Bevan - O Divino Império - Capítulo 10
“Falta pouco, só mais alguns metros. Eu estou quase lá, vamos!” É o que pensava repetidas vezes enquanto se rastejava até a entrada da caverna, a garota do quinto trio.
Enquanto não estava na vista de Pietro — e o mesmo nem sequer achava digno olhar na direção dela —, exceto pelo medo que todos estão sentindo, a garota não sentia medo algum.
Enquanto rastejava-se até a caverna, até então por motivos desconhecidos, a garota preparava-se mentalmente para as consequências do que estava prestes a fazer, afinal, em seu subconsciente, ela sabe que não tem a menor chance contra Pietro.
A garota, agora, estava a alguns passos da entrada da caverna. Conforme ela se aproximava, seu coração acelerava cada vez mais e, ao alcançar a entrada da caverna, quando já estava pronta para correr para dentro, seu coração subitamente palpitou uma única última vez e parou por alguns segundos.
Instintivamente, a garota não fez mais nenhum único movimento enquanto seu coração voltava aos poucos seus batimentos normais.
Tudo isso aconteceu em questão de minutos, enquanto o comandante da missão usava seus subordinados de escudo para ganhar tempo, o que seria essencial para poder cancelar a segunda barreira.
Simultaneamente, no momento em que a garota chegou à entrada da caverna, o comandante conseguiu desfazer sua barreira.
No entanto, inesperadamente, Pietro chega e grita, como se fosse ensaiado:
— Nem pense nisso, eu irei te matar antes que consiga.
Todos ficaram paralisado após essas palavras. Primeiramente porque ninguém acreditaria que aquela criatura que tomado pela escuridão, onde nem sequer tinha uma aparência humana, assim como antes, poderia falar.
Essa missão ficava mais estranha a cada acontecimento, primeiro, uma garota que aparentemente é tão fraca que precisou fugir por dias demonstra um poder ilusório forte o suficiente para afetar pessoas de nível Tenente. Depois, um demônio com asas que, mesmo tendo um nível muito baixo, a simples pressão da sua existência já coloca o comandante da missão em alerta.
Logo após, devido às escolhas do pelotão, todos entraram em uma batalha feroz. Pietro, mesmo em total desvantagem, lutava como uma fera irracional, independente do quão profundo ou sério fosse o ferimento que sofresse, ele continua avançando.
Tudo isso era informação demais para se assimilar, mesmo o comandante da missão, que é um nobre e tem um alto nível de cultivo, não consegue entender como as coisas ficaram assim.
“”Quando tal demônio chegou a esta terra? Ele é mesmo o tabu universal que todos temem?” Pensava o comandante, repetindo esses pensamentos inúmeras e inúmeras vezes, revisando as informações que tem para tentar encontrar uma resposta, questionando-se novamente e buscando em suas memórias quaisquer outras informações. Foi assim, imerso em todo esse desespero, que aquelas aterrorizantes palavras: “Nem pense nisso, eu irei te matar antes que consiga” chegaram até o comandante.
Após ter dito tais palavras, aproveitando que todos os inimigos ficaram paralisados, Pietro usou suas últimas forças para atacar com facas de arremesso, que estavam presas em seu corpo, os membros do pelotão.
Mesmo sabendo que naquele momento não poderia usar suas asas, pois muitos inimigos focaram seus ataques nelas, Pietro impulsionou-se com toda sua força em direção ao comandante, parando a sua frente em questão de segundos.
Ainda mais assustado com isso, o comandante apenas observava seus subordinados que estavam entre Pietro e ele caindo um após o outro, enquanto seus instintos o alertavam para fugir o mais rápido possível do golpe que Pietro preparava para atacá-lo.
Enquanto Dehon, o comandante, observava toda aquela situação, a voz de seu pai ecoava em sua mente.
Alguns dias atrás na cidade de Sodoma, sétimo batalhão do exército do reino de Sondom.
Apressadamente, alguém caminhava em direção ao escritório do coronel Lógis. Sua identidade é um total mistério para qualquer um que presenciava a situação, pois o sol cobria totalmente sua aparência permitindo que apenas observassem sua silhueta.
