Destino da Quimera - Capítulo 2
Entre os risos e cochichos dos alunos, uma conversa passava entre o diretor e sua companheira sem qualquer interrupção, nem mesmo recebiam atenção.
Bella era a única quem estava encarando ambos, pois estava sendo encarada pela mesma mulher, mesmo que estivesse recebendo olhares de todos os demais alunos, simplesmente focou sua visão na acompanhante de Blanco.
Apesar de encarar tanto, nada conseguia ouvir.
— Aquela criança, Blanco… Monet, certo? Não sabia que começaram a ensinar dispersão de mana com tanta eficácia… — disse a mulher primeiramente séria e então completou ironizando: — e negligência.
— Ensinamos o que nossos alunos buscam aprender e conseguem alcançar, você é um exemplo disso. — sua resposta foi quase mau humorada pela seriedade. — E onde estão seus modos?
— Ah mestre, para que tanta rigidez com uma aprendiz…
Bella ainda encarava com tanta intensidade que não conseguia evitar o par de íris púrpuras.
— E por que não chamamos aquela garotinha também? Solaria pode ser forte, mas seus atos são meio tenebrosos. — ironizou novamente.
— Não tente recrutar nenhum daqueles dois, seria um grande problema… Eles deixaram a cidade logo, e sequer precisavam ter feito esse teste.
— Por que tanta pressa? Mataram alguém?
— Treinamento, quem sabe? Jovens geralmente são mais gananciosos devido a falta de experiência…
— E adultos são mais arrogantes pelo excesso de experiência.
— Ainda bem que não esqueceu de algo básico…
Após o fim do diálogo, o diretor precisou dá instruções aos alunos de como aprisionar de melhor forma os golens.
Sem a presença do diretor, conseguiu ter maior atenção nas palavras dos alunos, podendo analisar ainda melhor para que “lado” declinava a mentalidade daqueles jovens.
Entre os diversos murmúrios, o nome mais famoso era do ator principal: Monet. A maioria simplesmente praguejava seu nome e insultava com fervor, mesmo aqueles de famílias nobres.
“Estão xingando ao invés de tentar recrutar?”
Aos poucos conseguia ouvir que o trio não parecia ter a paixão dos demais alunos, menos ainda cumprimentos amistosos.
Acusavam Bella de ser energicamente bruta e explosiva, como tal impulsividade sempre era demonstrada pela garota — em diversas vezes que socou outros alunos —, aquele que “é seu irmão” também estaria na mesma categoria mesmo não demonstrando.
Apesar de não envolverem o garoto em brigas, como faziam com Bella e Noelle, usavam ofensas sussurradas e boatos, quando não tentavam fazer boicotes aos seus trabalhos.
E tudo isso ocorria apenas por um incidente especial.
Não conseguia entender totalmente pelas falas dos alunos e nem poderia dizer que falavam a verdade, mas com toda certeza podia dizer alguém não foi expulso por muito pouco.
“Crianças sempre falam demais, que coisa…”
Estava prestando tanta atenção nas crianças que acabou esquecendo sobre a única que lhe encarava com intensidade, ao lembrar simplesmente sorriu para ela.
— Bella.. como vai andar de volta para casa com o pé assim? — a voz abafada pelas mãos, de Noelle, quebrou a concentração de Bella. — Você é muito pesada também…
— hm… Estou mais preocupada com aquela mulher estranha me encarando! Quem é ela mesmo Noelle?
Ainda sentada com as mãos cobrindo seu rosto, sentindo-se agitada, observou que todos lhe encaravam de relance, mas só conseguiu notar a presença da mulher citada após o retorno do diretor.
— Ela faz parte do conselho imperial.
— Conselho imperial na escola antes da cerimônia? Por que… Ela não para de olhar pra cá? — Era evidente a mudança de sua pergunta.
— Uma gota d’água faz muita diferença no oceano.
— Que?
— Todo mundo está nos encarando de qualquer forma, Bella.
— Eu não gosto disso. Ah, você viu o que Monet fez?
— Não fiz nada… Demais. — disse o garoto, que pareceu um fantasma surgindo após ficar sem mostrar sinal de vida.
