Bevan - O Divino Império - Capítulo 11
Dentro da caverna, novamente Pietro se encontrava vulnerável e desacordado. Apesar disso, seu grito de antes, não intencionalmente, tornou-se a razão pela qual Christina continua viva.
Alguns metros à frente, onde Pietro caiu, encontram-se Christina e a garota do quinto trio numa situação bem fora do comum. Ainda fraca devido ao poder que usou antes e, provavelmente por ter lutado agora mesmo, a linda jovem que antes foi salva por seu deus mal conseguia ficar de pé.
Apoiando-se no corpo de sua inimiga, Christina tremia as pernas enquanto as forçava a manter-se de pé. Mais preocupada com seu senhor, unilateralmente proclamado por ela, Christina puxou seu braço de onde o apoiava.
Assim que o fez, a garota do quinto trio caiu para trás revelando um buraco do tamanho de um punho em seu peito. Christina, ainda muito debilitada, caminhou até seu senhor carregando algo pulsando em sua mão e, estranhamente, o fez engolir.
Contra sua vontade, ela também desmaia e assim, pelas próximas vinte e quatro horas, os dois ficaram ali totalmente vulneráveis. Passado esse tempo, Pietro acorda, algumas feridas estão se curando significativamente rápido, mas não o suficiente para ele se levantar.
Imóvel e totalmente vulnerável, ainda que tentasse não o fazer, em seus pensamentos relembrava a última vez que foi tratada por Júlia. Para ele, seu maior porto seguro é Júlia, desde que estão juntos ela sempre cuidou dele e o protegeu, mesmo que fosse mais fraca.
Fechando os olhos, ele reviveu a cena. Antes do cataclisma:
Na manhã seguinte, após a operação na cidade fronteiriça, oficiais do exército chegam ao hospital Sol e Luz após serem emboscados e gravemente feridos. Entre os feriados, Pietro Piovani, comandante da missão e capitão do pelotão principal, chega em estado grave.
Enquanto os paramédicos o conduziam cuidadosamente para dentro do hospital, uma mulher corria desesperadamente em sua direção, rapidamente os militares que faziam a escolta apontaram suas armas para ela.
O que estava conduzindo o caminho sinalizou, após alguns segundos, para abaixarem as armas. Um militar disfarçado perguntou pelo equipamento de comunicação a razão para tal, pois isso ia contra as ordens do general Zacarias, sem se dar ao trabalho de explicar, ele apenas apontou para um lugar em específico no jaleco da mulher, no mesmo estava escrito: “Dra. Júlia Piovani”.
Para aqueles que estavam sob as ordens de Pietro, mesmo que indiretamente, era impossível não saber quem é Julia, rapidamente, eles bateram continência e se desculparam pela indelicadeza de antes.
Mais preocupada com Pietro do que com a grosseria dos soldados, a médica só os olhou friamente e continuou correndo até seu namorado. Ao olhar para ele, era possível ver inúmeros ferimentos, mais do que se poderia contar com os dedos.
Ela rapidamente começa a empurrar a maca até a sala de cirurgia mais próxima e se prepara para efetuar a mesma. Várias horas depois, o jovem ainda desacordado é levado para um leito do hospital.
Horas mais tarde, assim que acordou, foi proposto ao rapaz sair do hospital e continuar seu tratamento em casa. Por estar desacordado, ele não viu como foi o procedimento usado para tratá-lo, apenas acordou quase 100% recuperado e, já previsível, com Júlia ao seu lado.
Sabe-se que, sendo uma das melhores médicas do mundo, se não a melhor, o hospital na qual ela trabalha com certeza tem alto nível. Após conversarem bastante sobre seu quadro clínico, foram para casa.
Emocionado ao lembrar-se daquilo, junto ao cantar dos pássaros e o soprar do vento, lágrimas caíram de seus olhos, anunciando o temporal que estava por vir. Ao abrir os olhos, depois do doce sonho, Pietro conseguiu a convicção de que não deveria desistir.
Esforçando-se para se levantar, percebe que Christina não está mais caída ao seu lado, então tenta olhar ao redor e, ainda assim, não a encontra. Se apoiando na parede da caverna, ele se levanta e se dirige para fora da mesma.
Com dificuldade ele chega até o lado de fora, e assim que olha para o que antes era um campo de batalha, vê Christina andando de um lado para o outro, como se estivesse procurando algo.
Então, sem dizer uma única palavra, ele apenas sentou-se e começou a cultivar mana, a fim de acelerar sua regeneração. Enquanto isso, ele a observava zanzando naquele lugar.
Christina estava procurando por poções de cura dentro dos anéis espaciais, obviamente, para tratar os ferimentos de Pietro. Das pessoas que morreram ali, quase nenhuma tinha algo de decente em seus anéis, seria necessário um alquimista fundir os materiais ali para criar um eficaz de verdade.
Sem tempo a perder, ela recolheu tudo que julgou ser útil e correu até a caverna, surpreendendo-se ao ver Pietro fora dela. Ao ficar a exatamente um metro e meio de distância, ela ajoelhou-se e disse:
— Fico feliz que já consiga se levantar, meu senhor.
— Sim, sim, em breve poderemos sair daqui — respondeu Pietro. Sem perceber, ele já a tratava como se fosse uma subordinada.
