Bevan - O Divino Império - Capítulo 2
Uma semana após o terremoto de magnitude 6.0 que atingiu a cidade fronteiriça do Brasil com o Paraguai se passar, as coisas pareciam longe de voltar ao normal, abalos sísmicos como esse foram sentidos em outros países durante essa semana, até mesmo foi relatado que houveram terremotos em mais de um país ao mesmo tempo.
Essas são informações que estavam em todos os meios de comunicação jornalística, ainda assim, inúmeras informações estão sendo escondidas do público.
Enquanto o mundo entra em caos, uma garota vestida num shortinho e uma camisa preta preparava cuidadosamente o café da manhã.
Seu cabelo estava bagunçado, pois não tinha penteado após acordar, com olheiras e uma expressão mal-humorada.
Se dirigindo calmamente até seu quarto, ela tenta equilibrar a bandeja em sua mão esquerda enquanto olha alguma coisa no celular que está segurando com a mão direita.
Antes que pudesse perceber, ela já estava chegando ao fim do corredor, consequentemente passando da porta que deveria entrar.
Olhando desconfiada ao redor, ela confirma que não tem ninguém por perto, ainda que apenas duas pessoas moram nesta casa.
Abaixando o rosto um pouco envergonhada, ela dá alguns passos para trás ficando de frente para a porta.
Antes de entrar, ela respira profundamente e confere a bandeja para ter certeza que estava perfeita.
Batendo levemente duas vezes na porta ela indaga — amor, está acordado?
Abrindo a porta vagarosamente, ela nota que seu namorado ainda está dormindo.
Para não acordá-lo, ela caminha vagarosamente pelo quarto até uma mesa de centro para deixar a bandeja e então rapidamente se retira.
Estando prestes a sair, ela ouve — não…
Levantando-se, seu namorado continua — fica, por favor.
Suspirando, ela caminha até ele e de forma provocante sobe na cama, deixando seus rostos bem próximos ela pergunta — como está se sentindo?
Encarando-a por alguns segundos, ele beija sua boca como forma de resposta e se deita novamente.
O rosto da garota ficou vermelho, sua expressão mal-humorada sumiu sem deixar rastros e um sorriso gentil apareceu no lugar.
Cuidadosamente ela se deitou ao seu lado e começou acariciar seu rosto, suas mãos delicadas fazem com que esse pequeno mimo se torne uma terapia.
Desde o momento que acordou ela tem feito as coisas com o máximo de cuidado pois não quer agravar ainda mais a situação de seu namorado, que está com ferimentos muito sérios.
Mesmo que seja nessa situação, ela queria passar a maior quantidade de tempo possível com ele pois devido a seus trabalhos, eles dificilmente tem momentos como esses.
Algum tempo se passou enquanto eles ficavam ali deitados, imersos no seu próprio mundinho onde só existia um para o outro.
Mesmo que ainda imersos em seu próprio mundinho, eles se levantaram para fazer algumas coisas, o sétimo dia após o terremoto que ocorreu na cidade fronteiriça é domingo, um dia só deles e para eles.
Depois de ajudar seu namorado a se banhar, a garota prepara novos curativos para seus ferimentos e então vão tomar café.
Mais uma hora se passou enquanto eles aproveitavam cada segundo um com o outro, fazendo carinhos e mimos apenas para demonstrar seus sentimentos, um sentimento que só eles entendem.
Quebrando esse perfeito momento que eles estavam, alguém está à sua porta tocando a campainha.
A garota corre para ver quem é e se assusta ao ver que é um soldado do exército, ela tem medo que esse soldado esteja pensando em levar seu namorado.
Ela se afasta da porta vagarosamente na intenção de ignorar para que ele vá embora, entretanto, seu namorado também ouviu a campainha, então esse plano não vai funcionar.
Enquanto pensava sobre o que fazer, ela não percebeu que seu namorado também estava indo até a porta para receber a visita e se assustou ao ver ele tocando os dedos na fechadura digital da porta.
— Segundo sargento, Victor Gaban, terceiro membro do time Alpha — disse em posição de sentido assim que a porta se abriu.
Olhando com tédio para Victor, o garoto que abriu a porta disse — entra logo.
Virando de costas sem importar com o motivo de Victor estar a sua porta, ele começou a caminhar até sua sala.
Ainda em posição de sentido, Victor exclamou — minha visita hoje é para trazer uma mensagem ao subtenente Pietro.
Ainda de costas, Pietro disse — descansar.