— Como nada? Você transformou o golem em pó! Totalmente atoa, Monet.
— Em pó? Dá para fazer isso? — Noelle estava surpresa pela informação e levantou a cabeça para encarar Monet.
— Não é impossível… — Não concluiu sua frase, pois viu a aproximação de Luka e se preparou para uma bronca.
Com uma postura rígida, braços cruzados, claramente tentando não transparecer alguma expressão, começou a falar:
— Bem… a luta de cada um foi impressionante a sua maneira. Sabe, não esperava por aquele golpe giratório e nem pela cabeça de goblin amassada, foi realmente legal de se ver.
— Obrigado, professor. — Noelle respondeu acima dos outros.
— E Monet, sei que aquilo até que foi incrível, mas tome mais cuidado.
O garoto assentiu, encarando o professor.
— Desejo todas as graças e que suas armas estejam sempre polidas…. — não conseguiu terminar devido a presença de um pequeno aluno em robes escuros.
— Desculpe pela intromissão, mas o diretor me pediu para perguntar se Monet… — parou de falar no mesmo instante que conseguiu ver o garoto tremendo como um dos resultados pela perca excessiva de mana. — Horri- Enfim…
Ele chegou próximo de praguejar algo, mas se assustou com o olhar de Noelle coberto por resíduos de sangue preto e a massa estrelar ao seu lado.
— Eu estou bem. O que o diretor lhe mandou fazer foi?
Apesar do tom gentil de Monet, era visível a presença de marcas negras abaixo de seus olhos, um cansaço ainda mais evidente em todo o resto de sua expressão surgia caso encarasse com afinco, isso além do suor brilhando nas zonas não cobertas de seu corpo.
— Ah… É- Bom… — pigarrou fingindo limpar a garganta — melhor você vir comigo até o diretor.
Sem esperar qualquer resposta ele caminhou em direção do diretor, mas sumiu no meio da multidão de alunos.
Somente se assustaram com Luka desaparecendo do campo de visão com todo seu tamanho.
Monet até pensou em seguir, mas suas pernas tremiam em certa fraqueza naquele instante.
— Aliás, Monet. Como você ainda está acordado? — perguntou Bella, virando sua cabeça um pouco para o lado esquerdo e observando a figura de relance.
— Meu corpo já se acostumou a exaustão e também já estou recuperando mana aos poucos… Sem grandes riscos.
— Você vai acabar se matando desse jeito. — Noelle falou por baixo as mãos, deixando sua voz sair abafada.
— Provavelmente…
Ele continuou conversando com Bella, enquanto Noelle retornou ao silêncio, de cabeça novamente abaixada. Seus olhos cintilando em dourado encaravam a garota e sua mão quase alcançou ela, recebendo um olhar de dúvida da Bella.
Mudando de ideia antes de toca-la, recuando sua mão.
Monet estava curioso sobre algo, mas resolveu apenas deixar de lado naquele momento, não considerava ser o lugar certo para perguntar sobre.
***
Demorou alguns minutos até o diretor ir pessoalmente ao encontro daquele trio, sendo atraído diretamente por Monet que tremia agarrando seus joelhos com a palma da mão.
Logo atrás dele vinha sua companheira, piscando com o olho direito e sorrindo para Bella, que observou toda a aproximação daqueles dois.
— Você realmente está vi-brante! Bem pálido, mas vibrante. — Disse a mulher brincando com a situação de Monet.
Bella permaneceu encarando a mulher mesmo após sua aproximação, sem nem mesmo sorrir em retorno para ela, diferente de Noelle que mostrou desinteresse logo de cara.
— O quanto de mana ainda resta em seu corpo, Monet? — as palavras do diretor estavam entorpecidas por neutralidade.
— Bom, o suficiente para não causar problemas sérios… Ah, já consigo andar agora.
— Então está bem… — o diretor moveu seus olhos na direção de Bella e ela conseguiu entender o que queria dizer sem palavras. — Te levarei para casa antes que piore sua perna, certo?
Bella suspirou e assentiu.
Em segundos a garota desvaneceu, não estava mais naquele ambiente após Blanco utilizar sua magia para enviá-la a uma longa distância. Após isso, deu uma leve piscadela para Monet e Noelle.
