As Estranhas Aventuras de Saito - Capítulo 1
Por que isso continua acontecendo? Por que nada na minha vida dá certo?
No momento, estou me escondendo embaixo de uma mesa de pedra. Olhando para a minha direita, vejo o cadáver do cara que me sequestrou minutos atrás com um corte bem feio na cabeça, ao lado dele está o corpo do morto-vivo que o matou. Apenas outra quarta-feira.
Não sei por que essa história continua se repetindo, mas acho que é justo culpar o Universo, assim como a maioria das merdas neste mundo.
— Rowarrrr… — Ai meu Deus, lá vêm os mortos-vivos, prontos para me tornar na definição viva de uma pinhata humana, vidinha boa.
Não vou sair daqui, seria muito estúpido se eu morresse depois de finalmente conseguir dar um fim no meu sequestrador.
Acontece que é meio difícil alguém dar conta de uma horda de mortos-vivo enquanto está desarmado, então os zumbis fizeram um trabalho rápido com ele.
Ugh… eles estão bem aqui do lado, consigo ouvir seus passos e sua respiração, porque diabos os cadáveres ambulantes respiram?
Faço de tudo pra me manter escondido, com a respiração calma e regular. Ugh, consigo ver suas pernas necrosadas por baixo da mesa.
…E então o grupo de cinco zumbis finalmente vai embora. Puta que pariu, já estava na hora.
Assim que tenho certeza de que eles não vão voltar prontos para cortar minha cabeça, saio de baixo da mesa, levantando e me alongando. Preciso parar de me esconder nesses lugares desconfortáveis da próxima vez, isso acaba com minhas costas.
E agora? Ah sim, roubar.
Agachando na frente do corpo do meu sequestrador, começo a minha pequena ladroagem. Que idiota ele era, queria que eu abrisse um daqueles mausoléus élficos.
Essa é a última vez que tento me passar por um especialista em “elixires élficos” para aplicar um golpe. Alguém poderia pensar que depois de três vezes eu aprenderia a lição.
Puta merda esse cara tava falido, essas cinco moedas de cobre do bolso dele não pagam nem mesmo uma noite em uma pousada de merda.
De qualquer jeito, hora de dar o fora. Nova regra, sem pisar nos mausoléus desse mundo, esses lugares me dão arrepios.
Tem vários cadáveres de zumbis largados ao longo do caminho. Se fosse um dia normal, eu iria saqueá-los pra ver se tem algo útil, mas já que tenho cinco bichos raivosos lá atrás querendo minha cabeça.
Assim que encontro a entrada, saio do mausoléu, o ar frio atingindo meu corpo com um simbólico dedo do meio.
Porra, por que esse cara teve que me sequestrar enquanto minha capa estava no meu esconderijo?
Mas sinceramente, por que eu estaria com ela agora? Eu estava na capital de Rathalos quando fui sequestrado por esse imbecil e agora estou praticamente na borda daquela floresta de neve.
Se isso continuar desse jeito, vou congelar até a morte. Seria um final meio broxante depois de tudo que fui obrigado a passar.
Além de que essas roupas de merda não vão me sustentar por muito tempo. Pelo menos tenho a montaria do sequestrador esperando por mim. Heheh, acho que está na hora dela servir a um novo mestre.
Andando alguns metros longe do mausoléu, encontro a dita montaria com suas rédeas amarradas a um pinheiro parcialmente coberto de neve. O pobre coitado está visivelmente tremendo de frio, acho que essa raça de dragão terrestre não se dá muito bem com frio no fim das contas.
E sim, é um dragão em vez do ordinário cavalo, claro que não é um gigantesco réptil voador que cospe fogo e essas frescuras. Tá mais pra um… largato bípede do tamanho de cavalo que tem o mesmo propósito de um cavalo?
Ugh, é o melhor que posso explicar, essas coisas são a montaria principal desse lugar, não sei se existem cavalos aqui, mas muito provavelmente a resposta que recebi de um vendedor na feira da capital já me respondeu isso.
Qual foi a resposta? “Cavalo? Que tipo de chapéu é esse?”, auto explicativo.
Desamarrando as rédeas, subo no dragão, lembrando vagamente que o Sr. Sequestrador tinha uma capa com ele. Bah, tanto faz, de jeito nenhum vou voltar agora.
Com minha bunda doce e macia agora em cima do amável dragão, eu o instruo a se mover.
— Mova-se amigo, temos uma longa jornada pela frente. — Na verdade, não tenho nenhum plano, provavelmente vou fazer outro golpe estúpido e dormir na favela. De novo.
