Destino da Quimera - Capítulo 9
Seus olhos foram bruscamente fechados e tornou-se inconsciente do que aconteceu consigo, tomada por imensa exaustão somente lhe restou um grande vazio sem cor, escuro. Ela parecia ser encarada por uma criatura enquanto na escuridão a todo mínimo esforço para acessar suas memórias.
— Que bagunça da boa, hein — falou alguém no meio da escuridão, mas parecia ouvir debaixo de água e quase não entendeu. — Um cinzento por aqui, que beleza…
Bella sentiu um calor surgir do meio daquela escuridão, um brilho dourado surgindo dentro do abismo que lhe encarava e não lhe deixava pensar direito. Era uma chama dourada destacando sua presença entre diversas outras chamas, a maioria de cor branco, no tom de gelo ou de cor verde, no tom de jade.
“Monet…” — pensou a garota, observando a chama dourada estática no meio da escuridão.
Aquele era Monet e sabia que era um fato inegável, caso contrário significaria sua própria morte e talvez a dele, mas ainda era capaz de sentir o próprio corpo mesmo que não soubesse o mínimo do local que foi puxada para.
Bella observou como as demais chamas queimavam o nada, sem calor, deixando suas pequenas fagulhas voarem de cá para lá, como pedaços solitários de madeira sendo arremessados para fora de uma fogueira ainda incandescentes, mas não acontecia com o mesmo com a chama dourada.
Liberando algo para a escuridão, as chamas uma hora desapareciam daquele local.
— E ai, o que aconteceu? — falou Monet, com uma dicção perfeita e uma voz domada pelas suas emoções mais “serenas”. — me ouve?
— Só apagamos depois de algo, sabe? Explodir no meio da floresta, pareceu magia. — Disse Bella com total tranquilidade, quase não parecia a mesma criança enérgica de sempre ou mesmo a garota apavorada de momentos atrás.
— Eu nem mesmo consegui sentir quando fui acertado, que coisa… Hehe… — ele chegou a soltar um pequeno riso, mas logo o som parou.
Bella desconhecia a identidade daquele local, tampouco saberia dizer qual a cor que ela própria deveria representar, talvez o dourado também lhe servisse?
Sabia somente que Monet lhe trouxe para lá, ou ali, talvez aqui. E ela não possuía qualquer capacidade de sair sozinha, não de tratava mais simplesmente de mana e feitiços. Caso o perseguidor de antes soubesse disso, não teria gastado sua energia mantendo uma ocultação no corpo e talvez a pantera não houvesse sido tão generosa deixando ambos irem embora.
— Só consigo lembrar de flashes e a sensação de magia explodindo como um gêiser… Isso é possível na floresta? — perguntou a garota. — Sabe, uma explosão mágica forte o suficiente para quebrar árvores e essas coisas assim do nada e naturalmente?
Monet gastou apenas uma palavra com a resposta: Sim.
Claro, após alguns instantes ele voltou a falar.
— Geralmente uma tempestade pode acontecer naturalmente ou alguma criatura pode criar uma, talvez os raios daquela pantera tenham causado uma onda de choque forte após colidir com outra magia.
— Tá… Beleza.
Bella ouviu o garoto concluir sua explicação de maneira rápida e suscinta, caso estivesse no seu corpo teria uma expressão de surpresa e mentalmente se questionaria sobre ser ou não Monet.
— Ficamos seguros após tudo isso? Sabe, nossos corpos.
— Não consigo sentir nada agora, então devemos estar bem, pelo menos por enquanto.
— Você não consegue sair daqui quando bem entende? Sempre fez isso!
— Não posso só forçar meu corpo acordar do nada, seria tolice. Além do mais ainda estamos respirando, caso contrário você estaria queimando o resto de sua essência, igual eles… Queimaram…
Bella notou somente após aquela frase que não havia mais nenhuma outra chama próxima a eles, ao menos até onde sua visão era capaz de alcançar. Nunca conseguiu informações completas sobre esse mundo escuro, mas não precisava de muito para saber que trata-se de um plano astral; cada chama queima a essência dos seus anos de vida até finalmente não sobrar nada além da própria alma.
E quando há somente a alma, sem qualquer proteção, ela retorna para o grande ciclo sem fim.
Ao menos pensa ser assim.
