Caçador de Feitiços - Capítulo 1
Em um mundo onde segredos antigos e magia se entrelaçam, bruxos e demônios compartilham o mesmo espaço, mas permanecem ocultos na obscuridade. O reino de Brystal: a região com a maior quantidade de casos relacionados a atividades demoníacas. Nenhum outro lugar se compara e é por isso que os Bruxos existem, eles têm um único propósito em suas vidas: defender a raça humana.
Demônios: Criaturas cruéis que se alimentam de carne humana, devorando os corajosos heróis e desavisados que andam a noite próximos a florestas. Reza a lenda, que esses monstros que vagam pelas sombras, chegam até a nossa realidade através de sentimentos negativos, em especial o medo. Quando as barreiras entre os mundos se enfraquecem, eles dão as caras. Mas nem todos os demônios têm uma aparência grotesca, alguns podem possuir cadáveres, como lobos em pele de cordeiro. Sendo assim, qualquer um pode ser um deles e enquanto fingem ser pessoas doces e amigáveis, devoram outras e continuam um ciclo sem fim de caos e destruição.
— Mas eles não existem. Isso tudo é papo furado, como vocês acreditam nessa história? — disse Sam, incrédulo com a ingenuidade dos garotos depois de contar essa história macabra.
— Eh, tio Sam? — O garoto mais velho estendeu a mão para fazer uma pergunta.
— O que foi moleque?
— Acho que o senhor não deveria contar essas histórias de terror para gente, logo antes de dormir — dizia com um tom de preocupação.
— Ah, Erik, você já tem 14 anos, não? já é quase um homem! tem que parar com esse moralismo todo — constatou o velho de barba ruiva, enquanto gesticulava com as mãos.
— O que é moralismo?
— Não interessa.
— ah, mas não importa, meu irmão só tem 12 anos, ele vai ficar com medo e não vai conseguir dor…. — Enquanto isso, seu irmão, Jack estava dormindo tranquilamente como se nada tivesse acontecido.
— Ele dormiu??? — Erik se questionou, surpreso com a cena.
— hahaha, então é isso, boa noite moleque. — Sam apagou a vela dentro da luminária e saiu do local, que era basicamente uma pequena alcova na taverna de Sam, que servia de quarto para os dois irmãos.
NO DIA SEGUINTE:
Os irmãos estavam ajudando a servir as pessoas na taverna. Jack manteve um sorriso no rosto enquanto entregava as bebidas. O dia estava muito frio e nevando, por isso uma lareira mantinha todos aquecidos dentro do estabelecimento.
(Explicação: Conhecida como ´´El Diablo“, uma taverna que atraia muitos visitantes todos os dias. Sendo um presente dado de geração em geração até chegar nas mãos de Sam, que herdou com confiança e mantém o negócio em funcionamento há mais de 20 anos, sempre sendo reconhecido como um local elegante e bonito, que recebe a visita de bardos e pessoas com fome.)
No meio de todas aquelas pessoas que estavam bebendo e sorrindo, tinha um homem que decidiu comprar briga com outro, o ameaçando e chamando para resolver nos punhos. Mas dentro da cozinha, Sam preparava o almoço, resmungando como sempre fazia. Até que, depois de um tempo, ao ver toda aquela situação, um ajudante correu até a cozinha para avisá-lo.
— Chefe! Chefe! — dizia enquanto cutucava as costas do dono.
— Anh? fala logo o que foi! — Sam bufava de nervosismo ao pensar que poderiam atrapalhar a sua paz.
— São aqueles caras, querendo brigar de novo — Com um ar de assustado.
— Diz pra eles, que aqui não é festa de criança pra saírem bagunçando tudo — resmungou.
— Eu disse, Chefe, mas o Jones é meio…
— Jones? aquele merda de novo? — Deu um murro no balcão.
— Sim… Ele não quer parar e… — Cobrindo sua boca com as mãos.
— Deixa comigo, eu vou acabar com isso.
Sam foi até o homem e com um olhar ameaçador suplicou — É sério isso, Jones? Já é a quarta vez que você fica afastando meus clientes por briguinha. Ok, vamos fazer o seguinte, vou lhe dar duas opções: a primeira é cair fora do meu estabelecimento e viver sua vidinha medíocre e a segunda é levar uma surra de um senhor de 50 anos feito eu.
