Crônicas do Rei Vazio - Capítulo 5
O fim é apenas o começo
“[…] Assim com o solo, algumas coisas precisam ser queimadas para que das cinzas nasça algo mais forte”— L. L. D.
Era suposto que uma festa fizesse barulho certo? Confusos ambos se levantaram e sem falar nada seguiram o mais rápido a encontro dos demais.
Mas uma cena estranha os aguardava lá… um grupo de soldados com estandartes, todos eles em formação já no meio do vilarejo, um deles de armadura branca e cabelos dourados tinha descido de seu cavalo e estava à frente dos outros, ele parecia argumentar com Iky que não parecia nada feliz… na verdade minguem ali parecia muito contente, até sua irmãzinha Uriel estava se escondendo atrás de sua mãe. Samael se aproximou junto a Baran e à medida que ele chegava perto começou a escutar com clareza.
Alexander arrumou seus longos cabelos à medida que se aproximava de Iky — Peço encarecidamente que reconsidere, o antigo acordo de neutralidade da tribo dos caçadores já prescreveu a séculos, hoje até vocês devem obediência ou rei.
Iky franziu a testa — Quem se importa com merda de acordo? A resposta ainda é não. Agora vá embora e leve seus soldados contigo.
Samael se virou para o Homem do seu lado o cutucou e fez um movimento de cabeça, o velho Joe entendeu pela cara de ponto de interrogação dele.
— Onde é que tu tava rapaz? Ta dando um “xabú ” aqui… eu cheguei faz pouco tempo, mas pelo que eu entendi o pomposo ali chama Alexander, ele e os soldados parece que tão exigindo tropas pra guerra…, mas num se preocupa não carinha os adultos vão resolver isso rapidinho — o velho Joe sorriu tentando parecer confiante.
Alexander olhou para o chão e segurou seu elmo com mais força, ele parecia triste e desapontado… depois de alguns segundos ele levantou a cabeça.
Alexander suspirou — Eu sei que é difícil pra você aceitar, mas é por um bem maior… veja se meu reino perder essa guerra vocês também vão sofrer as consequências junto a meu povo.
“Mas de que merda ele ta falando? Aceitar o que?”, Samael se questionou.
Iky cerrou os punhos ele estava realmente irritado, na verdade todos estavam, o clima se tornava cada vez mais pesado. Yano e Miel se colocaram ao lado de Iky.
Yano ergueu uma das mãos com um brilho — Será que ele vai ter que desenhar pra você entender? Vaza daqui porra!
Miel levantou as duas mãos pedindo calma — Tenho certeza que podemos chegar a um acordo, temos outras pessoas aqui capazes de lutar, podemos ajudar na guerra assim não acha? Soa melhor do que aposta em uma velha lenda?
“Uma velha lenda” essas palavras ecoaram na mente de Samael pelo que pareceu uma eternidade, ele finalmente entendeu sobre o que era aquela discussão… seu sangue gelou e ele parou de prestar atenção em seus pais e em Alexander.
Seu olhar se voltou para Uriel sua irmãzinha em perigo, para os gêmeos Frederic e Jade seus companheiros de treino… Samael viu seus olhos se encherem de horror e uma flecha zuniu em sua visão, uma flecha vinda de um homem de túnica roxa, acertando o homem na frente de Samael. O tempo se tornou lento, o sangue do pobre velho Joe espirrou no rosto paralisado de Samael deixando-o banhado em sangue… os olhos de Samael se encheram do mais profundo e puro medo, suas pupilas diminuíram e sua boca secou.
Antes que ele percebesse o caos já tinha sido instaurado, todos os que podiam lutar partiram para cima dos soldados que por sua vez puxaram suas armas e coordenados por Alexander atacavam em pelotões…, mas por vários minutos Samael ficou ali parado… inerte e tremendo… ele ficou parado até que alguém o empurrou.
Jade deu um tapa em Samael — Não é hora pra isso! Se mexe ou você vai deixar esses merdas destruírem sua casa!
Frederic jogou uma espada pra Samael — Vem com a gente, nós ja treinamos isso centenas de vezes, não é?!
A espada encostou nas mãos de Samael ao mesmo tempo que ele saia de seu estado catatônico e o medo e a tristeza era subjugado pela raiva e a urgência, seu coração batia tão rápido que poderia rasgar seu peito.
