As Sombras de um Novo Começo - Capítulo 7
POV Maya
— Mãe! Estou saindo!
— Tá bom! — A voz da minha mãe ressoou, ecoando da cozinha. — Boa aula, minha pequena.
Não pude evitar o sorriso profundo que se formou em meus lábios com suas doces palavras. Minha mãe sempre foi muito carinhosa comigo; talvez isso seja um benefício de ser filha única. Não havia barreiras entre ela e mim. Conversávamos sobre qualquer assunto sem problema algum, e ela sempre me aconselhava com sua vasta experiência.
Quando abri a porta da minha casa, senti o calor breve e confortável da manhã acariciar minha pele, e o cheiro agradável do jardim me inundar por completo.
Inspirando fundo, apreciei aquela sensação matinal antes de caminhar com passos alegres pelo quarteirão da cidade em direção ao colégio. À minha frente, algumas crianças e adolescentes também seguiam animadamente o percurso, conversando vivamente enquanto o faziam.
— Oh, que coincidência! — Instintivamente, reconheci o tom alto na voz que soou ao meu lado. — Bom dia, May.
Virei-me gentilmente antes de responder: — Bom dia, Hector.
O garoto loiro sorriu envergonhado, suas bochechas ficando levemente coradas quando recebeu minha atenção.
— Posso… acompanhá-la? — disse ele, ainda hesitante, mas já criando coragem para se aproximar de mim.
— Claro. — Observei-o por um momento antes de incentivá-lo: — Então, vamos?
Tão determinado quanto possível, ele assentiu, e logo seguimos caminho. Durante os primeiros momentos, notei que, uma vez ou outra, Hector abria a boca, pretendendo dizer algo, mas sempre a fechava sem expor uma palavra. Por outro lado, eu fiquei totalmente quieta, sem me preocupar em puxar assunto.
Eu era um pouco tímida, mas não foi por esse motivo que evitei conversar com ele. Na verdade, nos conhecíamos há bastante tempo, e nossas mães sempre foram amigas. Entretanto, por alguma razão, não me sentia verdadeiramente confortável em falar com ele. Hector sempre se mostrou uma boa pessoa, até arrisco dizer que nutria algo por mim, mas não posso ter certeza. Como “amiga” dele, sempre observei seus devaneios triviais em relação às garotas; ele sempre foi uma pessoa assim.
— Você… ficou surpresa com o anúncio ontem?
— Sendo sincera, não muito. Todo ano algo escapa pelas paredes da escola, só não sabíamos disso em anos anteriores porque não estávamos no penúltimo ano, e por isso não eram importantes para nós. No entanto, quando alcançamos esse estágio ano passado, naturalmente descobrimos informações, e a concepção do mistério em relação aos testes era uma delas.
— Verdade, também ouvi sobre — disse ele, parecendo reflexivo — mas saber disso não contribui em nada.
— De fato — concordei — essas informações são banais, mas é como a diretora Lilia disse: precisamos estar preparados independentemente do que seja. — concluí meus pensamentos, já me preparando para dobrar na direção da rua principal.
Enquanto observava, por instinto, os dois lados da rua, analisando brevemente as pessoas que passavam por mim, notei uma figura familiar se aproximando ao longe. Seus olhos estavam fixos no chão, e seus passos evidenciavam sua calma e preguiça habitual. Os negros cachos em sua cabeça, casualmente arrumados, balançavam de forma sutil a cada passo.
Senti orgulho de mim mesma. Apesar das breves informações que obtive, consegui escolher um uniforme perfeito para ele. Talvez isso fosse um talento natural, quem sabe não migre para essa área futuramente. Percebendo-o chegar cada vez mais perto, provei do calor e dos sentimentos que começavam a queimar com a ideia. Parecia algo promissor.
— May? — Hector tirou-me da minha contemplação.
— Sim…? — respondi, ainda sem considerar realmente suas palavras ou mesmo minhas ações.
Sete, que finalmente ergueu o rosto, encontrou meus olhos e pareceu me avaliar de cima a baixo. Um arrepio percorreu minha espinha com a atenção, mas não era de desconforto. Por algum motivo, eu não me sentia insegura em conversar com ele, ao contrário de Hector; talvez seja porque somos um pouco parecidos, mas sinto que ele consegue me compreender.
Os olhos de um tom profundo, mas serenos, consideraram a outra pessoa ao meu lado. Percebi a troca unilateral de intensidade entre eles, no entanto, isso durou pouco. Sete alternou seu olhar entre mim e Hector, e uma realização surgiu em minha mente. Meu rosto ficou quente e, por consequência, afastei-me um pouco da figura próxima a mim. Não posso arriscar que um entendimento desnecessário e incorreto surja na mente de alguém.
