Cursed Reincarnation - Capítulo 4
Parte 1
O ano 3980 do Calendário do Triunfo foi marcado pelo fim das relações entre o Reino de Oragão e a Família Kallavan.
Oragão é um país conhecido pela sua grande diversidade de pessoas e culturas. Todas as raças são bem-vindas em seu território seja ela humana, elfa, demoníaca, anã, bestial ou homem peixe. Também é conhecido como a nação mais rica e influente do mundo, tendo embaixadas de quase todos os países em seu território.
Os Kallavans são uma das famílias nobres do reino e têm um papel importantíssimo na história de Oragão, pois foram uma das famílias fundadoras do país junto com a Família Real Havis que são descendentes direto de Abaval, O herói do mundo.
George Kallavan, líder da família e pai de Jereff, tentou arquitetar um golpe de estado para acabar com o Regime monárquico e começar um Regime ditatorial com ele mesmo de Ditador. Para esse fim, ele fez de tudo, desde espalhar rumores demonizando a monarquia até subornar os líderes de outras famílias nobres.
Pedro Havis III, Rei de Oragão, havia uma vez escutado de seu pai, o antigo Rei, sobre um tesouro sagrado cuja Família Kallavan possuía em segredo. Segundo ele, o tesouro seria capaz de fazer todos os elfos se ajoelharam. E conseguir tal feito o faria ser considerado o Rei mais importante de sua linhagem.
Com isso em mente, o Rei Pedro Havis III mandou espiões para saber mais detalhes sobre esse tesouro sagrado, no entanto, a invés disso, eles acabaram descobrindo os planos de George contra a Coroa.
Apesar da grande quantidade de poder e de aliados dos Kallavans, ter seus planos revelados fez tudo que tinham conquistado e construído desmoronar de uma vez só.
Quando o Rei soube dos planos golpistas contra ele, logo aproveitou esse fato para mobilizar o exército real para esmagar todas as forças militares e destruir todos os territórios daqueles que estavam planejando sua queda. Além de colocar uma alta recompensa pelas cabeças de cada pessoa que possuía o sobrenome Kallavan. No fim, os Kallavans que estavam no Reino de Oragão foram todos mortos e tiveram suas posses tomadas pela coroa.
Antes de ser capturado, George nomeou seu filho Jereff como líder da Família, contou a ele sobre o tesouro e o mandou para o Reino de Garish. Depois disso, ele foi capturado, interrogado, torturado e morto. Além de ter seus restos mortais exibidos em praça pública como aviso para aqueles que pensarem em se opor ao Rei novamente.
Depois de um ano da caçada aos Kallavan, só sobraram Jereff e seu sobrinho Lorran. Jereff agiu rapidamente e se casou com Karen, filha de uma Família nobre de Garish e, logo em seguida, casou Lorran com a filha de Éder Rampant, Lorde da vila Flamboyant que é o lugar mais afastado e menos movimentado do Reino de Garish, onde se encontra escondido até hoje.
**POV HEITOR**
Acordei hoje de manhã no quarto de hospedes, mal dormi direito por causa do ocorrido de ontem. Logo em seguida, saí para saber se as coisas já tinham se resolvido.
Enquanto andava em direção às escadas, vi a porta do meu quarto fechada, e isso fez a imagem da empregada morta surgir instantaneamente em minha mente. O maldito medo de morrer voltou a me perturbar.
Continuei meu caminho até descer as escadas e me encontrar com Alfonsi.
Alfonsi me contou tudo o que sabia. Contou sobre o Reino de Oragão, sobre meu maldito avô golpista e sobre a caçada à minha família promovida por esse tal Rei Pedro III.
Ele tentou me acalmar dizendo que onde estamos é longe do alcance do Rei de Oragão. Sendo assim, ele não pode mandar seu exército para nós destruir sem esperar ter uma guerra com o Reino da Garish.
Mas, como nossa localização claramente vazou, precisamos nos proteger de assassinos e mercenários atrás da recompensa por nossas cabeças. Então, primeiro, precisamos contratar o máximo de seguranças possíveis até decidirmos o que fazer em seguida.