Samael ergueu a sua espada e defendeu Jade de um ataque surpresa pelas costas, Frederic segurou seu escudo que emanava um brilho esmeralda e nocauteou o soldado com um ataque na cabeça.
Jade abriu um sorriso e sua espada ganhou um brilho verde — Esse é o Samael que eu conheço! Vamo mandar esses putos pro inferno!
Por várias horas eles lutaram, no começo eles realmente tiveram a esperança da vitória, suas souls eram quase que 100% voltadas para o combate, mas o exército inimigo era como uma hidra feita de ferro, quando um caia mais 2 tomavam seu lugar, como uma profana hidra feita de metal.
Eles foram pouco a pouco sendo derrotados, os que não morreram em batalha estavam cansados com suas forças se exaurindo lentamente, sendo sufocados pelos números de seus inimigos. Samael não estava disposto a se render mesmo com suas pernas gritando de dor, mesmo com o sangue fazendo sua espada escorregar pelos seus dedos… mesmo não tendo coragem pra matar seus inimigos, ele podia derruba-os para que os outros os finalizassem.
Jade caiu de joelhos ofegante — D-desculpa eu não tenho mais força… saiam daqui e procurem algum abrigo.
— Para de falar merda mulher! — Frederic grunhiu.
Samael apontou pra uma casa próxima — Leva ela pra la, aí vocês se escondem até essa merda passar.
Frederic carregou Jade até a cabana enquanto Samael o acompanhava lhe dando cobertura. Assim que Jade estava segura Samael fez sinal para que Frederic a protegesse e então Samael imediatamente retornou para o campo de combate.
A derrota era eminente e acena que Samael encontrou decretou o fim do combate… Yano, Miel e Iky parados de joelhos e Alexander segurando Uriel pelo braço com a espada em seu pescoço.
Uma raiva fervente irrompeu no peito de Samael, toda sua energia era liberada uma massa negra rasgou sua pele e saiu pelos seus poros como se fosse sangue, esse sangue negro invadiu seus olhos tornando suas escleras negras, em instantes a escuridão passou de liquido para solido e uma espécie de couraça se formou ao redor dos seus antebraços e subindo em suas pernas parando nos joelhos, uma armadura negra com arestas grosseiras, vértices pontudos e com garras.
Samael correu pela multidão de soldados derrubando os que estavam em seu caminho, ele correu em desespero nem sequer pensou no que podia fazer, tudo que ele queria era salvar sua irmã, mas à medida que chegava perto de Alexander ele era segurado por uma multidão de soldados, mas mesmo assim ele continuava andando lentamente arrastando os que o segurava, se debatendo com todas as forças.
Alexander vendo essa cena pressionou a espada contra o pescoço de Uriel, em segundos Samael também estava impotente perante a ameaça do cavaleiro branco. Ao lado de Alexander estava Máximos com sua túnica roxa manchada de sangue e em suas mãos uma corrente amarela reluzente que ia até as costas de Uriel, ela estava inerente e em transe, apenas olhando.
Alexander olhou para Samael — Estava começando a pensar que você não viria garoto… seu povo não tem mais salvação. Não se preocupe depois que tudo isso acabar sua irmã terá uma vida boa.
Samael queria soca-lo — Como você…
— Como eu sei que ela é sua irmã? Eu sei tudo sobre todos vocês. Achou que eu viria despreparado para enfrenta-los? — Alexander explicou.
Antes que a conversa seguisse, Máximos se aproximou de Alexander e fez uma expressão impaciente e um gesto de pressa, algo como um “vamos logo com isso” ou “sem enrolação”, Alexander assentiu em silencio.
Alexander apontou com a sua mão livre — Garoto venha até aqui. Ande devagar e fique entre mim e a sua família.
Samael obedeceu, ele agora estava de frente pra Iky, Yano e Miel, que forçavam sorrisos pra que Samael não entrasse em pânico, sorrisos que diziam: “vamos sair dessa”, “confia na gente”, “vai ficar tudo bem”. Samael sabia que era uma mentira, ele não via nenhuma maneira de escapar daquilo, mas pelo menos não podia piorar… ou era isso que ele pensava.
— Eu quero que você os mates Samael — Alexander disse subitamente, arrancando Samael de seus pensamentos.
