As Desventuras Surreais dos Becker - Capítulo 29
“A mágoa e o rancor são armas implacáveis. Os sentimentos feridos podem ser mais afiados que uma espada bem polida” – Pulget, o pequeno
As mãos de Midna pressionaram seu pescoço, sem qualquer piedade. Archie não podia reagir, apenas sentir aquela agonia enquanto encarava a mulher que magoou.
Talvez eu mereça.
Sentia a tontura tomar conta de seus sentidos, em meio a falta de ar e circulação do sangue. Ele sabia que em algum momento sua jugular seria dilacerada pela brutalidade de Midna.
Mas de forma inesperada, ela o soltou.
Os sentidos de Archie retornaram aos poucos. Ele distinguiu melhor a imagem do local onde estava. Um ambiente oco de madeira, pouco iluminado por pontinhos flutuantes, o que ele chutou serem Vaga-lumes. A parede à sua frente era coberta por terra firme, indicando que aquela toca era subterrânea.
Midna se afastou para o extremo do ambiente, ficando de costas para ele. De repente, o detetive se lembrou da relação dos dois, onde às vezes ficavam em um silêncio confortável e complacente. Mas naquele momento, o sentimento era o total oposto.
— Você sabe o que fez — ela disse, ainda de costas, em um tom julgador — me deixar não foi o problema, mas fez isso sem avisar, sem nem considerar… TEM IDEIA DAS COISAS QUE PASSARAM PELA MINHA CABEÇA?!
Sem aviso algum, ela se aproximou e desferiu um tapa tão forte no rosto de Archie, que seu nariz começou a sangrar.
Midna pouco se importou, pensando ser menos que o mínimo do que Archie merecia. Mas decidiu se acalmar, sentindo que não valia a pena gastar suas energias com ele, já havia gastado demais no passado.
— Você é desprezível. Nunca se importou de verdade. Pra você foi tudo uma aventura, não é? — ela continuou — eu consegui uma informação, de que um ano depois você já estava noivo. Eu tenho pena dela, sinceramente… e ainda deixou o seu chapéu como lembrança, achando que isso me enganaria, não é? Todo aquele papo dele significar algo pra você era só mais uma mentira. Eu sei que você vai inventar uma desculpa, mas isso não vai adiantar, te matar agora não me custa nada.
O detetive ficou quieto, vendo o sangue escorrer pelas suas narinas. No fim, não havia mais o que fazer, estava apenas colhendo os frutos de seus atos no passado.
— Eu fui egoísta, Midna — ele admitiu, olhando vagamente para o chão, reconhecendo que não adiantaria mentir para ela — eu sabia que iria embora, mas mesmo assim eu prometi. Eu prometi porque fui inconsequente. Eu cogitava ficar com você, mas eu pensei melhor e vi que… não daria certo, preferi ficar no conforto da minha casa, na expectativa de algum dia alcançar o que eu queria — ele se forçou a olhar para ela — eu só pensei em mim, essa é a verdade, sinto muito por prometer que ficaria. Eu devo ser alguém desprezível mesmo.
Mesmo depois de tanto tempo, ela conseguia captar a sinceridade de suas palavras. Ainda assim, aquilo doeu, pois ele praticamente admitiu que não a amou tanto quanto ela o amou. Mas apesar disso, não sentiu qualquer vontade de chorar ou extravasar ainda mais sua raiva. Aquela coincidência parecia ser um presente, o qual ela não iria jogar fora.
— Eu ainda vou te matar — ela disse, se aproximando novamente — lembra do meu sonho? Que um dia eu acabaria com todos os que eu considerasse malditos? Eu ainda sigo com isso, mas antes, preciso também acabar com os outros que estavam em sua companhia. Ele me ordenou a não deixar um só vivo.
Weezy. Archie deduziu. Então ele realmente criou uma corja aqui em Genebra. Midna é um inimigo agora, mas ela não parece o adorar, como ele a convenceu?
— Midna — ele decidiu contar tudo — eu sei o que está acontecendo, toda essa situação… eu sei quem é Weezy.
A atenção da garota se voltou para Archie, confirmando sua dedução.
— Eu sei dos planos dele — ele continuou — eu e os outros temos um plano para acabar com isso. Não sei como você se juntou a ele, mas precisa acreditar em mim.