Com um semi relincho, que muito provavelmente pode ser traduzido de dragones para: “Espero que a gente morra aqui fora”. O dragão começa a fazer seu caminho de volta para a civilização mais próxima.
E claro que não tenho ideia de onde isso fica, então terei de vagar por aí de novo. Pelo amor de Deus…
Esta viagem promete ser longa, e ficar entediado sem nada para fazer me faz pensar. E as coisas em que geralmente acabo pensando são sempre as mesmas. Bem, isso e outras coisas duvidosas.
Como a merda ficou irremediavelmente fodida? O que diabos aconteceu? Há alguma razão para eu estar aqui? Provavelmente não.
Resumo simples, estava terminando meu último ano do ensino médio e estava indo muito bem, eu era muito popular, sabe? Bem, era o que meu pai me dizia de qualquer maneira.
Tinha uma vida decente, simples, e no geral, tinha um rumo um tanto claro em minha vida. Um cara simples, com uma vida simples e ideais simples.
Mas as coisas deixam de ser simples no momento em que você está saindo de um mercadinho no meio da noite e simplesmente se vê numa praça em plena luz do dia com gente que parecia ter vindo de um filme medieval.
Imagine a minha reação, uma vez que me acalmei e quase tive um derrame, me forcei a andar por aí e juntar qualquer informação útil que eu poderia obter.
E para minha bela surpresa, ninguém se importava o suficiente comigo para me pregar uma pegadinha desse nível, então eu não estava em nenhum lugar perto de minha casa.
Estou em outro mundo. O Isekai da minha vida finalmente veio bater na minha porta.
Estou preso aqui nos últimos três meses e quer saber minha opinião? É uma merda, o que você estava esperando? Os tempos medievais são hilários por serem tão miseráveis.
Mas agora que estou aqui, as coisas não estão mais tão engraçadas, só me pergunto se isso é uma reação cármica ou algo assim. Mesmo toda essa besteira de magia com criaturas fantasiosas não me dá um pingo de excitação.
Você deve pensar que aqui é onde eu revelo minhas intenções de “voltar para casa”, apenas para desistir no final por causa “das amizades que fiz ao longo do caminho” ou para “salvar o mundo” sendo o herói, com o mundo todo girando em torno da minha bunda.
Honestamente? Eu só quero viver. Uau, que chato. Mas você pode me culpar? Aventura é a última palavra que você poderia ter contado comigo.
“Preguiça e fazer nada” é algo mais parecido comigo. Infelizmente, este mundo não recompensa exatamente a “preguiça e fazer nada”. Oh o horror.
Ainda me lembro claramente da minha primeira tentativa de conseguir algumas moedas, como eu havia surgido numa importante capital de um reino, foi relativamente fácil achar o distrito mais “carente” daquele lugar.
De jeito nenhum eu iria trabalhar em algum lugar que o principal requisito era força braçal, eu não tenho físico para esse tipo de coisa, então decidi tentar um método alternativo de obter lucro.
Fraudar, tentei enganar as pessoas. Por favor, dê um palpite de como essa merda terminou. Agora, antes que vocês venham e me xinguem por fazer isso, por favor, ouçam. Eu tinha três opções no momento:
Opção A: Vá para fora da capital e saia em uma aventura em busca de dinheiro. Provavelmente acabará morto. Auto explicativo quanto ao motivo pelo qual não a escolhi.
Opção B: Roubar dinheiro. Muito provavelmente acabará preso.
Opção C: Faça um trabalho honesto e árduo sendo um fazendeiro ou trabalhando em uma loja ou algo assim. Essa opção era muito melhor porque eu não acabava morrendo.
No entanto, isso significaria que eu ficaria enraizado em um único lugar enquanto estava à disposição de algum idiota. E algum idiota me dizendo o que fazer não é o meu jeito favorito de fazer as coisas. Sim, muito orgulhoso, eu sei.
Em retrospectiva, não escolher a opção C foi uma decisão estúpida pra caralho, eu me arrependo do fundo do meu coração, mas vendo que decisões ruins já foram feitas e já há algumas pessoas que me querem ver empalado, é um ponto indiscutível.
Isso levou a uma quarta opção, D.
Torne-se um vigarista, sim, muito estúpido. Como eu saltei na lógica para chegar aqui? Não faço ideia. Se eu pudesse voltar no tempo e ver o eu do passado, eu bateria em mim. Eu mereço isso de qualquer maneira.
E assim, o pobrezinho de mim tentou fazer um malabarismo com algumas garrafas e truques de cartas. Parecia bem inofensivo e bacana né?
