As Desventuras Surreais dos Becker - Capítulo 30
“Até mesmo a loucura dos sábios é luz para os ignorantes” – Pulget, o pequeno
A velocidade que Weezy folheava as páginas do livro que lia era tão impressionante, que Damon decidiu não olhar para elas, com receio de ficar tonto. Uma pilha de livros amontoados circulavam ao redor do trono de seu mestre.
Entre eles havia desde A Bíblia Sagrada, até O Príncipe, de Nicolau Maquiavel.
Em apenas algumas horas de sítio, ele já havia consumido umas boas centenas de livros. Damon só não ficou mais deslumbrado pelo fato de que seu mestre, até o momento, havia deixado o Grimório da seita de lado.
— Diga-me a situação do meu reinado, fiel servo — o tirano exigiu, após terminar Os Irmãos Karamazov de Dostoiévski em menos de dez minutos.
— Bem, segundo os relatórios do Gárgula, a balbúrdia ainda impera pelas ruas, mas sem sinal de resistência, meu senhor — Damon explicou — como esperado, eles reconheceram vossa soberania e poder. Além disso, o exército está patrulhando os quatro cantos da cidade, garantindo que não haja nenhum bom samaritano rebelde.
— E há rebeldes na profecia? — Weezy indagou, indo pegar outro livro para ler, dessa vez passando muito perto do grimório da seita, mas no fim sua escolha foi uma antologia de contos dos Irmãos Grimm.
Se lesse o grimório, em questão de segundos saberia a resposta. Damon pensou, mas nada disse, repreendendo-se imediatamente por aquele devaneio pecaminoso de rebeldia.
— Na profecia diz que haveria resistência, mas que o Weezy triunfaria sobre todas — o sacerdote teve um arrepio ao recordar — e dado os acontecimentos, a resistência não se provou nada. O mundo jaz em sono. É bem improvável que haja uma resistência maior que o policial o qual se encontra nas masmorras.
O tom de deboche do sacerdote na última frase agradou a Weezy. Sentiu o fatalismo ao seu redor, como um escudo metafórico do destino. Todos esses escritores, suas filosofias, crenças, até carregam uma verdade, mas elas pertencem a mim, tudo isso é meu e sobre mim.
— Em questão de dias esse mundo será renovado, pois eu já venci. Mesmo que houvesse resistência no local onde nasci, a minha corja estará ali para eliminá-los.
— Assim será, meu senhor.
O tirano então continuou sua leitura frenética, logo descartando o livro dos contos dos Grimm por os achar vazios de sentido. Damon respirou fundo quando seu mestre pegou o Grimório, mas só para tirá-lo de cima de outro livro: Assim falou Zaratustra de Friedrich Nietzsche.
Ao contrário de um nobre da realeza humana, Weezy não se importava da sua sala real não ter uma porta — a qual ele destruiu em sua chegada triunfal no palácio — pois podia sentir a brisa do corredor a invadir, e isso o deixava satisfeito.
Ao espiar o corredor, interrompeu sua leitura quando viu Mary Robinson passando. Ele ainda não conseguia conter a vontade de apreciar sua beleza, era como se fosse um reflexo literal dele próprio.
Notando o olhar sobre ela, Mary parou e fez uma reverência, logo seguindo seu caminho. Após alguns segundos dela ter desaparecido de sua vista, Weezy disse:
— Presumo que eu queira dar uma caminhada pelo meu palácio — declarou, se pondo de pé.
— Espere, meu senhor — Damon o chamou, antes dele deixar a sala — quero lhe lembrar, sobre uma citação do Grimório, “A queda de um homem é a paixão cega, a tentação iminente, mas vazia de sentido”.
Weezy o encarou por alguns segundos, com uma expressão apática, dizendo em seguida:
— Não sou um homem, sacerdote, guarde o conselho para si mesmo — e dizendo isso, deixou a sala real e um Damon pensativo.
***
A escuridão pairava pelo corredor. Ali não havia janelas e as velas luminárias pregadas na parede estavam apagadas. O eclipse atrapalhava mais ainda a falta de iluminação local.
Mary caminhava cautelosamente, sem querer chamar atenção. Ela não sabia que horas eram, mas julgou ter se passado um dia, graças ao sino da torre do relógio. Logo percebeu o quão cansada estava, mas decidiu descansar apenas depois de mapear todo aquele palácio e verificar o poleiro.