— Noelle, podemos discutir alguns detalhes sobre Ansuz?
Assentindo com o pedido, levantou-se do chão que estava sentada e pode ver uma troca de olhares entre o diretor e sua aprendiz, claramente avisando ela, nenhum pouco amistoso.
— Em alguns momentos eu retorno.
Assim como Bella, ambos sumiram.
Qualquer pessoa desinformada sobre a magia principal do diretor pensaria trata-se de uma ocultação no ambiente, igual muitos alunos pensaram ser. Diferente do garoto e conselheira que sabiam bem sobre o cerne daquele poder raro e de uso desgastante.
— Podemos conversar um pouco… Monet? Pode ajudar a passar o tempo mais rápido. — disse a conselheira sem mostrar qualquer pretensão ruim, mesmo que não parecesse estar muito relaxada com o pedido.
Monet não aceitou o pedido no mesmo momento, ao contrário: encarou ela por quase um minuto.
“Então foi ela?” ele já sabia a resposta e nem precisava continuar questionando a si mesmo.
E no fim assentiu com a proposta da mulher, sabia que Blanco não teria deixado os dois sozinhos se não fosse com o intuito de conversarem sobre algo. Sabia que deveria ser algo importante, alguém do conselho não vinha tão cedo a cidade atoa.
Passaram lateralmente pela multidão, sendo capazes de evitar que qualquer um atrapalhasse seu caminho. Havia uma grande quantidade de alunos observando aquela cena, ainda assim ninguém interrompeu ou falou algo acima dos demais. Apenas perderam o foco nos dois quando mais uma explicação foi iniciada.
Foram poucos passos até alcançarem o corredor que leva para outras áreas do quartel, incluindo a saída.
Correndo pelas paredes haviam detalhes talhados sobre blocos de pedra, símbolos que representam espadas cruzadas ou escudos, algumas vezes um arco ou lanças. O garoto tinha certa vontade de pressionar seu dedo na parede e arrastar por linhas curvas que representam ondas — talvez lufadas de ar.
Seus passos estavam um pouco lento se comparados ao comum, mostrando o resultado provido da fraqueza gerada por sua mana ter sido deturpado por um erro que cometeu durante o que deveria ser um combate.
Inevitavelmente permaneceu passos atrás da mulher, apesar de haver dificuldade de locomoção naquela situação seu tamanho também não ajudou em nada… Sendo um pouco mais baixo que os demais alunos de sua idade, também exibe uma aparência de maior infantilidade.
Enquanto em alguns já haviam sinais pequenos, como fios de barba crescendo no rosto, nele apenas o cabelo poderia ser dito como algo prestes a cobrir seu maxilar pelo comprimento atual… E na verdade, mesmo o resto do corpo não exibia sinais claros de haver volume de pelos.
Uma linha de agonia cruzou o corpo da conselheira por observar o garoto por cima dos ombros, suas pernas quase mancando pareceram fraquejar cada segundo que pisava no chão.
Ela parou de andar no momento que alcançou uma escadaria próxima ao fim do corredor.
— Prefere que fiquemos aqui? — ela poderia simplesmente considerar a expressão que o garoto fez como um não, mas continuou falando: — não já muito barulho nessa parte e quase ninguém passan-
Monet interrompeu ela: — Não se preocupe. Eu consigo andar um pouco mais… — Ele sorriu já frente a frente com ela. — E um ar fresco não faz mal a ninguém.
Passou lateralmente por ela enquanto tomava a frente com sua pouca velocidade.
Não era uma distância longa, menos de trinta metros até a saída. Poucos alunos e/ou guardas passavam pelos corredores no momento e por isso só conversar ali mesmo não seria ruim. Ela não entendia o porquê dele desejar sair do prédio.
“Que coisa curiosa.”
Uma criança que entendeu sinais com facilidade e não estava mau humorado pelo que havia ao redor, estava ganhando um interesse quase de cientista acerca do garoto.
“Hm… Até que ele manca veloz”
Ela permaneceu atrás, parada, no mesmo local analisando o garoto se distanciando, chegando a calcular o momento entre uma tremida e outra, o efeito colateral do que fez sob seu corpo ainda estava presente, mas com uma frequência baixa.
