As Sombras de um Novo Começo - Capítulo 10
POV Sete
— Boa tarde — a voz rigorosa, mas carregada de ternura da diretora Lilia ecoou pela escola vazia. — Peço perdão por fazê-los esperar mais alguns minutos; sei que alguns estão ansiosos para cruzar aqueles portões. Entretanto, ressalto que foi necessário. Como estudantes do terceiro ano, vocês devem estar cientes de suas novas obrigações.
O silêncio ocupou o espaço deixado por suas palavras.
Após dias se passarem como um vulto preto que mal conseguia articular como horas e não minutos, finalmente chegamos às vésperas do primeiro teste.
A escola, vazia a essa hora do dia, carregava a atmosfera sonolenta e cansativa do anoitecer. Os ventos gélidos sopravam sobre a área descoberta do pátio, trazendo, ao longe, algumas nuvens que ameaçavam derramar suas lágrimas hoje.
Eu só queria estar em casa
Os últimos dias foram normais. Tão habituais quanto eu já estava acostumado. Uma rotina incessante, um pêndulo que nunca quebrava e sempre seguia seu movimento. Casa e escola, escola e casa.
Embora isso possa parecer um desabafo de alguém cansado, é só um relato de uma realidade incerta. Afinal, por qual motivo minha rotina seria diferente?
As memórias estavam em processo de decomposição em minha mente. Cada dia sendo fragmentado para formar recordações menos numerosas e similares; quase uma organização perfeita. Entre todas, a única que mais ganhava destaque era a noite recente em que saí com aquele grupo duvidoso.
Lembrar de cada detalhe trazia-me um constrangimento profundo, como se apenas lembrar fosse me condenar às ruinas. Mesmo assim, foi uma experiência nova; não posso dizer que foi boa ou ruim, apenas que foi inédita. Entretanto… era algo que preferiria evitar se possível.
— Com licença, diretora Lilia — alguém disse à frente. — Mas o teste não terá início amanhã? Por que falar sobre ele hoje?
— Isso… — Ela considerou um pouco. — Bom, isso é apenas formalidades. Também seria injusto fornecer todos detalhes em cima da hora assim.
— Vai demorar? — Akime perguntou. — Não trouxeram nem cadeiras dessa vez.
Coragem? Não sei, mas após esse comentário despreocupado, todos ficaram imóveis, observando Lilia com cautela.
Apesar da expressão indiferente, ela sorriu em resposta, permitindo-se aliviar o corpo antes de responder: — Não, serei breve.
— Ufa! Você é a melhor diretora Lilia.
Evitando essa bajulação desnecessária, ela assentiu e logo prosseguiu:
— Bom, vamos começar então, pois também estou cansada. — Como se para evidenciar isso, ela estralou o pescoço antes de continuar. — Amanhã, vocês terão aula normal. Nada mudará, e vocês devem comparecer com seus materiais para as aulas previstas. Entretanto, antes que alguém pergunte, quero deixar claro que sim, podemos dizer que o teste se iniciará amanhã.
— Será… Tudo no mesmo dia? Isso não nos deixaria cansados? — uma garota, loira, com pele extremamente clara e um longo cabelo dourado perguntou.
Ela fazia parte da primeira turma, mas era alguém que eu não tinha notado antes. Mesmo sem olha-la nos olhos, frente a frente para sequer saber a cor de sua íris, era fácil notar sua popularidade pelo tom de sua voz e pela forma como era rodeada de pessoas.
No entanto, apesar do esforço e da característica claramente chamativa que ela carregava, não consegui recordar qualquer lembrança confiável de tê-la visto por aí. Todavia, sendo sincero, mal considerei plenamente todas as pessoas da minha sala ainda… Da primeira então… Só estava claro a imagem enigmática da garota ruiva e a daquele menino que havia conversado com Maya.
— Sim, Aurélia, mas não será exatamente dessa forma. — Confortou Lilia, sorrindo gentilmente enquanto considerava a garota. — Deixe-me explicar melhor. O primeiro teste, de fato, se iniciará amanhã, e vocês terão aula normalmente sem nenhuma alteração no cronograma, entretanto, há uma pequena diferença: ao contrário do que vocês estão pensando, o primeiro teste não durará algumas horas, mas uma semana.