E era isso que estava indo fazer. Mas devia tomar o cuidado necessário para que não fosse descoberta. Felizmente não havia sentinelas de Weezy para onde estava indo.
Eu só preciso saber se eles estão bem. Mary pensou, a ansiedade subindo a cada segundo.
Mas de repente, aquele sentimento desvaneceu. Uma aura trevosa cobriu aquele corredor, junto de um som suave de passos se aproximando. Ela só conseguiu ficar paralisada, mesmo que não soubesse quem a seguia, parecia ser uma criatura alta.
Nervosa, ela não se virou. Levou uma das mãos até a coxa esquerda, onde um coldre guardava uma afiada adaga, escondida sobre a saia. Ela havia achado aquela arma no quarto de uma nobre e achou uma boa ideia tê-la consigo.
Ainda se sentindo impotente, ela fechou os olhos, sabendo da presença de “seja lá o que fosse” estar muito próxima. Calma, Mary, sua adaga só precisa atingir o lugar certo.
— Bela madrugada, não acha, Miss Robinson? — a voz gutural era arrepiante, porém reconhecível.
— Majestade — Mary disse em um tom respeitoso, tirando a mão do coldre e se virando para ele — deseja alguma coisa, Senhor?
O tirano não respondeu imediatamente, apenas a encarando sem piscar, com seu par de olhos vermelho-sangue. Mary precisou de muito esforço para manter a expressão branda diante da visão de uma quimera bizarra e assustadora que era Weezy.
— Sabe, Miss Robinson, eu já conquistei tanto em pouco tempo. Sei que o fatalismo está do meu lado e que sou o protagonista da existência, minhas leituras recentes confirmam isso — ele fez uma pose teatral dramática, erguendo sua mão cheia de garras afiadas e curvando os dedos — mas… eu sinto que isso não é o suficiente, parece que falta algo, que me falta mais. Qual a sua opinião a respeito? É de minha vontade conhecê-la.
Um “deus” com crise existencial, eu imaginei. Ela pensou, irônica, mas não se atrevendo a externar aquilo.
— Bem, seu sentimento é completamente normal e alinhado com sua divindade — Mary ensaiou a resposta, se divertindo um pouco com a situação de estar aconselhando um ser tão poderoso, mas tão frágil emocionalmente — isso é nada mais que sua natureza divina gritando mais alto, meu senhor, ela clama para elevar seus propósitos, que encontre novos objetivos grandiosos.
— Tens razão, Miss Robinson — Weezy tentou um sorriso, mas o aspecto selvagem de sua boca cheia de dentes afiados o deixava ainda mais amedrontador — me alegra tê-la ao meu lado, afinal, foi o fatalismo que nos aproximou.
A criatura começou a se aproximar mais. Mary engoliu em seco, recuando da forma mais controlada que foi capaz.
— Não tive a oportunidade de dizer-te, Miss Robinson, mas sua beleza se compara a minha divindade — ele a colocou contra parede, mas sem a tocar. Mary conseguiu sentir a respiração pesada da criatura, o que não era nada agradável — que fique claro, eu a quero por perto, enquanto investigo esse sentimento de propósito que vós dissestes.
E dizendo isso, ele se afastou, possivelmente retornando à sua sala real, para felicidade da garota, que estava prestes a tirar a adaga do coldre novamente.
Eu juro, se essa coisa pôr um dedo em mim, eu morro, mas antes minha adaga estará cravada em um de seus olhos. Ela prometeu para si mesma, com o coração acelerado, retornando sua caminhada rumo ao poleiro.
Em poucos minutos chegou lá. Assustou algumas aves dispersas ao abrir a porta, mas lá estava ele, Gaibora Karpa, confortável em sua gaiola.
— Você voltou rápido, estou impressionada — ela disse, se aproximando.
— Graças a racionalidade, posso agora encontrar preciosos atalhos — a ave se gabou, estufando o peitoral avantajado, logo notando a ansiedade no rosto da garota — pois bem, eu os encontrei…
— Sério?! — Mary o interrompeu, muito feliz pela notícia — e como eles estão? Intactos? Machucados? Vivos…
— Eu direi se a senhorita me permitir — e dito isso, Mary acenou positivamente e se calou — eu os encontrei em um cemitério ao fim da rua Du Marchè, a cidade completamente adormecida. Quase fui atacado por um gato faminto, mas isso não vem ao caso. Eu os entreguei a carta e o mais velho disse-me que era apenas para avisá-la que ele e o irmão ficariam bem.
