Anti-herói Invocado - Capítulo 21
Rodeados por enormes árvores que deixavam o local quase tão escuro quanto a noite, os tinidos de metal se batendo ecoavam pela floresta, mesmo que houvessem grandes pausas entre um e outro, não cesavam.
A espada de Miguel se movia de forma lenta, parecia exercer um grande esforço para balança-la somente para ser repelida por Brick do qual nem mesmo parecia estar realmente sentindo o peso da sua.
O suor que escorria do garoto parecia suficiente para encher uma banheira. Seus braços tremiam só de segurar a espada, ele provavelmente a derrubaria em alguns minutos, nem mesmo um descanso parecia ser suficiente para se recompor.
— Vamos garoto! Como pode ser tão fracote.
— A culpa não minha, tô segurando isso a horas!
— Então a culpa é de quem?
Miguel usa a força restante para colocar a espada acima da cabeça, e desfere um golpe contra o homem. É óbvio que não tem efeito, Brick nem mesmo parecia dar atenção.
— Chega. Vamos sentar um pouco.
Miguel desaba no mesmo segundo, a única coisa que mostrava que ainda estava vivo era sua respiração cansada e constante.
— Achei que seria melhor fazer isso aqui na floresta já que é bem fresco, mais você se cansa tão facilmente e tudo que fez foi decorar alguns golpes.
Aquele local realmente parecia ser o mais frio das redondezas, no entanto Miguel permanecia em desvantagem, afinal Brick parecia enxergar normalmente naquele breu e não parecia ter muito problema com aquele chão desnivelado que mais parecia uma trincheira cheia de raízes.
— Brick, sério; porque isso precisa ser tão intenso, pelo menos me deixa dar pausas maiores.
Sentado, Brick olha seriamente para garoto, — Miguel, eu não sei de onde vocês vem, não sei oque tem lá, mas parece ser bem diferente, quase um paraíso. A situação aqui é outra. Goblins são lixo, você não luta só com humanos, pode morrer até mesmo pra uma árvore mutante.
Brick estava certo, Miguel estava fazendo algo comum naquele mundo, algo que todos os soldados passavam e ainda poderiam morrer mesmo sem poderem fazer algo.
— Tem razão. Acha que consigo ficar forte só fazendo isso?
— Talvez, mas esse é um dos jeitos mais difíceis de chegar ao topo.
Miguel levanta sua cabeça com dificuldade e encara Brick que estava próximo de si com um rosto confuso, — O que quer dizer?
— Sabe, você pode treinar e ficar meio forte, achar alguma arma muito foda dando bobeira por aí ou simplesmente nascer com talento.
— E como foi pra você?
— Eu te conto se você decorar mais essa sequencia de três golpes… Caramba tá ficando meio frio ultimamente.
Miguel parecia ter sido atiçado por Brick, logo já estava de pé empunhando sua espada, mesmo que ela continuasse tão pesada quanto antes.
Antes que Brick se posicionasse para demonstrar os novos golpes para Miguel, ele é interrompido pelo mesmo.
— O frio provavelmente deve vir da neve lá de trás, mas ela parecia ter um limite no meio do campo.
Enquanto Miguel se posiciona para copiar os novos golpes, algo arranca sua atenção. Brick permanecia estático e boquiaberto, com seus olhos saltados encarando o nada.
— Brick, tudo bem aí?
— Ei, você… você falou sério sobre a neve?
Ao mesmo que Miguel afirmava com a cabeça, o homem muda, uma expressão que o garoto jamais havia visto nele, por mas que conhecesse, aquilo era o medo, ele quase podia ouvir seus dentes se batendo.
Imediatamente ele para o que estava fazendo e guarda tudo que havia retirado da bolsa. Enquanto Miguel tentava compreender o que se passava, Brick coloca a bolsa nas contas e pega a espada das mãos do garoto.
— Vamos não temos mais tempo, precisamos voltar agora!
— Oque?!
Brick não perde tempo e corre em direção a cidade. O garoto sem mais opções apenas o segue antes que esteja longe demais para achá-lo.
Miguel parecia usar toda a força de suas pernas apenas para tentar alcançar o homem que nem sequer parecia estar em força total, provavelmente para que o garoto não o perdesse de vista.
Era perceptível que de repente Brick estava diminuído a velocidade até que apenas alguns metros estejam entre eles. Uma distância boa o suficiente para que eles pudessem se ouvir.
— Aqui é muito fechado não posso te carregar. Nos precisamos ir por cima pra chegarmos mais rápido.
Antes que Miguel pudesse questiona-lo, o homem da um salto tão poderoso que o joga quase mais alto que as próprias árvores. Ele parecia caminhar tão firme naqueles galhos quanto pelo chão.