“Não sabia que isso era possível”
Vez ou outra era bem expressivo que seu corpo tremia, mas enganaria uma pessoa com facilidade.
Cada vez que perguntava a sua própria mente sobre como uma criança em seus doze anos de idade conseguia suportar tão bem uma exaustão mágica como aquela, porém se questionava mais sobre a própria quantidade de magia que ele possui.
Não conseguia sentir qualquer traço de magia presente no corpo do garoto, para seu sentido mágico estava visualizando uma casca vazia.
De longe observou o garoto recebendo um banho de luz solar ao sair pela porta dupla, então precisou adiantar seus passos após notar sua distração ao permanecer no mesmo local por tanto tempo.
Apenas não perdeu a direção do garoto por ser um corredor direto a saída.
Havia um pequeno banco ao lado da entrada e lá estava sentado o garoto, enquanto a mulher permaneceu de pé observando.
Um silêncio entre os dois permaneceu em pé por quase um minuto, antes dela perceber que ele não iria falar sem motivo.
— Essa sua aptidão mágica é bem interessante para alguém da sua idade — falou sorrindo e apenas foi encarada com uma expressão de dúvida novamente.
Monet quase foi acertado em cheio pela luz solar e estreitou seus olhos para aguentar todo a luminosidade entrando em sua visão. E apesar do conflito, pode ver um brilho magenta na íris da mulher.
“Um círculo mágico tão pequeno?”
Talvez ela estivesse se apegando a luz solar para distrair a cabeça dele, mas não conseguia esconder uma flutuação mágica tão evidente, principalmente quando é notada tão diretamente como havia.
E assim como ela, ficou curioso sobre a origem da pessoa em sua frente, mas não por uma apresentação incomum, mas sim por reconhecer aquele tipo de técnica.
— Eu estudo e treino bastante.
— Também aguentou bem o efeito colateral até agora, parece até um guerreiro.
— Ah, eu já estou acostumado com coisas assim.
— Ser forte desde pequeno é algo bom, continue assim…
— Não sou forte ou algo assim, só um pouco mais resistente que os outros.
— Se você diz isso, não irei dizer o contrário… — pela primeira vez notou um cintilar dourado nos olhos daquela criança e não continuou falando casualmente.
Foram segundos onde percebeu que havia algo incomum naqueles olhos brilhantes do garoto. Sentiu uma paz incomum, uma tranquilidade capaz de tornar alguém inquieto. Parecia estar navegando em alto mar, com ondas lhe guiando até seu destino junto ao forte vento causando um barulho incessante em seu ouvido.
Toda aquela paz mostrava com clareza que seu destino era uma tempestade.
“Que legal…” foi estranho sentir àquilo, mas também uma experiência quase única. Chegava parecer magia ilusória, mas ele não deveria ser capaz de usar magia ainda.
Entre muitas suposições que poderia levantar, uma frase foi o que sobrepôs a todas:
— Então faz parte do Conselho Mágico — disse o garoto aquilo que pensava totalmente sem querer.
Logo em seguida apenas o som das leves brisas de ar conseguiam alcançar seus ouvidos.
Primeiramente um pavor absurdo surgiu no rosto daquela mulher, enquanto mentalmente pensava apenas está mantendo neutralidade em sua face. Seu coração se agitou um pouco e aos poucos começou a sorrir.
“Eu falei algo que revelasse isso?”
Sua mente sofreu pela passagem de diversas lembranças da curta conversa até aquele momento, não havia dito sequer uma palavra que pudesse fazer qualquer ligação.
Leitura de mente seria basicamente impossível para alguém no estado dele, principalmente considerando a sua própria resistência contra truques desse feitio.
E para piorar aquela situação ainda passou por sua cabeça responder positivamente aquela questão.
— Ah, era Conselho Imperial. Erro meu.
Monet sentia-se constrangido pela resposta que conseguiu pensar, deixando de olhar diretamente os olhos da mulher no mesmo momento.
Ele não havia dito de propósito, mas provou que estava certo por ela não negar e ainda acabar com uma expressão que lhe denúncia abertamente na face..