Nunca conseguiu informações mais profundas de Monet ou Mana, sempre, como em um livro de clichês, havia algo lhe interrompendo de ouvir a informação. Seja alguém aparecendo de repente, um objeto estourando sem motivo, um som estridente estourando os tímpanos, uma caca de pássaro lhe acertando a roupa. Algumas vezes, quando dentro desse local, simplesmente era lançada de volta aos próprios pensamentos ou a escuridão comum, caso exausta, e não conseguia descobrir nada.
Então, desistiu de conseguir informações através de alguém a muito tempo.
— De qualquer maneira, por seríamos atacados de repente? — perguntou Bella, livrando-se dos pensamentos sobre o local que está. — Sabe, hmm… nem a pantera queria atacar.
— Eu não consegui nem ver o que nos atacou, só aquela cabeça… De qualquer forma, não é tão importante agora.
— Por que não?
— Se não morremos ainda significa que ela não vai nos atacar de novo, ao menos é só não chegar perto de onde vive…
— Tipo não entrar na toca de um lobo?
— É! Mas acho que masmorra de um mago seria melhor… Não?
— Acho que um mago não costuma usar uma cacete de projétil.
— É, até que tem razão, seria melhor usar o corpo todo reanimado…
— Necromancia? Sério isso? Tu não deveria ser meio que contra isso já que é um curandeiro?
— Não dá para curar um corpo morto. E se foi a pantera que matou o homem?
— E se não foi?
— Ahem… De qualquer forma, acho que estamos em casa. — ele mudou de assunto após não conseguir responder.
— Já? — Bella não tinha qualquer noção de tempo naquele momento.
— Sim, foi uma viagem rápida também, algumas poucas horas…
“Agora começa a tortura” — Pensou Bella ao perceber o início do monólogo que Monet faria.
Monet explicou sobre como foi incapaz de sentir o que aconteceu na floresta enquanto estavam apagados, mesmo que seu Dom não falhasse naquela situação, ainda sentiu algo ofuscando sua percepção, porém ao saírem da floresta e alcançarem metade do caminho pôde sentir uma facilidade maior se comparada ao local que estavam, não recuperando totalmente sua capacidade para ler o ambiente mesmo assim.
Em quantidade, levaram quase duas horas para deixarem a floresta, talvez alguns poucos minutos a mais. E outras quatro para alcançarem a casa. Isso, é claro, se não houvesse falhado em perceber o tempo que passava pela pouca noção que conseguiria ter sem a leitura do mundo exterior.
Bella conseguiu entender esse tanto de informações, ao menos, Monet falou o suficiente para escrever uma tese de estudo científico e enrolou diversas vezes no que poderia ser uma simples frase.
Não terminou de ouvir o garoto, pois sua consciência foi bruscamente tragada para fora do espaço vazio.
— Ele lhe ensinou bem melhor que os instrutores da academia, mas você também é esperta demais pra conseguir pegar de primeira… — falou uma voz feminina, de maneira doce e acolhedora.
— Moe me falou que vai ensinar palavras de poder pra mim! — Disse Maria, animada. — Por isso eu vou aprender a usar espada igual a mamãe antes dele voltar.
— Antes disso aprenda a circular energia no seu próprio corpo ou terá problemas de saúde piores, certo?
— Sim!
— Ei, Mariazinha, vem cá, onde que a velha guarda os panos? — Uma voz masculina apareceu no local.
— Ela me disse pra não mexer neles…
— Não tem problema, eu mexo neles por você — falou a pessoa em tom de brincadeira.
— Eu vou levar bronca.
— Ah, nem vai, pode confiar em mim.
— Não confie nele — Falou a mulher de antes, de forma fria.
— Não vou mostrar!
— Ei, ei, não se preocupe, não vou bagunçar nada. Inclusive, fui eu quem ensinei ela a costurar!
— Você nem é velho, como ensinou ela a costurar?
— Nunca se é novo demais para ensinar e nem velho demais pra ensinar.
— Ooh… Tá. — literalmente em apenas um segundo, a mudança de surpresa encenada e falta de interesse tomaram conta da criança.
— Tá? Ah, então vamos lá e me mostrar os panos…
— Não.
— Ah…
Silêncio dominou o local por alguns segundos.
— Vocês dois irão continuar fingindo que dormem por quantos dias?
Monet se levantou quase de imediato e logo ficou vidrado pelos olhos da mulher que lhe encaravam de forma impassível, o dourado de seus olhos brilhava contra o brilho cinza dos olhos dela, então ele sorriu.
— A quanto tempo Nahara! — disse ele, expressava evidente alegria no rosto. — Quando chegou aqui?