Yano, Iky e Miel continuava sorrindo, eles já sabiam que isso iria acontecer, o próprio Alexander tinha dito a eles antes de Samael chegar, apoiado na promessa de deixar Samael e Uriel vivos e sem ferimentos. Mas para Samael aquilo foi um choque, ele questionou sua audição “eu devo estar ficando maluco”, começou a tremer como se seus ossos fossem balançados por um vendaval, ele começou suar frio como se suasse gelo, ele nunca tinha sentido tanto medo em sua vida.
“Não… Não… Não… Não… Não… Não… Não… isso tem que ser um pesadelo!”, Samael gritava internamente colocando as mãos na cabeça.
Alexander percebeu o medo nos olhos de Samael — Faça isso e sua irmã será bem tratada, nós vamos dar uma casa e comida pra ela, ela terá tudo que desejar.
Samael tremendo deu alguns passos à frente — M-me d-desculpa… e-eu não… eu não quero machucar vocês… eu…
Eles se estenderam as mãos e um de cada vez abraçou Samael enquanto suas lagrimas escoriam pelas bochechas. Samael tremendo retribui cada um dos abraços, ele não queria solta-los, mas seus braços trêmulos não tinham forças pra segurar.
Yano abriu um grande sorriso (dessa vez um verdadeiro) e levantou seu polegar em sinal positivo — Não chora baixinho a morte é parte da graça de viver. Me promete uma coisa? Nunca desista nem se dê por vencido.
Miel afagou a cabeça de Samael — Sorria Samael, a pessoa mais forte é aquela que consegue sorri mesmo no inferno… sabe… tudo que eu quero é que você seja feliz.
Iky limpou as lagrimas de Samael — Ta tudo bem meu filho papai sempre vai te proteger, seja forte, mantenha a cabeça erguida e cuide bem da sua irmã… — Iky soltou Samael e se juntou a Yano e Miel — A… e acima de tudo…
— Faz o que quiser! — Os 3 disseram em uníssono com a expressão mais feliz quanto seria possível.
Mal eles acabaram de falar a escuridão rasgou as costas de Samael e banhadas em sangue sugiram 4 grandes tentáculos negros que pareciam lanças, como se estacas negras brotassem de sua carne, elas se moveram rapidamente e atravessaram o peito dos 3 que continuam sorrindo até o fim, o sangue que jorrou deles pintou Samael de vermelho.
Samael caiu de joelhos com suas lagrimas se misturando com o sangue e com a escuridão, catatônico, com a tristeza rasgando o seu peito, com raiva, raiva que lutava contra a tristeza pelo controle de seu corpo, manchado com sangue dos que ele amava, o cheiro de sangue enchia as narinas de Samael com seu cheiro mórbido e metálico.
Samael olhou para o rosto de Alexander, a sua expressão indiferente fez seu sangue ferver, os construtos de escuridão se moveram por instinto e foram em direção a ele, mas pararam a poucos centímetros, já que ele estava usando Uriel como escudo.
— Quer saber algo interessante garoto? Todas essas memorias que você e eu criamos hoje serão isoladas e algumas apagadas, não dá pra criar memorias só alterar as que já existem, então agradeço muito a sua ajuda, sabe… para sua irmã você vai ser um monstro insano que matou todos da sua tribo só pra ver como sua soul funcionava e eu o serei o seu salvador… aquele que matou o monstro e a protegeu — Alexander disse com um sorriso estranho.
Samael sentiu mais raiva — Você… seu…
Foi a primeira vez que Samael viu Alexander sorrindo, aquilo lhe tirou o folego, o jeito dele sorrir era como se acabasse de fazer algo justo, algo certo, como se ele estivesse aplicando uma punição a um criminoso, aquela expressão em seu rosto fazia ele parecer uma pessoa completamente diferente de antes.
Alexander soltou Uriel — Eu vou matar você agora, prometo que serei rápido.