O segurança responsável pelo turno da noite foi morto pelo assassino antes de invadir a casa. Desse modo, Alfonsi pretende sair para contratar 6 novos homens para reforçar a segurança da casa. Porém, por precaução, ele sairá apenas após a chegada de Xerona.
Também ouvi pela primeira vez sobre o Calendário do Triunfo. Até agora só o tinha visto ser mencionado no livro de mitologias que li. Afinal, não tem nenhum calendário pendurado na geladeira aqui em casa, na verdade não tem nem mesmo geladeiras nesse mundo, provavelmente.
Atualmente estamos no ano 3984 do Calendário do Triunfo, então não faz muito tempo que os eventos entre Oragão e os Kallavans aconteceram.
De qualquer maneira, espero que Jereff lide com essa situação o mais rápido possível. Segundo o mordomo, ele foi visitar o Lorde da vila ontem logo depois de ter apresentado Xerona a mim. Certamente ele já deve ter ficado sabendo do ocorrido e está voltando.
Ainda assim, saber de tudo isso me deixou muito irritado.
Por culpa de um velho idiota que queria virar um ditador, tenho que ficar constantemente com medo de ser assassinado.
Parte 2
Xerona chega após o almoço e Alfonsi a recebe na porta de entrada.
— Boa tarde, Senhorita Maliff — Diz Alfonsi enquanto se curva para frente para cumprimentá-la — Gostaria de fazer um pedido urgente a você.
— Oooh… Boa tarde — Diz Xerona devolvendo o cumprimento — Para o que extremamente precisa de mim?
— Preciso sair. Por favor, além de ensinar magia ao Mestre Heitor, faça a segurança da casa enquanto eu estiver fora. Aconteceu um gravíssimo incidente ontem à noite, então não abaixe a guarda e nem poupe forças.
— O quê?! — Diz Xerona com uma cara de leve confusão — Mas o que extremamente aconteceu?
— Fomos invadidos por um assassino de merda e Alfonsi matou ele — respondo à pergunta de uma vez só.
Quero que a aula de magia comece logo para fazer os eventos de ontem sumirem da minha cabeça. Nunca pensei que ver gente morta iria me afetar, e claro que não é empatia que estou sentindo e sim um medo maldito.
— O quê? Sério? Como assim? Extremamente preciso de mais detalhes! — Diz espantada.
— Quando voltar, contarei todos os detalhes. Então, mais uma vez, tome conta da casa, por favor. Estou saindo para contratar mais homens para reforçar a segurança dos Mestres.
— Tá legal, extremamente deixa comigo — Diz Xerona enquanto estufa seu peito com confiança.
— Então, até mais tarde. — Alfonsi sai pela porta.
Depois de vermos o mordomo partir, viro me em direção ao meu quarto para finalmente começar a aula de hoje.
— Espera. — Diz Xerona.
— O que é?
— “O que é?”? É extremamente assim que você fala com sua professora? — Diz Xerona com os olhos arregalados e as sobrancelhas juntos.
“Ah, mas que merda hein…”
— Você quer que eu diga o que? — Digo como uma expressão de indiferença.
— Para você é: “Sim, mestre” e “Não, mestre” — Diz ela enquanto aponta o dedo indicador para mim e estufa o peito — Tenha extremo respeito comigo ou extremamente não irei de ensinar nada.
“Ela foi contratada por Jereff, não? Então como ela pode dizer que não vai me ensinar se não quiser?”
Odeio esse tipo de coisa, mas vou engolir essa para agilizar a minha vida.
— Sim, mestre. — Faço como ela pediu enquanto a encaro com um olhar de ódio.
— Extremamente excelente. — Diz ela com ar de satisfação. — A aula vai ser lá fora no jardim.
— Sim, mestre — Sinto uma veia pulsando em minha testa.
Então eu e Xerona nos movemos para fora.
É a primeira vez que saio de dentro de casa até hoje. Primeiro, porque é proibido, provavelmente por segurança, dessa forma o mordomo nunca abre a porta da frente para mim mesmo se eu implorar.
E, segundo, porque ainda tenho o corpo de uma criança de 2 anos. Não consigo alcançar a maçaneta para abrir as portas pesadas de casa, por causa disso nunca consegui sair escondido. A única que consigo abrir é a do meu quarto pois não tem uma maçaneta, só preciso empurrar e puxar.