Archie então aproveitou para contar tudo que aconteceu de uma forma resumida. Midna ouviu, apática, mas sem parecer duvidar da veracidade da história.
— Fascinante. Eu acredito em você — ela disse, voltando a ficar de costas para o jovem — eu também não acreditei na história dessa criatura ser uma divindade ou coisa do tipo. Acontece que ele viu minha resistência quando me transformou, sabia que eu não o seguiria. Foi aí que ele ameaçou meus primos e meu tio. Agora eles estão como reféns em um castelo, onde um vampiro e outras criaturas residem. Se eu falhar na minha missão, as pessoas que mais amo vão morrer. Não é nada pessoal com seus amigos, mas eles não podem ficar vivos. Além disso, Weezy disse que tomaria a coroa inglesa e mataria alguns esnobes, então ele já fez mais por mim do que você.
Archie engoliu a informação, desolado, porém entendendo o lado da garota. Espero que Paul e Frankenstein consigam fugir, talvez eles consigam terminar essa jornada sem mim.
— Por que não me mata logo de uma vez? — ele perguntou, engolindo em seco ao tentar aceitar seu destino.
— Eu devo e irei, mas não por enquanto, primeiro preciso garantir que seus amigos não fujam dos meus zumbis. Como não posso enxergar fora daqui, posso usar seus sentidos quando fecho meus olhos e me concentro. É como uma conexão neural — ela apontou para os insetos voadores ao redor do ambiente — está vendo esses vaga-lumes? Também estão mortos.
Sem esperanças, Archie ficou ali, observando a mestra dos zumbis agir em silêncio. Então é assim que termina?
***
— São muitos, jovem Paul — Victor exclamou, afundando a enxada no crânio de mais um morto vivo — precisamos recuar!
— Não ouviu aquele grito? Archie deve estar em apuros — Paul discordou, empalando mais uma criatura.
A horda de mortos vivos enchiam as profundezas daquela floresta, que parecia infinita de tão densa.
Completamente desnorteados, a dupla corria enquanto tentava se defender, porém, já estavam tão fundo no breu, que o horizonte se deformava ao ponto de não serem capazes de discernir qualquer saída da floresta.
— Não há mais o que fazer. Se não nos preocuparmos com um jeito de sair daqui, vamos acabar morrendo — Victor disse.
— Não, eu vou tentar salvar meu irmão, não posso simplesmente abandoná-lo — o semblante de Paul era um misto de ódio e determinação, matava aquelas criaturas sem qualquer pudor, sabendo que se tratava de cadáveres — não precisa se arriscar comigo, escolha por si seu destino, Dr. Frankenstein.
Frankenstein pensou um pouco, concluindo que não tinha escolha. Sem Archie e os elixires de poder já seria difícil chegar até Weezy, mas sem Paul e sua perícia com espadas seria praticamente impossível. Então decidiu segui-lo.
Eles avançaram sem rumo, de forma contida. Os zumbis em si não eram um perigo tão grande, apenas se a dupla fosse cercada.
Eles tampouco pareciam criaturas muito inteligentes. Sua direção mudava de tal forma que pareciam estar sendo guiados por alguém invisível.
— Tem algum plano? — Victor perguntou, matando mais um em seu caminho.
— Estou pensando.
Paul observou o ambiente, mais especificamente a forma como os mortos vivos se comportam. Apesar de ser meio difícil fazer aquilo enquanto precisavam esquivar deles.
Eles caminham de forma padronizada, como se houvesse um sinal os comandando. Paul deduziu, decidindo que tentaria decifrar aquele padrão.
— MORRE, NOJENTO! — Frankenstein gritou, sentindo os músculos arderem de tanto erguer e afundar a sua arma pouco ortodoxa na cabeça dos zumbis.
Paul conseguia equilibrar o raciocínio com a ação, graças a sua agilidade com o sabre. Logo ele pensou encontrar uma probabilidade; a horda de mortos vivos caminhava até eles de forma ordenada, porém à medida que ela se afastava, a direção deles parecia convergir de um ponto específico no horizonte.
Vagando pelos conhecimentos que adquiriu durante as suas leituras constantes, ele recordou um conceito muito específico: os chamados “fundamentos da arte”, usados por grandes artistas como Da Vinci e Van Gogh. Mais especificamente, o fundamento da perspectiva.
