Demônio da Escuridão - Capítulo 12
Todos os presentes no galpão ficaram paralisados.
Christian estava com uma flecha atravessada em seu peito, por pouco não acertou seu coração, a ferida queimava como fogo. Milena respirou aliviada, não só pela chegada de Norman, mas por ele ter impedido a decapitação de Levi.
— Droga… Eu deveria saber que o Bob informaria você.
— Ele não me informou nada. — disse Norman — Tenho uma maldição que me permite saber onde meus membros estão. Achei estranho Milena, Bob e Levi sumirem por tanto tempo sem avisar.
Christian arrancou a flecha em seu peito, e ordenou: Soldados, ataquem o Norman!
Os capangas de Christian desembainharam suas espadas e reforçaram seus corpos com magia. No mesmo instante, um ar gelado começou a soprar pelo galpão, tornando-se cada vez mais frio, até que…
VOOOSH!
Todos os soldados, com exceção de Christian, foram congelados. Barcímio, que estava invisível, revelou a sua presença no meio do galpão.
Norman se aproximou de Christian, que estava sentado, com as costas encostadas na parede e mirou sua besta na cabeça dele. — Faça qualquer movimento e então deixarei um buraco em sua cabeça. Onde estão as chaves?
— No meu bolso esquerdo — disse Christian, rendido
Norman vasculhou o bolso esquerdo de Christian, que tentou alcançar sua espada que estava caída ao seu lado, mas Barcímio percebeu e congelou seu braço.
— Encontrei. — disse Norman, com as chaves em mãos. — Barcímio, cheque as condições de Levi.
— Como quiser. — Barcímio foi até Levi, que estava desacordado e debruçado no chão.
— Hehe… Esse aí já dobrou o cabo da boa esperança. É impossível ele ter sobrevivido ao veneno, ainda sendo reforçado com… — Antes de Christian terminar de concluir seu raciocínio, Levi acordou e levantou.
Christian observou Levi se levantando como se nada tivesse acontecido, quando aquele veneno que lhe atingiu poderia ter matado cem homens com facilidade.
Levi sobreviveu ao veneno devido à resistência natural dos demônios a toxinas.
— Até que enfim! Você demorou. Eu realmente achei que fosse morrer aqui. — disse Bob,
alongando os membros recuperados depois de sofrer a pior tortura da sua vida.
— A culpa é minha de você ter vindo sem me avisar? Eu teria vindo mais cedo se tivesse me avisado! Não precisava passar por tudo isso! — argumentou, Christian.
— Nah, é melhor assim. Eu não raciocinei direito quando recebi a carta do Christian. A culpa é minha mesma de pensar de cabeça quente.
— E falando no diabo… — Bob e Norman se viraram para o Christian. — O que vamos fazer com ele?
Bob levantou a mão. Seu machado de guerra, que repousava há quilômetros de distância, começou a vibrar. Até que aos poucos ganhou velocidade e voou pelos céus rasgando o ar e quebrando todos os obstáculos à sua frente, até chegar em seu mestre.
O bárbaro se aproximou de Christian a passos lentos. O subtenente tentou levantar para correr, mas seu braço estava congelado e preso na parede.
— P-por favor, Bob. Não faça isso! — Lágrimas escorriam do rosto de Christiam.
Porém, Bob não sentiu um pingo de empatia, muito pelo contrário. Ele chutou a cabeça de Christian, sangue e dentes voaram enquanto ele caia desnorteado no chão, ainda com o braço congelado, no entanto já deslocado da parede com a força do arremate.
Bob bateu seu pé sobre as costas de Christian.
— Por… Favor… Me… Perdoe… — disse Christian, esperando por uma piedade que ele não merecia.
— Tarde demais para se desculpar — Bob levantou o machado de guerra e com todo o ódio que ele tinha resguardado, ele desceu mirando no pescoço.
BOOOM!
A lâmina de Bob pingava com o líquido vermelho. Christian estava morto, no entanto, não sofreu nenhuma dor.
— E os soldados, vai deixá-los congelados? — perguntou Levi.
— Sim. De qualquer forma eles já devem ter morrido por hipotermia. — respondeu Barcímio, indiferente.
— Agora… Vamos voltar para a casa. — Bob caminhou até a saída, no entanto, antes de chegar na porta cambaleou até quase cair, se não fosse segurado por Barcímio.
— Parece que você não está cem por cento recuperado. Seu corpo deve ter sofrido um grande estresse. Precisa repousar por um tempo — Com seu cajado, Barcímio abriu um portal que estava conectado ao dormitório.
Bob, Barcímio, Norman, Milena e Levi atravessaram o portal e adentraram o dormitório. Anna estava na cozinha preparando algo para todos comerem, afinal, ninguém tinha se alimentado desde a ida para o centro comercial.
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No calar do anoitecer, enquanto todos os seus companheiros estavam dormindo após um dia agitado, Levi saiu do dormitório e foi até o terreno do lado de fora, espaço que ele usava para treinar com Bob. O vento gelado soprava em seu corpo, os grilos e outros insetos noturnos lhe faziam companhia.
