um enorme buraco e seu estômago.
Após aquele enorme buraco por onde as tripas daquele animal vazavam, o boi cai no chão gritando e diminuindo os movimentos a cada segundo.
— Servir vai né.
Miguel abaixou-se ao lado do animal, que dava leves respiradas. Ele passa a faca na pele do animal abrindo ainda mais sua barriga.
Com mais cortes, Miguel separa alguns pedaços de carne e os guarda no anél.
— Também preciso da sua pele.
Após arrancar toda a pele possível das costas do animal, Miguel da continuidade a caminhada nesta direção de onde o bando havia partido.
— Imagino o tempo que vou ficar nesse caminho reto, haaa. — Suspirou Miguel, fazendo o pequeno vapor do frio sair d sua boca.
Miguel continuou sua caminhada, acelerando seus pessoas a cada pisada no chão que dava.
Já haviam se passado algumas horas, e mesmo ofegante poucas gotas de suor haviam sido expelidas pelo garoto.
— Chega, melhor dormir agora.
Procurando pelo local amis calmo aos arredores, o garoto se depara com um grande conjunto de raízes, onde coloca vários panos e tecidos, deitando-se e se enrolando neles, sem deixar nem uma parte do corpo para fora.
A noite já havia chegado e junto com ela o frio, o frio mais árduo possível, não só frio mas também os fortes ventos que podiam até mesmo atravessar todas aquelas camadas de tecido.
Ofegante, Miguel se encolheu no casulo e aguardou pacientemente pelo sono.
Com a noite tendo passado, o joven, com calafrios se desenrolando vagarosamente até sua pele estar em contato direto com o ar frio.
Tremendo agitadamente em busca de calor, Miguel finalmente sente a fraca luz do sol acariciar sua pele.
Ele pegou um cantil d’água e o bebeu como se fosse a última vez em que o faria. Hidratado, em um levantar repentino, Miguel guarda tudo e volta a peregrinação.
Em passos vagarosos Miguel anda pela floresta em linha reta sem tirar seus olhos do caminho.
“Não posso parar nem perder o foco”.
A caminhada constante do jovem é interrompida por um alto ronco.
— Hora de comer!
Empilhando diversos galhos de madeira e gramas secas no chão, Miguel acende uma pequena fogueira. Após espetar diversos cubos de carne em um graveto, Miguel o apoia sobre a fogueira.
Pouco tempo havia se passado e o garoto já estava comendo a carne assada.
Já alimentado, sem perder tempo, o garoto levanta rapidamente e volta a seu curso, mau um dia estava chegando ao fim e ele não havia tido sequer sinal de uma saída daquele lugar frio e escuro.
Após mais tantas horas de caminhada, Miguel já estava se preparando para se enrolar novamente no amontoado de couros.
Encolhido ao máximo possível, que sequer tinha ventos penetrando até encostar em sua pele.
Ele já estava de pé, naquela floresta e quase não se podia ver algo que não fosse branco, a neve havia tomado conta de todo o local, o frio já não era mais o mesmo.
Tendo sua boca em um estado de completa rachadura, além de várias partes de sua pele já estarem azuladas, quase no estado de congelamento.
Com passos ainda mais vagarosos que das últimas vezes, ele continuou seguindo por mais um dia, sem parar por nem um segundo.
“Como seria se eu fosse resistente… pudesse reagir curar… ou ate me esquentar com fogo, seria mais fácil?”.
Sem parar para dormir, Miguel continuou caminhando até mesmo pela noite, o frio parecia bater em um lado de sua pele e sair pelo outro.
De repente, um forte calor acolhe o garoto, sua pele roxa era iluminada e aquecida, enquanto a luz à sua frente aumentava cada vez mais. Logo a sua frente estava o fim da floresta de gelo, Dinori.
Em um mórbido levantar de mão na direção da luz, Miguel cai como uma pedra sobre o chão. Sendo coberto com cada vez mais neve.
“Então é assim… tão forte e poderoso… que desgraça!”.
Miguel fecha seus olhos enquanto sua respiração ofegante cessa rapidamente.
“Não! Já tô aqui… Só preciso… continuar!”.