Todos os elementos da tela convergem para um ou mais pontos, os pontos de fuga. Ele lembrou, sentindo as coisas se tornando mais claras.
Observando as laterais da fileira de criaturas, preencheu com imaginação a existência do ponto de fuga a partir da percepção da “linha do horizonte”.
É isso! Esses zumbis estão sendo controlados por alguém. Ele concluiu, mesmo sem a certeza. Precisamos nos aproximar do ponto de fuga.
Na mesma hora, Paul precisou desferir um corte frontal contra o pescoço de um morto vivo, fazendo sangue salpicar por toda parte. Frankenstein parecia prestes a se entregar a morte, tamanho esforço que sua enxada exigia.
— Eu tenho um plano — Paul disse, alto o suficiente em meio a algazarra — precisamos seguir reto, exatamente de onde os zumbis estão vindo.
— Só pode estar brincando — foi a incrédula resposta de Victor — esse tipo de atitude desesperada combina com o seu irmão, não com você, jovem Paul.
— Confia em mim, eu calculei tudo.
O cientista acenou positivamente, prestes a cometer a maior loucura de sua vida. Ele destruiu mais um crânio putrefato quando Paul deu o sinal e partiu em uma corrida implacável. Assim, os dois avançaram pelas laterais da fileira adjacente.
A confusão dos mortos vivos durou o suficiente para se manterem a uma distância segura de suas mãos sedentas.
Como Paul calculou, os zumbis reagiram de forma exata, como um efeito dominó. As reações vieram de trás para frente, fazendo-os ganharem tempo de chegar até o ponto de fuga.
Faz sentido as reações virem de frente para trás, que era onde estávamos. Paul concluiu. Isso significa que todo o “sinal” deveria estar focado onde houvesse resistência física contra os zumbis, ou seja, o objetivo desse oponente era realmente nos matar.
A corrida continuou, rapidamente se tornando uma fuga de um exército colossal. Logo os dois se aproximavam do local desejado, porém eles não conseguiram notar nada de diferente ali.
Frankenstein amaldiçoou Paul mentalmente, não acreditando na imbecilidade que cometiam. Mas foi nesse momento que ele e o garoto notaram algo: um grande tronco oco cravado na terra, cuja abertura era grande o suficiente para caber uma pessoa.
É o único jeito, Paul pensou.
***
— Parece que consegui pegá-los — Midna disse, após um bom tempo de silêncio entre os dois — não se preocupe, meus zumbis lhes darão uma morte rápida — e se virou para Archie — agora temos assuntos a resolver.
A mestra dos zumbis não carregava um olhar malicioso ou de triunfo. Ela sequer parecia em êxtase pela situação, nem mesmo diante da oportunidade de se vingar. Seu olhar era um misto de ódio e desprezo.
Ela caminhou até o garoto. Ao chegar perto, deu um chute em seu estômago. Archie agonizou com a falta de ar, sentindo uma dor imensurável. Mesmo assim ele não reagiu, ainda processando a informação de que seu irmão e Frankenstein haviam sido massacrados por zumbis. Tudo parecia realmente perdido.
— Por que não fala nada? — Midna perguntou, chutando seu queixo — Por que não implora?
— Você matou meu irmão — ele disse, sentindo as lágrimas caírem involuntariamente — não tenho para o que implorar, eu não consegui fazer nada, nem o proteger… você vai me matar de qualquer forma, SÓ ACABA LOGO COM ISSO!
Ela hesitou.
Absolutamente chocada, Midna o encarou, não sabendo como reagir. Merda, será que ele tá blefando? Talvez, mas essas lágrimas… será que aprendeu a ser um mentiroso tão bom assim?
— Então era o seu irmão que estava com você? — Midna se agachou, querendo conferir sua expressão bem de perto — você nunca nem sequer me contou que tinha um irmão? Archie Becker, se você está me fazendo de idiota, eu vou fazer sua morte ser ainda mais dolorosa!
— Ele é adotado — Archie a fitou, sem pestanejar — foi alguns meses depois de te conhecer, por isso nunca contei. Paul era um garotinho de rua, meu pai se compadeceu e o adotou… eu sou realmente uma decepção, nem manter meu irmão vivo eu consegui, meu pai sempre teve razão.