— Espera, em um cemitério? Mas o que eles estavam fazendo lá?
— Se bem entendi, eles pretendiam desenterrar um corpo de uma cova — Mary estreitou os olhos, confusa — e também havia um terceiro indivíduo, vestido como um doutor da ciência, se interpretei certo.
Por que Archie faria isso? E quem é esse terceiro homem? Mary indagou mentalmente. Ele está escondendo algo. Eu preciso saber o que.
— Preciso de seus serviços novamente, Gaibora Karpa — a ave respirou fundo, mas não reclamou, se colocando de pé, pomposo — certo, apenas peça que ele diga o que eles estão pretendendo. Você disse que eles pareciam tranquilos na cidade adormecida? Faça-os dizer tudo o que sabem.
— Se me permite a opinião, senhorita, sinto que há ameaça em suas palavras, quer que eu as repasse nesse tom? — Gaibora Karpa perguntou com franqueza.
— Sim, é pra ficar bem nítida a minha preocupação.
O pombo-correio então bateu continência, em seguida levantando voo.
Graças a Deus eles estão bem, espero que continuem assim.
***
A saída foi avistada. Logo a floresta, que parecia um assustador labirinto sem fim, ia se tornando um lugar menos escuro.
O trio corria o mais rápido que podiam, ouvindo bem de longe os grunhidos da multidão de zumbis. Archie sabia que era tudo uma encenação de Midna, mas precisavam se apressar ainda assim.
E como ela havia dito, existia uma saída ao noroeste. Lá estavam eles, finalmente fora da floresta, em uma rua larga e vazia, com algumas pessoas adormecidas no chão. Mais adiante localizaram o carro que ela havia mencionado.
Paul ficou impressionado, pois aquelas engenhocas eram restritas a um pequeno grupo da sociedade, cujo propósito era substituir os cavalos e revolucionar os meios de transporte urbano. Em sua opinião, o carro ali era exatamente isso, uma carroça sem cavalos.
— Certo, encontramos o carro — Archie disse, ofegante e aliviado — mas só queria deixar bem claro que não faço ideia de como se dirige esse troço, duvido muito que seja semelhante a conduzir um cavalo.
— Eu tenho uma pergunta melhor, como diabos aquela garota zumbi sabia que tinha um carro aqui? Ela, por acaso, é uma ricaça ou algo do tipo pra ter um desses? — Victor quis saber.
— Ah… quanto a isso, bem, conhecendo ela, provavelmente deve ter roubado — Archie disse com naturalidade, deixando os demais incrédulos — acreditem, Midna é boa nisso. Mas vamos ao que interessa: sabe dirigir esse negócio, não é, Frankenstein?
— Para sua sorte, Becker.
Sem perder mais tempo, eles se espremeram dentro da pequena cabine, que felizmente os acomodou. Internamente ele se assemelhava muito com uma carroça, no entanto, com o chamado “volante” sendo a forma de condução.
— Certo, deixem isso comigo, que logo partiremos — Victor disse.
Os altos grunhidos dos zumbis se aproximavam cada vez mais, deixando os irmãos Becker inquietos, pois ligar aquele negócio não parecia tão simples.
— Anda logo, Frankenstein!
— Vai… vai… foi!
O ronco alto do motor assustou um pouco Paul, mas logo ele percebeu que era um bom sinal quando o carro começou a se movimentar. Ao mesmo tempo, os mortos-vivos romperam da floresta, se encontrando no campo de visão do trio.
A velocidade do automóvel era bem razoável, deixando os mortos vivos para trás com folga.
Já na pista, Victor, virou à esquerda. Ele de fato parecia saber conduzir com maestria aquele veículo.
— Para onde está indo? — Archie perguntou, olhando para trás e vendo a multidão de zumbis se tornando indistinta.
— Vamos voltar para a rua Du Marché — ele disse, ignorando a educação de Paul ao levantar a mão, pedindo para falar — esquecemos alguém.
Os irmãos Becker se entreolharam, mas não contestaram, pois sabiam que Igor era praticamente a única família de Victor.