— Aé vovô, tu tá de palhaçada comigo, vê se para de falar e vem resolver na porrada…— Mal deu tempo dele terminar de falar e acabou levando um soco no estômago, quebrando a mesa em que estava. Logo depois, Sam o jogou para fora do local.
Os irmãos viam aquilo, impressionados, principalmente Jack. Que com seus olhos heterocromáticos, brilhava, com orgulho.
O dia foi passando e agora os dois estavam brincando de luta com espadas de madeira do lado de fora, Erik por ser o mais velho, levava vantagem. Jack não se deu por vencido e esperou o momento certo para um ataque oportuno.
— Erik, vem pra cima! — O garoto se aproximava de seu irmão mantendo as mãos para trás, escondendo sua ´´espada“.
— É sério isso? — ele percebeu a estratégia e avançou contra Jack, — será que perder mais de cem vezes não foi o bastante pra você?
Enquanto mantinha-se confiante, nem percebeu que seu irmão mais novo havia jogado sua espada para cima e quando percebeu, estava perto demais.
— Não deveria ter me subestima… — Antes que pudesse completar sua frase, Erik pegou a espada no ar antes que atingisse sua cabeça e a colocou diante do pescoço de Jack.
— De novo? Desse jeito, vou ter que lutar de mãos vazias na próxima — zombou.
O garoto se ajoelhou na neve alva e a socou, resmungando e berrando como um louco. “Droga! Droga!” Jack pensou consigo mesmo, sentindo-se um fracassado por não conseguir vencer seu irmão.
Erik se aproximou de Jack e pôs a mão em seu ombro.
— Olha, Jack, na vida existem duas escolhas: ou você ganha ou você perde. Se você ficar se lamentando como um perdedor, saiba que a vida vai te engolir. Não existe empate; empate é uma forma ridícula de dizer que ambos foram vencedores, mas não… no fundo, no coração de cada um, só há um vencedor! Aqueles que estão lá fora não terão compaixão.
— Sei! Você fala isso, mas sempre é o vencedor!
— Irmãozinho, você está com a mente fechada. O vencedor não é aquele que simplesmente derrota seu inimigo, mas sim aquele que cumpre sua promessa, aquele que realiza seus objetivos. Mesmo que perca, caso tenha salvado alguém, já pode considerar uma vitória!
Os olhos de Jack brilhavam com admiração de seu irmão mais velho.
— Irmão — disse com a voz suave, — obrigado!
4 ANOS DEPOIS:
Morte, medo, sangue… Essas palavras ecoavam na mente de Jack enquanto ele estava imerso em um pesadelo profundo. O mundo ao seu redor parecia desmoronar, consumido pelo caos. As labaredas das chamas devoravam as casas, árvores mortas se erguiam como sentinelas silenciosas, e os gritos das pessoas ecoavam pelos becos sombrios. O jovem de cabelos bagunçados e olhos heterocromáticos, Jack Everest, estava preso a esse pesadelo apocalíptico.
Ele olhou para todos os lados, e tudo o que viu foram chamas e mais chamas. Podia sentir o calor em sua pele. As sombras das chamas dançavam em seu rosto, espelhando sua impotência. As vozes começaram a aumentar sua intensidade, e os galhos retorcidos das árvores mortas se estendiam em direção ao garoto, que nada podia fazer. Em meio ao caos, Jack começou a escutar uma voz distante chamando pelo seu nome.
— Jack! Jack! Acorda! — disse seu irmão Erik, tentando despertá-lo.
Com um sobressalto, Jack voltou à realidade, seu corpo coberto de suor e tremendo. Ele estava deitado na pequena alcova da taverna onde vivia com seu irmão. Erik, seu irmão mais velho, estava de pé ao lado da cama, preocupado.
— Você teve aquele sonho de novo, não foi? — perguntou, com seu olhar cheio de compaixão.
Jack assentiu, ainda sentindo o eco das chamas em sua mente. O sonho, ou melhor, o pesadelo, era um visitante frequente em suas noites. Erik saiu do quarto, e Jack levantou com um bocejo. Ele vestiu suas roupas gastas e desceu para a taverna, onde o velho dono e quase uma figura paterna para eles, Sam, já estava servindo o almoço. Com sua barba bem cuidada e cachimbo em mãos, Sam era um homem rude e grosseiro, mas ainda demonstrava um certo afeto pelos irmãos.
— Você está acordando tarde de novo, Jack! — rosnou Sam. — Não vai conseguir nada na vida dormindo o dia todo!
