Devilish - Capítulo 4
7 minutos atrás.
O compromisso de Marie estava prestes a ser cumprido. Ela aguardava, como combinado, no sereno pátio da escola.
A ansiedade fervilhava dentro dela, misturando-se com uma leve pitada de expectativa.
A garota que a havia convidado para este encontro especial prometera revelar algo que, até então, permanecera oculto nas sombras do silêncio.
“Este lugar me agrada… Finalmente, estou construindo novas amizades.”
Essas eram palavras que ela constantemente ecoava para si mesma. Sua determinação era sua força mais intrínseca. Uma dedicação inabalável que a guiaria rumo à realização de seus ideais.
“Algo especial aconteceu desde que cheguei aqui. As pessoas são amigáveis e acolhedoras, principalmente o Krynt e Ed. É uma sensação tão boa.”
Naquele instante, uma figura feminina aproximou-se. Quase da mesma estatura de Marie com 1,65. Pele alva, olhos azuis, cabelos escuros e ondulados, com pontas tingidas de púrpura. Ela usava jeans skinny e uma camiseta que parecia revelar sua essência à primeira vista.
O toque da palma da mão da recém-chegada nas costas de Marie interrompeu seus pensamentos, trazendo-a de volta à realidade.
— Oi! — Exibira um sorriso elegante. — Desculpe pela demora.
Ela estendeu a mão para cumprimentá-la, mas Marie hesitou momentaneamente antes de apertar o punho da garota.
— É um prazer conhecê-la. Eu sou a Sarah Cooper. E você…?
— Ah…
Sarah era uma das populares da escola, uma figura que dispensava detalhes, pois sua presença já era amplamente reconhecida. Típico em qualquer escola pública, ela era a garota simpática e querida por todos.
— P-prazer… Marie Carter.
— Ei, ei, relaxa. Sem nervosismo. Respire fundo. — Intencionava acalmá-la. — A gente já se viu, lembra?
— Desculpe… você me assustou.
Na verdade, Marie não era alguém acostumada a conversar e estava sentindo uma mistura de ansiedade e constrangimento. Ela passava a maior parte do tempo escrevendo, afastando-se do mundo exterior.
Mesmo assim, uma sensação constante de que desapontaria as pessoas que a cercava.
— Ah, você tem razão. — Sorriu de forma desajeitada. — Eu apareci do nada mesmo, foi mal. Mas seu rostinho vermelho é bem engraçado.
— H-hm…
Foi observando-a que Sarah notou a cor única do cabelo de Marie. Passando os dedos pelos fios, seus olhos brilhavam.
— Você pintou? Nunca vi algo assim.
— Ah, não… É natural, na verdade.
— Entendi! E seus olhos… são bem diferentes, né? Nossa, eu adorei!
Sarah estava genuinamente impressionada.
Às vezes, um sorriso gentil é tudo o que é preciso para criar um elo entre pessoas. Nem todos precisam se dar bem com todos. A generosidade e a simpatia de Sarah iam além da alegria superficial. Não havia muito espaço para desgosto ou pena. A falta de comunicação era o único obstáculo.
No entanto, Marie tinha uma habilidade incrível de ser otimista, sociável e amigável quando necessário.
Uma mulher sábia, sem dúvida.
— É uma doença que puxei da minha mãe. Ela também tem os olhos iguais aos meus.
— Primeira vez que vejo isso. Vocês duas são bem únicas, eu acho incrível.
Um silêncio e o franzir de sobrancelhas denunciava a batalha interna que travava consigo mesma. Uma sensação de desconforto se arrastou por sua mente, como uma sombra indesejada.
— Ei, tudo bem? — perguntou Sarah, provavelmente preocupada. — Você ficou estran‐-
— É sobre isso mesmo. — respondeu prontamente. — Por ser tão diferente, nunca consegui me encaixar em nenhum lugar. Sinto que não pertenço aqui. Só quis me afastar, viver em outro lugar.
As lembranças das palavras cruéis que ouviu ecoavam em sua mente, misturadas com as inseguranças que a atormentavam.
— Eu não queria que fosse assim. — disse, com lágrimas prestes a cair, mas ela as conteve com força. Não queria se deixar levar pela autopiedade, mas a batalha interior era intensa. — Às vezes, chego a pensar que seria melhor se eu não existisse.
Sentia-se como uma peça fora do quebra-cabeça, uma nota desafinada em uma melodia suave.
— É como olhar para a vida através de um vidro embaçado. Vejo as pessoas ao meu redor, tão conectadas, tão à vontade consigo mesmas, e me pergunto por que não posso ser assim.
As palavras fluíam como um rio de emoções há muito tempo contidas, e Marie permitiu-se sentir essa vulnerabilidade.
— Também me pergunto se algum dia vou encontrar meu lugar neste mundo, se vou conseguir ser verdadeira comigo mesma, sem esconder minha verdadeira identidade atrás de máscaras.