— Quê? Uma semana? — indagações apavoradas e céticas ecoaram por todo lugar.
— Não, claro que não, ela deve estar brincando.
— Uma semana? O que faríamos em uma semana?
— Vocês não ouviram errado, e eu não estou brincando. — A voz de Lilia reverberou alto, silenciando os murmúrios. — Amanhã, assim que forem liberados, vocês irão para as suas casas, se prepararão para o início do teste e deixarão seus pais avisados sobre sua ausência nos próximos dias. Feito isso, vocês deverão estar aqui antes das 17:30.
— Ficaremos aqui por uma semana?! — Akime perguntou, indignada.
— Não. Vocês irão passear pela Floresta Verde. — Lilia sorria, alegre, enquanto encontrava os olhares aflitos em sua direção.
— Quê? — A voz de Kiara explodiu assustada. — Pra quê?
— Vocês estarão cientes dos detalhes amanhã.
— Ah, com licença diretora — chamou a garota loira de antes. — Então devemos trazer os recursos necessários de nossas casas?
— Não — Lilia respondeu imediatamente. — Vocês devem estar de mãos vazias quando chegarem aqui e não precisam estar uniformizados também. A escola disponibilizará os recursos, inclusive as roupas para esse teste.
— E o teste será sobre o que exatamente? — Yoshi questionou.
— Bom, não darei mais informações. Quanto menos souberem e mais despreparados estiverem, melhor. Agora, vocês já podem ir. Não perguntem mais nada, pois não receberão uma resposta, apenas lembrem-se de chegarem dentro do prazo amanhã.
Como se para enfatizar suas palavras, ela gesticulou em desdém antes de sair rapidamente pelos corredores. O som dos passos foi a única coisa que restou enquanto ela nos deixava com alguns professores e funcionárias que ainda não haviam se retirado.
Esperei que alguém tomasse a iniciativa e se levantasse primeiro para ir embora, no entanto, ninguém se moveu. Todos pareciam absortos em seus próprios pensamentos.
Ninguém irá notar, não é?
Sentindo-me encorajado por minha mente, levantei-me e saí, tentando simplesmente seguir meu caminho sem me importar com quaisquer pares de olhos que viessem em minhas costas.
Isso fugia do princípio natural, mas era necessário, afinal, eu queira ir embora.
Eu sou o tipo de pessoa que não toma a iniciativa. Seja para conversar ou qualquer outra coisa. Na verdade, eu sempre espero que alguém dê o primeiro passo, observo-o e só então faço minhas próprias ações.
No entanto, a vida não se resume a isso. Esperar é bom, mas são incontáveis as vezes que precisamos agir primeiro ou então… não há quem observar.
O fato é que agora, já visando os portões brancos à minha frente, não me arrependo de ter sido o primeiro, e a menos que eu tenha compreendido mal as palavras da diretora, não havia problema algum em ir embora.
— Está com pressa, não é?
Am? Havia alguém atrás de mim?
Sendo provocado pela curiosidade crescente, não esperei que a voz gentil soasse novamente. Meu corpo girou, e encontrei os olhos amarelos em um tom verde que me fitavam.
Ela não disse nada, mas suas íris se prenderam às minhas à medida que um sorriso sem jeito começava a surgir em seu rosto. Talvez ela imaginasse que essa abordagem era um pouco estranha para desconhecidos… ainda mais em nossas posições.
Ainda assim, isso não era importante, pois notei os grupos que já vinham em nossa direção.
— Um pouco — respondi. — Está saindo também?
Siris pareceu surpresa diante da minha resposta descontraída. Ela ponderou minha pergunta e seu sorriso tornou-se sincero.
— Sim.
— Certo. Vamos, então?
Ela me olhou com curiosidade, depois analisou os alunos que se aproximavam.
— Hum… Certeza?
— Claro — respondi com urgência. Eu precisava sair logo.
— Muito bem, então.
