Destino da Quimera - Capítulo 5
Após uma longa e exaustiva luta contra o odor nada agradável na casa, finalmente conseguiram dissipar maior parte dele após uma limpeza minuciosa na cozinha. Donna havia esquecido uma chaleira no fogo, mas todos precisaram participar da limpeza — Lance acabou auxiliando na limpeza enquanto conversava com aquelas crianças.
De frente a uma praça lateral da casa, quatro pessoas descansavam num tablado de tábuas brancas. O trio estava deitado no chão, com cabelos espalhados pela madeira, e a luz solar atingindo suavemente seus rostos apenas incomodava seus olhos.
A temperatura cada vez mais baixa durante a tarde apenas deixava claro a proximidade do rigoroso, igualmente perigoso, inverno do Império Éter.
— Por que não aceitaram o recrutamento? Parecia cheio de privilégios a mais que o normal — questionou a loira quebrando o silêncio criado a alguns segundos.
— Se quiser nós aceitamos ele pra lhe acompanhar, não fará tanto mal. — Bella virava seu rosto para conseguir contato visual com ela, mas apenas viu a garota de olhos fechados, com rosto brilhando pela luz solar.
— Não quero que façam isso por mim, seria ruim.
— Eu só prefiro não servir, por anos, o exército imperial, o conselho ou qualquer outra coisa que possam me enfiar lá dentro — Disse Monet, deixando claro sua preferência pelo tom de voz ríspido.
Todos ficaram quietos após a fala do garoto, que acabou se arrependendo do que disse, novamente retomando a pose de orador soando arrependido em suas palavras: — É muito limitador ser do exército, não importa o privilégio se tiver que seguir uma hierarquia… Eu também prefiro fazer minhas pesquisas sozinho.
— Que sozinho, sempre estamos lhe ajudando — apontou Bella quebrando o clima.
— Bom, claro que preciso de uma cobaia ou outra de vez em quando…
— Como é?!
Bastou apenas uma frase de Monet para ambos começarem uma discussão.
Noelle abriu seus olhos para encarar o céu enquanto o combate fajuto ocorria, bocejando ao observar pequenos feixes remanescentes da estrela Deshi, ao longe. Bem acima das nuvens brancas do horizonte. Mesmo que não estivesse realmente cansada, por algum motivo estava sentindo um grande cansaço, uma preguiça arrebatadora, por simplesmente manter seus olhos no tênue resquício de luz.
— Ei crianças, por que não vão a feira hoje? Talvez encontrem algo legal.
Próximo aos três estava Neil, com vestes simplórias e leves, apenas uma camiseta interna, uma externa aberta e uma calça um pouco longa. Em sua mão havia um livro — um inventário —, algo que apesar de não ser dele estava sendo analisado de maneira precisa e cuidadosa.
— Ainda é o primeiro dia. — a resposta de Monet fazia sentido.
— Não querem sequer arriscar? As vezes há alguns comerciantes novatos que vendem itens bons logo no primeiro dia.
— Hm… Isso não é um livro de algum deles, é?
— Não, mas poderia… Bom, Louis me pediu uma pequena ajuda com o valor do estoque de ervas para o inverno. Ontem já comprei uma carroça cheia, por precaução.
— Precaução, com certeza…
— Então, por que não arriscam ir hoje? Acredito que não farão nada após o treino, as aulas acabaram por enquanto, certo?
— Talvez não seja uma má ideia — falou Bella, tampando o rosto do garoto com a mão.
— Oh, quer comprar algo? Espero que não vá só para-
— Um presente pra Noelle!
— Que? — a garota automaticamente mirou seus olhos para Bella.
— É, ué. Você precisa de uma espada para a marcha, esqueceu? Não dá para usar aquela espada velha na frente de todos… Bom, até dá, só não vão deixar.
— Eu concordo com ela, nenhum instrutor vai deixar você usar a velha Gertrude.
Noelle se levantou no mesmo segundo, olhando diretamente para o garoto com uma expressão um pouco irritada.
— Eu não chamo ela assim, não mais!