O céu está limpo hoje, as coloridas flores do jardim estão cheias de vida. Posso nunca ter saído, mas algumas vezes subi em uma cadeira e olhei o jardim pelas janelas. Então não é um lugar totalmente desconhecido para mim.
O que ainda permanece desconhecido é o mundo além dos portões do jardim. A casa é cercada por muros altos e muitas arvores, além de um simples portão de grades verticais um pouco maior que os muros. Na frente do portão está o segurança diurno sempre em pé. Ele só está vivo agora porque o assassino decidiu invadir de noite, cara de sorte.
Agora eu e Xerona estamos no centro do jardim, rodeados por plantas cheias de flores. Sentar-se no jardim e encarar a natureza é a coisa que mais vi Karen fazer. Bom… deixa essa mulher para lá.
— Ok, vamos começar extremamente do básico do básico. — Diz Xerona enquanto me encara com uma mão no quadril e outra segurando seu cajado branco — Quero que você sinta extremamente sua mana circulando em seu corpo. Consegue fazer isso?
“Sentir minha mana circular meu corpo? Que merda ela quer dizer?”
— Que? Como faço essa droga? — Digo com uma expressão de confusão misturada com desgosto em meu rosto.
— Cadê o extremo respeito comigo, seu moleque? — Diz ela com um semblante sombrio.
“Que pessoa insuportável…”
— Desculpa, Mestre… — Respiro fundo e continuo sem expressão em meu rosto — Não sei como fazer para sentir minha mana.
— Tente imaginar um líquido extremamente leve se mexendo por todo seu corpo. Você vai conseguir se fizer isso.
“Imaginar? É sério?”
Faço como ela disse. Imagino um líquido fluindo através das veias e artérias do meu corpo.
Logo surge uma sensação estranha de algo leve e suave circulando dentro do meu corpo. Um sentimento que nunca experimentei na minha vida passada.
“Certo, estou sentindo.”
É parecido com a sensação daquela vez que o Mago Conor veio para analisar a minha maldição.
Tem que ser isso.
— Consigo… Consigo sentir algo leve pelo meu corpo. — Digo um pouco eufórico — Isso é mana?
— Extremamente sim. Agora vamos para o próximo passo.
Xerona estende a palma da mão direita em minha direção e diz:
— ∆Wind Flow∆
Então, ventos começam a sair de sua mão e fazem meu cabelo se mexer como se eu estivesse na frente de um ventilador.
— Incrível, é só dizer as palavras de comando que a magia acontece? — Digo alegremente tentando proteger meu rosto dos ventos com a mão direita.
— Extremamente errado. Essa é a magia mais simples do mistério dos elementos. É basicamente fazer com que sua mana saia pelas suas mãos em forma do elemento em que você deu o comando. Porém, quanto mais complexa for a magia mais você terá que aprender a controlar o fluxo da sua mana.
— Fluxo? Como assim?
— O ∆Wind Flow∆, ∆Fire Flow∆, ∆Water Flow∆ e ∆Earth Flow∆ são magias extremamente básicas do mistério dos elementos que você consegue ativá-las apenas fazendo a mana sair de seu corpo. No entanto, os feitiços mais complexos requerem que você libere sua mana e a “costure” da maneira adequada. Além de extremamente precisar saber a palavra de comando, claro.
— O que você quer dizer com “costurar”?
— Basicamente você tem que fazer sua a mana adquirir determinadas formas enquanto ela sai do seu corpo. Por exemplo, a magia que vou te ensinar mais para frente se chama ∆Wind Impact∆, você tem que imaginar que uma esfera explosiva está saindo da sua mão enquanto diz a palavra de comando.
“Se for assim, não parece tão complexo. Tudo o que eu tenho que fazer é imaginar, não é?”
Até aqui tudo bem. Só espero que não tenha que decorar cânticos enormes para lançar magias.
— Então é só imaginar e fazer? Parece bem simples para mim.