Enquanto Brick sumia nas árvore, Miguel era consumido pelo nervosismo, era arriscado, uma coisa que nem sequer ele havia feito até agora, ele precisava pular quase tão alto como aquele brutamontes e se equilibrar tão bem quanto ele.
Não precisava pensar muito para saber que era impossível um pulo daquele, talvez houvesse algo que o pudesse ajudar a pelo menos diminuir a altura entre eles. Uma breve avaliação e logo algumas árvores quase caídas ao redor são perceptíveis.
Mudando de direção para a árvore, sem nem mesmo cuidar aonde pisa, ele corre até a ponta do tronco e salta. Não era tão alto quanto Brick mas era o suficiente para chegar a um galho qualquer.
— Uooou! Espera, Brick como eu pulo de um para o outro?!
Ele já nem estava mais visível, havia corrido tão depressa que agora tufo que restava para Miguel era correr em Lu reta com a esperança de chegar a algum lugar familiar.
Evitando ao máximo olhar para baixo e provocar uma queda de quase cinco metros, o garoto apenas pula sem pensar esperando chegar a um outro galho seguro, e por mas que apenas suas mãos encostem em algo, não demora para que o garoto suba e esteja preparado para pular novamente.
“Não é uma boa ideia não prestar atenção no pulo. Mas isso é bem alto, que merda!”, — Miguel procura por um galho descente com os olhos e pula novamente. Sem pestanejar novamente ele já pula para outro até que a velocidade o impedisse de parar.
Embora quase houvesse uma queda a cada três saltos, seria difícil Miguel cair na velocidade em que estava. Nem demorar muitos minutos e logo as costas de Brick já eram visíveis alguns metros a frente, era claro que o único jeito de Miguel alcança-lo era com ele estando parado.
Brick parecia balançar sua cabeça de um lado para o outro em busca de algo pela cidade que aquele ponto já era visível para os dois. Assim que Miguel se aproxima, logo ele levanta e se vira.
— Já chegamos? O que você está procurando por aí em?
— Depois te explico, agora que não tem mais floresta posso nos levar rapidamente até a torre.
Sem poder reagir assim que chega em um galho mais próximo ao Brick, ele de repente está sendo carregado pelo ombro. Em um simples movimento o homem havia pegado o garoto e já parecia estar se preparando para continuar.
— Maluco espera aí!
A repentina pressão do ar assusta Miguel, ele está a no ombro de Brick e tudo que podia ver além de suas costas era os lugares pó onde passavam, no entanto agora ele estava a pelo menos dez metros de altura.
Enquanto Miguel tentava recuperar o fôlego para questionar Brick, o mesmo estava completamente tranquilo, quase como se aquilo fosse algo rotineiro, no entanto agora aquele homem nem parecia mais tanto com Brick. Tudo que Miguel podia ver era as costas e as pernas de Brick e ainda assim elas pareciam estranhamente peludas, quase mais que a própria roupa de couro que usava.
Agora mais lúcido Miguel percebia oque ocorria, ele estava literalmente sendo carregado de alguém que estava pulando velozmente de telhado em telhado.
Não demora muito para que Brick pouse de repente, no entanto ele não parecia estar no chão, e sim em uma real torre, aquela parecia ser uma sacada bem no topo.
Enquanto Miguel é colocado no chão, outras duas pessoas vêm rapidamente se aproximando dos dois, e por mais estranha que aquela situação seja eles parecia estranhamente normal.
O local parecia ser feito de madeira, mas isso não tinha relevância afinal ninguém repararia nisso considerando a bagunça que aquele lugar era, cheio de tralhas e papéis recheados de desenhos estranhos.
— Desculpa ai Miguel não queria fazer isso, mas agora já é uma situação urgente.
— Como assim!? Podia ter me avisado antes né?!
— O que aconteceu já não falei pra parar de entrar por aí, se essa porra cair com seu peso você mata todo mundo aqui.
Quem falava era um homem meio magro, de cabelos negros bagunçados e óculos, por trás de seus óculos havia grandes olheiras negras que se destacavam em sua pele pálida.
Ao seu lado, um homem de pele negra, careca e com braços robustos que eram visíveis mesmo por cima de sua roupa, o homem quase chegava na altura de Brick.
— Sem sermão agora, o garoto disse que a neve está chegando.
— O que?! Realmente já se passaram tantos anos?
— Aparentemente sim, já faz tanto tempo que nem me lembrava mais.
Brick parecia um pouco assustado e nervoso, por mais que sua aparência já tenha voltado ao normal a algum tempo, a expressão que fazia enquanto caminha até uma cadeira de mesa era bem anormal.