— Fazem algumas horas que estou aqui, esperando as preparações serem completas antes de partir.
O sorriso no rosto de Monet foi desmanchado ao escutar aquela frase, mas não deixou de encarar a mulher frente a ele.
— Partiremos logo, assim que a marcha dos alunos for encerrada nós iremos partir — falou a mulher, ainda com indiferença na voz que parecia não afetar em nada o humor do garoto.
Ele ainda estava animado apesar de não sorrir, a fala sobre a marcha ainda não ter acabado aumentou ainda esse ânimo, mesmo que fosse um pouco conflitante. Não sabia de deveria passar o resto do tempo ali, na presença de Nahara ou ir ao evento que aguardava.
Ele passou seus olhos para o lado ao perceber movimento da pessoa que acompanhava a mulher, o homem que também estava na sala parecia estar jogando xadrez com Maria… ou melhor: perdendo no xadrez para Maria.
— Então é melhor que ambos os dois tomem um banho e peguem o que precisa ser pego antes de sairmos ou perderam o final da cerimônia.
— Você vai junto? Não pensei que se interessava por algo assim.
— Não me interesso de fato, mas vocês precisam se despedir da garota antes de começarmos a viagem, estou enganada?
— Como assim começarmos? — Gritou Bella, tentando levantar de forma brusca, mas sentindo uma forte pontada em sua cabeça e costas. — Que droga que aconteceu…
— Wan… “Mama”, deixou vocês em minhas mãos até eu decidir que estão prontos para começarem a cumprir suas promessas.
— O que? Onde ela está?
— Em um local distante, longe de nosso alcance nesse momento.
— Ela morreu?! — Bella novamente elevou muito o tom da voz.
— Não. Aconteceu algo com seu ouvido para emitir tantos gritos?
— Como está Neil? — Monet interrompeu aquela conversa no mesmo momento que a dúvida apareceu em sua mente.
— Papai está dormindo depois de ganhar aquela marca no rosto — falou Maria, enquanto derrubava o rei adversário no tabuleiro.
— Já é a terceira vez… — disse o homem após perder e não entender o motivo.
Depois disso Bella quem resolveu fazer uma pergunta: — E a aquela criança?
— Bom, você deveriam se apressar agora ou perderam mais uma parte do festival. Alguém ficará um pouco triste e nervosa caso não veja algum rosto familiar entre a população.
— Mas e a criança? — persistiu Bella, mas logo sentiu o garoto tocando seu ombro suavemente.
— E a criança está nos esperando pra tomar banho. — disse Monet, retirando um pedaço de galho de entre os fios de cabelo da garota. — sabia que esse cabelo iria acabar virando um ninho.
— Por que… É isso! O que aconteceu na floresta? Quem nos trouxe pra cá?
Eles sabiam que Bella continuaria persistindo sobre o assunto, mesmo que estivesse claro que não diriam nada sobre, ao menos não naquele momento, contudo não conseguiriam simplesmente dizer para ela — ou Monet — que não deveriam questionar o que ocorreu com eles.
— Bom, um certo alguém lhes encontrou logo após serem atingidos por uma explosão de magia e lhes trouxe para cá. — disse o homem, ainda de maneira humorada, iniciando o primeiro movimento com as peças brancas.
— Realmente não vão explicar direito e nem disser quem foi?
— Não é que não queira, só está muito cedo para saberem quem foi, sabe? — fez o terceiro movimento, tentando acelerar o jogo e atrapalhar a garota.
— Não, não sei!
— Veja bem, eu… Perdi?! — antes de começar a falar viu um movimento do bispo preto deixando seu rei sem saída. — Quer saber? Eu desisto.
Enquanto começou a ser ignorada quase completamente, notou que Monet já estava saindo da sala.
— Ei! Não vai me ajudar aqui?
— Estou cheirando a goblin e parto, prefiro tomar banho a tentar algo pouco útil. Boa sorte.
Bella encarou a Nahara enquanto pensava no que dizer a seguir, estava prestes a ganhar níveis de estresse elevado, mas assim que abriu a boca para dizer algo uma pergunta da criança, de Maria, quebrou e redirecionou a tensão do clima daquela sala:
— Como é o cheiro de parto?
Monet descia a escadaria do segundo andar cheirando os braços, isso após simplesmente ignorar suas vestes manchadas de sangue, terra, mais sangue e outras coisas que não conseguia identificar, formando uma mancha preta. Era difícil saber o que realmente compôs a cor, além do sangue e terra.