Anos atrás Noelle começou seu aprendizado na arte da esgrima com uma espada um pouco desgastada, abandonada no depósito da casa, pesada demais para ser utilizada em plena capacidade por uma criança de sete anos. E essa velha espada abandonada ganhou o apelido de Gertrude na mesma época.
— Claro, é claro. De qualquer forma, basta comprar uma lâmina nova e tudo será resolvido, certo? Vamos lá. — Noelle foi a primeira a sair do lugar, entrando na casa e cruzando o salão de entrada, sentindo-se constrangida.
Observando a saída rápida da garota, os três trocaram olhares entre si enquanto o som dos passos desaparecia pela zona interna da casa.
— Falei demais?
— Não, acho que não. — O garoto ergueu-se e deixou a mão de Bella cair de seu rosto. — Eu tenho que terminar uma coisa, então não irei. Boa sorte!
Após mostrar um joinha na mão, ele correu para longe, entrando em alguma porta fora do campo de visão de Bella, que não levantou rápido o suficiente.
— Droga!
— É, realmente boa sorte — falou o homem também levantando.
— O que? Você não vai junto?
— Eu? Não. Esse será um belo dia das garotas, certo? Emma vai com vocês, não se preocupe…
Uma hora e meia após, já na cidade, Bella estava de cara fechada devido a suas companheiras, que não pareciam ter ânimo algum para qualquer coisa, e apenas mostravam um semblante calmo e um olhar gélido.
Noelle naturalmente é introvertida, apesar da gentileza. Emma não é muito diferente, mesmo que seja um pouco mais simpática que o comum quando lidando com crianças.
— O monet me paga… Aquele moleque…
Bella estava praguejando mais do que o normal, algumas vezes alguns de seus murmúrios simplesmente saíam num volume audível para todos próximos, seja companhia sua ou não.
Noelle observando e ouvindo Bella, começou a se incomodar com àquilo e resolveu fazer algo…
— Bella, que jogar um negócio?
***
Abaixo da mansão Philiana, o antigo laboratório do assistente do antigo feiticeiro estrelar permanece inteiro, devido a estar atualmente sendo usado por Monet e Neil. Devido aos velhos equipamentos ainda estarem lá, uma mistura com novos equipamentos mostra a evolução ao longo das décadas.
Os antigos recipientes metálicos, desgastados pelo tempo e usos, agora parecem decoração em prateleiras, pois tubos de cristal ocupam seus lugares nos experimentos. Não que naquela época não houvessem esse tipo de material a disposição dos alquimistas, era um pouco mais complicado adquirir um se comparado a dias atuais.
Seguindo notas do próprio Philiana, seria possível encontrar ferramentas descartadas em alguns pontos da casa, lugares selados de interação externa. Foram colocadas nesse tipo de local devido a quantidade de resíduos presos nelas, principalmente carne do alquimista e assistente de Philiana.
“A falta de cuidado com temperatura e desuso de proteções… Um erro fatal.” dizia uma anotação.
Neil estava de óculos, sentado um pouco distante de uma quase invisível chama, constantemente saindo de fragmentos de um cristal mágico em combustão. Conseguia ver com clareza aquela chama somente no momento que uma agulha de prata era posicionada no meio, ocasionando num forte brilho.
O material queimava acima de um prato preto, uma formação rochosa encontrada em regiões vulcânicas. Ao redor um estojo de agulhas e um alicate pesado como reserva. Tudo isso sob uma bancada composta puramente por um imenso cristal de mana, uma formação sólida da energia em grande quantidade.
Monet cravava escrita rúnica num colar do raro e cobiçado metal Pritium, conhecido como um dos poucos minérios cuja raridade se compare ao material Anima.
Cada vez que parava para aquecer a agulha, aproveitava para respirar fundo e conversar com Neil, cuja curiosidade transborda em excesso pela feição que faz.
— Sei que não vai dizer quem moldou o colar e menos ainda quem conseguiu o metal, mas me diz quando aprendeu a fazer um amuleto tão… Sabe, com tanta precisão?
— Luois me deu um livro de anotações e eu pedi ajuda para os professores de encantamento runicos na academia, aí aprendi… Demorou algum tempo, também.
— Eu nunca lhe vi comentar sobre isso, deve fazer pouco tempo.
— Sim, só dois anos e meio.