O outro grande homem caminha até a cadeira ao lado de Brick e se senta passando o braço por cima de seu ombro, como se estivesse preocupado.
— Brick, eu você e Raél sabemos o que isso significa, mas dessa vez nós temos nossa carta na manga também e ainda soubemos da neve antes dela chegar. — disse o homem ao lado de Brick.
— Tem razão, você está certo Lúcio, isso não vai ser nada demais dessa vez.
Enquanto lúcio acalmava Brick que parecia assustado, Raél caminha por maio as tralhas no chão e pega algo em meio a todo aquele entulho.
— Brick o que tá acontecendo? — disse Miguel, enquanto tentava inutilmente arrumar seu cabelo que ficará todo desarrumado pelo vento.
— Desculpa não ter te avisado antes garoto. Sabe… essa neve não é comum, se você chegou a andar sobre ela, deve ter percebido que é diferente de qualquer outra. Isso… Isso é.
Lúcio olha nos olhos de Brick quase como se estivesse dizendo que ele podia assumir aquela conversa, — Brick quis dizer que essa mudança repentina no clima é culpa de uma criatura. O dragão do Sul vem uma vez a cada setenta anos para a floresta, parece que aqui é mais fácil de eclodir ovos.
— Um… dragão? Espera ele vai nos atacar?
— Felizmente não, nosso problema é que a neve faz os monstros e animais evacuarem a floresta em busca de um local pra morar, não deve demorar para chegarem.
— Então vários monstros vão simplesmente passar por cima da cidade enquanto a neve nos cobre?
— Dessa vez não. Brick vem recusando todos os trabalhos do rei a alguns messes, isso é por quê nos temos procurado por pedras mágicas o suficiente para construirmos algo.
Antes que finalizasse o que falava, Lúcio o interrompe, enquanto segurava as coisas que havia pegado antes, entre elas havia uma grande peça redonda com uma grande pedra vermelha no meio, além disso também havia duas formas cilíndrica que pareciam se encaixar.
— Vocês podiam me ajudar a carregar isso né?
Ao soltar a peça redonda no chão ela faz peso o suficiente para que o barulho fosse desconfortável para todos, era estranho como um corpo magro como o dele podia carregar aquilo. Logo após ele vai até a sacada e junta dois cilindros que formal um tubo que ele coloca em seu olho.
— É realmente verdade! A neve está a pelo menos uma semana de distância.
Ao ouvir isso, Brick parece engolir seco, mas embora claramente assustado, não deixaria que isso o impedisse de fazer seu trabalho.
— Me desculpe Miguel, eu te disse que te ensinaria a manusear espada, mas agora tenho que resolver isso.
— Eu posso ajudá-lo Brick, sei que não vai adiantar te dizer para relaxar então eu posso treinar o garoto enquanto atraso a chegada das coisas.
Brick parece estar relutante sobre isso, ele estava claramente ansioso e nervoso com tudo, ainda assim agora ele não tinha mais tempo para cuidar nem de si mesmo direito.
— Se estiver tudo bem para Miguel, eu não me importo.
Eram tanta as informações que havia recebido que não conseguia mais processa tudo, Miguel apenas consente com a cabeça.
Brick se aproxima de Miguel e com uma expressão séria, ele diz, — Miguel sei que não passamos muito tempo juntos, mas agora realmente preciso fazer muita coisa e provavelmente não vamos nos ver muito. Mesmo que os monstros cheguem aqui, não quero que lute conosco, ao invés disso quero que leve uma carta ao rei, acha que pode?
“Merda, até agora pouco não tinha nada como uma missão ou algo assim pra fazer, ainda assim isso precisa ser rápido. Não sei se tenho certeza do que estou fazendo mas”, — Tudo bem, eu faço.
— Certo, sei que é capaz.
Após Brick entregar a espada de Miguel para ele, Lúcio o acompanha pelas escadarias da torre até parar em um dos andares, — Espere um minuto só vou pegar algumas coisinhas.
O quarto em que ele entra parece ser um quarto com algumas camas e armários, após o homem pegar algo em um dos armários, logo ele volta até o garoto, com uma espada e algumas roupas grossas de couro.
Não demora muito e após passar por uns quatro andares, finalmente estavam no térreo. E qualquer tensão que os permeava parecia ter sido aliviada rapidamente.
— Haaaa. Acho que a poeira abaixou, bem, vamos caminhando pra linha de frente enquanto nós apresentamos.
Após o longo suspiro de lúcio, ele se alonga e continua caminhando em linha reta. O garoto da uma última olhada para a torre antes de partir para um outro local.