Bevan - O Divino Império - Capítulo 1
No primeiro dia do mês de maio do ano de 2200, se iniciava a terceira Guerra Mundial. As causas para isso nunca ficaram muito claras — por isso era mais fácil dizer que foi um aglomerado de motivos — vários estudiosos e especialistas debatem até hoje a razão do estopim da guerra.
E para o público, era revelado sempre o mais óbvio: conflitos políticos, ameaças e economia. Esses motivos junto a um monte de conversa fiada era o que sempre era dito nos jornais como sendo as causas da guerra.
Nos últimos anos a população mundial cresceu de forma exponencial e o mundo tem ficado cada vez menor. Por causa disso, a produção de alimentos, empregos e áreas residências não estavam mais sendo suficientes.
Claro, contra medidas para diminuir a população mundial foram criadas por todo o mundo. Vários países até mesmo adotaram a lei do filho único, mesmo assim, não foi o suficiente para diminuir o caos social.
Devido a superlotação, a economia de diversos países começaram a entrar em colapso. Conflitos por causa do preço das importações e exportações — que estavam cada vez mais caras — começaram a surgir. Dois países do continente Europeu entraram em um conflito armado. Foi assim que a primeira guerra entre as duas nações se iniciou.
Pode parecer que foi uma simples guerra, onde quem perdia recompensava o outro com uma parte da renda do país. Ou como um jornalista disse: “eu ganhei a guerra, agora ponha comida na minha mesa”, mas, na verdade, não foi bem assim. O motivo por trás dessa guerra era outro e os espólios não passavam de uma desculpa para o verdadeiro motivo.
— Mas é óbvio, vocês já sabiam disso, certo? — disse Pietro, subtenente do exército brasileiro e capitão do time alfa.
Um adolescente de 17 anos. Tinha cabelos ruivos, olhos claros e 1,70 de altura. Era bem bonito, tanto seu rosto quanto seu corpo.
Desde o ano 200 do segundo milênio muitas mudanças estavam acontecendo. A maioridade, por exemplo, agora era aos 15 anos de idade. O serviço militar era obrigatório tanto para os homens quanto para as mulheres, e se tornar reservista não era possível. Mesmo que você não tivesse aptidão para as linhas de frente, ainda poderá trabalhar na parte administrativa da organização. Entre outras mudanças.
De forma geral, Pietro é igual a todos os outros adolescentes que se alistaram no exército. No entanto, seu diferencial em relação aos demais e o que lhe permitia alcançar uma alta patente tão rápido era sua enorme aptidão física para combates, assim como por ser um dos poucos que conseguem absorver a “mana”.
Αγγελος
Pietro e o time alfa estão se deslocando de avião até o local de uma missão e, por algumas razões, ele decidiu revelar aos seus subordinados a verdade por trás da guerra.
— Vocês sabem qual é o verdadeiro motivo dessa guerra e qual a relação dela com a missão de hoje? — perguntou Pietro aos membros do time alfa.
O time alfa é um esquadrão responsável por missões especiais do exército brasileiro. Esses mesmos soldados estavam olhando perplexos para Pietro, pois também acreditavam que aquilo que foi revelado pela mídia era a verdade completa.
— Pelo amor de Deus! Tudo bem não saber de toda a verdade, mas pelo menos não acreditem em tudo que aparece na TV. — esbravejou Pietro.
As expressões no rosto dos soldados eram sugestivas. A reação que tiveram anteriormente parecia ser combinada, a fim de brincar com o capitão. Mas ignorando isso, Pietro continuou questionando:
— Sabem por que em todos esses anos de guerra o uso de bombas foi proibido?
Alguns segundos depois de fazer essa pergunta um dos integrantes do time alfa levantou a mão e respondeu:
— O uso foi proibido porque seu verdadeiro valor só seria mostrado as jogando no meio de cidades, mas se isso acontecesse, a humanidade provavelmente deixaria de existir. Então, pelo bem da humanidade, as nações decidiram não usar armamento nuclear ou qualquer outro tipo de bomba. Senhor!
Ao invés de um elogio, eles ouviram uma gargalhada vinda de Pietro. Sem entender, todos gostariam de questioná-lo, mas os soldados não ousariam questionar seu capitão. Então segurando seu riso, Pietro resmungou:
— Pelo bem da humanidade, é?
Os soldados ali presentes não entendiam o que seu capitão quis dizer, portanto, ficaram calados.
— Existe sim uma verdade nisso tudo, porém, não passa de hipocrisia. Desde o começo as pessoas lá de cima só estavam pensando no próprio bem-estar e nos benefícios que vão ganhar, sem se importar com os que estão na linha de frente. Desde a primeira guerra no ano de 2200, o verdadeiro motivo era uma “limpeza” para diminuir o número excessivo de pessoas no mundo.
Os soldados engoliram seco ao ouvir as últimas palavras de seu capitão, mas antes que ele pudesse continuar, Victor esbravejou:
— Então as cidades que viraram campos de guerra não passavam de sacrifícios para diminuir a população?