Ele sentou-se na grama, tirou o sino negro que estava em seu bolso e ficou o encarando enquanto refletia em todas as situações em que fracassou e errou por não ter controle sobre o seu próprio poder. A frustração e a tristeza eram sentimentos familiares para Levi, desde os dias em que ainda era uma criança.
A noite fria e solitária o fez lembrar de outra manhã fria de anos atrás…
…
4 anos atrás, 6 meses antes dos acontecimentos de Galego.
— Mãe, eu tenho mesmo que ir para a escola? Ninguém lá gosta de mim, eles dizem que eu sou um monstro! — resmungou Levi, enquanto a mulher de cabelos castanhos assim como seus olhos e pele morena posicionava gentilmente a sua gravata.
— Você não é um monstro, você é maravilhoso! Jamais deixe que te aborreçam. — disse a mãe de Levi, fazendo os ajustes finais. — Pronto! Você está lindo!
Levi estava em sua forma original, com o cabelo lambido para o lado e camisa para dentro da calça, esse era o padrão da Escola Fundamental de Magia de Tristam.
— Vamos? — Rosane ofereceu a mão para Levi.
— Não preciso mais andar de mãos dadas, não sou mais uma criança. Eu já tenho 12 anos!
— Ah, é? Então vamos, porque senão você irá se atrasar.
Os dois caminhavam lado a lado pelas calçadas das ruas de Tristam. A manhã estava cinzenta e fria, como o humor de Levi. Rosane, por outro lado, acenava para seus conhecidos com um sorriso.
Quando as pessoas viam Levi de longe, imediatamente cruzavam a rua para evitar passar perto dele. No começo, isso o aborrecia, mas ele se acostumou. Embora o reino de Tristam não nutrisse o mesmo ódio pelos demônios como seus vizinhos, ainda assim, eles os viam como criaturas asquerosas e perigosas.
Em silêncio, chegaram ao portão da escola. Várias crianças estavam aglomeradas na entrada. As conversas diminuíram quando notaram Levi, e a maioria entrou ou se distanciou dele.
Rosane olhou para Levi esfregando as mãos, torcendo os dedos e mantendo a sua linha de visão no chão, comportamento típico de uma pessoa tímida e ansiosa. Ao soltar a mão dela e tocar levemente as costas dele, incentivando-o a entrar.
Levi respirou fundo e passou pelo portão da escola, desacompanhado de sua mãe.
Esse era o seu décimo dia de aula na Escola de Magia de Tristam, e Levi ainda não tinha feito um amigo sequer. As outras crianças temiam ele, seus pais o orientavam para que mantenham distância dele e o evitem a todo custo.
Acomodado em sua carteira, Levi aguardava silenciosamente o ínicio da aula. Os assentos ao redor dele estavam vazios. Os outros alunos já haviam formado suas panelinhas, e em grupo conversavam entre si até que a aula começasse.
TRIIIIIIM!
O sino reverberou por toda a escola, todos os alunos se acomodaram em suas carteiras, e então a professora responsável pela turma entrou na sala com uma mala em mãos. Era uma típica mulher de meia-idade, baixinha e um pouco acima do peso.
Toda a atenção dos alunos estava em uma figura que estava parada na entrada da sala, até que entrou ao sinal da professora.
— Atenção, alunos. A partir de hoje teremos um aluno novo na nossa classe. Por favor, sejam simpáticos com ele.
O aluno em questão era mais alto que qualquer outra pessoa da classe, seus cabelos eram platinados e seu corpo robusto. Além disso, ele usava uma venda dos olhos, o que o dava um ar de mistério.
— Precisa de ajuda para ir até uma carteira? — perguntou uma garota sentada na frente, nitidamente interessada nele.
— Não precisa, eu consigo ir sozinho. — respondeu. Em seguida, dirigiu-se até uma carteira vazia que estava ao lado de Levi.
— Ei, aluno novo. Tem uma carteira vazia aqui perto. Não precisa ficar aí ao lado desse…
— Estou bem aqui.
“Os outros alunos têm medo dele? Por que?” refletia o aluno novo, enquanto analisava Levi através do seu sexto sentido, habilidade que só ele possuía.
— Psiu, ei, você! — o aluno novo chamou a atenção de Levi enquanto a professora escrevia no quadro negro — Por que os outros alunos não gostam de você?
— Não sei dizer. Acho que é porque eu sou diferente deles.
— Ah. Eu percebi que você tem uns negócios pontudos na cabeça. — Levi ficou surpreso, pois o aluno ao seu lado havia mencionado seus chifres sem sequer tê-los visto.
— Ué? Como você sabe se está vendado?
— Meu corpo solta partículas de magia o tempo todo. Elas me ajudam a saber a forma das coisas, o espaço ao meu redor e até a temperatura. Mesmo que eu não consiga ver as cores, eu sei como elas são. — Apesar de não ter entendido nada, Levi acenou com a cabeça como se tivesse. — A propósito, meu nome é Brandr e o seu?
— Levi. — respondeu, com a voz hesitante.
Brandr sorriu levemente.
— Espero sermos bons aliados — disse Brandr, com um jeito misterioso.