As Sombras de um Novo Começo - Capítulo 8
POV Sete
— Boa tarde, pequenos exploradores — saudou Alberto, sorrindo de orelha a orelha enquanto nos considerava com grande expectativa. — Agora que estamos aqui, reunidos para a nossa primeira aula, não poderia deixar de expressar o quanto estou animado. — Fazendo uma pausa, ele se dirigiu com passos rápidos para se sentar à mesa ao lado do enorme quadro branco pendurado na parede. — Como foram as férias? Aproveitaram bastante?
Murmúrios começaram a ecoar entre os alunos; cada um revivendo suas próprias lembranças do tempo recém vivido.
Minha mente estava estagnada, como se sentisse preguiça em lembrar, mas, com os fragmentos capturados na superfície das minhas memórias, percebi que não era culpa dela, afinal, mal fiz algo durante o recesso. Até parecia que, juntando todo pedaço, não daria mais que alguns breves dias e não semanas.
Alberto esperou tranquilamente pela primeira resposta. Seus olhos claros iam e vinham sobre as mesas, e seu sorriso satisfeito não o abandonou em nenhum momento.
O lugar, destinado às aulas de geografia, era bem diferente das outras salas. O visual era muito mais rústico, com um tom de trigo cobrindo as paredes e mesas únicas, para somente um aluno, que estavam dispostas no espaçoso ambiente.
— Não, não, professor Alberto! — A voz de Akime interrompeu os sons surdos que permeavam a atmosfera. — Vamos falar sobre outro assunto. Desembuche, diga-nos sobre as informações do primeiro teste.
Os olhos de Alberto se ergueram em uma expressão surpresa. Ele ponderou as palavras atrevidas e provocadoras da garota e logo formou um enorme sorriso antes de dizer: — Lamento, mas não podemos fofocar sobre isso. É triste. Mesmo eu não estou ciente de todas as informações.
— Não há problema. — Insistiu Akime. — Vamos, nos conte o que você sabe.
Diante da voz e dos olhares suplicantes, Alberto pareceu ceder. Sua expressão, outrora alegre, tornou-se subitamente cautelosa, e ele se inclinou, curvando o corpo brevemente sobre a mesa.
— Vocês… — Sua voz quase um sussurro. — Não contam para ninguém?
— Não — Akime e outros responderam firmemente enquanto esperavam ansiosos pela resposta.
— Eu também não. — disse Alberto de forma casual, recostando-se novamente na cadeira.
— Quê?
Lamentações e desaprovações explodiram pela sala, e Alberto apenas riu da cena.
— Entendam, buscadores do conhecimento. É compreensível sua curiosidade, mas não posso dar com língua nos dentes. Vocês nem imaginam… — Ele fez uma pausa, tremendo levemente. — O que Lilia faria comigo.
— Isso não é um problema — argumentou Akime. — Ela não vai saber.
— Hahaha, não mesmo. Aprecio sua curiosidade, mas não vou arriscar meu pescoço por isso.
As emoções à flor da pele despencaram em ondas pelo abismo. Desistindo de continuar, eles apenas se acomodaram em seus assentos e suspiraram em derrota.
— Não reajam assim. — Alberto os consolou, retirando um pincel do bolso e se virando para a lousa branca. — Afinal, ainda temos uma linda aula pela frente.
Suas mãos se moveram de forma ágil pela superfície pálida. A ponta do pincel traçava um esboço mal feito do continente. A imagem, que parecia ser feita por uma criança de quatro anos, se desenrolava por uma considerável extensão, e os distritos eram brevemente sinalizados e nomeados, ao mesmo tempo que a expectativa diminuía.
— Não tinha conhecimento sobre suas habilidades de desenho, professor Alberto — comentou Yoshi, em um tom provocador, do outro lado da sala e sentado a uma mesa próxima a Júlia. Ao que parece, Emilia não teve muita sorte dessa vez.
— Como não? E olha que nem estou me esforçando.
Alberto gargalhou e se virou para sala, terminando sua obra de arte orgulhosamente.
— Não sintam inveja. Essa é uma habilidade adquirida ao longo dos anos. — Seus dedos traçaram uma trajetória em direção ao esterno. — Mas enfim, não vou me vangloriar sobre meus talentos. Isso levaria tempo, e é preciso falar sobre outro assunto.
— Jura? — Akime indagou. — Estávamos ansiosos para ouvir.
Sons risonhos e abafados escaparam de nós enquanto observávamos as duas figuras.
Pronto, suspirei, controlando as emoções para não rir alto, que dupla.
— Haverá outras oportunidades, não se preocupem. Bom, para os desinformados — começou sua explicação, soando ironicamente — vos apresento Folium, o único continente, ainda vivo, do planeta Gaia.
— Quê?! — entoou Kiara, se lavando em forma de protesto — Ainda… Ahhh, entendi.
Tão rápido quanto possível, e envergonhada com sua inocência, ela sentou-se novamente. Maya, que estava à mesa do lado, apenas negou em desaprovação.