La estava, o garoto usando todos os suspiros possíveis pra que estivesse finalmente de pé. No entanto aquele não era o mesmo cenário do qual esteve nos últimos dias. O chão, antes branco; agora estava negro, semelhante a mármore, a sua volta tudo era breu, tirando pelas gotas de vermelho, que parecia ter início em algum lugar lá em cima.
Miguel caminha vagarosamente em linha reta enquanto desvia seus olhares para todos os lados em busca da origem dos sons que ouvia, frases baixas, rocas e cortadas pela metade, tinham um eco que ressoava de todas as direções.
O chão onde colocava seus pés, faziam pequenas ondas como a água, por mais que o chão fosse claramente sólido.
Olhando para frente, ele vê a silhueta infantil de costas para ele e escondido nas sombras. Enquanto Miguel se aproximava da silhueta, a mesma vira sua cabeça na direção do garoto.
Em seguida, ouviu um grito juvenil em suas costas, ele se vira rapidamente e vê um homem de cabelos longos e cacheados além de sua barba suja e mal feita. O homem espancava uma criança até que seus hematomas e machucados se abrisse e sangrassem.
O garoto mal reagia, além dos gritos, seu corpo não podia se mover nem por alguns centímetros.
— Não!
Miguel tenta segurar o homem, mas antes mesmo de se encostarem ele e o garoto no chão simplesmente evaporaram como fumaça.
Outro grito era ouvido de suas costas, ele se virou mas a cena era diferente, com posições estavam invertidas e agora o imobilizado é o homem, que era esfaqueado pela garrafa quebrada na mão da criança.
— Nojento né… Você que fez isso, lembra?
Miguel ainda com os olhos saltados e boquiaberta, se vira lentamente e olha para a silhueta ao seu lado.
— Seríamos descobertos em algum momento, por sorte aquele portal te salvou.
De repente um pano caiu sobre os olhos de Miguel, cobrindo completamente seus olhos.
— O qu- é iss-
Do garoto nenhuma palavra saia completa, tanto sua boca como sua garganta pareciam roxas e secas.
— osjsnáoSejdidpreucupe.
“O que é isso? Acho que ouvi alguém”.
— Vocêsysjestá melhor siaqui.
— O que!
Miguel se levantou desesperadamente, assim que abriu seus olhos lá estavam a moça e pouco atrás um idoso. Os dois tinham roupas tão simples como a sua, suas peles eram levemente escuras, o idoso parecia tão velho que nem sequer podia abrir completamente os olhos.
— Quem… São vocês?
Obstáculos dois pareciam surpresos, o idoso nem tanto, mas a mulher quase derrubou a cadeira em que estava.
— Quizano kawanai juntas.
“Tinha certeza que ouvi ela falar mais cedo, mas isso parece outra língua. Pra falar a verdade, até mesmo minha voz está estranha”.
— Pranjis noty, quer?
“Parece que a língua está mudando?”.
— Você gostrat nasp.
— Você… me entende?
— Sim, entendo, — respondeu a moça.
Miguel saltou os olhos por um estante. As frases confusas que a mulher proferia, agora pareciam português comum.
— Por favor, durma. Você precisa descansar.
— Não dá tempo, eu…
A fala de Miguel foi interrompida por uma grande tontura, sem poder reagir, o garoto cai inconsciente na cama onde estava.
A coberta que cobria Miguel, já havia caído, sua pele estava exposta, desde seus pequenos músculos até os enormes hematomas que rondavam seu corpo.
Pelo chão, o pouco de grama que restava já estava sendo coberta pela neve, em alguns locais se podia até mesmo se esconder dentro.
Enquanto aquele vento soprava da direção da floresta para o resto da planície até onde a vila se expandia e além. Miguel usava toda a força do seu corpo para puxar o tronco que estava logo a seus pés.
“O tempo do acordo já tá acabando, eles não gostam de turistas então me deixaram ficar por apenas cinco dias, enquanto isso eu tô aqui levando madeira”.
Miguel pega o tronco e o rola pelo morro de neve, sem a mínima dificuldade o tronco desce ladeira a baixo e Miguel desce logo atrás.
“A diferença do frio da floresta para a parte de fora é… bem diferente. Acho que tive muita sorte por ter encontrado humanos de primeira”.
Enquanto rolava aquele tronco, Miguel observava fixamente para os estranhos homens montados a cavalo, que estavam na vila.
“O que é aquilo? Não me lembro de terem cavalos na vila”.
