Crônicas de Nuldin - Prólogo
— Você me enoja, sua fraqueza e inação tem tornado tudo muito… entediante… quando você decidir parar de agir “assim” me procure — Termina a voz, ela é levemente feminina e dominava o local, apesar de apenas existir sem um claro portador.
Talvez essa frase fosse apenas uma memória longínqua presa na mente infeliz de um dos protagonistas dessa história, mas isso não importa… por agora.
A protagonista sem nome a quem me refiro estava presa em sua própria mente, uma prisão involuntária feita por ela, que se manifestou como um pequeno cubículo que tentava ser um quarto, sem móveis, janelas ou portas, apenas espaço suficiente para uma figura ficar encolhida no chão frio.
Essa figura mantinha reminiscências, e vez ou outra, tentava relembrar mais sobre si mesma, esforços infrutíferos que apenas encontraram uma parede intransponível que cercava boa parte de suas memórias sobre seu passado, antes de entrar nesse estado lamentável. O que restou foi uma (Possivel) montanha de informações e conhecimento adquirido com o passar dos anos (sem o contexto de como teria as conseguido) e uma, e apenas uma leve recordação, do que a figura atribui ser suas memórias mais recentes.
Era uma confusão de imagens, cores e sons, parecia um sonho, mas algo gritava que eram memórias, por algum motivo. Entre as mais relevantes havia uma que era a de pessoas vestidas em ternos, um estilo de roupa que acabou caindo no desuso, essas pessoas a estavam perseguindo a algum tempo e finalmente a haviam encontrado, a memória salta algumas vezes até voltar em um ambiente cinzento de uma espécie de veículo, completamente destruído após bater em algo, a ultima coisa que ela se lembrava eram figuras a arrastando para fora e a visão de uma montanha de formato particularmente estranho.
Antes dessas memórias chaves, ela só conseguia recordar uma rotina monótona, vivendo apenas esperando o abraço da morte, e esse fato tinha algo de anormal que parecia óbvio, mas que não conseguia fazer a conexão do porque era óbvio.
Não… tinha algo mais. Ela estava fugindo de algo…
Mas claro nesse momento sua trilha de pensamento esbarrava na parede intransponível.
Aquela muralha, impossivelmente grande, infinitamente extensa, servia como um constante aviso para a figura, de que apesar de ter sido feita por ela, não foi algo feito sem uma espécie de incentivo, e ali ela conseguia sentir a presença constante de uma espécie de invasor.
Era uma sensação fraca, algo que só poderia ser sentido caso você estivesse dentro da mente da figura, isso ruminava pelas paredes da muralha, a reforçando, a mantendo de pé, apesar de perceber que havia algo ali, isso era tudo que podia fazer, já que qualquer ação contra a presença, rapidamente era jogada de lado.
Aquilo estava de forma sutil, mas poderosa, influenciando suas ações, enquanto a deixava consciente o suficiente apenas para perceber o quão inútil era tentar resistir.
Uma armadilha terrivelmente eficiente, em que na teoria, deveria fazer suas vítimas desistirem completamente de tentar se libertar, após perceber o tormento que ela o faria passar.
Mas havia algo estranho dessa vez, a figura ao invés de resistir, apenas observava, guardando sua força de vontade, esperando os poucos momentos de verdadeira necessidade…
Isso claro se referia a situações de vida ou morte, aquelas onde seu instinto de sobrevivência sempre deveria dar as caras, já que quem em sã consciência não teria medo algum da morte?
A resposta é óbvia…
Monstros.