Deixamos os portões e, por coincidência, seguimos pelo mesmo caminho. Apesar de não conhecer Siris, pelas aulas, eu sabia que ela era uma pessoa simpática. Além disso, nunca fiquei tão próximo assim antes, mas não era estranho ou desconfortável, era… suave, quase familiar.
— Como… tem sido morar sozinho? — Ela quebrou o silêncio.
— Ah… Queria dizer que é normal, mas estaria mentindo.
— Acho que desconfiaria também — disse ela, rindo de forma sutil. — Sente falta?
— Uma pergunta complicada.
— Imagino… Mas você gostou da nova experiência?
— Bem, posso dizer que foi mais tranquilo do que imaginei.
— O quê? Você estava achando que enfrentaria desafios?
Considerei o tom de sua voz e diminuí a velocidade dos meus passos. Siris olhou para mim e não conseguiu disfarçar a expressão brincalhona em seu rosto.
— Sim — respondi, disposto a seguir sua brincadeira. — Eu esperava que as aulas de ciência e tecnologia fossem mais difíceis.
Ela abriu a boca para responder, mas antes de dizer alguma coisa, suspirou e seguiu em frente de forma majestosa.
— Você… — Siris começou, quando me aproximei novamente. — parece ser uma pessoa inteligente.
— Engano seu.
— E por que você diz isso? Não tenho o costume de errar sobre essas observações.
— Olha… se estou próximo de conhecer completamente alguém, posso dizer que essa pessoa seria eu mesmo.
— Como assim…?
— Estou dizendo que minha observação é mais precisa que a sua.
— Acredita mesmo nisso? — Ela ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços em advertência.
— Claro. Quer um exemplo?
— Um exemplo…? Sim, mostre seu argumento.
— Muito bem — concordei, fazendo-a parar em frente a mim. — Pelo meu rosto, eu estou pensando em dormir quando chegar em casa ou estudar?
Ela franziu a testa diante da pergunta. Seus dedos tocaram seus lábios, e ela considerou as duas opções por alguns segundos.
— Dormir?
— Não.
— Como não? — ela questionou. — Aliás, isso não faz sentido algum. Você pode simplesmente mentir.
— Exato — respondi, andando novamente. — Entretanto, sua primeira resposta não foi que eu poderia mentir.
Seus olhos se iluminaram em esclarecimento e ela apenas assentiu, já entendendo onde eu queria chegar.
— Admito, você me pegou nessa. Mas isso não torna minhas observações erradas.
— Talvez, mas não confie totalmente nelas. Eu mesmo não acredito nas minhas.
— Certo… Mas agora eu te pergunto: qual a sua observação sobre os outros?
— Outros?
— Seus colegas, as pessoas que você tem mantido contato.
— Hum… não há nada a declarar.
— Não? Ou você só está mentindo de novo?
— Tente imaginar — entoei em um quase sussurro. — Posso contar minha análise sobre você.
— Sobre mim?! Posso saber por qual motivo você está “analisando” sua superior?
Embora sua pergunta tivesse a finalidade de me repreender, sua voz fraquejava em mostrar seriedade, e ela sorria para o nada.
— Certamente. — Meus olhos percorreram as ruas, virando pela ramificação à esquerda. — Você seguirá por aqui?
Ela alternou o olhar entre as duas direções, mas logo negou balançando a cabeça.
— Não, seguirei em linha reta.
Ouvi o que ela disse, mas não prendi-me às palavras. Internamente, eu estava revivendo uma noite que se desenrolou diferente para mim sobre a calçada dessa rua.
— Ficará para a próxima então — respondi, sorrindo fracamente para ela.
— Certo, vou esperar.
Em poucos segundos, nos despedimos e eu acompanhei Siris com os olhos antes de seguir pelo meu próprio caminho. Tudo estava tão tranquilo que, inesperadamente, senti-me bem em estar do lado de fora de quatro paredes.
Uma incursão pelos níveis da Floresta Verde?
Porém, o peso da próxima tarefa era grande demais para ir embora.
Bem, não posso dizer que estou preparado ou ansioso para isso também. Mesmo assim, preciso organizar tudo antes de ir, além de deixar tudo claro sobre a minha ausência durante os próximos dias.