E claro, a mulher não considerou aquilo como uma falha.
Monet tinha sorte de não dizer algo assim perto de alguém, não apenas complicaria a vida dela gerando boatos como acabaria sendo perseguido.
Não sei crime ser parte do Conselho Da Magia, mas é proibido para algum membro declarar abertamente sua afiliação. Uma forma de manter segurança sua e das torres mágicas.
O grande poderio militar das torres é temível por ser comparável ao do Império Éter, então um membro fraco precisaria fugir incansavelmente para não ser usado como um meio de obter informações sobre a torre mágica que lhe acolhe e tampouco das demais.
A independência das Torres Mágicas e consequentemente do Conselho da Magia, era um assunto político que incomoda a todos os reinos e impérios do continente.
— Eu realmente me confundi, não se preocupe. — Disse o garoto novamente olhando para a mulher.
E de cima para baixo, com uma expressão terrível no rosto, percebeu que havia tocado num assunto arriscado… igualmente descoberto a incapacidade dela de esconder suas emoções.
— Eu me confundi, desculpa… — Ele sorriu, segurando um riso envergonhado por sua ação, tentando quebrar aquele clima ruim.
— Como você… — ela sequer terminou a frase.
— Ah, não se preocupa, não direi nada a ninguém! — ele mudou sua abordagem no mesmo segundo.
— Não havia se confundido, Monet?
— Ah! Sim, eu me confundi completamente!
Houve um silêncio entre ambos por mais alguns segundos, mas um sorriso irrompeu do rosto dela após ter suspirado.
“Se não conseguir recrutar ele, ao menos a torre deve conseguir dá um jeito nisso tudo.”
— Certo, você realmente cometeu um erro e eu estava distraída para ouvir — falou a mulher apesar de saber que poderia não ser algo tão simples.
Havia abaixado sua guarda por ser uma criança.
Geralmente uma criança consegue, de alguma forma, saber quando um adulto está sendo cauteloso perto de si. Talvez por ser uma tensão palpável na maioria das vezes que ocorre?
— Você estava tão surpresa com a frase aleatório que pareceu deixar claro a resposta.
— Eu posso estar apenas lhe direcionando a alguma armadilha…
— Sério? Fazendo aquela cara?
— Dizem que o brilho de uma barra de ouro ofusca uma estátua de prata. Um rosto bonito e boas palavras quase sempre é util.
— Todo um complemento pouco útil.
— Por que diz isso?
— Você está tentando não baixar a guarda de novo, então é autoexplicativo.
— Eu não deveria baixar a guarda falando com alguém tão especial.
— Sou um estudante comum.
Ela arqueou sua sobrancelha com aquela “humildade” toda da criança que ainda lhe encarava.
— Você ainda se chama de estudante comum mesmo após o que fez agora a pouco? — ele assentiu. — Certo… Só me diz, você usou algum amplificador de mana lá atrás?
— Bom… Não. — ele sabia que seria muito complicado explicar desde o início o que fez na luta contra o golem.
— Então isso já te categoriza como um estudante no mínimo único.
Monet abriu a boca para responder, mas optou pelo silêncio e deixou de encarar ela, olhando para o céu azul enquanto descansava sua nuca contra a parede.
— E sobre o golem… De que maneira você fez ele sumir?
Aquela era uma explicação que gostaria de evitar, já havia tentado compartilhar o conhecimento acerca da técnica que usou com outras pessoas e quase nenhuma entendeu ao certo como fazer.
Os poucos que chegaram a entender não conseguiam executar a preparação necessária para fazê-la funcionar.
— Bem… eu alterei um pouco a energia das runas… — Olhando para sua face estava claro que não conseguia explicar com completa facilidade aquilo que estava em sua mente. — … Manipulando da forma certa eles mudam, sabe?
— Elas mudam. Então é isso? — perguntou novamente com uma expressão curiosa após ganhar uma informação superficial.
— Bom, é difícil explicar, sabe? Não consigo atribuir um significado… E, bem… — ele começou a pensar sobre o que dizer em seguida.
Monet resmungava quase sem soltar qualquer som, enquanto desenhava algo no ar usando seus dedos.
