As Paredes do Céu Negro - Capítulo 18
1
Três pessoas estavam sentadas à mesa brilhante de uma padaria. Eram Cássio, Enos e Daniel.
Eles estavam em uma área repleta de mesas e cadeiras iguais. A cor escura da madeira harmonizava perfeitamente com o brilho que possuía. O chão também era feito de madeira, com pequenos ladrilhos de cor mais clara que a das mesas e cadeiras. Uma ou outra planta tratavam de enfeitar os cantos mais isolados.
Mais ao longe, na parede perpendicular aos assentos de Enos e Daniel, havia uma TV de tela plana exibindo notícias sem muita relevância. A parede à esquerda de pai e filho era branca como a neve e dava acesso ao salão principal do estabelecimento, de onde tinham vindo até a área das mesas e cadeiras. E como a convidada mais ilustre dessa composição de impecável requinte, a luz do sol iluminava a todos a partir das grandes janelas laterais da direita.
Enquanto os mais jovens comiam um pedaço de pudim, Enos estava de braços cruzados, calado e imóvel. A conversa prosseguia normalmente.
— Faculdade de Jornalismo? Quem imaginaria, tio!
Cássio riu com orgulho. Então, bebeu um pouco de refrigerante e falou:
— Eu sempre levei jeito pra essas coisas! Meu pai e minha mãe dizem que serei um grande jornalista, e eu não consigo discordar deles. Hehe!
— Mas você ainda é muito novo, não é? Eu não te coloco acima dos vinte com certeza.
— É verdade, é verdade, eu ainda sou bem novo, mal comecei a faculdade. Nem faz tanto tempo que completei dezenove, aliás. Boa intuição — respondeu. — Você é um garotinho bem esperto. Já que tocou no assunto, quero saber a sua idade, pequeno Daniel.
— Isso depende!
— C-Como assim? Depende?
— Quer saber a de ontem ou a de hoje? Hehe.
Cássio parou por um momento e refletiu. Um estalo o atingiu rapidamente.
— Hoje é o seu aniversário!
— Na mosca — Daniel sorria alegremente ao responder.
— Eu até me sinto mal agora. Você estava indo comemorar o seu aniversário em algum lugar naquela hora, certo? E agora tá perdendo tempo aqui por minha causa — disse Cássio, cabisbaixo. — Foi mal!!
— Fui eu que escolhi parar. Fora que você também tinha algo pra fazer e eu te arrastei até aqui, tio. Fica tranquilo.
— Nada tão importante quanto comemorar um aniversário. — Coçando a cabeça em constrangimento, continuou: — E então? Dez, talvez onze anos?
— Oito!
— Uou! Você sempre me surpreende, pequeno Daniel! Você é ainda mais maduro do que alguns dos meus colegas de faculdade e nem tem dez anos. Sinto que poderia conversar contigo por boas e boas horas, mas com eles… nem pensar. Pessoas chatas e ideias chatas.
— Tudo pelo diploma.
— Tudo pelo diploma. A ideia é pegar o lugar desse âncora entediante na TV atrás de mim.
Daniel olhou para a televisão e viu o rosto envelhecido de um homem engravatado detrás de uma mesa. Voltou a olhar para Cássio depois de rir baixinho. O próprio universitário também parecia achar graça da situação.
— Espero que a idade não te maltrate tanto quanto maltratou aquele pobrezinho.
— Eu me cuido! Posso não ser tão bonito, mas eu não pretendo parecer uma uva-passa antes dos setenta.
Enquanto as duas risadas soavam alegremente na mesa, uma terceira risada juntou-se a elas. Cássio não teve tempo de se virar antes que a voz doce e suave começasse a falar:
— Mas eu te acho bonitinho, Cássiozinho.
O universitário saltou de susto. Então, virou-se para ver quem falava tão perto do seu ouvido.
A surpresa ficou estampada na sua cara. Uma mulher jovem, mais ou menos da mesma idade que ele, com cabelos pretos lisos e cortados na altura da nuca, surgiu na frente de todos. Ela estava vestida com o uniforme do estabelecimento, mas, apesar disso, suas curvas esbeltas não eram menos aparentes. Um grande laço vermelho segurava o seu cabelo na lateral esquerda da cabeça, dando-lhe um ar ainda mais gracioso.
— Dália!
— Você a conhece, tio?
— Sim, ela estuda na mesma faculdade que eu.
Dália não se silenciou, complementando com voz doce:
— Mas somos de cursos diferentes, garotinho. Eu estou no curso de Gastronomia.
Daniel assentiu em compreensão. Enos preferiu manter-se em silêncio, ainda na posição de observador.
— E apesar de estudarmos juntos, eu acho que ouvi o Cássiozinho aqui ofendendo os nossos colegas. Será que eu também faço parte da sua definição de “gente chata com ideias chatas”, Cássiozinho?
Ele engoliu em seco. A ameaça velada de Dália o colocou contra a parede.
Mas ela desistiu do interrogatório rapidamente, acertando um tapa no ombro dele.
— Haha!! Não esquenta, não esquenta, era brincadeira! Eu tenho certeza que eu não faço parte dessa sua lista, Cássiozinho.
Ela fazia. Cássio preferiu seguir adiante.
— Desde quando você trabalha aqui? Eu não esperava encontrá-la…
— Não esperava me encontrar… — repetiu, os olhos estreitados em desconfiança. — Eu trabalho nesta padaria desde sempre, é assim que pago a mensalidade do curso. Que estranho, eu jurei que tinha te contado sobre o meu emprego.
Ele havia se esquecido. Ela percebeu imediatamente.
— B-Bom, acontece.
— Deve acontecer, sim…
O clima tenso só foi quebrado quando um homem gritou, de outra mesa:
— Garçonete preguiçosa!! Traga logo o meu cappuccino ou eu vou querer falar com o gerente!!
Os quatro se viraram, incluindo Enos e Daniel. O homem claramente se referia a Dália.
Quando o garoto iria xingar o homem pela falta de educação, Enos o parou e apontou para a garçonete.
Ao contrário do esperado, ela não estava intimidada ou hesitante. Reunindo uma boa quantidade de ar no pulmão, ela rugiu para o homem folgado:
— EU. JÁ. VOU!!! ESPERA QUIETINHO AÍ, SEU CHATO DE GALOCHA!!
Todos ao redor se espantaram. Sem o menor pudor ou hesitação, uma funcionária gritara com um cliente em público! Ela com certeza seria demitida ou, pelo menos, duramente advertida!
Mas ela não demonstrou nenhuma preocupação. Pelo contrário, tossiu de leve após a bronca e voltou-se para a mesa de antes.
— Já vi que não tenho muito tempo antes do gerente chegar. Então, Cássiozinho, eu quero te dizer algo.
— Uh? E o que seria?
De repente, a garota confiante e despudorada abaixou o olhar na direção do chão, o rosto enrubescendo-se enquanto entrelaçava os dedos de forma tímida. Seja lá o que iria dizer, ela se sentia muito ansiosa. Todos na mesa repararam na mudança repentina de comportamento.
— Eu quero ter um encontro com você.