Continuando a caminhar até sua poltrona para sentar-se, ele percebe que Victor não tinha entrado, então indaga — vai ficar aí fora até eu te chutar aqui para dentro?
Percebendo que Pietro estava irritado por causa do seu tom de voz e a forma como falou, Victor se apressou para entrar.
Já dentro de casa, Victor disse: — O general do exército brasileiro, Zacarias, ordenou que o Capitão do time Alpha, assim como todo o time Alpha tirassem um mês de descanso para se recuperarem.
As veias que estavam saltando na testa de Pietro e sua expressão irritada sumiram rapidamente após ouvir a mensagem, então suspirando ele disse — então era isso, ufa.
Um silêncio tomou conta do lugar depois dessas palavras e um clima estranho se estabeleceu, os dois estavam incomodados com aquele clima mas nenhum dos dois tomou a iniciativa de falar.
Incapaz de continuar com aquilo, Pietro engoliu seu orgulho e perguntou o que aconteceu com ele para desmaiar e com os outros.
— Sabe, eu só me lembro de atirar nos torturadores e de acordar aqui — disse Pietro enquanto passava a mão no cabelo para esconder a vergonha.
— Capitão, depois que o senhor entrou bravamente naquela sala, um ataque em massa do inimigo começou — respondeu Victor com uma expressão de tristeza.
Antes de contar tudo que aconteceu, Victor hesitou por alguns minutos, pois algumas informações poderiam deixar seu capitão extremamente zangado.
Decidido de que era melhor ele contar do que terceiros, Victor disse — nós fomos atacados por morteiros e uma bomba terremoto, mas ainda não sabemos se foi realmente o Paraguai quem fez o ataque, o senhor desmaiou e teve uma contusão na cabeça pois usou seu corpo como escudo para proteger o primeiro sargento Carlos, todos os outros membros do time Alpha morreram, exceto por ele e nós dois e os membros do esquadrão que estava sob nossa liderança foi dizimado.
“Então naquela hora que Carlos tentou dizer algo, era isso” pensou Pietro enquanto ouvia Victor.
Os olhos de Pietro estavam distantes e sua mão estava sangrando devido a cortes causados por suas unhas, uma grande pressão pôde ser sentida vinda de Pietro, e ao olhar para ele, era como olhar para um ser maligno, sendo possível ver apenas sua silhueta feita da própria escuridão.
Sua preocupação com seu irmão e seu senso de responsabilidade com os que confiaram nele e morreram estava fazendo com que ele se perdesse no próprio vazio.
— E o Carlos, você disse que ele sobreviveu, mas qual seu estado atual? — perguntou Pietro.
— O primeiro sargento Carlos está bem, graças ao senhor, ele não corre risco de vida — respondeu Victor.
Uma suave e pequena mão vinda de suas costas tocou seus cabelos, descendo por seu rosto e por fim parando em seu peito, era sua namorada abraçando-o, colando seu rosto colado com o de Pietro, gentilmente ela sussurra — calma, eu estou aqui, vai ficar tudo bem meu amor.
A imagem de Pietro continua aterrorizante, mesmo que falando calmamente, Victor estava sufocado e com uma expressão de medo, por isso sua namorada estava tentando acalmá-lo.
— Júlia, você consegue descobrir os detalhes de como está a situação do Carlos? — perguntou Pietro.
Júlia é uma médica muito famosa e conceituada, por seus méritos ela chegou ao topo de uma carreira na medicina, mesmo que tenha vindo de baixo e apenas com o apoio de seu namorado, pois não tem família.
Sendo conhecida nacional e internacionalmente como uma gênia na medicina, ela tem autoridade para saber o quadro clínico de qualquer pessoa, mesmo que seja o presidente.
É por esse e outros motivos que Pietro está em casa e não em um hospital, já que uma das melhores médicas do mundo está cuidando dele em tempo integral.
Beijando gentilmente a bochecha de Pietro, ela suspirou antes de dizer — eu já iria fazer isso, amor. Não se preocupe, vou fazer com que o hospital coloque seus melhores médicos para cuidar de seu irmão.
Aquelas palavras acalmaram um pouco a raiva de Pietro, mas não podiam fazer seu remorso sumir.
Pietro não entendia como eles foram ficar em uma situação daquela e como seu irmão foi pego pelos inimigos e acabou naquele estado, longe do exército por um mês e sem meios de descobrir qualquer coisa sem quebrar as regras militares ele só podia conter sua raiva na esperança de um dia encontrar as respostas que procurava.