Alexander investiu contra Samael com uma sequência de estocadas com sua lâmina, Samael ergueu seus braços em defesa, ele até conseguiu bloquear alguns ataques, mas foi em vão… em poucos segundos ele sentiu a espada transpassando sua barriga. Samael sentiu uma dor aguda e excruciante, sua pele sendo cortada a lâmina rasgando a sua carne como papel, aquele horrível gosto de ferro em sua boca enquanto cuspia sangue, quase como se sentisse o gosto da lâmina que o feria, sentiu seu sangue correndo pra fora do corpo, fugindo, escapando, como se sua própria vida fosse derramada pelo chão… suas forças o deixaram… ele desistiu…, mas…
“Nunca desista nem se dê por vencido”
— Vai… — Samael segurou a espada com a mão direita e a puxou, se ferindo e ao mesmo tempo trazendo Alexander pra perto — PRO INFERNO! — Samael atacou com o braço esquerdo enquanto gritava, pegando Alexander desprevenido e acertando seu olho esquerdo o fazendo recuar.
Alexander colocou a mão em seu olho — Fui descuidado demais… é uma pena que eu tenha que te matar agora! Você é bem promissor! Mesmo debilitado foi capas de arrancar meu olho fora.
Samael colocou a mão sobre o buraco em sua barriga— Merda… vai se foder… eu vou te matar… Alexander!!!!!
Novamente Alexander atacou da mesma maneira de antes.
“Se eu puder bloquear dessa vez eu posso ter uma chance de… por que?… Por que o mundo ta de lado?”, Samael teve seu raciocínio interrompido.
— Seu esforço foi em vão criança… foi completamente inútil — Alexander disse terminando seu movimento.
Alexander atacou pelas costas e separou a cabeça de Samael do seu corpo com um só golpe de sua lâmina enquanto segurava a cabeça dele, a última coisa que Samael viu foi o céu manchado de vermelho, a última coisa que ele sentiu foram as mãos de Alexander, a última coisa que ele ouviu foi “Inútil”, uma morte impotente… foi tudo em vão, completamente Inútil.
Ou pelo menos era assim que deveria ter sido…, mas da escuridão… da escuridão algo puxou Samael de volta, como se literalmente segurasse a sua alma e a arrastasse de volta a seu corpo… da escuridão Samael escutou uma voz.
“Onde está sua determinação?”
Samael se levantou em um espasmo como se acordando de um pesadelo, ele colocou as mãos no pescoço, tinha certeza de que sua cabeça foi arrancada. Samael olhou para os lados e não viu nada além de casas em chamas, aquele cheiro de carne queimada se misturava com o odor metálico e podre invadindo seus sentidos, os corpos já tinham sido queimados, mas o sangue estava impregnado em suas roupas.
Samael teve vontade de vomitar ele colocou a mão na boca, mas sua mão banhada em sangue não ajudou, quando olhou aquele sangue flashes do acontecido percorreram sua mente… ele vomitou imediatamente.
Samael limpou sua boca e respirou fundo — Por que eu continuo vivo…
“Eu te salvei criança… fiz o que foi possível pra curar seu corpo”, a voz de Ego ecoou na mente de Samael.
“Ego? Você que me curou? Eu…”, Samael estava confuso.
“Não fique achando que eu posso fazer isso quando eu quiser… na verdade… aprisionado aqui essa deve ser a única vez que consegui fazer isso”, Ego explicou.
Samael nem mesmo continuou a conversa, ele saiu correndo entre as casas queimando, procurando qualquer sobrevivente, mas ele não encontrava ninguém, não importa o quanto procurasse… ele foi até onde tinha deixado Jade e Frederic, lá tudo que encontrou foi uma casa em escombros e dois cadáveres queimando, um parecia ter tentado se arrastar pra perto do outro.
Samael entrou em cada uma das casas em chamas, queimou suas mãos revirando os escombros que ardiam em brasa, ele arrastou todos os corpos ou o que sobrou deles para o meio do vilarejo… e quando estava na última casa ele ouviu uma voz que vinha dos escombros.
— Samael! Aqui… — Baran gritou entre grunhidos de dor.
Samael correu o mais rápido que pode, mas sua esperança foi queimada rapidamente… ao tirar os escombros de cima de Baran viu que ele tinha uma viga de madeira enorme atravessando seu abdômen, era um milagre ele ter resistido tanto.
Baran tossiu sangue — Não se preocupe… tudo foi como deveria ser…
Samael começo tentou segurar suas lagrimas — Vovô… tem quer ter um jeito de te salvar… o senhor já passou por coisa pior… por favor…
Baran sorriu — A idade me alcança… esse corpo velho não pode mais se mover… Samael… a minha espada…
Samael estava tremendo — E-eu vou pegar!