Pietro respirou profundamente antes de responder:
— Exatamente! Soldados que com 6 meses de treinamento, ou menos, já eram mandados para a guerra e as cidades que viraram campo de batalha foram usados como sacrifício para controlar a população mundial.
Victor, assim como os outros três membros do time alfa que estão na aeronave, ficaram paralisados depois de ouvir aquela afirmação. Principalmente Victor, que era um dos quase raros sobreviventes de uma cidade que virou campo de guerra.
Os outros membros do time alfa também são órfãos de guerra. Portanto, aquela informação era como reviver o momento em que suas cidades foram destruídas e seus familiares e amigos foram mortos.
Aquela situação se tornava cada vez mais estranha para o time alfa. Esse time é formado por dez pessoas, cinco estão indo para a missão e cinco que já estão esperando no local, algo que nunca tinha acontecido antes.
Com seu capitão contando uma história estranha e o time separado indo para esta missão, os membros ficam inquietos, se questionaram qual seria sua missão. João, um dos membros, então perguntou:
— Capitão, o senhor nos contou tudo isso por que nossa missão de hoje tem alguma coisa haver com isso, né?
Pietro colocava sua mochila nas costas, enquanto se levantava e ia em direção à saída do avião. Enquanto caminhava ele respondeu:
— Nossa missão de hoje é dar suporte para o batalhão que vai limpar uma cidade fronteiriça e montar uma base, junto com os outros membros do time alfa que já estão lá agilizando nosso trabalho.
Esperando a porta abrir, Pietro bateu o pé no chão como um sinal para os outros se prepararem para saltar do avião. Com tudo pronto, eles saltaram as exatas 01:00 AM do dia 15, do sétimo mês do ano de 2266. Daquele momento em diante, a missão de extermínio da cidade fronteiriça do Brasil com o Paraguai começou.
Pietro e seu vice-capitão não sabiam, mas essa missão provavelmente seria sua última, porque a morte era tudo que eles iriam encontrar naquela cidade.
Algumas horas antes de Pietro saltar do avião, a outra metade do time alfa se encontrava em uma situação complicada. O time de reconhecimento e a equipe de snipers estavam desaparecidas há algumas horas — o que era muito preocupante.
A equipe de snipers iria ficar em pontos estratégicos para auxiliar o avanço da linha de frente, e o time de reconhecimento, obviamente, estava encarregado de recolher informações. No entanto, assim que saíram do acampamento e adentraram na cidade, o vice-capitão não teve mais nenhuma notícia deles.
Enquanto o vice-capitão pensava na razão das coisas estarem dando errado, uma emboscada se formava ao redor do acampamento. Os soldados que estavam de vigia tinham começado a sumir.
Assim que perceberam o desaparecimento de alguns soldados, o Vice foi imediatamente informado. Após ligar os pontos ele tinha conseguido deduzir a situação.
Então murmurou: — emboscada.
O soldado que foi informá-lo arregalava os olhos ao ouvir aquilo, então gritou em desespero:
— É uma emboscada!
Levando em consideração a situação ao ouvir aquilo, os soldados logo perceberam a situação e se preparam para lutar. Uma sangrenta batalha começava. Mortes a cada segundo de ambos os lados. Aquela era uma situação onde ambos eram a caça e o caçador.
Horas depois do começo dessa batalha, ambos os lados estavam quase dizimados. A visão que o capitão tinha ao chegar no acampamento era uma pilha de corpos, que estavam servindo de barreira para o time alfa e o primeiro batalhão se protegerem dos tiros.
Do outro lado, os soldados estavam com armamento que podia derrubar aviões. Diante daquilo, qualquer barreira parecia insignificante. Pietro transmitia comandos para os membros do time alfa que o acompanhava se prepararem para a batalha, eles iriam tentar um ataque surpresa.
Caminhavam bem devagar, um ao lado do outro. Eles estavam com os soldados inimigos na mira de seus fuzis. Tinham tudo pronto para atirar. Esperando as ordens do capitão, eles continuaram caminhando vagarosamente, passo por passo, para não serem descobertos.
Estando em um ponto cego para o exército inimigo, eles abriram fogo a queima roupa, sem piedade. Massacrando um esquadrão inteiro, sem chance de revidar. Contudo, só foi isso que eles conseguiram fazer com o ataque surpresa. Os outros esquadrões do exército inimigo se organizaram e também abriram fogo na direção de Pietro.
Assim se passou uma hora de troca de tiros. Ambos atirando ao nada, esperando que, por um milagre, uma bala acertasse o inimigo. Pietro estava tão concentrado na sua troca de tiros que não percebeu que ninguém do acampamento abria fogo contra o inimigo. Isso, posteriormente, iria gerar um grande arrependimento nele, pois quando percebesse seria tarde demais.
Alguns minutos depois conseguiram ver que um dos membros do time alfa estava sendo usado de escudo. Demorou para entender, mas quando enfim percebeu, mandou cessar fogo imediatamente.