Antes de uma reação ou resposta, o garoto removeu a agulha das chamas incolores e retornou ao processo de escrever runas nos espaços daquela corrente metálica.
Quanto mais alguém olhasse para àquilo, mas parecia uma jóia de valor absurdo. Apesar da fumaça saindo do contato entre metais, devido a indução mágica, Neil ainda conseguia ver claramente a perfeição que a agulha encostava no metal para formar uma letra.
O garoto não arrastava a agulha pela superfície, apenas encostava a ponta sobre e afundava levemente o metal naquela área, realizando o mesmo numa área milímetros distantes e assim seguia, como quem tatua uma pele, com a diferença de fazer isso no metal.
Obviamente parando de momento a momento para deixar a agulha ser aquecida no metal.
— Não consegui sair do básico… Tem umas ferramentas lá que nunca vi e não sei como encontrar elas.
— Se for algo como esse processo, tenho certeza que a maioria das pessoas não conhecem também — comentou o homem, mesmo sendo um pensamento alto que escapou ele não tentou corrigir e seguiu o fluxo do momento.
— Como assim?
— Usar uma agulha dessa forma precisa de muito saco, sabe? Esquentar o metal e derreter pontinho a pontinho até terminar uma única palavra, precisar esquentar de novo e todo o resto.
— Não é tão diferente da paciência para processar uma infusão! Preparar ingrediente é tão chato quanto, Neil.
— Como discordo de uma verdade? — disse Neil, em tom humorado pela observação.
A bela peça cada vez mais bem trabalhada em escritas, emitia um certo brilho nas runas já transcritas no metal. Podia-se dizer ter sido esculpido símbolos em pouco mais de 1/5 daquela estrutura, algo que demorou mais de uma hora e meia.
O garoto também mostrava ter uma paciência absurda e uma certa criatividade para improvisar outra runa quando errada algum traço primário.
Os dois discutiram sobre venda de medicamentos e ervas mágicas durante as pausas seguintes, pois apesar de Neil estar curioso sobre o tipo de encantamento no colar, não queria causar estresse ao garoto tão focado em seu trabalho.
E mais uma duas horas passaram voando.
— Está quase pronto. É melhor se afastar agora.
— Claro… — por impulso, deixou-se levar pela orientação, mas parou no meio do caminho. — Por que? Isso vai explodir ou algo assim?
— Talvez, são as últimas runas, então pode dá errado — o garoto estava tomado por absurda tranquilidade.
— Como assim talvez? Se isso explodir você vai acabar ferido, quer que eu faça no seu lugar? — a resposta do garoto foi quase imediata: um olhar intimidante. — Claro, claro, como quiser! Se eu ver que algo dará errado vou intervir.
— Obrigado.
— Só tenha cuidado com isso aí… Hm?
Os olhos de Neil acertaram cinco pedaços de cristais, que separam o colar em cinco partes. Pedras semelhantes a presas, caso as cores do objeto fossem escuras seria considerado um item tribal.
Prismitium é o nome dado para o mineral bruto do metal Pritium, e tal nome surgiu devido a sua forma quase incolor, basicamente um cristal de aparência frágil, formado próximo a grandes reservas de mana pura solidificada — como a bancada que Monet usa.
O Prismitium, ao ser atingido por intensa luz branca, refrata cores diversas como um prisma. As pequenas pedras que apenas causam o efeito visual de estarem separando o colar, também não possuem qualquer cor e sequer parecem interagir com o ambiente, ao permanecerem estáticas mesmo quando há algum balanço da estrutura geral.
Neil desconhecia o porquê de não notar aquelas pequenas pedras, mas mesmo após seus olhos se fixarem nela por segundos, bastou uma leve distração para quase esquecer de existência delas amuleto
— Você… — Monet acabou quebrando a atenção dele novamente. — acha que ela ficará bem lá?
— Não deve ter problema algum com ela, talvez até mesmo consiga perder um pouco dessa rigidez de sempre…
Ambos se encararam por alguns segundos e balançaram suas cabeças, sorrindo, para eles aquilo definitivamente não ocorreria, ao menos não tão cedo.
— Seria bom se ao menos conseguisse se aproximar de alguém agora — a sinceridade do garoto chegava a ser tocante.