Deixando o tronco para trás, o garoto vai rapidamente em direção a vila. O garoto se esgueira pelo chão e os observa a distância.
— Não importa, é a lei. Se até o final do mês não pagassem os trinta Phil de bronze, deveríamos aplicar a punição.
— Não, por favor!
O idoso que era intimidado pelo homem em cima do cavalo se ajoelhou em súplica. Ainda que o homem nem sequer tivesse abaixado a cabeça para olhar para o velho.
“Por que Gritil esta ajoelhado?!”, — Miguel continuava escondido, o suficiente para nem sequer pudesse ouvir a conversa.
Após alguns segundos observando o velho, o homem passou sua espada pelo seu pescoço. Assim como manteiga, o corte foi rápido, fazendo aquela cabeça voar por um instante.
— Esse não é o primeiro aviso! Já é a segunda vez que passamos aqui nesse mês, precisamos de algo que tenha o mesmo valor ao menos!
Enquanto alguns entraram em prantos, outros corriam com suas crianças ou procuravam por objetos em suas casas e levavam até o homem.
Nenhum dos três homens se sustentava com os objetos, era óbvio que nada que eles trouxeram tinha valor relevante. Isso parecia deixar os soldados extremamente irritados, os mesmos descontaram toda a fúria nos aldeões com suas espadas.
Na mesma velocidade que Miguel corria desesperado em direção aos soldados, os mesmos espalhavam sangue e órgãos pelo chão e parede das casas.
Miguel interrompe a chacina com seu grito agonizante, — Parem!
Assim como Miguel, um dos soldados saca sua espada imediatamente, tomando a frente do outros soldados, ele tira seu capacete e encara o garoto.
— Viu aquilo? Ele tem uma arma bem chamativa.
— Sim, com certeza vale algo, deve pagar as contas. Pegue-a e nos encontre na casa do lorde.
Sem hesitar, os dois soldados abandonam seu companheiro e partem na direção contrária. Enquanto o mesmo se aproxima cada vez mais do garoto.
Um veloz ataque na horizontal surpreende o garoto, um segundo antes do agachamento e seu pescoço já teria sido degolado.
O garoto fez um contra ataque direcionado e garganta do soldado, um corte falho, apenas um pouco de sangue da bochecha é arrancado.
— Você é rápido. Tenta desviar!
O soldado puxou sua espada de um lado para o outro, desferindo vários golpes no garoto, enchendo sua barriga de cortes.
O garoto soltou sua arma no chão, e levou sua mãos até o chão antes de bater sua cara.
— Deu até pra cansar. Pro seu azar eu só quero essa arma aqui.
Com fúria nos olhos, Miguel encara o soldado, enquanto o mesmo se vira e sobe no cavalgando na mesma direção em que os outros haviam partido .
Miguel se levantou com dificuldade, cerrando seus dentes e apertando seus punhos, — “Sem problemas”. — Ele fecha os olhos e respira lentamente.
— Se-seu Demônio.
— O que? — disse Miguel, enquanto abria seus olhos.
Pouco distante de si, um garotinho com olhos lacrimejando olhava para os corpos despejados no chão. — A culpa é sua. Vo-você nem conseguiu lutar!
— Não se preocupe eu…!
— Como assim, minha mãe está machucada ali por sua causa!
— Mas eu. — Bastava um olhada rápida pra perceber todos aqueles olhares recados sobre Miguel.
O garoto corre para longe da vila sem olhar para trás, enquanto segura fortemente a camisa contra sua barriga, que se suja a cada vez mais com o sangue.
— Bando de… “A culpa não foi minha, de novo não. Eram eles que deviam!”.
Miguel continua caminhando, tomando o mesmo sentido que o ladrão, que tinha apenas deixado pegadas para trás.
O garoto diminui cada vez mais sua velocidade ate estar se rastejando até as árvores. Miguel vira sua cabeça para o lado e vomita tudo em seu estômago, na maioria sangue.
“Dessa vez não passa”.
Miguel se levantou e encarou o caminho de neve que adentrava as árvores logo a sua frente. Passo por passo, o garoto adentrava aquele lugar frio.
Entre suspiros e sangue, o garoto ofegante permanecia com seus olhos fixos no caminho.
— Não se preocupem, já estou indo resolver o problema de vocês.