— Não! — gritou Christina. — Não se esforce muito, o senhor ainda está muito debilitado — continuou, diminuindo o tom de voz.
Interrompendo seu treinamento, ele diz — precisamos sair daqui, não dá para se viver numa caverna. E eu preciso fazer algumas coisas, não posso ficar aqui perdendo tempo.
Mesmo contra sua vontade, ela aceitou. Enquanto Christina faz alguns preparativos, Pietro se dá conta de que algo está faltando. Após pensar por alguns segundos, ele se lembra do sistema e percebe que não viu mais nenhuma mensagem.
Mesmo que não entenda por completo o sistema, é óbvio que aquilo é estranho, então o rapaz se concentrou e tentou fazer as mensagens aparecerem.
Convenientemente, uma mensagem apareceu.
[Aviso: um grande número de mensagens estão acumuladas, algumas mensagens serão reduzidas ou fundidas a outras ]
[Iniciando transmissão das mensagens]
[O pecado da >Ira<, dos sete pecados capitais, foi impedido de despertar devido a influência de elementos externos]
[Habilidade de raça: controle mental despertada]
[Ao concentrar poder nos olhos, fazer contato físico e visual com um alvo, o mesmo entrará em estado de transe e acatará vossas ordens]
[Aviso: caso o nível do alvo seja maior do que o do usuário, as possibilidades da habilidade falhar são de 80]
“Controle mental? Essa é uma habilidade um tanto quanto antiética” pensou Pietro.
[A habilidade >Vampirismo< foi atividade por influência do sistema, para que assim o mestre, Pietro, pudesse se recuperar mais rápido]
— >Vampirismo<? — indagou Pietro.
[Habilidade que usa, principalmente, do núcleo de outro seres vivos para alimentar-se e aumentar os poderes do mestre]
— Mas essa não era a função da >Gula<? — questionou Pietro, o sistema.
[As habilidades >vampirismo< e >Gula< estão fundidas, mas ainda podem agir separadamente]
[Deseja uma explicação?]
— Sim? Eu acho — respondeu.
[>Vampirismo< é uma habilidade de raça, portanto, eu, o sistema, tenho autoridade para ativar a mesma, caso se faça necessário. Enquanto que, >Gula< é uma habilidade que lhe foi concedida devido ao título: Imperador do pecado]
“Entendo, entendo. Então é isso” pensou Pietro. Ainda que pensasse isso, na verdade não conseguia entender muito bem.
[Título: senhor das sombras, foi concedido. Habilidades relacionadas ao título estão sendo preparadas]
— Mestre, vamos? — perguntou Christina.
— Só estava te esperando — respondeu Pietro.
Apoiando-se na jovem, então, Pietro e ela saíram da caverna e começaram a caminhar rumo ao sul. Após caminharem até o anoitecer, eles decidem parar e acampar debaixo de uma árvore grande que estava em seu caminho.
Pietro começou a pensar como poderia fazer fogo, mas antes que pudesse tomar alguma iniciativa, Christina fez fogo com seus poderes. Intrigado com isso desde a primeira vez que viu, ainda quando lutou contra Duk, Pietro indagou:
— Poderia me ensinar como fazer isso?
— Fazer o quê, mestre? — perguntou Christina.
— Acho que isso é chamado de feitiço… enfim, quero que me ensine a lançar fogo pelas mãos — respondeu.
Após pensar por alguns segundos, Christina disse — tem certeza que pode ser alguém como eu?
— Claro, por que não poderia ser você? — perguntou.
Cabisbaixa, Christina respondeu: — Bem, é que… sabe…
— Vamos, pense nisso como uma ordem — disse Pietro.
— Tudo bem, já que o senhor está insistindo — resmungou Christina.
Ela se levanta e caminha até o outro lado da árvore, algum tempo depois volta trazendo alguns objetos. Sentando-se à frente de Pietro, ela diz — primeiro, vou explicar sobre os tipos de magia e depois como se usa.
— Magia, basicamente, é a arte de se conectar com a natureza e fazê-la responder às suas ordens. Você deve entender o quão suave é a água, para criá-la, o quão livre é o vento, para direcioná-lo. Da mesma forma, o quão quente é o fogo e, por último, mas não menos importante, o quão densa é a terra. Seu nível de habilidade na magia é definido assim: quanto mais você consegue se conectar com a natureza e mais mana tiver, maior, obviamente, seu nível será — explicou Christina.
A garota tirou um cantil de dentro do seu anel, abriu e derramou uma pequena quantidade de água em cima de sua mão. Por incrível que pareça, a água não derramou e, pelo contrário, se contraiu em uma bolha.
Segundos depois, um vento suave começou a soprar. De forma súbita, a garota fez um movimento com seus braços, jogando a bolha d’água para cima com uma mão e com a outra, uma grande rajada de vento. Fazendo assim, a bolha d’água explode e o vento espalha as pequenas gotas.
Antes que as gotas chegassem ao chão, ela pegou um galho de árvore que trouxe e o enfiou no solo, quase que simultaneamente, as gotas d’água caíam como se estivessem regando o galho.
— Veja, é tão simples como respirar — disse a garota.