Conforme passava pelo primeiro andar, atravessou as portas dos quartos seguindo diretamente para a escada rumo ao térreo, mas parou no momento que seu pé atingiria os degraus.
Havia uma porta aberta no caminho e ele quase ignorou.
— Que? Ainda está em casa… Noelle? — Chamou pela garota, já que era a porta de seu quarto, porém encontrou apenas um local arrumado, não havia ninguém e a maioria das coisas estavam organizadas e limpas.
Monet deu apenas um passo dentro do quarto e não mais que isso, ficando segundos parados no mesmo lugar olhando de ponto a ponto do cômodo. Aos poucos seus olhos abaixavam ao ponto de olhar para seus próprios pés e resolver sair do quarto, sendo barrado por Emma.
— Ah, era você Moe… — ela parou de falar ao observar melhor a criança em sua frente, estava verificando se Maria não havia entrado no quarto, mas o que encontrou acabou surpreendendo sua visão. — Tentou socar um javali?
— Quem dera fosse, seria mais fácil — falou o garoto, com serenidade no rosto e voz.
Emma balançou a cabeça, assentindo. Sua mão coberta pela manopla agitou suavemente o cabelo de Monet e ela começou a andar para descer as escadas, com Monet logo atrás.
O silêncio de ambos poderia ser vazio em palavras, mas acabou sendo o melhor naquele momento. Era uma despedida, no pior dos casos seria definitiva.
Ambos encararam um ao outro no pé da escada e depois olharam para frente, observando o grande salão de entrada. Apesar da mansão ser considerada pequena, principalmente em termos de nobreza, ainda parecia ser grande demais caso parassem pra pensar sobre como apenas três pessoas viveriam nela pelos próximos meses, talvez até mesmo anos.
E aqueles dois não falaram nenhuma única palavra uma ao outro antes de curvarem seu caminho.
Monet desceu as escadas para o subsolo e acessou a casa de banho, frente ao laboratório logo no primeiro piso do subsolo. Por longos quinze minutos relaxou seu corpo na água quente e nos cinco seguintes quase tomou um segundo banho em fragrâncias que ele próprio compunha através de frutos e ervas.
Quando saiu, com seu corpo exalando um aroma que parecia misturar hortelã de fogo e carvalho branco, olhou para ambos os lados e também dentro do laboratório, não havia ninguém perto e Bella provavelmente estava comendo — ao contrário teria derrubado a porta da casa de banho para tirá-lo de dentro.
— Mama e Donna saíram, então…
Sem perder tempo, começou a correr.
O primeiro piso do subsolo da mansão é constituído por duas casas de banho, o laboratório e um grande salão com equipamentos de treinado, isso tudo separado, com um longo corredor levando as suas entradas. No começo há uma porta para subir ao térreo da mansão, no final há uma porta levando para as escadas que levam aos pisos mais profundos e exatamente ao lado dessa porta descansa uma passagem seladas por runas mágicas.
Ele correu para essa passagem, ignorando a porta, sabia que não poderia descer ali pelas armadilhas e selos rúnicos, não por medo de ativar algum — nem mesmo ativariam quando passasse —, mas sim por saber que aquele lugar não estava selado para impedir que alguém entrasse e sim o oposto.
Diferente da passagem que buscou, tanto que apenas por chegar próximo sentiu seu corpo sendo impulsionado para trás, como se aquelas runas lessem sua intenção de ultrapassa-la.
— Wico Prilliee — após dizer aquelas palavras tocou na passagem.
Antes uma barreira mágica lhe empurrava para trás de forma intensa, mas agora conseguia ultrapassar com facilidade o caminho aberto, ganhando um brilho de alegria em meio ao crescente desânimo que crescia antes. Se enfim conseguisse quebrar o selo poderia entrar no verdadeiro laboratório da casa, o local onde o próprio Philiana conduzia seus experimentos pessoais e também guardou suas anotações e livros.
— Wie Riad Lioul — de maneira igual a anterior, sentiu que seu caminho estava novamente aberto.
Antes de entrar ele precisou recitar uma nova forma de quebrar as runas, pois dificilmente Mama colocaria apenas uma camada de proteção em algo. Novamente deu um passo, mas…
— Impossível! — Gritou ele, apenas seu sentido mágico já conseguia mostrar o que não era difícil ser notado.