— Por isso recusou o recrutamento especial do conselheiro?
— Não, eu realmente não serviria o Império como subordinada.
— Espero que ela consiga fazer amigos, sabe? Ficará meio solitária sem ninguém pegando no pé dela.
O garoto assentiu, antes de voltar ao processo.
— Espero que ao menos se divirta.
A agulha incandescente atingiu novamente o metal, mas a reação exibida no amuleto foi alterada. Nos momentos anteriores aquele pedaço de metal sequer mostrava algo além de derreter o ponto de choque da agulha, agora pequenas faíscas de energia saltavam daquele contato.
Algo que repercutiu enquanto escrevia outras duas runas, caso o garoto não usasse ferramentas de proteção provavelmente haveria ganho alguns ferimentos sérios em seu corpo.
Mesmo com toda a proteção, roupa grossa e luvas, igualmente uma máscara frente ao rosto com um óculos lhe sobrepondo, sentia os efeitos da energia chegando ao seu corpo, como uma repulsão.
Quando terminou aquele processo o metal e pingentes tornaram-se totalmente visíveis por segundos, revelando diversas linhas e símbolos por sua estrutura, cada um brilhando e mudando suas cores de azul para vermelho.
No final desvaneceram, sendo difícil de serem vistos a olhos nus.
— Bom trabalho… — Neil aproximou novamente do garoto, mas ver ele encarando o objeto sobre a bancada alterou sua mente. — Acabou, não é?
— Sim — respondeu ele, frustrado.
— O que aconteceu? Runas não funcionaram ou algo assim?
Neil até gostaria de auxiliar o pequeno Monet, mas apesar de saber um pouco de alguns alfabetos antigos devido a fórmulas alquimicas, não entendia nada sobre cravar runas em algo e tampouco sobre o processo de criar amuletos. Chegava a sentir um pouco de desapontamento por observar um show como aquele; tentando preservar a segurança do garoto, mas sequer saber em que momento deveria interferir por ser realmente perigoso ou sem que atrapalhasse o pequeno.
— Funcionaram, mas não consegui conter o suspiro de energia que aparece no final! Na verdade eu teria conseguido se pudesse usar minha mana com facilidade, mas mama pra não usar por enquanto…. — Monet falava com tamanha velocidade que chegou ser incompreensível para Neil.
Neil apenas sorriu, apesar de frustrado com seu dito fracasso o garoto estava animado.
Ambos viraram suas cabeças em direção da porta após ouviram sons de passos descendo degraus de uma escada, apesar do laboratório ser no subterrâneo da casa, não é o único cômodo que há ali. Sequer é o cômodo mais profundo da casa.
Donna abriu a porta pesada daquela câmara, o som das dobradiças fazendo o metal pesado da porta abrir repercutiram por todo o corredor, igual ao ar “fresco” que entrou.
— Há alguém solicitando seus serviços, Neil — Disse Donna.
***
O frio da brisa noturna acertava o corpo e causava arrepios, mesmo com um vestido um pouco longo e fechado demais, ainda sentiam frio conforme caminhavam pelas planícies verdejantes sobre o luar.
Bella não estava nenhum um pouco feliz em usar àquilo, sentia seus movimentos limitados e não conseguia evitar sujar a barra da saia, pois não parava de ser arrastada no chão.
Já havia arrancando os sapatos leves e delicados que lhe deram e caminhava descalça na grama, enquanto murmurava pelo frio que lhe incomodava enquanto o sangue ainda fervia.
Jurava nunca mais apostar com Noelle depois desse dia. Ao menos dizia para si mesma que não.
Alguns metros atrás de Bella vinha a mulher alta, coberta por um sobretudo grosso de couro, cuja pelugem marrom parecia caracterizar algum urso, ou animal semelhante, carregando consigo uma aljava cheia de espadas ao invés de flechas. Noelle ao seu lado carregava um grande saco nas costas, e trajava a mesma vestimenta de Bella, apenas não estava tão incomodada quanto.
Após passarem pelas barras de metal escuro do portão e certa, deram de cara com uma dupla de cavalos, presos a uma carroça. Não eram os melhores animais para esse tipo de trabalho, afinal um cavalo é caro e possui uma limitação muito grande, por isso parecia um improviso.