Gargalhadas e zombarias podiam ser ouvidas assim que ele tinha mandado cessar fogo. Mesmo quem não entendia o idioma podia dizer que eles estão menosprezando os soldados do exército brasileiro.
Uma provocação óbvia. Entretanto, algo mais estava sendo dito por eles. Um dos soldados do exército inimigo gritou:
— Larguem as armas e ponham as mãos na cabeça.
Os membros do time alfa não mexeram um músculo sequer antes de ouvir as ordens do capitão. Ele estava assimilando as coisas que aconteceram até agora, a fim de tomar a melhor decisão.
Pietro tem poucas informações sobre a situação e isso o deixa ansioso, mas alguma coisa estava gritando em seus instintos. Ele sentia que se fizesse o que o inimigo está mandando, teria uma chance de virar o jogo.
Apostando tudo nesse pressentimento, o jovem capitão ordenou que abaixassem as armas, colocassem as mãos na cabeça e começassem a caminhar indo na direção do inimigo. Naquele momento, os pássaros que estavam nas árvores ao redor do local começaram a cantar e voar para longe.
A atitude das aves era o prelúdio de um terremoto que estava prestes a atingir aquela aérea. Aquela era a única chance de Pietro virar o jogo, mas para isso dar certo, o abalo sísmico tinha que começar antes que ele chegasse até o alcance do inimigo.
Contando apenas com a sorte, o garoto continuava a caminhar bem devagar, esperando os primeiros tremores. Ainda que não soubesse a intensidade do tremor, tinha que apostar tudo naquela chance.
Quando estava perto o suficiente para atacar, como se fosse Pietro o causador, os primeiros tremores surgiram. Assim, um terremoto com escala de 4 a 6 graus começava.
Como tinha um pressentimento de que algo aconteceria, o jovem capitão não se assustou com os tremores. Pelo contrário, pegou bombas de fumaça que tinha preparado antes de se render e jogou-as no inimigo.
Enquanto desembainhava uma faca de caça que sempre carregavam consigo, estava absorvendo o máximo de mana que conseguia para fortalecer o corpo e atacar o inimigo. Este que, devido aos tremores e a fumaça, estavam desorientados.
Mana é uma energia misteriosa que começou a ser detectada por volta de 2160. Poucas pessoas podiam interagir com essa energia e os aparelhos da época não conseguiam medir suas ondas de forma precisa.
Entretanto, as pessoas que conseguiam absorver essa energia começaram a apresentar uma força física e agilidade muito superior a um humano normal. Fora as condições do corpo, que apresentavam parâmetros de saúde quase ridículos de perfeitos.
Mesmo que uma pessoa fosse criada a vida inteira, desde o nascimento, se alimentando e se exercitando conforme um nutricionista receitasse, não conseguiria um corpo saudável como aqueles que absorvem a mana.
Claro, esses “milagres” dependem muito do quanto a pessoa conseguia absorver de mana. Também, com o passar dos anos, foi constatado a cura de doenças incuráveis após conseguir interagir com essa energia.
Pietro é um super gênio em relação a isso, pois com 4 anos de idade já conseguia interagir com a mana. Por isso, tinha treinado Artes Marciais a vida inteira. Se tornando um tipo de artista marcial igual aqueles que ele via nos manhuas.
Por causa disso, atitudes imprudentes como: se jogar no meio dos inimigos segurando uma faca enquanto eles estavam armados até os dentes era uma coisa normal e, supostamente, quase sem nenhum perigo para ele.
Seus sentidos também eram muito melhores em comparação a um humano normal — por causa do uso da mana — então ele conseguia se mover livremente no meio daquela fumaça. O que estava prestes a acontecer não podia nem sequer ser chamado de contra-ataque, “massacre” era mais apropriado.
Pietro se movia de forma magnífica entre os inimigos, aplicando golpes limpos e impiedosos, matando um após o outro. Era uma madrugada de lua cheia, fazendo sua lâmina brilhar, aquele pequeno flash era a última coisa que os soldados paraguaios podiam ver antes de morrer. Minutos depois o esquadrão inteiro foi massacrado.
Sem tempo para descansar, ele se dirigia até onde os últimos membros do time alfa estariam. Antes de entrar, ele pegou a arma de um dos inimigos que matou e cuidadosamente se esgueirou para o local. A cena que ele presenciou ao entrar o fez cerrar os dentes de raiva.
Sem se importar com inimigos escondidos ou qualquer coisa do tipo, tinha desistido de entrar escondido. Pelo contrário, entrou com os dois pés na porta, abrindo fogo na direção de cada um dos inimigos que estavam no seu campo de visão.
O motivo dessa raiva imprudente era que, três dos cinco membros do time estavam mortos. Além de terem sinais de tortura. Dos dois que ainda continuam vivos, um foi torturado a um ponto que não vai conseguir escapar e o último, Carlos, vice-capitão e seu irmão adotivo, está com o pé na cova — também devido a tortura.
De forma imprudente e movido pelo ódio e adrenalina, Pietro matou facilmente as três pessoas que estavam lá. Podendo assim dar prioridade ao tratamento de seu irmão.