— Vamos — Hector disse entre dentes, soando um pouco incomodado com a situação enquanto puxava-me pelo braço.
Tentei repreendê-lo, mas não consegui; nenhuma palavra saiu à medida que era forçada a caminhar em direção à escola novamente.
Não consegui entender o motivo de sua aparente irritação, e tudo que pude fazer foi segui-lo, tropeçando em meus próprios passos desajeitados. Eu havia pensado em esperar por Sete, mas já era tarde agora. Ao meu lado, Hector continuava a andar apressadamente, arrastando-me à frente e sem dizer uma palavra.
Fiquei envergonhada ao ponto de não conseguir virar-me para trás; não queria encontrar aqueles olhos novamente, embora duvidasse que eles estivessem realmente considerando a situação.
Entre passos e tropeços, chegamos aos imensos portões brancos da escola, passamos pelos grupos de adolescentes e logo estávamos andando pelos corredores do instituto.
— E-ei — disse, certificando-me de soar alto o suficiente. — O que foi aquilo?!
Hector parou rigidamente com minhas palavras e finalmente soltou meu braço.
— D-desculpa, May. Eu… não sei o que deu em mim.
Observei o garoto loiro expressar suas desculpas suplicantes enquanto evitava me olhar nos olhos.
— Tudo bem — disse por fim. — Acho que devemos nos separar aqui. Preciso encontrar minhas amigas.
— Claro! — Seu rosto brilhou mais. — Nos vemos… depois?
— Acho que sim. — Sorri para ele, retirando-me furtivamente da sua linha de visão.
Faltavam alguns minutos para a aula de Edgar. Originalmente, eu teria me encontrado com Kiara e Isa no portão do colégio, mas, devido ao surto estranho de Hector, acabei passando sem notar se estavam lá ou não.
— Você e o Hector, hein? — Braços me envolveram por trás, e eu discernir imediatamente a voz provocadora e risonha soando em meus ouvidos. — Nem se preocupou em nos contar. Tsk, Tsk, que péssima amiga você é, Maya.
— Ahhh, não enche — respondi em meio aos sorrisos que brotavam em meus lábios enquanto tentava me desvencilhar. — Vocês duas! Nem pensem em começar com suas provocações infundadas.
Isa e Kiara riram da minha cara e aproximaram-se de mim pelos lados. Apesar de tudo, elas eram as únicas pessoas com as quais conseguia me expressar naturalmente, sem me sentir envergonhada ou desconfortável; eram, realmente, minhas melhores amigas.
— Tem certeza de que são “infundadas”? — Isa me provocou. — Nós vimos vocês passarem de mãos dadas… Na verdade, acho que a escola inteira viu. Hector parecia um pimentão.
Elas riram ainda mais, mas eu só consegui prestar atenção em uma coisa: a escola inteira?
— Vocês… — Engoli em seco. — Vocês acham que murmúrios sobre isso podem começar a se espalhar?
— Hehehe está tão preocupada por quê? — questionou Kiara — Se é mentira, não há necessidade. A não ser que… — interrompi suas palavras dando-lhe um soco no ombro.
Dispensei essas preocupações, pois, afinal, o que eu poderia fazer caso isso acontecesse? Só preciso tomar cuidado para que situações como essa não ocorram mais futuramente.
— Oh, bom dia, crianças! — A voz de Edgar entoou alegre quando entramos na sala.
— Bom dia! — respondemos em uníssono.
Quase todos os alunos já estavam em seus lugares, e Edgar estava ocupado, organizando alguma coisa no armário. Observando o redor enquanto caminhava a uma das mesas vagas, fiquei surpresa com a visão ao fundo. Seus cotovelos cravados sobre a superfície gélida da madeira, e seus olhos fixos na paisagem exuberante além dos vidros transparentes; Sete contemplava tranquilamente a visão, alheio a qualquer som em sua volta.
— Isso é errado. Uma pessoa comprometida não pode pensar em tais coisas — Kiara cochichou em meu ouvido.
— Quê?! — exclamei, afastando-a de mim. — Já disse para parar com isso!
Bufei fortemente antes de cruzar os braços e me afundar na cadeira, ignorando, como forma de protesto, minhas amigas que se sentaram ao meu lado. Apesar disso, elas continuaram a me importunar com o assunto, fazendo birra como se fossem duas crianças e não mulheres crescidas.
— Muito bem, pequenas abelhas — pronunciou Edgar, abafando o som alto das conversas. — Agora que todos chegaram, daremos início à nossa segunda aula.