— Extremamente não exatamente, no caso de algumas magias, se você não imaginar a forma correta, elas podem acabar explodindo sua mão e até te matando. Sem falar que as magias de Ranking A e S extremamente precisam de um nível muito alto de imaginação.
— Não entendo onde está a dificuldade nisso… É só imaginar, não é?
— Tudo bem. Certo, vou te dar um exemplo extremo… — Ela coloca a mão esquerda no rosto e olha para cima enquanto pensa — Tente imaginar uma esfera quadrada.
— O quê? Mas isso não existe. — Faço um olhar de descrença.
“Espera, uma esfera quadrada? Ela tá tirando com a minha cara?”
— De fato, extremamente não existe no mundo físico. Mas existe no mundo da magia e está descrito detalhadamente em um livro de magia como se deve imaginá-la. Por isso os livros de magia de Ranking A e S são tão difíceis de encontrar.
“Existe meios para complicar qualquer coisa mesmo…”
Espero que as memórias do meu mundo anterior sirvam de ajuda com isso.
— Vamos agilizar as coisas. Faça como eu fiz, estenda a sua mão e imagine sua mana saindo para fora dela enquanto diz o comando.
— Ok.
— Vamos, imagine e diga o comando extremamente logo.
— Está bem, está bem. Estou me concentrando.
Certo, tenho que imaginar o fluxo de mana que está circulando em meu corpo saindo da palma da minha mão.
Imagine.
Imagine.
Agora.
— ∆Wind Flow∆
…
Nada.
Nada saiu da minha mão.
— Você não está imaginando certo… — Diz ela enquanto arregala os olhos em minha direção como as sobrancelhas juntos — Imagina aquele sentimento de mais cedo saindo da palma da sua mão. Isso é extremamente simples.
Merda, foi exatamente isso que eu fiz. Porém não senti nada saindo da minha mão.
“Será que eu imaginei errado?”
— Foi exatamente isso que fiz… — Olho para palma da minha mão — Mas não sinto nada saindo da minha mão… A sensação que circula meu corpo não saiu pela minha mão mesmo eu tendo imaginado.
— Então tenta de novo. — Ela cruza os braços depois de encostar seu cajado em uma das arvores do jardim.
Imagino a mana saindo novamente pela minha mão e digo:
— ∆Wind Flow∆
Nada sai de novo.
“Que merda estou fazendo de errado?”
— Tenta de novo. Se for extremamente necessário, vamos ficar aqui até escurecer.
— Sim, mestre. — Digo sem paciência nenhuma.
Imagino.
— ∆Wind Flow∆
Nada.
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As horas passaram enquanto tentei uma vez após a outra lançar a magia mais simples que existe. Disse o comando da magia inúmeras vezes até o escurecer, mas não consegui fazer nada sair da minha mão. Até mesmo tentei as magias básicas dos outros elementos.
Nada funcionou.
Estou começando a ficar desesperado.
“Será que sou uma falha? O que tem de errado comigo? Renascer em um mundo de magia sem ser capaz de usar magia seria tão ruim quanto ser odiado pelas mulheres. Isso não pode estar acontecendo.” Pensamentos de derrota voltaram a aparecer.
— Ei garoto, acalme-se. Foi apenas o primeiro dia. E você tem apenas 2 anos. É claro que não vai conseguir de primeira, isso é extremamente natural. — Diz Xerona.
— Mas você não disse que esse era o básico do básico? — Olho para ela e caio de bunda no chão de cansaço — Não era para eu ter pelo menos conseguido fazer isso?
— Isso é o básico do básico para mim. Mas para você não. — Ela se vira e vai em direção ao seu cajado encostado na arvore — Não se preocupe com isso, extremamente ninguém consegue de primeira.
— Que ódio…
— Pode extremamente levar dias até você conseguir lançar magia. — Ela pega se cajado e volta para perto de mim — O segredo é não perder o foco, então recomponha-se.
— Ok… Sim, mestre. — Respondo sem energia.
“Que pessoa irritante, que jeito de lançar magia inútil e que mundo merda… Estou com vontade de quebrar a coluna de alguém.”
O fracasso me traz um ódio amargo. É diferente do ódio fervente e ácido que sinto por casais felizes, é um ódio mais denso e pesado que me coloca para baixo.
