Crônicas do Rei Vazio - Capítulo 1
Criança de lugar nenhum
Iky abriu os olhos despertando bem cedo como de costume, ergueu-se e estava prestes a sair de sua choupana, quando ele ouviu.
— Iky! Vem aqui! Rápido! — falou uma voz alarmada, voz essa que Iky identificou como sendo de seu amigo Yano.
Iky saiu sem pressa pois já estava acostumado aos exageros do amigo.
— Pra que tanto barulho seu…. — Iky se calou abruptamente ao olhar o céu.
A tribo inteira olhava para o céu, todos estavam paralisados, com o que parecia uma amálgama de medo e deslumbre em suas expressões, olhando para algo tão fora de suas realidades que só podia ser descrito como uma coisa.
— Tem uma estrela caindo do céu — Yano exprimiu tentando assimilar tal acontecimento.
— Pelos deuses — Iky sussurrou tomado pelo mesmo sentimento que os demais.
Todos olharam para a “estrela” até que ela sumisse no horizonte, sumiu atrás da floresta do leste e houve silencio, todos esperavam um som de impacto, mas nada foi ouvido.
O chefe da tribo, Baran, deu alguns passos a frentes, apoiando-se em seu cajado, ele era um homem velho e sábio, olhos tão pequenos que pareciam sempre fechados, cabelos brancos com poucos fios negros restantes, em seu peito uma tatuagem de urso, que era o símbolo do homem forte que mesmo velho ninguém ousava desafiar.
— Não sei por que os deuses nos mostram seu poder hoje, mas peço aos caçadores que tenham cuidado redobrado em sua caçada na floresta hoje — disse Baran em tom preocupado já que sempre tratou os mais novos como filhos.
— Teremos cuidado senhor! — os caçadores responderam em uníssono.
— Principalmente você Iky. É um caçador habilidoso, mas é imprudente, não se arrisque sem necessidade. Entendeu? — falou Baran ao seu pupilo inconsequente, ele já o havia advertido inúmeras vezes sobre sua imprudência.
Era uma manhã como qualquer outra, exceto pela comoção causada pela aparente estrela que caiu do céu poucos minutos atrás, mas mesmo que não se falasse de outra coisa, todos na tribo tinham tarefas para serem realizadas, os caçadores saíram em sua busca por alimento como de costume, grupo após grupo, cada um em uma direção, o grupo de Iky, Yano e Miel estava encarregado da floresta do leste, ao entrar na floresta Iky tomou a dianteira pos era o mais resistente, Yano o seguia, mantendo uma curta distância e se mantendo em terrenos mais elevados, Miel se mantinha entre os dois companheiros, mesmo estando atrás de Iky, era ele que indicava o caminho, procurando rastros e tentava localizar a presa com sua visão.
— Merda! — disse Miel ao escorregar no musgo de uma pedra.
— Me explica mais uma vez, como alguém que pode ver uma mosca a 100 arvores daqui pode não ver o musgo de uma rocha? — indagou Yano em tom brincalhão ao seu companheiro de equipe.
— Meu poder aumenta minha capacidade visual, mas não muda nada na minha distração — explicou Miel um pouco envergonhado.
— Fiquem atentos, estamos perto do território dos ursos gigantes — advertiu Iky que, como de costume, ficava extremamente sério enquanto caçava.
Quando eles recobraram o foco, eles ouviram um grande estrondo algo quebrando as arvores e antes mesmo que pudessem raciocinar, um grande urso pulou sobre eles, com a altura de 5 homens e garras do tamanho de facas, o urso investiu contra eles.
Iky rapidamente se correu em direção a fera, enquanto seu corpo era revestido por uma espécie de couraça, ao mesmo tempo Yano ergueu a mão apontando para o urso e na ponta de seu dedo se formou uma esfera azul a qual crescia conforme o tempo, Iky socou o urso no queixo fazendo com que ele se focasse em Iky, Miel atirou uma flecha no urso acertando seu olho, o urso se debateu por causa da flecha em seu olho prejudicando a mira de Yano.
— Segura ele Iky! — exclamou Yano.
— To tentando! — Iky proferiu irritado.
Iky tentou abraçar a fera para que ela não se movesse, mas assim que o urso se viu preso atacou Iky tentando cravar suas garras nele, dando golpes incessantes em sua couraça e no exato instante que ela rachou.
— Agora Yano! — ordenou Iky.
Imediatamente após a ordem Yano atiro sua esfera de energia azul contra o peito do urso, ao atingir o alvo ela atravessou o coração do urso deixando para trás apenas um buraco.
— Bum! Que tal o poder mais forte? — disse Yano assoprando seu dedo.
— Bem que podia ser o mais rápido, aquela coisa quase quebrou minha armadura — reclamou Iky provocando o amigo.
— Como você disse, “QUASE” — enfatizou Yano sacudindo o dedo.
— Gente… olha isso — gaguejou Miel em tom assustado olhando para as costas urso morto.
Ao examinarem o corpo do urso ele encontraram a alegria da vitória é rapidamente substituída pelo medo do desconhecido, nas costas do urso havia uma ferida enorme pareciam marcas de garras que iam dez da cabeça até a perna do urso, era evidente de que algo muito maior fez essa ferida a muito pouco tempo.
— Ele estava fugindo! — exclamou Miel.
— Pelos deuses! O que poderia fazer esse ferimento? — perguntou Yano assustado.
— Não sei, mas eu não quero descobrir — disse Iky com seriedade.
Enquanto eles davam meia volta eles escutaram algo que os fez paralisar, um choro que ecoava pela selva, vinha da mesma direção que o urso surgira.
— Continuem, eu não vou demorar — declamou Iky se virando para seguir o choro.
— Cala a boca seu convencido — falou Yano fazendo o mesmo que o amigo.
— Acha mesmo que eu vou deixar uma criança com vocês seus incompetentes — exprimiu Miel dando um tapa nas costas de Yano e de Iky.
Ao se seguirem o choro eles chegaram em uma clareira, assim que pisaram na caleira eles paralisaram de medo, uma criatura aterradora estava diante deles, uma espécie de serpente negra com um tamanho monstruoso, a criatura tinha chifres e pequenas patas (pequenas para o seu tamanho, mas muito maiores que um humano) com garras enormes, era algo que nunca haviam visto antes, mas o medo que sentiam vinha em sua maior parte de um um único fato.
— Está morto… — sussurrou Iky.
Eles se aproximaram da criatura que estava enrolada como se fosse um altar, perto da cabeça havia um grande ferimento do qual pingava sangue, quando eles olharam de perto o corpo do animal, em cima dele havia uma criança, mas ao olhar para o bebê eles sentiram ainda mais medo, o corpo da criança estava coberto de sangue, mas ao examina-la, viram que a criança não tinha nenhum arranhão.