Seus olhos cintilaram na escuridão e em sua frente conseguiu ver diversas camadas de proteção ainda mais severas se comparadas as anteriores. Da primeira para a segunda, um único passo já lhe faria ter a necessidade de quebrar a barreira seguinte, igualmente da terceira pra quarta, mas se não estivesse falhando em sua dedução, a distância da quarta para a terceira não passava de um dedo lindinho — de uma criança do seu tamanho, algo muito pequeno.
Enquanto avaliava o que cobria seu caminho, tomou um susto ao ouvir uma voz sair do nada:
— Você já pode parar de brincar com as runas para ir ver a passeata? — falou o mesmo homem de antes, sorrindo no meio da escuridão. — Nossa, isso realmente é uma bela proteção, mas é melhor irmos antes que Nahara venha atrás de nós, certo?
— A quanto tempo…
— Quase três minutos, lhe perseguir assim que começou a correr pra cá.
— Eu nem senti você aqui.
— Não se preocupe com tão pouco, não tem perigo enquanto eu estou perto. Certo? Sim! Agora vamos embora, quero ver minha netinha marchando.
— Ela não é sua neta.
— Detalhes, Moe, detalhes. — disse ele, enquanto acenava para o garoto sair do local e começar a andar. — Eu também te considero meu neto, então não tenha ciúme, certo?
— Eu passo.
— Quer isso, não seja… Que cheiro é esse? Tomou banho em sidra ou algo assim?
— Não! Isso nem chega perto de cheirar como sidra!
— Isso com certeza cheira a sidra! Ou é hidromel? Eu acho que estou perdendo o olfato.
— Conheço um remédio que restaura isso.
— Sério? Boa, pequeno curandeiro. Fala aí, qual o nome?
— Nascer de novo — falou Monet, seu tom de voz levava frieza na frase e sua face mostrava indiferença.
Após três segundos o homem começou a rir ao ver que o garoto segurava o riso tentando não transparecer o impulso na sai tradicional aparência séria, mas acabou contagiado pelo riso do homem.
Quando frente a porta de saída, Monet lembrou de uma doença comum que aparece em alguns soldados descuidados, então ainda sorrindo começou a falar como se não fosse nada catologico:
— É melhor você cuidar de seu nariz, há um tipo especial de infecção interna que piora de forma severa devido ao processo de regeneração do corpo por meio da mana, nos sintomas mais básicos libera uma gosma de seu nariz que parece massa de pão recém assada-
— Já entendi. — disse ele tampando a boca do garoto, só de ouvir sobre. — Nossa cara, quem diz uma coisa dessa como se não fosse nada demais?
— Mas não é algo absurdo — falou Monet, deixando suas sobrancelhas arqueadas pela dúvida que tinha em sua voz. — Quer dizer, é?
— Na verdade… Mais ou menos, ninguém falar algo assim no meio de uma conversa casual, sabe? E sorrindo? Cara, você vai afastar alguém se fizer isso.
— Então é estranho?
— Bom, não… Na real, é estranho pra caralho. Eu acabei de comer ainda por cima, nossa cara odeio essa memória de elefante.
— Memória de elefante?
— É, cara! Sabe? Um elefante nunca esquece.
— Nunca estudei um elefante… Acho que nunca vi nada sobre um elefante além de serem grandes… E extintos?
— Não! Quer dizer, quase lá, fazem algumas décadas que vi uma manada inteira procriando…
— “Ninguém falar algo assim no meio de uma conversa casual, sabe?” — Monet imitou até mesmo a tonalidade de voz do homem, que riu ao ouvir a frase.
— Um dragão imponente no céu sempre voa acima de tudo e sempre derruba o que está abaixo… — falou o homem com um tom ainda bem humorado, mesmo que mostrasse certa seriedade em sua fala.
Monet percebeu que ele lhe encarava como se esperasse receber alguma resposta, mas apenas não sabia como responder a frase dita.
— E desafia o que estiver acima a tentar derruba-lo. — Completou sua frase, enquanto dava uma leve batida no ombro do garoto, que apenas assentiu com a cabeça como quem entendeu o que fora dito.
— Você ainda tem muito o que aprender, Moe…
A porta que ainda estava fechada enquanto ambos conversavam parados, aos poucos foi aberta por Nahara, numa postura imponente e olhar gélido.
Sorrindo de uma forma quase sem graça sequer precisando olhar para porta para saber quem estava lá, falou: — Mas acho que agora estamos um pouquinho atrasados, sabe?