— Um nobre motivo, lembrar do felino em um momento tão crítico, a empatia venceu! — Paul comentou.
Demoraram alguns minutos, mas logo estavam na rua Du Marchè. Archie se lembrou que Victor provavelmente conhecia muito bem aquela cidade, o que o deixou mais tranquilo.
Chegando ao cemitério Raimi, eles ficaram aliviados ao constatar que não havia criaturas por lá. Mas antes mesmo de sair do carro, viram o gato preto surgir, imediatamente os reconhecendo.
— Miau — Igor disse, animado.
— Que bom que está bem, amigo — Victor disse com um sorriso genuíno, abrindo a porta e deixando o bichano ficar ao seu lado no banco do passageiro.
Após todos acariciarem o gato por osmose, voltaram à realidade, lembrando que haviam de seguir a jornada. Victor ligou o motor, pronto para partir.
— Certo, para onde vamos agora? — jogou a pergunta no ar.
— Precisamos salvar a família de Midna — Archie disse, o cientista lhe lançou um olhar torto — eu prometi para ela.
— Pois eu não — Victor simplesmente disse — quanto mais a gente se expor em riscos, mais difícil ficará chegar até Weezy.
— Mas ela nos deixou ir, poderia ter nos matado, mas não o fez… eu não posso simplesmente ignorar isso. Eu já a machuquei uma vez, ignorar isso seria demais. Ela nunca me perdoaria sabendo que deixei seus primos morrerem.
Eu não deveria cair nesse papo moralista. Victor pensou, mas não conseguiu ficar tão alheio daquela vez. Se lembrou da determinação de Paul em salvar o irmão, conseguiu ver a mesma em Archie naquele momento.
— Tá legal, então pra onde devíamos ir? — perguntou, em um tom grosso.
— Ela disse que eles estavam aprisionados em um grande castelo abandonado ao noroeste.
— O quê?! — Victor logo soube a localização — só pode ser o abandonado Castelo de Bran… mas é muito longe, creio que esse carro não tenha combustível para chegar até lá.
Decepcionados, eles começaram a pensar em algo a fazer, mas deveriam ser rápidos. Não poderiam ficar ali para sempre.
— Humm, eu tenho uma sugestão — Paul disse, confiante — podemos ir para a Mansão do Sr. Thompson, são pessoas que conhecemos e lá tem um rancho, podemos pegar cavalos.
— Thompson? Está falando do aristocrata Finn Thompson que mora ali na rua Polanski? — Victor perguntou, confuso — a família de vocês tem vínculos com ele?
— Bem, ele é meu padrinho — Archie contou — meu pai é seu amigo de longa data, digamos assim.
— Isso é muito interessante — o cientista gostou da ideia — novamente o jovem Paul raciocinando mais rápido. O combustível aguenta até lá, e acredito que com cavalos poderíamos ir pelos vales, pegar um atalho da propriedade dos Thompson e economizar um bom tempo.
Mais confiantes, partiram de lá. Archie achou engraçado imaginar a confusão do Sr. Thompson ao ver que alguns de seus cavalos sumiram após despertar, mas no fim aquilo fora culpa dele, que deu aula de equitação aos irmãos quando os visitou certa vez.
Se Victor bem lembrava, a rua Polanski não ficava mais de vinte minutos dali. Conhecia a reputação do Sr. Thompson de longe. Sabia que atrás de sua mansão havia um largo campo de mais ou menos três hectares, espaço reservado para uma grande criação de cavalos.
A riqueza de Thompson vinha justamente por ele fornecer os melhores e mais aptos cavalos para corridas, fazendo jóqueis famosos de toda a Europa comprarem com ele e até deixar seus cavalos ali para um “treinamento especial”.
Claro, muitos escândalos assolavam Finn Thompson, onde era acusado de maus tratos aos animais dos Estábulos Thompson, além de sabotar seus concorrentes locais e cobrar preços exorbitantes. Mas nas palavras de Thompson, tudo não passava de mentiras, de invejosos querendo derrubar sua reputação.
Já Archie, não só tinha noção da veracidade de muitas daquelas coisas, como conhecia bem a família esquisita que eram os Thompson. Pensou ser um alívio que eles estivessem em sono profundo naquele momento.