— Hehehe. Continuando… Folium é a única massa de terra visível sobre a superfície do nosso planeta e é dividido em quatro grandes distritos. — Com o pincel, Alberto sinalizou a extremidade leste do território. — Além deles, a megailha é coberta por uma densa e vasta floresta, denominada de Floresta Verde, que se estende de leste a oeste, poupando apenas os núcleos dos distritos.
— Professor Alberto — chamou Maya — eu sempre quis perguntar: por que os distritos são tão separados um do outro?
— Oh! É isso mesmo, Maya. Já me perguntei isso quando criança e, felizmente, hoje posso responder. Há uma razão para isso. Cada distrito possui um núcleo que é formado por três cidades, mas, como vocês observam no meu belo mapa, a Floresta Verde cerca intensamente cada núcleo. O ponto que vocês precisam entender é que um distrito não é apenas a área de um núcleo, mas uma unidade administrativa. Suas fronteiras, embora não sejam visíveis, se estendem por quase metade do continente. Como uma civilização avançada e pouco populosa, nossa prioridade é manter a floresta intacta.
— Essa é uma característica comum entre as raças, não é? — Clare perguntou calmamente.
— Sim, é. No entanto, não generalizem. Nós, por exemplo, somos uma população de mais ou menos 48 milhões de habitantes divididos entre as 12 cidades globais, mas há planetas com um índice duas ou mais vezes maior. Agora, entretanto, quero que prestem atenção aqui.
Em um momento, enquanto nos concentrávamos em suas ações, ele circulou os nomes acima de cada ponto no mapa.
— Vocês… sabem que moramos em Aquanos, não sabem? — perguntou, virando-se para nós.
Ninguém respondeu à sua pergunta.
— Muito bem, então! Não me perguntem depois também. No entanto, vejam, a organização dos distritos segue uma “lógica” numeral: inicialmente, ao extremo oeste, está Aerides, o primeiro distrito; ao lado dele, está Terranis, o segundo; pouco mais abaixo, o terceiro, Pyralios e, por último, o quarto distrito, Aquanos. Além disso, a Floresta Verde é ranqueada em três níveis. O primeiro é o nível mais externo, ele compõe as partes entre os núcleos dos distritos e a área inicial da floresta a leste. O segundo é a parte central, e o primeiro está localizado à nordeste. Vocês se lembram o que essa organização significa?
— Óbvio. Esse ordem significa que quanto mais fundo for, maior será o perigo.
— Muito bem, Akime. Você é uma garota esperta, não sabe o quanto estou orgulhoso. É exatamente como ela disse, pessoal. Quanto mais próximo do primeiro nível, maior são os matérias encontrados, no entanto… — Ele fez uma expressão sombria. — também maior é o nível das bestas.
— Nesse caso, professor — disse Julia — tenho uma curiosidade: por que as bestas não vagam pelos próximos níveis e eventualmente cheguem aqui? Os livros didáticos explicam brevemente que há dispositivos para “evitar” isso, mas não consigo compreender como bestas tão poderosas são barradas dessa forma.
— Hum… — Considerou ele. — Uma indagação válida. Embora não seja minha área, posso tentar explicar. Os dispositivos citados, que vocês claramente já ouviram falar, criam uma cúpula ao redor de cada nível, com exceção do terceiro. É uma barreira, mas não impedem, necessariamente, que os animais as atravessem. Os dispositivos de barreira ficam alocados a um segundo que delimita e sinaliza os níveis, ambos são alimentados por cristais de energia, mas possuem funções diferentes. Enquanto estes possuem uma função territorial, aqueles servem para ludibriar as bestas, persuadindo-as a ficarem quietinhas no segundo e primeiro nível.
— E isso é realmente seguro? — questionou Akime.
— A eficácia é questionável, mas não precisam ter medo, jovem. Esses dispositivos distorcem a Gama para atingirem, em um grau inferior, a capacidade do primeiro nível do feitiço mental. Obviamente, não as afeta diretamente, mas fazem um carinho e elas… se acalmam. No entanto, não é só isso. Por natureza e instinto, bestas fortes tendem a ficar nas profundezas da Floresta Verde, e o motivo é simples: não é somente os materiais que se tornam melhores, nem as bestas que se tornam mais perigosas; a floresta inteira se adapta a isso, tornando-se mais densa, viva, caótica e gigante. Resumindo, é o hábitat perfeito para elas.
Humm… que tal uma aventura? Certo, certo. Minha mente e seus pensamentos duvidosos.
— E qual é o plano se elas saírem? — Desta vez, foi Kiara que soou preocupada.
— Contingência? Bom, deixa eu pensar… — Ele coçou o queixo antes lançar sua conclusão imediata: — Não há, se saírem, só podemos torcer para que não estejam com fome.
— Ei! Professor, não diga isso. Ela é sensível? — provocou Isa ao lado.
— Q-quê? Quem você está chamando de sensível?
Entre elas, Maya balbuciou algo e apenas balançou a cabeça em negação, parecendo profundamente envergonhada enquanto seus olhos cavavam o chão por uma fuga.
— Garotas, tenham calma e olhem em volta. Percebam a quantidade de cavalheiros dispostos a salvarem vocês.