Ela permaneceu em silêncio, arregalando os olhos. Ela sabia que a forma como seus zumbis se posicionaram não deixava brechas para eles fugirem, então tudo que conseguiu foi se sentir extremamente culpada, pois havia matado uma criança.
Midna conseguia sentir a verdade nas palavras dele. Pela primeira vez naquela noite se sentiu sem reação.
— Vai, me mata logo de uma vez, sou eu quem merece mais do que todos — Archie continuou, sentindo um vazio imenso — O QUE ESTÁ ESPERANDO? ME MATA LOGO, MIDNA, POR FAVOR!
A garota não reagiu, sentia que não era capaz no momento, ainda mais sendo pressionada daquela forma. Weezy, essa criatura. Ela me fez perder minha humanidade… só consigo perceber agora.
O jovem continuou bradando, exigindo morrer, mas ela não o correspondeu. Aquele momento de clareza paralisou Midna, que percebeu o quão extremo era matar alguém por um motivo daqueles, além de pessoas inocentes. Mesmo assim, seus primos e seu tio vieram à sua mente.
Como pude ser tão estúpida. Weezy realmente me colocou em um dilema… mas que mal Archie e seu irmão poderiam apresentar? Mesmo que tenham sido responsáveis por tudo isso, não parecem ser capazes de derrotar uma criatura tão poderosa…
Um som externo interrompeu o raciocínio de Midna, ele parecia se aproximar mais e mais. De início ela ficou confusa, mas só podia estar vindo de um lugar. O quê?!
— AHHHH QUE MERDA, ONDE ESTAMOS CAINDO?! VAMOS MORRER! — Archie ergueu a cabeça ao reconhecer a voz de Frankenstein.
De repente, do vão do “tronco-armadilha” surgiram duas figuras intrusas. Os vaga-lumes zumbis se dispersaram com a agitação. Archie simplesmente não acreditou, mas era Paul e Victor quem estavam ali.
Midna ficou igualmente incrédula. Eu tinha certeza que eles estavam encurralados.
Mas apesar de terem tido um descida conturbada, se estatelando no chão, logo Victor se pôs de pé e reagiu, com sua grande enxada.
— MORRA, DEMÔNIO — O cientista sequer parou para pensar, pois a aparência não-humana já era o suficiente para ele entender quem era o inimigo.
A mestra dos zumbis não teve tempo de reação, sendo atingida pela base da enxada na cabeça, caindo inerte no chão. Após o golpe, Victor continuou observando a criatura, com a respiração pesada e quase caindo ali mesmo também, tamanho o esforço que teve durante a luta contra os mortos vivos.
— Paul, vocês estão vivos — Archie comemorou, com um sorriso genuíno — mas como conseguiram contra tantos zumbis?
— Agradeça a Da Vinci, Caravaggio e Van Gogh — Paul respondeu, enquanto cortava as amarras do irmão — O Dr. Frankenstein estava certo quando disse “que todo conhecimento se prova útil eventualmente”.
Que incrível, agora ele tem Pulget e eu no seu repertório de citações, deveria me orgulhar? O cientista pensou, ainda assim, se sentindo feliz pela admiração.
Agora os três estavam em pé, diante do inimigo caído. Archie demorou para processar direito, tudo ocorreu rápido demais.
— Precisamos finalizar esse monstro! — Frankenstein disse, pronto para fazê-lo.
— Não! — Archie o impediu, desesperadamente — eu a conheço.
— O quê?! — Paul e Victor perguntaram.
— É uma longa história, tá? Mas o que importa aqui é que ela foi transformada por Weezy e só nos atacou porque Weezy está usando sua família de refém.
— Sério? Olha, ela tentou nos matar e quase conseguiu, se não fosse a inteligência do Jovem Paul — Frankenstein disse, irritado — e aposto que ela ia matá-lo também, Becker. E se ela precisa nos matar para Weezy manter sua família viva, não acho que iria nos deixar ir embora ilesos.
Houve um silêncio, onde eles refletiram um pouco.
— O doutor tem um ponto — Paul comentou — como Pulget disse uma vez…
— Não, Paul, não me venha com essa — Archie o interrompeu — eu sei que se conversarmos ela vai entender, ela disse onde estão os seus familiares, estão aqui na cidade.
— Você não vai propor o que eu estou pensando, não é, Becker? — Frankenstein protestou.