Queria ter conseguido pelo menos fazer isso de primeira. Mas ainda não acabou, com certeza não vim a esse mundo por acaso. Uma hora eu vou conseguir fazer qualquer coisa facilmente, tenho certeza disso.
Xerona estende a mão para me ajudar a levantar.
Quando fico de pé vejo uma carruagem parando em frente do portão. Um homem de bigode e cabelo castanhos escuros desce e o segurança abre o portão imediatamente para ele.
É Jereff, ele finalmente voltou.
Ele passa pelo portão, corre em minha direção e me surpreende com um abraço.
— Você está bem, filho — Diz Jereff com a voz um pouco tremula — Fiquei com tanto medo de alguma coisa grave ter acontecido com vocês.
— Está… tudo bem, Pai… — Figo sem reação ao abraço apertado de Jereff.
— Filho! — Jereff coloca as mãos em meus ombros e me olha nos olhos — Eu prometo que isso não vai acontecer novamente, prometo.
— S-sim.
Receber um abraço apertado e ser encarado nos olhos por olhares tão preocupados me fez ter um sentimento diferente do que estou acostumado. Talvez, pela primeira vez, eu esteja me sentindo feliz por ter um pai. É algo quase inexplicável.
Jereff se levanta e olha para Xerona e diz:
— Xerona, você poderia morar com a gente por enquanto? Precisamos de alguém poderoso sempre por perto.
— Extremamente sim. — Responde Xerona com o peito estufado e um olhar confiante — Pode extremamente contar comigo. Mas, por favor, me conte tudo que está acontecendo.
— Sim, obrigado. Irei te recompensar por isso.
Depois disso, nós três entramos juntos em casa. Jereff vai ver Karen, a Tia da cozinha leva Xerona a um dos quartos de hospedes e eu vou para o meu quarto.
Ele já está limpo, parece que o mordomo e as empregadas rapidamente limparam e se livraram do corpo da empregada morta na noite passada. Ainda sinto calafrios quando olho para o centro do quarto e para janela quebrada que foi fechada com tábuas de madeira.
Deito-me na cama e tento processar tudo que aconteceu hoje. Falhei completamente no que tentei fazer. Mas a partir de agora, cada vez que eu falhar, transformarei meu ódio em trabalho.
Preciso usar esse ódio a meu favor. Afinal, a única coisa que tenho de diferente de uma pessoa normal é o ódio infinito que sinto por tudo.
Lembro-me do rosto de Jereff mais cedo e estranhamente me sinto motivado.
Amanhã, com certeza, terei bons resultados.
Parte 3
Hoje é o segundo dia de aula, estou novamente no jardim junto com Xerona tentando lançar magia.
Está sendo igual a ontem, sem resultados nenhum. A única diferença são os guardas que chegaram de madrugada. Já estão todos de guarda ao redor da casa.
Depois de olhar em volta, me concentro, imagino a mana fluindo da minha mão e…
— ∆Wind Flow∆
Nada sai.
— Cara, relaxa um pouco — Diz Xerona encostada em uma árvore — Limpa a sua mente antes de imaginar a mana saindo.
“Imbecil, já tentei isso várias vezes e não adiantou merda nenhuma.” Penso com uma veia saltando em minha testa.
De repente, uma carruagem preta para em frente ao portão. Alfonsi disse que as empregadas novas iriam chegar agora à tarde, devem ser elas.
Alfonsi sai de casa e vai em direção ao portão. Quando chega lá, começa a conversar com o cocheiro. Logo em seguida, três pequenas mulheres saem de trás da carruagem. Alfonsi pede para o segurança abrir o portão e as três entram.
Enquanto elas seguem o mordomo para dentro de casa, consigo dar uma olhada em seus rostos. São garotas de no máximo quatorze anos.
E elas, como esperado, me olham de volta com o olhar de nojo. Porém, uma delas me chama a atenção. Cabelo preto liso e olhos puxados. Uma japonesa, com certeza é uma japonesa.
Então deve haver outras raças humanas também. As poucas pessoas que vi até agora são brancas, então, por um momento, pensei que não existiam outras raças nesse mundo.