Mudando o rumo da conversa, Victor disse — senhor, pode ser que o senhor já tenha visto no jornal a atual situação mundial, terremotos estão acontecendo em todos os lugares do mundo.
— Sim, mas tenho certeza que isso não é tudo — indagou Pietro.
— Exatamente, fortes chuvas que estão causando alagamentos, ventanias que podem virar furacões e vários desastres naturais que ainda não aconteceram, mas pelo visto não vai demorar muito para acontecer — disse Victor.
Victor começou a desviar o olhar como se não quisesse continuar falando sobre aquilo, no entanto, Pietro continuava com o olhar fixo em Victor esperando para ouvir a conclusão dessa história.
Suspirando, Victor continua — tenho certeza que o senhor conhece bem a forma como o alto escalão age e por isso, acredito que o senhor consegue deduzir o motivo dessas informações serem ocultadas ou amenizadas, já que chuvas fortes e ventanias são comuns em alguns lugares.
Levando como base sua última missão e a atual situação mundial, era fácil deduzir os motivos de tais acontecimentos.
Catástrofes naturais sempre vão gerar vítimas, por isso, essa era uma rara oportunidade para o governo que a anos vem travando guerras e dizimando cidades.
Deduzir isso e saber que é o que realmente está acontecendo causa um grande sentimento de repulsa em Pietro, mas infelizmente, não existe nada que ele sozinho possa fazer para mudar isso.
Se levantando e prestando continência, Victor disse — Essa é uma mensagem pessoal que o general me pediu para passar — tirando seu celular do bolso esquerdo da calça, Victor começa a transmitir um holograma.
No holograma, aparece o general Zacarias, em pé à frente da sua mesa e com as mãos nas costas, ele disse — eu era muito amigo do seu pai, infelizmente o destino dele se encerrou antes do meu e devido a tudo que aconteceu nos últimos anos eu não pude cumprir a promessa de cuidar de você e só pude prover minha proteção enquanto você passava por inúmeras dificuldades no exército, então pelo menos dessa vez, eu irei ajudá-lo com tudo que tenho, então por favor siga as instruções que irei passar agora.
Voltando para trás de sua mesa, Zacarias começa a digitar algo em seu computador, não era possível ver perfeitamente pelo holograma mas parecia ser documentos importantes.
— Vá para o endereço que enviei para seu celular, a partir de agora você irá morar lá. Assim que se recuperar, estoque o máximo de comida, água e remédios que conseguir e leve para esse lugar, sobreviva lá até que todos esses desastres acabem, eu não pude salvar seu pai mas com certeza não vou deixar você morrer, então não se preocupe com o exército, apenas vá — ordenou Zacarias.
Não foi preciso Zacarias dizer, era óbvio que o motivo disso são os desastres que Victor explicou a alguns minutos atrás.
Mesmo relutante em fazer o que foi ordenado, era impossível para Pietro desobedecer Zacarias que é como um avô para ele.
— Ótimo, terminei tudo que eu tinha para fazer, estou de saída agora capitão — disse Victor.
Com um pouco de esforço, Pietro se levanta e dá alguns passos até ficar ao alcance de Victor, olhando para ele com um olhar maligno, Pietro indaga — e para onde você vai? Senhor eu moro no quartel.
— Para qualquer lugar, o senhor vai ficar ocupado agora e não quero atrapalhar — respondeu Victor meio trêmulo.
— Tenho certeza que você não é cego e está vendo minha situação, sendo assim, tenho certeza que você não se importaria de fazer umas comprinhas para mim — propôs Pietro.
Por livre e espontânea pressão, Victor começou fazer as compras que o general Zacarias ordenou a Pietro, já que ele estava machucado.
Durante um mês, Victor, Júlia e Pietro começaram a fazer preparativos para sobreviver a essa situação inesperada, que o general Zacarias estava fazendo parecer com um apocalipse.
Júlia estava responsável pelos medicamentos, Victor pelos suprimentos e Pietro estava se recuperando junto de seu irmão Carlos.
Após um mês eles estavam prontos, portanto, partiram para uma cidade no estado do Tocantins, cidade essa que foi construída para generais e oficiais do exército.
Algumas horas de viagem depois, já chegando no lugar especificado pelo general Zacarias, era inevitável não se surpreender com o lugar, pois era um lugar grande, digno de ser chamado de mansão, dá entrada até a casa ao centro, um magnífico jardim de flores se exibe.
Aquele é o lugar onde Pietro e seus companheiros vão passar os dias que no futuro vão ser conhecidos como o grande cataclisma.