Demônio da Escuridão - Capítulo 16
“Jovem mestre, esse anel se chama “Anel da Corrupção”, enquanto não conseguir controlar os seus poderes sozinho, ele será de grande ajuda. O maior problema é que ele irá restringir seu potencial máximo, portanto, em último caso não hesite em tirá-lo.”
Levi olhava fixamente para o anel que recebeu de Baphomet enquanto viajava dentro de uma carruagem com seu grupo em direção a um vilarejo que havia requisitado um pedido de missão. Passou-se uma semana desde que Norman e seu grupo sofreram com o infortúnio sequestro de Milena. Bob, que havia sofrido danos maiores, já estava recuperado.
— Ei, Norman, sobre o que é essa missão mesmo? — perguntou Bob. Sua cabeça estava um pouco latejante.
— Pela terceira vez, vamos investigar o sumiço de alguns moradores da região — respondeu Norman, o tom de impaciência era nítido na sua voz.
— Ah, certo. Agora eu me lembro — Bob assentiu.
— Eu ainda acho que o Bob deveria ter ficado no dormitório, pelo menos até esse efeito de perda de memória a curto prazo acabar — Milena, que estava sentada ao lado, observava Bob com preocupação
— Seria o ideal, mas ele é um membro fundamental. Sem ele teríamos apenas Levi, que com todo respeito, ainda está engatinhando no mundo dos caçadores — disse Barcímio.
Norman ergueu uma mão, pedindo calma. — Sem estresse, pessoal. Como líder do grupo, eu me responsabilizo pelo Bob e ficarei de olho nele.
O grupo finalmente chegou no local da missão, um lugar conhecido como Vila das Batatas, são conhecidos assim por serem grandes produtores de batatas. Ao se aproximarem, foram recebidos pelo cenário precário marcado pela pobreza. As casas, construídas de madeira, estavam em péssimo estado, com paredes desgastadas e telhados desmoronando. As estruturas pareciam prestes a ceder a qualquer momento.
Os moradores que sobraram no Vilarejo olhavam para a chegada dos caçadores como a grande esperança. Norman e seu grupo notavam o peso desses olhares, havia muita responsabilidade sobre seus ombros.
— Nossa… Fazia tempo que eu não via um lugar tão precário — murmurou Bob, enquanto observava os moradores em um estado deplorável.
Quando os caçadores desceram da carruagem, eles esperaram o ancião que já estava se aproximando com o seu assistente. Era um idoso judiado pelo peso da idade, ele tinha um olhar cansado e andava com ajuda de um pedaço de madeiro curvado que lhe servia como bengala.
— Bem-vindos a Vila das Batatas, estrangeiros — disse o ancião com a voz rouca mas firme enquanto curvava a sua cabeça — Agradeço por terem vindo. Por favor, sigam-me até a minha casa para que possamos conversar.
Norman fez um gesto para seu grupo, e todos seguiram o ancião até a sua humilde residência. A casa dele era como todas as outras, de madeira, e rangia sob seus passos. Ao entrarem, o cheiro de sopa fervendo em um caldeirão os recebeu, misturado com ervas e outros temperos.
O ancião os conduziu até uma mesa de madeira, onde todas as cadeiras estavam dispostas. Ele gesticulou para que eles se sentassem, e em seguida, pediu para seu assistente lhes servir com uma sopa de batatas.
— A viagem deve ter sido longa e cansativa, por isso preparamos uma sopa para vocês. É boa para a vitalidade — disse o ancião, tentando ser o mais receptivo possível.
Bob aceitou a tigela, mas estava mais interessado em outra coisa. Ele colocou a tigela na mesa e olhou diretamente para o ancião. — Agradecemos pela comida, mas gostaríamos de saber mais detalhes sobre a missão. Por que nos chamou aqui?
O ancião suspirou profundamente, como se o peso de toda a vila estivesse sobre seus ombros. Ele colocou a própria tigela de sopa de lado e começou a falar.
— Faz dois anos que moradores vêm desaparecendo de forma misteriosa. No início, pensávamos que poderia ser apenas uma questão de fuga… ou quem sabe algum acidente. Mas os desaparecimentos continuam, sempre jovens, todos com menos de 30 anos. Até mesmo… — ele fez uma pausa, e seus olhos se encheram de lágrimas — …até mesmo minha neta foi a primeira a desaparecer. Ela era tudo o que eu tinha neste mundo. Desde então, minha vida não tem sido a mesma.
O grupo permaneceu em silêncio, respeitando o momento de dor do ancião. Anna, sempre empática, se inclinou para frente e perguntou gentilmente: — O senhor sabe onde essas pessoas podem ter ido? Ou ouviu algum rumor sobre o que pode estar acontecendo?