— Parou por quê? — Grita Xerona em minha direção — Concentre-se extremamente.
— Sim, mestre — Digo mordendo os dentes.
Mais uma vez, imagino.
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Parte 4
Se passaram duas semanas desde o começo das aulas de magia e ainda não obtive nenhum resultado. Não importa o que eu faça, nada sai da minha mão.
Estou começando a perder a paciência. Só continuo tentando porque Xerona disse que é normal demorar tanto.
Voltei a ter aulas de etiqueta com o mordomo agora que as coisas parecem ter se acalmado. É simplesmente insuportável ter que decorar costumes idiotas dos nobres, não sei se vou aguentar por muito tempo ficar todas as manhãs aprendendo coisas inúteis com Alfonsi.
Atualmente estou no jardim tentando lançar a magia mais básica que existe do mistério dos elementos. Uma magia inútil que não funciona de jeito nenhum. Talvez seja Xerona a inútil, ela deve estar me ensinando errado.
Agora ela está deitada em uma rede que ela pendurou nas árvores do jardim. Ela só pode me ensinar as próximas magias depois que eu conseguir lançar o básico. Então, até lá, ela só vai me observar de longe. Às vezes ela tenta me dar dicas de como imaginar a mana fluindo para fora do meu corpo, mas tudo inútil.
Mais uma vez tento, de maneira diferente, imaginar minha mana como correntes de um rio saindo da minha mão. Essa foi uma das dicas dela.
— ∆Wind Flow∆
E nada sai de novo.
Isso está me irritando tanto que sinto vontade de socar alguma coisa. Agacho-me e preparo meu punho para esmurrar o chão com todas as minhas forças, mas antes, escuto alguém se aproximando por trás de mim.
— Mestre Heitor, tenho uma notícia para dar ao senhor. — Diz Alfonsi depois de eu me levantar.
— O que é? Fala logo, tô ocupado agora. — Digo com um rosto sombrio sem esconder minha irritação.
— A senhora sua mãe está gravida novamente, isso é tudo. — Ele então se vira e volta a entrar na casa.
“Vou ter a porra de um irmão…” Passou rapidamente pela minha cabeça.
Não sei o que esperar disso, eu era filho único na minha vida passada e nunca senti necessidade de ter um irmão. Na verdade, eu não precisava nem mesmo de uma família, eu teria me virado bem sozinho sem dúvida nenhuma.
Se for um menino, espero que não me atrapalhe. Agora se for menina, a maldição vai fazê-la ser tão irrelevante para mim quanto Karen.
De qualquer forma, preciso continuar a imaginar.
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Parte 5
Dois meses se passaram desde o incidente com o assassino. E ainda não consegui nenhum resultado com as aulas de magia.
Absolutamente nada.
Até mesmo Xerona começou a estranhar tanta demora, demorar tanto assim para lançar uma magia simples realmente não é normal. Por isso, ela começou a estudar minha maldição para ver se tem alguma relação e me disse para continuar tentando. Todos os dias ela coloca a mão em meu peito igual o Mago Conor fez da última vez.
Meu ódio por esse lugar está começando a transbordar. Ultimamente, tudo o que vem a minha mente é a vontade de matar qualquer pessoa que pareça feliz.
Estou agora no jardim, depois de fracassar algumas vezes, resolvi me sentar de baixo de uma árvore. Estou cansado das aulas de etiqueta, estou cansado de ficar repetindo “∆Wind Flow∆” e nada acontecer e estou cansado desse mundo.
“Qual o problema da maldita magia desse mundo? Ela simplesmente se recusa a funcionar comigo…”
Enquanto descanso de baixo da árvore, vejo alguém parado em frente ao portão conversando com um guarda.
É um homem de cabelos negros e roupas cinzas com uma grande espada de dois gumes pendurada nas costas, bem diferente dos guardas que têm apenas uma espada simples de guerreiro na cintura. Claramente ele é um espadachim bem excêntrico.
Jereff e Alfonsi aparecem para recebê-lo no portão e me chamam para conhecê-lo.
— Heitor, quero que você conheça o nosso novo guardião, Reese Cratz, O Espadachim do Vento. Ele é meu amigo mais poderoso e vai nos proteger por um tempo. — Diz Jereff com um leve sorriso no rosto.