No dia seguinte, acordei com um olho roxo, nu em um beco e completamente atordoado. Passei três horas deitado na minha própria merda e na miséria antes de tentar me levantar e depois andar pelado até meu esconderijo onde eu havia guardado minhas coisas importantes.
Foi um show muito triste. Não se preocupe, existem histórias piores, mas essas são para mais tarde.
Depois disso, foi uma odisseia de ir em bairros e bairros e tentar enganar as pessoas. O fato de que eu era completamente inexperiente em sobreviver na idade média e em lidar com as pessoas não ajudava em nada.
Ainda assim, com o passar dos dias, acabei aprendendo todas essas habilidades e muito mais. Até consegui matar um cara e não ser preso por isso! Embora, novamente, isso seja uma história para outra hora.
Houve muitas coisas em que pensei nesses três meses, principalmente duas coisas.
Primeiro. Como vim parar aqui?
Segundo. Por que diabos estou aqui?
Já desisti de responder às perguntas 1 e 2. Provavelmente é apenas para uma entidade ter risos às minhas custas. Estou culpando Jesus de qualquer maneira, o que eu queria mesmo era uma vida pacífica. Não ser enfiado no meio de um conto de fadas meia boca.
Sim, isso seria bom, apenas uma lojinha velha em uma esquina vendendo, uh, pão ou algo assim, não sei. Eu só quero um pouco de paz porra, é pedir muito? É por isso que odeio ser eu. Eu sou burro e estúpido, e um idiota e também um imbecil.
Seja como for, vendo o que aconteceu minutos atrás, você pode adivinhar que meus planos para arrumar dinheiro deram terrivelmente errado.
O último golpe deveria ser simples, pegue algumas garrafas com um pouco de líquido (não faço ideia do que havia lá). E finja que sou um especialista em elixires élficos, e então convença a todos que beber essa merda vai fazer você de alguma forma viver mais.
Não me pergunte que tipo de plano era esse, eu parei de questionar meus próprios métodos há muito tempo.
Sem surpresa, as pessoas não acreditaram naquilo, nesse ponto eu realmente não estava tão incomodado com a descrença.
Três meses mentindo publicamente fazem maravilhas para a sua confiança e sanidade, a fazem ir de zero a zero, mas desta vez você se acostuma tanto com as pessoas pensando que você é um idiota que acaba não se importando, irrah.
O fato de ninguém acreditar em mim não impediu um “caçador de tesouros” com grandes sonhos de grandeza de me amarrar e me forçar a “ir em uma aventura” em um mausoléu élfico potencialmente mortal.
E essa foi surpreendentemente a quarta vez que alguém me sequestrou porque acreditou muito na minha mentira. O maldito idiota estava falando sobre como ele ia ser rico e lembrado para sempre por suas descobertas.
Eu apenas balancei a cabeça ao longo de seus sonhos de merda enquanto procurava uma chance de matá-lo. Tive que esperar até chegarmos ao nosso destino para acabar com sua miséria.
E agora estou aqui, cavalgando no topo de um falso dragão sem nome voltando para o mesmo lugar de sempre. Como eu gostaria de ter meu celular cheio de músicas aqui, a bateria da maldita coisa acabou na terceira semana da minha estadia nesse lugar.
Agora está apenas pegando pó no meu esconderijo até eu encontrar uma maneira de carregar ele sem o perigo de explodi-lo com magia elétrica.
Se eu sinto falta de alguma coisa do meu mundo, além de não estar na porra da idade média, seria meu celular cheio até a borda com música boa.
Tudo que eu realmente posso fazer é cantar as músicas, que é uma lembrança muito fraca do meu velho mundo, mas eu uso o que consigo para me impedir de perder a sanidade e sair correndo com um saco na cabeça.
— …Porra, eu realmente deveria ter mantido a capa comigo. Vou anotar isso da próxima vez. — O vento frio sopra ao meu redor enquanto eu cavalgo em direção a lugar nenhum, cantando fracamente para aliviar o tédio.
★–★–★
Depois de algum tempo cavalgando no frio, encontrei um pequeno vilarejo que ficava relativamente perto da capital. Eles são mais comuns do que você pensa.
Já sendo noite, não há ninguém na rua além de alguns guardas vagando por aí com tochas, eles me dão uns olhares mas logo me esquecem.
Vou vagando ao longo das ruas até encontrar um alojamento relativamente grande com uma grande placa na frente que eu suponho estar escrito “pousada” nela.
Ah, e esqueci de mencionar, sou completamente analfabeto.