Gestos que tornaram visível sua dificuldade ainda existente de ter firmeza em gestos pequenos, pois seus dedos ainda mostravam o pequeno colapso do efeito colateral de antes.
— Você tem papel e tinta? — perguntou Monet.
— Me diz que você não quer desenhar uma runa com suas mãos tremendo dessa maneira… — ela sentiu vontade de rir ao imaginar a cena.
— Bom, acredito que seja melhor mostrar um desenho já que não posso usar mana ainda, mesmo que qualquer um consiga aprender caso se esforce pra entender, sem um exemplo é meio fútil explicar.
— Calma, qualquer um conseguiria fazer isso sem um equipamento de auxílio em mãos igual você fez?
Monet ficou em silêncio por alguns segundos, naquele momento não sabia o que responder.
— Talvez… Pessoas possuem talentos incríveis que não gostam de revelar, sabe? — disse Monet, tentando usar um tom de voz que não soasse como grosseria.
Incrivelmente aquela cena apenas levou a mulher ao seu lado a uma risada descontraída antes e erguer a mão frente ao garoto.
— Você é uma criança interessante, me faz sentir saudade de minha irmã mais nova.
A figura de uma estrela com dez pontas surgiu acima da mão daquela mulher num único instante. E ao redor da estrela um círculo.
Ambos giravam em posições opostas, porém na mesma velocidade.
Bastava um olhar apurado naquela técnica para ser capaz de visualizar a composição da estrela ser feita por runas posicionadas na forma de arestas. Qualquer um desatento perderia uma visão como aquela, mas não o garoto.
Que, inclusive, reconheceu cada palavra daquela estrutura em ao observar por poucos segundos. Magia Espacial, a mesma que o diretor utiliza, porém a visível falta de prática da mulher apenas revelava que ainda estava começando o o aprendizado do ponto intermediário.
O mesmo ponto onde o diretor estagnou por anos…
— O império costuma abraçar bem prodígios, mesmo que não seja de uma família de sangue nobre, ainda sim… — A voz dela parou de sair e seus lábios se fecharam forçadamente quando visualizou a figura do diretor saindo pelas portas duplas, seu feitiço foi completado no mesmo momento e um pequeno cristal de mana flutuou em sua mão. — então continue treinando com todo esforço.
Ela entregou o cristal para ele com uma expressão que evidenciava temor, visivelmente recebendo um olhar de desaprovação pela suas ações por parte de seu mestre.
Aparentemente a mensagem enviada para a conselheira foi o suficiente para lhe tornar a pessoa mais silenciosa próxima daquele quartel.
— Rebecca, depois conversaremos… — Não precisou falar mais uma letra para ela entender que realmente não havia agradado muito seu professor.
E ela como uma ótima aluna já pensava em alguma maneira de sumir daquele lugar enquanto este estivesse distraído.
— E Monet, nos veremos em breve. — A mão estendida pelo diretor, frente ao garoto, atingiu seu corpo e a energia mágica envolveu-o.
A palma do diretor atingiu sua cabeça devagar e amassou seu cabelo ainda desarrumado. Os fios quase atingiram seus olhos, mas fechou ambos para evitar incômodos depois.
Sentiu um aroma doce entrando no seu nariz e logo abriu os olhos.
Estava de frente ao portão da casa onde vive, uma pequena mansão com uma torre — um observatório — anexado a sua estrutura, com um grande território cercado por barras de metal negro ao seu redor.
E seu redor planícies verdes com animais pastando sobre o sol.
Não foi a primeira vez viajando daquela maneira, mas ainda considerava algo impressionante e sútil, mudando sua visão para a cidade ao longe, quase dois quilômetros de distância.
Mesmo a distância a elevação no centro da cidade, onde reside a Academia Ludos estava em destaque.
Durante seu momento de distração, antes de levantar daquele chão coberto por grama verde que brilhava um pouco devido ao sol, ouviu sons de passos ao seu deu lado, mas não pareciam estar de aproximando dele, mas sim movendo-se ao redor.
Com um pouco de temor em sua feição, conseguiu visualizar a presença de uma calça preta de barra levemente larga, além de botas engraxadas.
— Eu ouvi que esteve lutando, Monet…