As palavras de Alberto cessaram a discussão acalorada entre Kiara e Isa. A sala ficou inerte pelos próximos minutos. Olhares furtivos viajavam por direções determinadas, na direção de um possível príncipe ou uma donzela em perigo.
Presenciando tal desenrolar, não pude evitar de me sentir bem com isso. Afinal, a aula se dirigia de forma tão prazerosa que por várias vezes tive que me controlar para não rir, e esse foi mais um momento assim.
— Tsk, Tsk. Sem tempo para paqueras, pessoal. Daremos continuidade para encerrar esta aula incrível. — Ele brincou com as palavras, esperando a atenção de todos mais uma vez. —Por último, e não menos importante, trataremos da organização geopolítica de Folium. Cada distrito possui um representante e seus respectivos conselheiros que decidem, até certo ponto, a organização de um distrito; já o Concelho, que é a união dos representantes, decide os caminhos do continente e, consequentemente, do planeta. O ensino, por exemplo, é algo padronizado porque foi assim decidido pelo Concelho.
— Professor — chamou Emilia, levando a mão. — por falar nisso, você sabe de alguma informação nova sobre o que está acontecendo em Terranis?
A menção do assunto trouxe consigo uma cautela repentina, como se fosse um grosso cobertor sobre todos nós e que intimidava qualquer ruído.
— Não — Alberto respondeu após um momento, emitindo seriedade pela primeira vez em sua voz. — As informações são muito escassas. Vocês devem ter observado as atualizações sobre isso no jornal regional, mas mesmo elas são incertas.
— Por que o Concelho não faz nada? Precisamos saber o que está acontecendo lá — Akime questionou.
— De fato. No entanto, as coisas sempre foram assim. Não sabemos o que aconteceu, mas sabemos que isso foi uma decisão do atual representante de lá, juntamente com seus conselheiros. A população está vivendo normalmente, o único problema é que o representante isolou o distrito de relações sociais e formais. Quaisquer eventos ou participações que o incluíam foram revogados, mas, fora isso, não há maiores complicações. O Concelho não quer intervir diretamente, já que isso não afetou os habitantes, e pretende aguardar uma resposta do próprio poder administrativo.
— Era só alguém de lá bisbilhotar um pouco — comentou Kiara, um pouco desinteressada.
— Seria maravilhoso, mas não é possível. As pessoas estão livres, todavia, elas não entendem o que está acontecendo. Estão tão desinformadas quanto nós. Inclusive, ouvi especulações de que nem mesmo a própria família do representante sabe sobre seus objetivos.
— E ficaremos assim? De mãos atadas? — Yoshi soou indignado, mas mantendo a calma.
— “Dê tempo ao tempo”. Não é o que dizem? Ser paciente é importante, e, além do mais, mesmo que discordemos, assim foi decidido. Vamos acreditar. Oberon possui um histórico ótimo mesmo entre os representantes passados; ele deve ter seus motivos.
Recém faladas, as palavras se dispersaram pelo ar. Seus significados ainda sendo compreendidos por nós, seus únicos ouvintes.
A realidade pode ser desafiadora às vezes, mas não controlamos tudo. Ao meu ver, entender isso torna mais fácil aceitar e entender o universo. Se mutilar por coisas que fogem de suas mãos é como se debater em uma areia movediça.
— Bem… Meus caros exploradores, nos despedimos aqui. Até a próxima.
Ao mesmo tempo, vozes acaloradas, vindas do corredor, invadiram a sala, criando um contraste estranho entre a ignorância e a apreensão. Aos poucos, o tom despreocupado que marcava as falas passageiras permeou entre as pessoas à minha frente.
Em um breve instante, fui arrastado para fora, um pouco inconsciente devido a multidão que passava por mim enquanto desviava de seus corpos.
Me vi, finalmente, atravessando os enormes e detalhados portões brancos da entrada novamente. O alívio me agarrou em seus braços confortáveis e me senti livre para seguir meu caminho.
— Ei! Sete!
Sério? Pensei, já me virando em direção à voz.
Há poucos metros, Yoshi segurava a mão de Emilia firmemente ao seu lado. Ele a puxou, se aproximando de mim, mas ela, tão envergonhada com esse contato em público, apenas desviava o olhar.
— Você está livre amanhã? — Yoshi perguntou, parando quando estava perto o suficiente.
Considerei suas palavras. Algo parecia errado, mas resolvi assentir.
— Certo. Emilia e eu planejamos nos encontrar amanhã, já que não tem aula. O que acha de vir conosco? Você não conhece a cidade direito, certo?
Franzi a testa com seu convite e apenas observei os dois por momento antes de responder: — Não… não estou interessado em segurar vela.
— Como? — ele me olhou confuso.
— N-não é isso — Emilia interrompeu alto. — Somos só amigos, e não será somente nós! Minhas amigas, Catarine e Manu também virão.
Ela me olhava desesperada. Suas bochechas tão vermelhas quanto brasa, e seus olhos brilhando em constrangimento. Yoshi, por outro lado, ainda parecia considerar cuidadosamente a frase dita, olhando para Emilia ao seu lado ao mesmo tempo em que a mesma esperava por uma resposta.
— Certo. — Suspirei. — Então… qual o horário?