Anti-herói Invocado - Capítulo 23
A forte luz que anuncia a alvorada, esquentava a pele de Lúcio, que permanecia dormindo mesmo naquele clima frio e com uma invasão eminente.
Aos poucos seus olhos se abriam e logo ele estava sentado ao lado da fogueira que já não mais queimava. De repente como se tivesse tido um estalo, ele olhou aos arredores procurando por algo, após alguns segundo ele se levantou e iniciou sua busca.
Não era com algo roubado que ele se preocupava, mas sim com a simples ausência do seu acolhido. Lúcio observou atentamente por todo o campo vazio antes de adentrar a mata a procura de Miguel.
— Como foi que cai no sono? Que merda, se esse garoto foi devorado por algum animal, Brick vai ficar bem irritado.
Caminhando com cautela, ele buscou pelos mínimos sinais, mesmo que pegadas ou resquícios do garoto. No entanto sua busca foi interrompida quando sua atenção se voltou para um som vindo mais do ventre da floresta.
Mais se pareciam com algo sendo descascado, talvez como algo sendo quebrado, ainda assim eram frequentes com pouco intervalo entre cada repetição.
Lúcio se aproximou cada vez mais do som, ele logo empunhou uma faca de sua bota e se esgueirou entre as árvores até que pudesse ver a origem.
Os punhos parcialmente roxos de Miguel já havia chegado ao ponto de estarem descascados e sangrando, seus dedos estavam inchados e ainda assim ele permaneceu aplicando força no tronco a sua frente.
Lúcio permanecia observando, o garoto estava exausto e não era atoa, ao seu redor haviam ao menos oito árvore parcialmente destruídas, e uma que mais se destacava. Seu tronco não havia caído muito menos quebrado ao meio, na verdade mais aprecia que o braço de Miguel havia atravessado a árvore.
Lúcio permaneceu olhando fixamente para aquele tronco em específico, como seria possível um simples jovem dominar um golpe como esse em apenas uma noite, há algum tempo atrás ele nem tinha força para segurar meu soco.
Demorou algum tempo até que Lúcio chega-se a uma conclusão, — Isso foi velocidade. —, finalmente fazia sentido, Miguel quase não tinha força mas sim velocidade, era por esse simples fato que ele podia realizar tal feito.
Ele podia não ter muita força, mas sua velocidade parecia compensar isso, com seus socos velozes ele pôde até mesmo causar um buraco numa árvore mantendo-a ainda em pé, ainda assim sua mão não saiu impune disso.
— Chega disso!
Lúcio se aproximou rapidamente do garoto, o puxou pelo pulso e olhou atentamente, sua expressão mudou era como uma cara de pena, talvez tivesse se sentido culpado em botar uma responsabilidade que o garoto não era capaz de cumprir.
— Ande, vamos tratar disso, tenho alguns remédios na bolsa. Sabe, sei que disse que tem muitos perigos e que você é bem fraco mas, não tem necessidade disso, é mais importante que você fique vivo ao invés de manter os outros seguros.
— Não! Eu sei que sou fraco, sei disso tão bem quanto poderia, mas chega disso pra mim jamais vou me render ou deixar que vençam, não precisa se preocupar Lúcio, eu vou ficar vivo enquanto puder.
Havia uma expressão no rosto de Miguel, uma confusa, mas poderia descrever nela tanto uma raiva reprimida, quanto satisfação. E principalmente cansaço.
Lúcio não podia fazer nada, aquele era de fato um garoto determinado se construindo ao poucos. Dali partiram, e a fogueira a tempos apagada retornaram, indo direto para a bolsa de tralhas do homem.
Depois de tirar um pote de madeira e desfazer o nó do pano que segurava a tampa, Lúcio encheu sua mão no que mais se parecia com lodo, e em seguida passou por toda a mão do garoto. Sua mão direita estava toda descascada, praticamente pela metade na carne viva, Miguel provavelmente só não estava agonizando por seu sangue ainda estar quente.
— Auu! O que é isso? É bem nojento, também não para de arder.
— Relaxa, é só uma mistura de ervas, vou enfaixar com algum pano aqui, trate de não usar muito até amanhã, temos que impedir pelo menos alguns monstros de chegarem até a cidade.
Após terminar de tratar os ferimentos de Miguel, ele se agachou e preparou para acender novamente a fogueira, também tirou uma enorme peça de carne, aquele seria o almoço deles, e provavelmente teria que sustentá-los até a noite.
— Vá Miguel, aproveite que isso vai demorar algum tempinho e tente garantir alguma carne pra gente pro almoço de amanhã.
— Pera lá, tu só trouxe carne pra um dia?!
— Hehe, estava sem espaço na mochila.
— Harg, daqui uma meia hora eu volto com pelo menos alguma coisinha. Vou usar a espada mesmo pra caçar.
Miguel se equipou com sua espada e logo olhou pelos arredores a procura de algum animal por menor que fosse, mas era bem óbvio que ele não acharia algo tão facilmente, afinal a neve já dominava a maior parte do local até aquele momento.
— Miguel sei que mais que ninguém você quer se tornar melhor e mais forte, no entanto não é como se você fosse morrer amanhã, vá com calma garoto. Aliás vai ser bem difícil achar algo com os olhos, no estado da neve atual.
Lúcio estava certo, não importava quanto Miguel quisesse melhorar, desse jeito ele só iria se auto destruir, aquilo era algo que Miguel devia sua atenção, também não poderia deixar sua dica passar despercebida.
O garoto caminhou em direção a área mais aberta do local e se sentou, fechou seus olhos e se concentrou na respiração e logo após encostou sua cabeça no chão. Repentinamente vários sons passam por si, ventos, folhas, água, grunhidos e esturros.
Miguel se levantou e correu em direção aos sons que ouviu, por mais que um sua frente só tivesse muita neve, ele tinha que conferir. Correndo e se afundando cada vez mais na neve, ele passa algumas árvores e rios até avistar uma onça.
Por mais que ele identificasse como onça naquele mundo dificilmente seria o que parecia, o animal se vira para Miguel e então a diferença fica mais visível, quatro olhos, garras e pressas enormes e uma língua que mais parecia pertencer a uma cobra.
Miguel parecia ter se escondido a tempo e logo o animal voltou ao que fazia, ele se aproximava lentamente de uma pequena toca ao lado de uma montanha, dela saiam vário grunhidos, os mesmos que Miguel ouviu. De repente o bote, o animal se enfiou na pequena toca e saiu de lá com um pequeno animal parecido com um coelho em sua boca.
O animal era estraçalhado pelo outro, aquilo era brutal, o sangue quase chegou até Miguel que estava consideravelmente longe da cena, mas por pouco tempo. Logo que o coelho morreu, a onça se preparou para arrancar outro da toca.
Miguel aproveitou a oportunidade, num momento de concentração nos pequenos coelhinhos o grande animal não perceberia Miguel chegando pela retaguarda. Um ataque certeiro na nuca, foi isso o necessário para que o pescoço se partisse e Miguel pudesse coletar os espólios.
— Afinal messes no mato não servirá de nada né, mas esses animais eram novos pra mim, ainda assim são bem parecidos com os que conheço, que bom que onças não andam em bando.
Foi um curto período de tempo para que o garoto terminasse de falar e fosse interrompido por um outro esturro de onça logo a sua direita, — Ruarrr!
— A vai se fuder também né!