Enquanto analisava os pensamentos que desciam em um efeito cascata sobre a superfície consciente da minha mente, ouvi vozes familiares que fizeram meu coração acelerar. As batidas que se tornavam mais fortes à medida que assimilava o timbre, fizeram-me levantar o olhar em uma ação desesperada.
O que vi, foi a melhor sensação possível que estava ciente de sentir. O calor acomodou-se atrás dos meus olhos, e eu apenas me preocupei em andar mais rápido.
Minha mãe e Aylla, minha irmã mais nova, estavam sentadas no banco em frente ao prédio que eu residia atualmente.
Quando já estava próximo o suficiente, elas me notaram e se levantaram em uníssono.
O sentimento que surgiu em mim foi tão grande e genuíno que se dispersou em um grande sorriso em meus lábios quando finalmente me envolvi nos braços aconchegantes de minha mãe. Uma ação que até soava engraçada se fossemos comparar nossas alturas, mas eu não me importava. Nesse momento, ela era o meu o refúgio.
— Boa tarde, filho — sua voz doce sussurrou no meu ouvido. — Como você está?
— Bem e… — Superei fundo, me recompondo. — e você, mãe?
— Bem também.
Segundos se passaram e só então assenti, desvencilhando-me dela enquanto sorria tristemente.
— Isso é bom — concordei, olhando para figura atrás dela que mal se preocupou em retribuir a atenção.
Aylla…
Uma coincidência estranha em minha família. Se eu, o segundo filho, sou a cópia da minha da minha mãe, e Reeva, minha irmã mais velha, é a face do meu pai, então Aylla é o ponto intermediário entre nós, herdando o cabelo e o tom de pele da minha mãe, mas adquirindo os olhos azuis do meu pai e, além disso, o potencial dele.
— Oi, Aylla — cumprimentei, aproximando-me dela e erguendo minha mão sobre sua cabeça em um ato carinhoso e habitual. — Como você…
Antes que pudesse concluir minha pergunta, sua mão avançou sobre a minha, e ela afastou o gesto, olhando no fundo dos meus olhos, mas sem demonstrar qualquer tipo de apego que outrora nos unia.
— Oi — em uma simples palavra, sua voz entoou seca.
Enquanto olhava para minha mão bruscamente afastada, algo inchou em minha cabeça e senti um aperto interno, provocando um fraco suspiro inaudível a quem quer que fosse.
Sem saber o que dizer ou como reagir em resposta, eu meramente sorri de forma amarga.
É… — a voz da minha mãe soou atrás de mim, sem saber o que realmente dizer, mas determinada a acabar com o clima estranho que ficou entre Aylla e eu. — Você ficou depois da aula, não é?
— Sim — respondi, virando-me para olha-la. — A diretora tinha algo a nos dizer. Aliás, aproveitando o momento, gostaria de avisar que ficarei fora por um tempo, mãe.
— São os testes, não são?
— É… são.
Ela sorriu em compreensão e então se aproximou de mim, puxando, em um gesto suave, uma mecha do meu cabelo que pendia na lateral.
— Você ficará bem?
— Provavelmente.
— Nossa! Que raro! Meu pequeno bebê demonstrando confiança?
— Mãe — adverti.
— De qualquer forma, se cuide e me avise quando voltar.
— Vocês… — Senti um aperto no peito, não querendo perguntar o óbvio. — Vocês já estão indo?
— Sim… Estávamos apenas de passagem por Ventaris. Precisamos retornar a Arboris.
Na verdade, eu já sabia. O uniforme branco com detalhes dourados, semelhante ao meu, que minha irmã usava era uma prova de que elas provavelmente não passaram em casa antes de virem aqui.
— Mas… vocês nem entraram.
— Desculpa, Sete. A sua irmã também está nos esperando no centro da cidade.
— Reeva está aqui?
— A-ah é… — Os olhos da minha mãe se agitaram. Pelo visto, ela não queria que eu soubesse. — Sim, ela está, mas não pôde vir por estar ocupada com missões da Guarda.
— Não precisa mentir, mãe. Dê lembranças a ela por mim.