— Prazer em conhecê-lo. — Digo enquanto faço o maldito cumprimento da família Kallavan.
— O Prazer é meu, amiguinho. — Ele aponta o polegar direito para si mesmo — Comigo aqui, nada de ruim vai acontecer. Não precisa mais ter medo.
“Amiguinho?”
O sobrenome dele é Cratz, provavelmente é parente do mago Conor. Tanto faz, só espero que ele seja forte mesmo. Não estou a fim de ser morto ou entregue ao rei de Oragão.
Depois disso, os três entram em casa. Jereff vai apresentar esse cara novo para Karen antes dele começar a trabalhar.
Permaneço no jardim e continuo tentando fazer alguma coisa sair da minha mão.
Parte 6
8 meses se passaram desde que comecei a aprender magia. Não saí da estaca zero. É como se eu tivesse jogado fora todo esse tempo para nada.
Como resultado de tanta frustração, meu ódio está incontrolável. Já não consigo mais conter a vontade de descontá-lo nas pessoas.
Jereff saiu logo depois da chegada do espadachim guardião e está fora a quase 6 meses. É a primeira vez que ele some por tanto tempo.
Sem ele aqui, estou livre para fazer qualquer coisa sem receio de desapontá-lo. Não que eu ligue para ele, apenas não quero perder prestígio e não ter mais meus desejos atendidos.
Agora, estou no jardim igual a todos os dias. Mas, dessa vez, não para aprender magia, e sim para aliviar o ódio do meu peito.
Sou filho de um nobre, ninguém nessa casa vai me impedir de fazer qualquer coisa ruim que passe pela minha cabeça.
Estou escondido atrás de uma árvore esperando a oportunidade certa para realizar meu plano. Vejo uma das empregadas se aproximando, é a nova Tia do Jardim, umas das três que chegaram a uns meses.
Quando ela chega perto da árvore que estou, saio rapidamente de trás e jogo uma pedra em direção ao seu rosto.
Surpreendida, ela tenta se proteger e é acertada no ombro esquerdo.
“Merda, por pouco…”
A empregada cai no chão se contorcendo de dor enquanto tenta segurar o choro.
— Ei, lixo. Olhe no meu rosto agora. — Aproximo-me dela lentamente e levanto meu punho enquanto miro seu rosto — Faça aquela cara de nojo para mim, vai.
Ela tenta proteger sua cabeça com o braço esquerdo enquanto me encara com os olhos molhados.
Olhar para o rosto de desespero da empregada me deixa muito satisfeito. Sinto-me um rei, sinto-me superior a tudo. Quanto mais machuco alguém, mais sinto-me vivo. Sempre foi assim e sempre vai ser. E não são os fracassos desse mundo que irão mudar isso.
Quando estou prestes a socá-la, recebo um golpe em minha cabeça e caio no chão.
— Lixo é você, seu moleque. — Diz Xerona enquanto continua me batendo com seu cajado — Extremamente não faça esse tipo de coisa nunca mais.
“Essa maldita me pegou, desgraçada…”
Protejo meu rosto com os braços enquanto levo seus chutes e cajadadas. Ela está me machucando de verdade, acho que ela quer me desmaiar.
De repente, ela para de me bater, vai em direção a empregada e começa a curá-la. Apenas fico esparramado no chão olhando para isso.
¬— Escuta aqui… Vou descobrir qual é o seu problema com mana e continuar a proteger essa casa extremamente como Jereff me pediu. — Diz Xerona enquanto ajuda a empregada a se levantar. — Depois disso, não irei mais te ensinar magia. Um mostro que bate em mulheres extremamente não merece nada.
— Dane-se, faça o seu trabalho e depois vá a merda. — Levanto-me do chão e vou em direção a entrada de casa.
“Quem ela pensa que é? É só eu pedir e Jereff troca ela por outro mago mais útil, ele é bobão então tenho certeza de que vai fazer isso.”
Enquanto estou subindo as escadas, esbarro em Alfonsi. Depois do segundo mês de aulas de etiquete, ele começou a insistir que eu aprendesse a dançar. Eu já estava de saco cheio com todas as coisas inúteis de nobres, então cuspi em seu rosto e mandei ele para aquele lugar.