— Não tenho certeza, mas um morador chamado Leni foi até a floresta procurar pela esposa desaparecida. Ele não voltou. Dias depois, um grupo de moradores foram atrás dele na esperança de encontrá-lo. Mas o que viram…— Ele fez outra pausa, as palavras entalaram em sua garganta — …eles encontraram seu corpo estirado no chão, morto. Ele estava sem olhos, a barriga estava aberta e sem os órgãos internos.
Norman franziu a testa, tentando juntar as peças do enigma que o ancião estava compartilhando. — Quem é esse morador que encontrou o corpo? Gostaríamos de falar com ele. Talvez ele possa nos levar até o local.
O ancião assentiu e chamou seu assistente, que esperava do lado de fora. O assistente, um jovem magro e pálido, recebeu instruções para trazer Paul. Minutos depois, o homem chegou à casa, visivelmente abalado e hesitante.
— Eu soube que vocês querem que eu os leve até a floresta… até onde encontrei o corpo — disse Cedric, sua voz tremendo de medo.
Bob, percebendo o nervosismo de Paul, levantou-se e colocou uma mão reconfortante em seu ombro. — Não se preocupe. Nós garantimos que nada vai acontecer com você. Estamos aqui para protegê-lo.
Paul hesitou por mais um momento, mas acabou concordando. — Tudo bem… eu posso levar vocês até lá. Mas não quero ir muito longe.
O grupo de Norman foi guiado por Paul até a entrada da floresta, um lugar sombrio e sinistro que estava sob um silêncio total. À medida que eles avançavam, a atmosfera se tornava cada vez mais melancólica. As árvores eram altas e espessas, suas copas bloqueando a maior parte da luz do sol, deixando o ambiente em uma penumbra constante.
Logo, começaram a notar marcas estranhas nas árvores, como se algo tivesse arranhado a casca com garras afiadas. O ar estava impregnado com um forte cheiro de enxofre, o que fez Anna franzir o nariz.
— D-Desculpa, mas eu só vou até aqui — disse Paul, seu coração acelerava após recordar detalhes da cena que viu naquele fatídico dia.
— Tudo bem, pode voltar. Você foi bem por ter nos trazido até aqui — disse Barcímio, que em seguida criou um golem de gelo — Golem de Gelo, escolte o morador até a casa dele.
— Isso não é normal — disse ela, enquanto analisava uma das árvores marcadas. — Será um demônio do tipo besta?
Finalmente, chegaram a uma área onde o cheiro de enxofre era quase insuportável. No centro desse local, havia uma árvore gigantesca, muito maior e mais antiga do que as outras ao redor. Suas raízes grossas e retorcidas se espalhavam como serpentes pelo chão, e a casca da árvore parecia estar coberta de algo escuro e oleoso. O odor que emanava dela era forte e peculiar, diferente de tudo que já haviam sentido antes.
— Acho que encontrei alguma coisa — disse Anna, com a voz baixa e tensa.
O grupo se aproximou rapidamente, reunindo-se ao redor de Anna. Eles logo perceberam o que ela havia encontrado: na base da árvore, havia um buraco grande o suficiente para uma pessoa passar. De dentro dele, uma fraca luz azul pulsava, iluminando levemente o interior do tronco.
Norman, com o olhar fixo no buraco, respirou fundo e deu um passo à frente. — Eu vou entrar primeiro. Fiquem atentos.
Ele se agachou e entrou no buraco, desaparecendo na escuridão. Houve um silêncio perturbador por alguns momentos, tempo suficiente para que o grupo começasse a ficar apreensivo.
De repente, a voz de Norman ecoou de dentro da árvore, quebrando o silêncio. — Tudo bem, podem vir. É seguro. Com alguma hesitação, o grupo seguiu Norman e entrou no buraco.
Eles estavam em uma câmara subterrânea, cercados por fileiras de crânios humanos dispostos ao longo das paredes, como uma decoração sinistra. As velas dispostas entre os crânios queimavam com uma chama azul, lançando sombras que dançavam nas paredes de pedra. A frente deles, havia um corredor longo e escuro, que parecia se estender infinitamente, sumindo na completa escuridão.
— O que é esse lugar? — murmurou Bob, a voz cheia de descrença.
Norman permaneceu em silêncio por um momento, sentindo o peso da descoberta.
— Seja o que for, temos que continuar — disse Norman finalmente, embora sua voz mostrasse sinais de cautela.
Com isso, o grupo começou a avançar lentamente pelo corredor escuro.