— Mãe! — Aylla finalmente disse algo. — Vamos logo. Reeva ficará mal-humorada.
— Certo, certo. Sete — Suas mãos envolveram as minhas. — Me desculpe. Em outra oportunidade, conversaremos melhor e você poderá me mostrar seu apartamento.
— Tudo bem, mãe — consolei, tentando deixar claro em meu rosto que realmente não havia problema. — Apenas cuide-se.
Ela assentiu firmemente e então deixou-me para trás, atravessando a rua enquanto tentava não olhar para mim novamente; despedidas eram realmente dolorosas.
Em um breve e cansado suspiro, virei-me para dizer qualquer coisa à Aylla, nem que fosse um simples “tchau, irmã”. Mas… assim que minha boca abriu e a primeira palavra começava a ser formada, ela saiu, deixando apenas o silêncio de sua partida à medida que corria atrás de nossa mãe e me ignorava completamente.
Certo… meus próprios pensamentos tentando me consolar em detrimento de algo que se afastava de mim.
Meus olhos, meus pés, meu apego se opunham à necessidade de deixá-las ir, e seguir pelo meu próprio caminho em direção ao prédio.
Tive realmente que unir forças para sair e atravessar as portas do prédio. Seguindo em passos calmos até encostar-me no balcão em frente aos olhos provocadores que já observavam tudo.
— Quem diria que você era tão sentimental. À primeira vista, não parecia nutrir algo tão forte.
Senti minha testa franzi ao ouvir as palavras provocadoras de Elisa, pois não havia motivos para ser insensível.
— Talvez você esteja lendo muitos livros — respondi.
— Não, não é isso. Nunca vi você agir assim diante de alguém.
— O que você acha que eu sou? — indaguei, olhando-a passivamente nos olhos.
— Ah, que seja! Agora me diga, por que não me disse que tinha uma irmã gêmea?
— Irmã… gêmea?
Eu estava confuso. Aylla compartilhava algumas características comigo, mas não era tantas assim.
— Sim! Aquelas duas vieram aqui te procurar, mas eu disse que você ainda não havia chegado. Insisti para que elas esperassem aqui, mas a mais alta, sua irmã gêmea, não aceitou e falou que esperaria você lá fora.
— Ela não é minha irmã. É minha mãe.
— Quê?! — Ela me analisou e depois revirou os olhos, como se tentasse recordar sua memórias. — Sem chance!
— Você está sem óculos, não está? — Refleti em voz alta, lembrando-me de um óculos preto que, uma vez ou outra, encontrei-a usando.
— Isso não muda nada! — contestou, semicerrando os olhos. — Eu enxergo muito bem, para a sua informação. Os óculos são apenas enfeite.
— Tem certeza?
— Olha Sete, não me faça espancá-lo aqui. Preciso deste emprego.
— Tudo bem, mas ela, realmente, é minha mãe.
Elisa me analisou por tempo, pensou e só então abriu a boca novamente:
— Certo. No entanto, a outra com certeza é a sua irmã. Por que não me disse nada sobre ela…? Na verdade, você não me contou nada sobre você nos últimos dias! Apenas eu estou me expondo aqui!
— Ah…
Era verdade, nas últimas semanas, Elisa e eu nos aproximamos bastante. Ela sempre estava entediada quando eu chegava do colégio, e conversar foi uma maneira que nós dois encontramos para passar o tempo. Os assuntos, quase sempre e de forma natural, pendiam para o seu lado e eu… era praticamente um ouvinte.
— Você não perguntou — respondi simplesmente.
— Qual seu objetivo? Quer me manipular?
— Ah Elisa — Suspirei, gesticulando para evitar o assunto. — vá dormir. Eu preciso subir, amanhã será um dia complicado.
— Por quê? — Suas mãos bateram no balcão. — Não vai me contar?
Encontrei seu olhar intenso e sorri em resposta. Conversámos e isso tornou-se algo habitual, até arrisco que dizer que uma amizade.
— Amanhã — respondi tranquilamente enquanto virava-me para sair. — Boa noite.
— Certo — sua voz soou serena e amigável, sem qualquer agitação anterior. — Boa noite.