Muitos observavam aquela situação devido a grande reputação do coronel Lógis de ser absurdamente rígido e severo, todos estavam ansiosos para o resultado disso.
Chegando na frente da sala e bruscamente empurrando a enorme porta, aquela pessoa entrou e gritou:
— Pai, onde você está?
Aquelas palavras foram ditas em alto e bom som, suficientes para todos os que observavam a situação rapidamente voltarem aos seus afazeres pois, naquele momento, quem ousava ter tamanho desrespeito com o coronel Lógis não era ninguém menos que seu filho, Dehon.
Após não receber uma resposta, Dehon começa a olhar desesperadamente para vários pontos específicos na sala e, em um desses pontos, ele se depara então com um homem de aproximadamente 1,85 cm de altura, vestido numa farda militar, tomando um chá e observando a cidade por uma janela.
Por já estar irritado por causa de outros problemas e agora tendo que lidar com seu filho problemático, veias dilatam em sua testa. Logo, muito mais enraivecido que antes, o coronel indagou:
— O que diabos você quer?
— Por que não permitiu que eu fosse o comandante para esta missão? O senhor sabe da minha força e do quanto desejo isso, então, por que? — respondeu Dehon.
Mesmo que esteja estressado e com muita raiva, o coronel ainda se dispôs a responder seu filho, logo, para refutar qualquer argumento que ele pudesse ter preparado de antemão, o coronel indagou:
— Você tem nível de capitão?
— N-não senhor — respondeu Dehon com a voz trêmula.
— Então de onde diabos tirou essa ideia de comandar um pelotão numa missão oficial?
Vendo que seus planos tinham falhado antes mesmo de começarem a dar certo, o garoto tentou desesperadamente contornar a situação, mas nada que ele dizia parecia fazer efeito em seu pai,i argumentos elitistas ou nepotistas também não funcionavam e, obviamente, estavam o deixando cada vez mais irritado.
Mesmo sem dizer uma única palavra, Dehon sabia que seu pai iria ouvir apenas mais um de seus argumentos do por quê ele deveria ser o comandante da missão.
Sendo esse seu ultimato, o garoto desesperadamente gritou:
— Essa é minha única chance de conseguir uma experiência real de batalha antes da guerra e, também, é minha chance de conseguir o treinamento especial para virar capitão.
Aquelas palavras surpreenderam o coronel de uma forma que o deixou sem palavras, em seus pensamentos uma única pergunta continuava a se repetir: “como ele sabe sobre a guerra?”.
Ao perceber que a situação é pior do que ele imaginava, o coronel pensou: “se meu filho sabe disso, então, provavelmente, todos os jovens da sua idade também sabem”.
Sem dizer uma única palavra em resposta ao ultimato de seu filho, com esses pensamentos se acumulando junto a tudo que vinha o preocupando até agora o coronel caminhou até sua cadeira, suspirou profundamente, sentou-se e disse:
— Então você acha que já está grandinho o suficiente para ser comandante? É, essas crianças de hoje em dia…
Pressionando Dehon com sua aura, o coronel continuou:
— Uma missão de campo não é igual a caçar monstros na floresta. Não pense que por ter sido vice-comandante algumas vezes, em missões ao redor da cidade, que você tem o que é preciso para comandar um pelotão.
Respirando profundamente o coronel bate suas duas mãos na sua mesa, quase quebrando-a, levantando-se logo em seguida, ele grita:
— Se eu te permitir fazer isso, você pode morrer porra! O que uma criança mimada igual a você pode fazer numa missão de verdade? Se não fosse pelo clã e os milhões que gastamos, você acha que sequer teria alcançado esse nível?
Todos naquele prédio tremeram ao ouvir o grito do coronel, juntamente ao medo causado por sua aura que expandiu-se para todo o edifício.
Era impossível para Dehon refutar aquilo, ainda assim o garoto gritou: — já chega, pai! O senhor vai permitir ou não?