Desde então, não tive mais as malditas aulas de etiqueta. Além disso, Alfonsi nunca mais olhou em meu rosto.
Dessa forma, sendo ignorado, passo por ele e entro em meu quarto.
Não fiz nada pela manhã e acabei levando uma surra agora a tarde. Mas, ver o rosto daquela garota chorando me fez sentir bem, muito bem. Pelo menos isso valeu a pena.
Fico me deleitando com o rosto de desespero da empregada gravado em minha mente enquanto estou deitado na cama. Tento dormir, mas as dores no meu corpo não deixam.
“Aquela maldita… Acho que vou fazer alguma coisa para ela também!”
Fico pensando em planos de vingança até a hora do jantar chegar. Quando chega a hora, saio do quarto, desço as escadas e quando vou em direção a sala de jantar, vejo Xerona sentada na sala de estar.
Decido ignorá-la, mas…
— Ei, seu moleque. Venha aqui extremamente. — Fala Xerona com uma voz ameaçadora quando me vê passar.
— O que foi, Mestre? — Digo em tom de ironia — Vai me curar “extremamente” também?
— Extremamente descobri o porquê de você não conseguir lançar magias. — Responde ela categoricamente sem ligar para minha provocação.
“O quê? Finalmente ela fez alguma coisa de útil.”
— E então? O que é? — Pergunto rapidamente.
— Antes de te falar, quero te deixar uma coisa extremamente clara. — Ela olha friamente para mim — Nunca diga para ninguém que eu fui sua mestre ou que te ajudei com qualquer coisa. Extremamente entendido?
— Tá, agora fala logo o que você descobriu. — Respondo impacientemente.
— A razão pela qual você extremamente não consegue lançar magias se deve ao funcionamento da sua maldição.
— O quê? Como assim?
— Explicarei por partes, neste mundo há certas pessoas que são denominadas perfeccionistas. Elas desejam que tudo esteja perfeitamente no devido lugar. Qualquer tipo de alteração daquilo que elas conhecem como normalidade, as irrita extremamente.
— O que isso tem a ver com a maldição?
— Tudo, sua maldição não permite que seu corpo libere mana. Coisa que todas as coisas do nosso mundo fazem. Em média, um humano normal libera 25% de sua mana todos os dias por realizar ações extremamente simples como andar, comer e respirar. Sem mencionar que até mesmo uma pedra libera mana.
— E então?
— Você é a única exceção, uma anomalia. Há mana dentro de você, mas ela não sai. É quase imperceptível para os homens, mas, por algum motivo, o subconsciente das mulheres consegue facilmente perceber. E, assim como um perfeccionista não suporta ver algo fora do lugar, as mulheres não suportar olhar para você. Afinal, você é extremamente diferente de tudo que elas veem.
— Hahahah… Isso é uma piada, né? É apenas uma teoria idiota que você inventou… não é? — Digo enquanto meu rosto começa a se deformar de raiva.
“A maldição funciona assim? Então como ela é inquebrável, quer dizer que nunca irei poder usar magia…”
— Fiz meu trabalho extremamente seriamente. Não tem erro, essa é a sua vida, menino amaldiçoado.
Estou começando a perder a cabeça. Então nunca vou conseguir ser um mago.
Meus planos de virar um mago e quebrar a maldição, meus planos de virar alguém poderoso e por medo nas pessoas… Foram todos para o lixo.
E ainda por cima, nasci em uma família que está sendo caçada por um país. Nem mesmo vou poder me aproveitar direito dos benefícios de ser um nobre.
— Você ainda pode tentar uma coisa.
— O quê? Fala logo, sua maldita.
— Tente aprender esgrima, talvez de para usar a magia do seu corpo com ela.
“Ela está querendo me irritar? Escutar ela falando está me deixando com dor de cabeça.”
— Morra, sua imbecil inútil. — Grito isso e corro para meu quarto.
Não aguento mais, acho que vou explodir. Minha cabeça dói. Estou sentindo uma raiva que nunca senti antes. Esse mundo não para de destruir os meus sonhos.