Jack, com um sorriso sarcástico, respondeu:
— Ah, mas a vida aqui na taverna é tão emocionante que preciso aproveitar todos os momentos!
Ele sabia como provocar Sam, e o velho dono da taverna apenas resmungou, voltando para o balcão.
Os dois irmãos estavam almoçando e Erik, mais calmo e sonhador, continuou a conversa com o irmão:
— A propósito, quando a gente chegar à Capital Real, eu vou me alistar nos Paladinos. Só mais duas semanas, e eu posso me tornar um defensor do reino!
Jack deu de ombros e brincou:
— Paladinos, hein? Defendendo o reino e tudo mais?
Ele não entendia a empolgação de Erik, que idealizava os Paladinos como heróis. Se juntar a eles era seu maior sonho, proteger os fracos e lutar contra ameaças, enquanto é condecorado e ovacionado pela população.
— É claro, Jack! Alguém precisa fazer o que é certo. — Erik suspirou, sonhador. — Não vou ficar por aqui para sempre.
Jack, por outro lado, tinha ambições diferentes. Ele não compartilhava o mesmo idealismo de Erik. Para ele, a vida na taverna era boa o suficiente e ele não via necessidade de se tornar um herói. Mas estava disposto a ir para capital junto a seu irmão.
— Enquanto isso, eu só quero viver uma vida tranquila, se eu ficasse rico seria até melhor. — Jack piscou para o irmão e deu uma risada. Erik não sabia o quão diferentes seus destinos seriam.
— Sabe Jack, quando eu me tornar um Paladino, irei garantir que você tenha uma vida tranquila. Não somente você, como também todas as pessoas que habitam esse reino. — e voltou a comer.
— Tu é mesmo meu irmãozão, é graças a esse seu espírito otimista que eu te admiro muito.
— anh, sério? — e logo começou a rir, — seja honesto vai.
— Mas eu tô sendo honesto, seu idiota! — Seus olhos estavam pulsando com sua expressão de raiva, enquanto rangia os dentes.
Erik apenas continuava rindo, acreditando que tudo não passava de ironia. O almoço continuou em um clima leve, mas uma sensação de inquietação pairava no ar.
De repente, alguém estava batendo na porta e os barulhos aumentaram, como se estivesse com pressa.
Um velho estranho entrou na taverna, seu rosto vincado pela idade e olhos que pareciam conter segredos sombrios.
— Monstros… demônios… eles estão lá fora, escondidos nas sombras. O mundo está mudando, e a escuridão está se espalhando. — O velho falou em um tom conspiratório, olhando ao redor como se temesse que alguém o estivesse ouvindo.
Sam, o velho dono da taverna, se irritou com o tom sombrio do velho e seu discurso perturbador.
— Chega dessa conversa maluca, velho! — Sam rosnou enquanto balançava um pano de limpeza. — Não encha a cabeça dos meus clientes com suas bobagens assustadoras.
— Ei! Por acaso você não sabe ler? Não tá vendo a placa escrito fechado aí não, é? — disse Sam nervoso, mas os barulhos continuavam, — Tá bom, eu vou abrir, droga!
Um velho estranho entrou na taverna, seu rosto vincado pela idade e olhos que pareciam conter segredos sombrios. Seus dentes estavam amarelados e ele parecia extremamente assustado e pálido.
— O que você quer?
— Eu… Eu… — O homem mal podia se aguentar em pé.
— Ah! Se o senhor não for um garçom a procura de um emprego ou um pedinte em busca de comida, é bom que saia do meu estabelecimento por gentileza.
— Eu to com medo!
— Vai logo, desembucha! Antes que eu te jogue para fora daqui à força.
— Demônios… Fui atacado.
— Demônios é? Escute aqui senhor, eu trabalhei a semana inteira e justamente no meu dia de folga vem um doido como você falando de demônios e esse papo de gente doida.
— Você não entende! Eles existem, eles estão por toda parte. Monstros… demônios… eles estão lá fora, escondidos nas sombras. O mundo está mudando, e a escuridão está se espalhando. — O velho falou em um tom conspiratório, olhando ao redor como se temesse que mais alguém o escutasse.
— Já chega dessa conversa maluca, velho! — Sam rosnou enquanto balançava um pano de limpeza. — Não encha a cabeça desses pirralhos com suas bobagens assustadoras.
Para aliviar o momento de tensão, Jack chegou até o velho com um baralho de cartas.