A espada estava próxima não demorou muito pra Samael pega-la, ela era simples mais tinha uma peculiaridade, o pomo da espada era plano como se fosse um segundo guarda mão.
Baran mostrou o pomo pra Samael — L-lembra da história que eu te contei? Esse símbolo é… é a marca do rei… coloque ele em algum lugar do seu corpo e… e e-encontre os que vão te ajudar… encontre as outras casas da tribo…
Samael segurou a mão de Baran junto a espada — T-ta bom… e-eu vou fazer isso eu prometo!
Baran colocou a sua mão livre no rosto de Samael — Muito bem… eu vou dar um presente pra você… minha herança pra você são estes olhos… para você possa se prevenir de todos o-os.. os… os infortúnios…
As palavras de Baran se tornaram mais pesadas e arrastadas, sua vida estava deixando-o, com sua mão no rosto de Samael ele infundiu sua energia em seus olhos, passando tudo a ele, sem medo da morte.
— V-vovô… me desculpa… eu não pude salva-lo — Samael apertou a mão de Baran.
Baran abriu um largo sorriso que esbanjava alegria — “Vovô”… a quanto tempo você não me chama assim….
Baran fechou seus olhos para sempre, seu corpo inerte e sorridente foi arrastado por Samael até o centro do vilarejo onde ele tinha enterrado todos os outros moradores, todos com seus nomes escritos em lapides de madeira. Ele enterrou Baran ao lado de seus pais, o fogo que ardia nas casas e escombros tinha ficado mais intenso, Samael se ajoelhou ele olhou par o céu e ele gritou, gritou de raiva, gritou de dor e acima de tudo ele chorou, suas lagrimas nublaram sua visão e lavaram seu rosto… ele sentia uma tristeza tão grande que transbordava… ela ardia como fogo e penetrava seu peito como uma lâmina.
Enquanto suas Lagrimas rolavam pelo seu rosto, seus olhos se tornavam dourados, os olhos que viam o futuro, para que ele pudesse ver uma luz… as cinzas caiam em seu corpo e em seus olhos, mas ele não piscou, nem mesmo quando as brasas que ardiam em fogo queimaram suas pupilas.
Samael sentiu como se seu cérebro expandisse, como se ele forçasse contra o seu crânio, sentindo que ele fosse parti-lo e vazar para fora da sua cabeça, ele foi tragado por seus pensamentos e por suas visões, agora não conseguia mais diferenciar seus delírios das verdadeiras visões do futuro, Samael viu e ouviu várias coisas sem sentido naquele momento, fogo, gritos, sangue, guerras, paz, amor, ódio…
Por 40 dias e 40 noites de joelhos ficou…
Por 40 dias e 40 noites ali chorou…
Por 40 dias e 40 noites ele sangrou…
Por 40 dias e 40 noites seu corpo queimou…
Por 40 dias e 40 noites o futuro ele vasculhou…
Atrás de uma luz, atrás de alguma esperança…
A procura de um final feliz….
Mas nada ele encontrou…
Nada além do vazio…
Maldito seja aquele que nasceu do egoísmo!
Maldito seja aquele que veio da morte!
Maldito seja o banhado em sangue de seus amados!
Maldito seja o nascido da escuridão!
Pobre; Pobre; Pobre Samael que está destinado a sofrer…
O qual a terra rejeita o corpo e o inferno rejeita a alma…
Miserável seja… Miserável seja… Miserável é…
Miserável é o destinado a vaguear por esta terra pela eternidade!
Amaldiçoado com a dor!
Condenado a viver!
Preso pelo medo!
Pobre; Pobre; Pobre Samael que esqueceu que a escuridão o acompanha…
Tudo aquilo que amar sofrerá…
Enquanto ele viver a miséria o seguirá…
A vida é teu castigo e morte tua esperança…
A solidão será teu alento e a matança tua distração…
Isto lhe será infligido pelo teu grade e hediondo pecado!
Pelo grande pecado de tua existência profana.
Por 40 dias e 40 noites se lembrou…
E no quadragésimo primeiro dia… seu corpo coberto de cinzas se mexeu novamente.