— E o que faremos hoje? — Catarine questionou, parecendo animada.
— Não iremos praticar combate.
— O quê?! Como assim não?! — Sua voz cheia de indignação.
— É… é lamentável, mas, por hora, preciso explicar outros assuntos para vocês. — Ele fez uma pausa, pegando um dinamômetro dentro do armário. — Como vocês sabem, a energia Gama, além de ser empregada para magia e tecnologia, também é usada para fortalecer os atributos corporais. Depois de ser absorvida da atmosfera, ela circula naturalmente no nosso corpo, mas isso, por si só, não aprimora o físico ou os cinco sentidos. Somente quando aumentamos ou… em outras palavras, damos intenção a ela, é que essas características sofrem aumentos.
— Certo, professor Edgar — Interrompeu Marc. — mas até quanto podemos aumentar nossos atributos?
— Hum… Bom ponto, garoto. Mas, na verdade, isso depende. Geralmente, podemos aumentar em até duas vezes mais, entretanto, isso não é um regra específica. Por exemplo — disse, flexionando os músculos e fazendo-me tampar a boca com as mãos para não rir da cena — eu já possuo uma força esmagadora naturalmente, então, caso eu a aumente com energia, tal força pode crescer mais e mais. Como eu disse antes, não há regra; o aumento depende da intensidade de sua própria energia.
— Então eu posso simplesmente treinar e treinar, aumentar meus atributos progressivamente e depois aperfeiçoá-los duas ou até mais vezes com energia? — perguntou Akime.
— Sim, todavia, não é tão fácil assim, criança. Adquirir meu físico exige muito treinamento e resiliência — Edgar explicou orgulhosamente.
— E quem disse que eu quero ficar toda musculosa?
Não teve como suportar dessa vez. Com a voz desdenhosa de Akime, a sala caiu em gargalhadas. Foi um alívio; não aguentava mais segurar os risos que ameaçavam-me uma vez ou outra.
— Vocês… Vocês não entendem — Edgar disse tristemente ao observar nossa reação.
— Ah, professor, não seja assim — consolou Yoshi. — A Akime está apenas brincando.
— Hein? Não es… — Antes que ela pudesse dizer, Marc tampou sua boca rapidamente.
— Veja, Edgar — entoou Victor, exibindo seus bíceps — seguirei seu exemplo.
A expressão do professor melhorou de forma considerável e logo um enorme sorriso se formou em seu rosto. A atmosfera ficou tão prazerosa que nos esquecemos da aula. Edgar, aquele que deveria estar nos ensinando, estava agora conversando animadamente com Victor e outros meninos. O lugar, completamente inundado por genuínas vozes e risos.
Enquanto um sorriso descontraído brilhava em meu rosto, temi que alguém ou até mesmo a diretora, aparecesse repentinamente para ver qual a causa dessa comoção toda. Se isso acontecesse, estaríamos com problemas. Entretanto, ninguém parecia se importar com isso; mesmo Kiara, Isa e surpreendentemente Clare, sorriam enquanto conversavam sobre qualquer coisa.
Talvez eu seja a única preocupada aqui?
Uma ideia tocou a superfície da minha mente, e eu rapidamente olhei para trás, buscando os mesmos pensamentos que os meus na expressão de outra pessoa. No entanto, fiquei levemente espantada com a visão.
Sete sorria sutilmente enquanto negava com a cabaça para alguma coisa, apenas observando de longe o desenrolar do tempo. Por algum motivo, fiquei tranquila ao observá-lo dessa forma; algo nele trazia-me conforto.
— Hum… O que está olhando, mocinha? — perguntou Kiara, aproximando-se de mim.
— N-nada. — Minha voz soando mais envergonhada do que eu pretendia.
— Vai continuar escondendo de nós? — questionou Isa, olhando profundamente nos meus olhos.
Senti meu corpo esfriar com suas palavras. Elas pareciam estar falando sério agora e observavam-me intensamente.
— E-eu… — comecei, decidindo contar a verdade.
Desviei o olhar, criando coragem para tentar ser o mais sincera possível. Entretanto, quando olhei novamente em seus olhos, percebi que estavam brincando comigo. As duas explodiram em risos enquanto zombavam de mim.
— Idiotas. — Adverti, virando o rosto furiosamente, e então…
O homem que antes observava, agora me olhava tranquilamente, como se analisasse cada movimento. Percebendo minha atenção, ele curvou seus lábios em um fraco sorriso antes de, novamente, mudar seu olhar para a paisagem à distância.
Sim… realmente será um ano interessante.