Alguns minutos se passaram em silêncio após aquele grito, mas o garoto continuava pressionando seu pai. Ainda que saiba das limitações de seu filho, o coronel cedeu e o permitiu ser comandante, já que não teria sentido ter gasto milhões em remédios e outras formas para melhor seu cultivo se não o permite-se fazer coisas assim.
Agora que ele já o permitiu ser comandante do pelotão, muito irritado e cansado, o coronel gritou com seu filho para que sumisse de sua frente.
Devido a isso, o coronel tinha mais um problema para resolver, sendo ele: encontrar um de seus subordinados que tenha tempo livre para proteger seu filho nessa missão.
— Sinceramente, se não fosse pelas regras do clã, eu definitivamente não teria um filho — resmungou o coronel.
Dehon lembrou-se dessa conversa com seu pai antes de vir para essa missão, uma frase que ele disse não parava de se repetir em sua mente: “você pode morrer porra!”.
Enquanto lembrava-se disso e escutava repetidas vezes a mesma frase, ele pensou: “no final, papai estava certo. Parece que nunca poderei ser aquele que antes eu idealizei”.
Tomado por esses pensamentos, Dehon aceitou seu fim. Enquanto isso, o espadachim observava Dehon e lembrava-se das ordens do coronel Lógis.
Suas ordens eram: “proteja Dehon! É só o que você precisa fazer. Não acredito que essa missão seja perigosa a esse ponto, mas, no entanto, quando se trata daquela floresta qualquer cuidado é pouco, então se disfarce e o proteja.”
Mesmo ferido, depois de tudo, sua missão é mais importante que sua vida. Logo, o espadachim arrancou um colar de seu pescoço e o jogou fora, assim que o fez, sua aparência mudou totalmente.
Mesmo sua espada transformou-se em um arco, seus longos cabelos diminuíram e, diferente de antes, agora estão castanhos, cor comum no clã Lógis. Sem perder tempo com essa transformação, ele atira consecutivamente três flechas na direção de Pietro, duas o acerta de raspão e uma atravessa o braço que ele estava concentrando mana para atacar Dehon.
Não podendo mais atacar devido ao impacto e ferimento ter atrapalhado seu golpe, também ao perceber que o arqueiro que o acertou, bem como outros do pelotão estão preparando ataques para acerta-lo, Pietro chuta Dehon o usando como trampolim recuar.
Mesmo essa simples ação causou grandes ferimentos em Dehon, o fazendo cuspir sangue. Ainda que Pietro tenha fugido, alguns membros o atacaram com magias de longo alcance, o acertando por todos os lados.
Enquanto isso, os que ainda podiam ficar de pé correram para socorrer Dehon e, sem olhar para trás, fugiram para o mais longe que conseguissem. Pietro está muito ferido para ir atrás deles, mas ainda sobrou uma pessoa do pelotão que não pode fugir de suas garras.
Enquanto agarrava-se a um sentimento que nem mesmo ele entendia de onde vem, Pietro andou e rastejou até a caverna onde Christina está. Enquanto isso, de um por um, os membros do pelotão iam se distanciando cada vez mais.
Ao entrar na caverna aquela imagem demoníaca, feita totalmente de escuridão e sombras foi sumindo, aos poucos o rosto gentil de Pietro vai aparecendo.
Depois de alguns passos escorando-se nas paredes da caverna, Pietro olha para a frente e simplesmente grita o mais ferozmente que consegue, como se fosse um rugido, colocando todas suas dores para fora.
Enquanto o fazia, lágrimas desciam de seus olhos como se fosse uma cachoeira. Em desespero, Pietro pensava: “por que diabos eu fiz tudo isso? Por qual motivo entrei nessa guerra por alguém que nem conheço? É sério que depois de tudo eu morrerei assim? Por que Julia não está aqui? Por que não posso morrer em seus braços? Por que nunca encontro as respostas que realmente procuro?”
Pietro começou a remoer novamente suas angústias, dentre elas, a pior para ele com certeza é ficar tanto tempo longe de Júlia, como se fosse uma punição.
Depois de incessantes gritos de dor, naquele momento, algumas horas depois dele retornar a terra, Pietro colapsou e desmaiou, marcando o chão com seu sangue.