O trio ficou em silêncio durante boa parte do caminho, mas logo entraram em uma rua pequena e estreita, sem muitas casas aos arredores, porém havendo diversos estabelecimentos.
— Chegamos à rua Polanski — Victor anunciou — há quem diga que esse lugar é tão isolado do resto da cidade e cheio de estabelecimentos porque a esposa de Thompson é antissocial.
— Isso provavelmente é verídico — Paul disse — a Sra. Thompson pouco foi vista em público e o Sr. Thompson disse que ela gosta de ter uma vida reservada.
— Agora que você disse, Paul, realmente, nunca vimos a esposa do Sr. Thompson — Archie comentou, surpreso pela epifania.
De repente um som alto e esganiçado surgiu debaixo do carro, e aos poucos sua velocidade foi diminuindo, até por fim parar de vez.
— Parece que o combustível acabou, e mais cedo do que eu esperava — Victor comentou — bem, parece que teremos de ir andando até a mansão, ainda bem que já estamos perto.
Eles desceram do carro, o abandonando ali mesmo e seguindo reto pela rua não convencional. Caminharam em silêncio, pois todos se sentiam muito cansados, exceto Igor, que parecia entusiasmado com a viagem.
Uma sensação estranha envolvia Paul, ainda recordando de Midna e seu olhar de compreensão. Ele queria perguntar para Archie sobre ela, mas se sentiu inseguro, já que o irmão deveria ter escondido aquilo de todos por algum motivo. Mas estava claro para ele que Midna viu em Paul algo, mas o que seria? Piedade por ele ser uma criança no meio deles? Talvez. Certamente não era por qualquer outra coisa, ele imaginava.
Já Archie, pensava apenas na poltrona confortável que havia na sala de estar do Sr. Thompson, pois suas costas clamavam por elas.
Chegamos até aqui, parece até o destino. Victor debochou internamente, mas um deboche carregado com uma verdade. O destino acaba agindo de algumas formas, até mesmo o fato de Archie Becker ter se reencontrado com uma antiga pendência. Será que ao menos o destino me proporcionará estar de cara com minha criação novamente?
A pergunta ficou no ar, quando eles enfim chegaram à fachada de uma mansão, com mais ou menos seis metros de altura e dois andares, composta da mais polida madeira Suíça.
A fachada não era muito grande, já que o terreno ficava atrás da mansão. Mas logo notaram algo estranho através das luxuosas persianas nas janelas: as luzes do hall e da sala de estar estavam acesas.
— Aposto que caíram no sono com as luzes acesas — Archie disse — mas é melhor desembainhar a espada, Paul.
O irmão obedeceu.
Bem lentamente, eles foram se aproximando da entrada. Eles sabiam que não deviam subestimar as situações, pois aquela casa poderia estar muito bem sendo abrigo de alguma criatura, ou de várias.
Assim que chegaram na porta, Archie fez um sinal para Victor ir verificar as janelas. Até que…
BAM!
A porta foi escancarada com tudo. Antes que qualquer um deles pudesse reagir, uma carabina estava apontada bem na fuça de Archie. Demorou alguns segundos até processarem o que estava acontecendo, mas logo se deram conta:
— Sr. Thompson! — os irmãos Becker exclamaram.
O homem de meia-idade era alto, possuindo um bigode bem pequeno e vestido com roupas completamente brancas, assim como o chapéu na cabeça,
— Archibald, Paul, o que fazem aqui? E você? — Apontou a arma para Victor, que pareceu estar prestes a urinar involuntariamente — por acaso são criaturas disfarçadas?!
— Não, Sr. Thompson — Archie logo respondeu — esse é Victor Frankenstein, nosso amigo… estamos fugindo de uma horda de zumbis, resumidamente.
Ele os encarou por mais alguns segundos, revezando a mira da carabina entre os três, até por fim se convencer.
— Por que não disseram logo? Entrem, entrem — Thompson os apressou.
Sem questionar, o trio e Igor adentraram a mansão dos Thompson, agitados. O patriarca da família não entrou imediatamente, observando a rua com a arma apontada. Ele foi até os portões e os fechou. Como os muros eram altos, tinha esperança que as criaturas não fossem capazes de invadir sua propriedade.
— Nem dez mil resistiriam a minha fúria, escrevam isso — o aristocrata disse a si mesmo.