— Eles estão cansados. — Bella havia parado na frente dos animais e com toda paz do mundo acariciou a lateral da cabeça dos animais. — talvez seja o fazendeiro do oeste.
Noelle passou reto pela garota e cavalos, a última vez que tentou interagir com um quase levou uma mordida, então preferia distancia.
— Não parece ser o caso — falou a ruiva, seus olhos voaram em direção da porta da casa, que encontrava-se aberta.
Abaixou aquela aljava, deixando-a frente a Noelle — que não aguentou o peço —, o sobretudo de seu corpo escondeu o movimento de seus membros enquanto avançava para dentro da casa, mas segurava em sua mão o punho de uma espada.
Discretamente em seu lado, estava Noelle, com uma rapieira em mãos.
Frente a porta, escutaram uma conversa próxima:
— Eu não quero ir! — disse Monet de maneira firme o suficiente para mostrar que não havia espaço para discussão.
— Olha, eles querem sigilo, então será rápido. Nós vamos e voltamos em menos de dois dias, só sairmos bem cedo amanhã… — pacientemente Neil ainda tentava convencer o garoto.
— Nenhum parto é tão rápido assim! E se a criança morrer? Não quero ficar dando explicações aleatórias para o pai, mãe ou avós, isso custa tempo, Neil!
— Sei que quer ver a passeada da academia, mas você pode- Olha, é uma vida sendo colocada no mundo, como curandeiro você deveria garantir que haja sucesso.
— Eu. Não. Quero. Ir.
— Vai deixar a criança e a mãe morrerem só por egoísmo?
— Sim! — No mesmo segundo que a pergunta fora feita também respondeu.
— Você precisa pensar mais antes de responder uma pergunta dessa!
Emma balançou a cabeça em discordância enquanto deu meia volta para buscar a aljava, Noelle quem permaneceu ouvindo o restante da conversa até a mulher entrar na casa e interromper ambos com sua presença.
— Ah, boa noite! — um sorriso surgiu em Neil ao ver a entrada de Emma e as duas crianças consigo.
— Está difícil? — perguntou a mulher.
— Sim, quer me ajudar com isso?
Ela encarou Monet por um momento, não conseguindo ter qualquer discordância por ele não desejar ir com Neil. Então apenas começou a caminhar deixando sua resposta flutuar pelo ar:
— Não, boa sorte.
— Quer que eu ajude? — Bella estralava seus dedos, com chama em seus olhos.
— Não adianta usar for… E quem lhe convenceu a usar um vestido?
A garota perdeu sua animação no mesmo momento que ouviu a frase, começando a andar quase tropeçando na barra daquela peça de roupa longa, ganhando uma feição cada vez mais emburrada.
Enquanto Bella subia as escadas, um homem carregando um balde frente a uma barriga quase redonda caminhou em direção de Neil e Monet, com olhos pesados envoltos em círculos escuros.
Havia uma feição de suplica no rosto.
— Ah, irá dá água aos cavalos? — disse Neil, tentando não responder negativamente a expressão daquela pessoa, o aldeão que buscou seus serviços.
— E quanto ao parto da minha esposa, senhor curandeiro?
— Ah, estou apenas discutindo sobre o que levaremos até lá com-
— Eu não— uma mão tampou a boca de Monet no mesmo momento que começou sua fala, dessa vez fora Noelle quem agiu.
— Não se preocupe senhor. — a seriedade no rosto da garota estava longe de ser reconfortante.
— Aqui, me dê um eu irei ajudar.
Neil passou a conduzir o homem para fora da casa, deixando os dois sozinhos frente a porta.
A seriedade existente no olhar de ambas as duas crianças faria até mesmo um adulto se ajoelhar ou recuar. Não era incomum haver alguma briga entre as crianças, então Neil apenas preferia não interferir, sabia que nenhum dos dois puxaria uma arma contra o outro — esperava que não ocorresse.
Noelle recuou sua mão, enquanto ambos afrouxaram aquele olhar tenso.
— Faça seu trabalho sem se preocupar com isso agora.
— Só não vá se arrepender depois disso.