— Vamos fazer o seguinte, quero que escolha uma carta e eu vou te fazer algumas perguntas, responda apenas com sim ou não. Se eu conseguir adivinhar qual carta escolheu, tu vai ter que dar o fora daqui velhote!
— anh, entendi. — O velho deu um sorriso amarelado.
Sam e Erik ficaram impressionados com a atitude rápida de Jack, mas não deixaram isso transparecer e mantiveram o semblante sério. O velho louco pegou uma das cartas, era um às de copas. Então Jack ficou o encarando para tentar encontrar um detalhe em sua face que entregaria seu jogo.
Mesmo assustado, o velho ficou confiante, sorriu.
— Vou te perguntar, a carta que escolheu… tem um número?
— Sim! — respondeu com clareza, enquanto caçava sua barba longa e branca.
— É uma carta vermelha?
— Sim, é vermelha.
— Ela… representa a realeza? — Jack cruzou os braços com perícia.
— Jack! O que cê ta fazendo? — disse Sam confuso com a situação.
— Relaxa tio, deixa com ele — Erik suplicou.
— Hum…
— Não — O velho respondeu à pergunta.
— Então me diga velhote, o seu coração está acelerado?
— Não! Mas o que isso tem a ver com o jogo? — O velho começou a se irritar.
— Entendi… após dar um suspiro, — a sua carta é… um às de copas?
O velho quebrou naquele momento, ele não tinha reação frente a sagacidade do garoto em sua frente. Erik ficou paralisado, mas feliz com a esperteza do irmão.
— Como você descobriu, jovem?
— Simples, quando te perguntei se tinha um número, vovô, você disse que não. Entretanto, eu vi que estava coçando a barba, mostrando que estava perdido em seus pensamentos. Logo, deduzi uma mentira.
— Mas o quê? — sua mão começou a tremer.
— Depois, ao me dizer que a carta era vermelha, falou a verdade na intenção de fazer minha linha de pensamento mudar, mas você deu azar, pois eu não sou nem um pouco burro. Então eu perguntei se tinha a ver com a realeza, já que as cartas restantes eram: Dama, Valete, Rei e um às. Como você negou, apenas chutei ser mentira e perguntei se seu coração estava acelerado. Coração é o símbolo de copas. Deduzi, então, às de copas.
O velho ficou surpreso, sua boca se abrindo em um sorriso.
— Ah, rapaz, você tem talento, mas isso não é nada comparado ao que está lá fora. — Ele apontou para a janela, como se esperasse encontrar algo aterrorizante do lado de fora.
Jack sorriu com orgulho de seu truque, mas o velho logo suspirou e deu uma olhada ao redor da taverna, como se estivesse se preparando para partir. Ele se aproximou dos irmãos e sussurrou:
— O fim está próximo, crianças. Fiquem alerta.
Então, o velho saiu da taverna e desapareceu.
Após se passarem uns quinze minutos desde esse incidente bizarro, Sam disse aos irmãos que deveriam ir até a feira comprar frutas com Dona Martha, a vendedora que era famosa por ter as melhores frutas da cidade. Jack e Erik se despediram de Sam e partiram para a feira, curiosos para ver o que encontrariam lá. Os dois então seguiram pelo caminho de paralelepípedos que os levaria até o local. O sol estava alto no céu, e a cidade parecia mais animada do que nunca, com vendedores anunciando suas mercadorias e crianças correndo pelas ruas. O cheiro de comida deliciosa pairava no ar, misturando-se com o aroma adocicado das flores que enfeitavam os cantos das ruas.
Enquanto caminhavam, Erik puxou conversa com seu irmão.
— Você teve aquele pesadelo de novo, não é Jack? — novamente perguntou, preocupado.
Jack assentiu, olhando para o chão enquanto continuavam andando.
— Sim, foi bem intenso desta vez. Aquelas chamas… aquele caos… Eu realmente não sei o que significa, mas é como se algo ruim estivesse se aproximando.
Erik colocou a mão no ombro de Jack, transmitindo apoio.
— Não se preocupe com isso, mano. Talvez seja apenas um pesadelo, ou talvez seja só sua mente tentando fazer sentido das coisas.
Jack forçou um sorriso.
— Espero que você esteja certo, Erik. A última coisa que eu quero é que algo ruim aconteça.
Erik balançou a cabeça, como se quisesse mudar de assunto.
— De qualquer forma, estamos indo comprar frutas pro Sam, então não vamos estragar o dia com pensamentos sombrios.