Falando o idioma? Claro, sem problemas. É exatamente a mesma coisa do meu mundo por alguma razão turboalinhada, fale sobre ironia.
Lendo as coisas daqui? Aí tudo começa a ficar complicado. Você já viu as malditas letras que eles usam aqui? Elas parecem um portal para o inferno.
Essa merda deve ser amaldiçoada, porque não tem como aqueles rabiscos significarem alguma coisa. E ainda assim, todo mundo age como se fosse normal.
Uma placa de alguma loja parece uma tentativa falha de um chinês com tremedeira tentar escrever a palavra “lasanha” em português. Como alguém pode levar essa linguagem a sério?
Colocando o dragão roubado em um estábulo próximo, entro dentro da suposta pousada, o ar quente do lugar me aconchegando enquanto fecho a porta atrás de mim.
Não há ninguém lá dentro além de uma velha arrumando algo atrás de um balcão e eu devido ao horário, muito provavelmente sendo madrugada, mas é difícil de dizer quando você não tem um relógio.
Graças a Deus por não haver pessoas agora, seria problemático se alguém me reconhecesse aqui.
Chego em frente ao balcão e sem nem mesmo olhar para mim a velha já fala enquanto levanta de sua posição, cortando qualquer coisa que eu poderia dizer.
— Uma diária custa duas moedas de prata.
Oh pelo amor de Deus… — Uh, você pode me dar um segundo? Eu tenho tantas moedas que às vezes esqueço onde coloquei elas hahah…
Boa tentativa, pena que a velha não parece nem um pouco convencida. Rapidamente verifico meus bolsos para ver se há dinheiro o suficiente.
Não esperava que fosse tão caro, uma pousada tão merda assim não deveria ser tão cara.
Enquanto tento juntar moedas suficientes para não dormir do lado de fora, a velha começa a parecer um pouco desconfiada. — Você me parece um pouco familiar, você já não veio aqui antes?
Puta merda, não me diga que aqueles caras das favelas já começaram a me procurar de novo.
Respondo a sua pergunta com um olhar desinteressado. — Nah, é a primeira vez que estou aqui, vim aqui viajando com um amigo, mas o pobre idiota conseguiu se matar.
Preciso me dar uma história de fundo crível no momento em que tiver a chance. Uma história dura como pedra torna mais fácil sair por aí sem que as pessoas me questionem.
— Oh, sinto muito por sua perda. — E eu sinto muito por não ter conseguido bater na cabeça do meu sequestrador mais cedo, realmente precisava deixar um pouco de raiva acumulada sair pra fora.
Oh ótimo, não há dinheiro suficiente nos meus bolsos. Hora do plano B.
Olho para ela com o olhar mais miserável que consigo fazer, que pode ser argumentado que é o que eu sempre faço.
— H-haha, uh, eu meio que usei todo o meu dinheiro em um enterro adequado para o meu amigo, você pode aceitar 9 moedas de bronze? Prometo que irei arrumar o resto amanhã.
Admito que este não é o meu melhor, mas me dê um tempo, acabei de escapar de um sequestro, estou farto disso.
Eu realmente devo ter parecido o mais miserável possível, porque seu rosto suaviza. — Não se preocupe, apenas as 9 moedas serão suficientes. — Sucesso total, eu nem estava pensando em pagar o resto mesmo, então deu certo.
Depois de pegar a chave do meu quarto e dizer boa noite, vou descansar. Estou precisando disso já faz um tempo.
O quarto em si é bastante satisfatório para uma pousada meia boca. Depois de me despir da minha roupa de especialista em elixires élficos, que basicamente consiste em um robe feito de panos velhos com alguns livros falsos, uma barba falsa feita com cabelo do esgoto e meu cinto de confiança.
Logo me jogo na cama, ela não é tão confortável quanto as do meu velho mundo, mas eu já me acostumei com camas assim de qualquer jeito.
Só espero poder sair daqui sem ser perseguido por alguns favelados raivosos pela primeira vez. Aqueles desgraçados estão com muita raiva depois que comecei os meus negócios fraudulentos no distrito das favelas.
Mas talvez eu possa descansar um pouco sem me preocupar com essas coisas, minha saúde mental está implorando por isso ultimamente.
Pois é, descanso adequado. Com esses bons pensamentos, fecho meus olhos e deixo o sono me levar.
Eu ainda não disse meu nome, certo? Seja como for, vou continuar com a brincadeira e fazer a grande revelação dramática.
O nome é Saito Nakatsuki. Famoso por trapaças, enganações, e assassinatos… acidentais.
…Estou começando a falar sozinho, acho que realmente estou enlouquecendo nesse lugar.