— Eu creio que precisamos seguir uma linha de pensamento aqui, não só jogar ideias… — Paul tentou intervir.
— A gente não vai matar ela, Frankenstein!
— E muito menos a ajudar, seu energúmeno, não temos tempo pra isso…
Enquanto eles discutiam, mal sabiam que Midna ouvia tudo, apenas fingindo que estava desacordada. Ela reunia um grupo de raízes mortas abaixo do solo. Só precisava de mais alguns segundos.
— Matar é a solução mais rápida. Não importa se você a conhece, e se ela ainda quiser nos matar? — Victor retrucou, convicto.
Mas antes que a discussão continuasse seu rumo, raízes irromperam de forma inesperada do solo, se enrolando nos corpos do trio e os lançando contra a parede. Suas armas ficaram no chão. Agora estavam totalmente vulneráveis.
Midna já de pé, os encarou com um olhar mortal. O trio se contorceu, sendo apertados pelas raízes. O jogo havia virado.
— EU TE DISSE, BECKER. AGORA VAMOS MORRER POR SUA CAUSA — Victor bradou, indignado.
Midna decidiu que não gostava muito de Frankenstein, usando outras raízes para lhe amordaçar.
O que eu faço agora? Ela se perguntou.
Vendo os três ali, inofensivos, pôde refletir. O trajado como cientista parecia rebelde, mas não exatamente um líder daquele trio. Mas foi olhando para Paul, um garoto com a idade exata dos seus primos, que ela percebeu algo. Ele parece assustado, mesmo sabendo usar a espada, ele é jovem demais, não tem noção do que realmente está acontecendo.
Mas não era só isso. Midna percebeu o peso que o garoto carregava, e dada as informações de Archie a seu respeito, sabia que ele teve uma vida sofrida antes de ser adotado, uma ainda mais conturbada que a sua.
Isso não é certo, eu nunca vou me perdoar se fizer isso. Ela se decidiu, fechando os olhos e fazendo as raízes soltarem o trio. Em seguida, foi até um canto da toca e se encostou na parede, com os vaga-lumes juntando-se a ela.
O trio não se moveu, parecendo confusos com a mudança de ideia repentina da suposta oponente.
— Sigam ao noroeste, lá irão encontrar uma saída e um carro funcionando — ela lhes disse, brincando com um dos insetos luminosos pousados em sua mão — vão logo se não quiserem ser alcançados pelos meus zumbis.
O tom de ameaça presente naquela última frase os fez entender o recado rapidamente, se encaminhando para o tronco, que era íngreme o suficiente para que pudessem escalar para fora sem problemas.
Mas Archie decidiu não ir, pois sentia que precisava dizer algo a Midna.
Ele se aproximou, mesmo com medo. Ela não o ameaçou, mas assim que chegou perto o suficiente, a garota desferiu um tapa contra seu rosto.
— Isso é por ser um babaca — ela disse, mas sem aquele tom intimidador — mas ainda assim, você não é uma pessoa ruim, poderia ter deixado seu amigo me matar — ela suspirou — só… cuida do seu irmão, ele não merece passar por tudo isso, entendeu?
Archie a encarou, logo abrindo um sorriso, mesmo após levar um tapa.
— Me desculpa, Midna. Eu prometo que vou salvar sua família, é o mínimo que devia fazer.
— Tem certeza que quer fazer mais promessas que não pode cumprir?
— Bom, se eu não cumprir, é porque morri no processo.
Pela primeira vez naquela noite, ela sorriu, de leve. Não era exatamente um sorriso confiante, mas um sorriso de esperança.
— Noroeste, há um grande castelo abandonado — ela informou — não me decepcione de novo.
— Não vou… se eu conseguir, você me perdoa?
Ela o encarou, vendo o arrependimento nos seus olhos. Midna apenas cruzou os braços, com um semblante sarcástico.
— Eu não vou prometer nada, faça por merecer.
Era exatamente o que ele esperava ouvir, se sentindo ainda mais determinado.
— Talvez eu te surpreenda.
E dizendo isso, ele se foi.
Midna permaneceu ali. Para que nada parecesse suspeito, ela manteria os zumbis no encalço deles, mas também como uma forma de garantia de que ele cumpriria a sua promessa. Ainda assim, não sentia mais ódio de Archie, pois ele havia se provado realmente alguém com um pingo de caráter, apesar de tudo.