Lágrimas finalmente começaram a escapar de seus olhos, traçando caminhos brilhantes por suas bochechas. Ela não conseguia mais conter a torrente de sentimentos que a havia dominado por tanto tempo.
No entanto, Sarah, a despeito disto, estava levemente espantada.
— Nossa, por essa nem eu esperava. Mas, Marie, não acho que você deveria pensar assim. Ninguém tem todas as respostas, mas estamos aqui para te ajudar a descobrir.
Marie imediatamente viu um brilho nos olhos, uma determinação que não havia notado antes, seguida de um doce sorriso.
— Você é incrível do jeito que é. — completou.
Aos poucos, ela percebeu que sua imagem não era representada por sua aparência, mas pelos sorrisos que compartilhava e pelas lágrimas que enxugava do rosto dos outros.
— Uhm… o-obrigada.
Não é para o apoio de todos os seus amigos, nem para a piedade dos adolescentes, nem é para a aclamação universal. Outros têm o direito de se opor à maneira como ela faz as coisas, mas ocasionalmente eles ficam excessivamente preocupados com ela.
— Deixando de lado esse clima pesado, queria te perguntar algo.
— Hm?
— Você é nova aqui, né? Também não te vi no ano passado.
— Sim… Eu entrei nesta escola porque dizem que é boa para quem quer seguir medicina.
— Medicina, hein… Interessante. É um sonho seu?
— Erm… sim. Sempre sonhei em ser médica. Acho fascinante lidar com as complexidades do corpo humano. É incrível como os médicos precisam conhecer todos os detalhes. Isso… — Marie sorriu naturalmente. — Me cativa.
Agora que ela havia expressado seus objetivos em palavras, eles pareciam mais reais e encheram-na de orgulho.
— Eu nunca tinha pensado nisso dessa forma. Para mim, é algo que me deixa nervosa. Deve haver alguém que te inspire.
— Minha mãe, porque ela é oncologista. Como médica, ela salvou muitas vidas. É isso que eu quero fazer.
— Nossa, sua mãe deve ser incrível, então. Tenho certeza de que você vai seguir os mesmos passos.
O coração de Marie começou a palpitar, como resultado do que Sarah acabou de dizer.
Poucos outros muitas vezes apoiam suas aspirações, tornando muito mais simples rir delas e desistir das mesmas.
— Também notei que você está começando a se soltar, é um bom começo.
Quando o assunto a interessava, Marie passava de uma atitude introspectiva para um estado mais comunicativo.
— Venho conhecendo muita gente nova, tô gostando disso.
— Hmm! Quem sabe até nós poderíamos virarmos besties, o que acha?
— Ah… — Seu rosto ficou mais corado. — Erm… c-claro.
Sarah era a primeira garota com quem estava interagindo, ao contrário de seus únicos dois amigos.
— É… Verdade, poderíamos. — Um toque de desconforto apareceu em seu rosto. — Mas eu realmente fico chateada quando vejo outras pessoas tentando ocupar o espaço que com tanto esforço construí ao longo do tempo.
Marie olhou para ela, um tanto surpresa.
— Como assim?
A mudança súbita no comportamento dela era uma confusão para a mesma.
— Você entende o que quero dizer, né? Qualquer um se sentiria frustrado nessa situação. O que você faria se achasse que estava ficando para trás?
Sarah olhou nos olhos de Marie, esperando uma resposta.
— Bem, acho que, se me sentisse assim, tentaria me superar. Conversaria com as pessoas e aprenderia com elas, não importa o que acontecesse. Não acredito que seja saudável ficar com raiva ou com inveja dos outros só porque estão progredindo.
Sarah suspirou, aliviada por Marie ter captado a mensagem.
— Só que, às vezes, a gente precisa defender o que é nosso também, não concorda? Não me entenda mal, Marie. Gosto de você, mas também quero proteger o meu lugar aqui. Isso é importante pra mim.
Marie absorvia as palavras de Sarah, tentando compreender a nova perspectiva que lhe era apresentada, embora sem muito entendimento a respeito.
— Eu acredito que a maioria das pessoas reagiria de alguma forma, lutando por aquilo que desejam.
Sarah estava dizendo com sinceridade, seu rosto suavizando um pouco após a expressão anterior de frustração.
— É uma competição, Marie, seja por amizades, sonhos ou oportunidades. Tem vez que você precisa se posicionar e lutar pelo seu lugar. Não é algo ruim, é só parte da vida.
Não havia espaço para ceticismo.
A resignação era a única opção que restava, pois era tarde demais para reverter o curso dos acontecimentos.
À medida que a amizade se fortalecia, ela parecia se desvanecer, causando sofrimento excruciante e ampla humilhação. Era quase irônico, como se a vida estivesse pregando uma peça cruel entre ambas.
“Me chute, me fure”, estava escrito em um pedaço de papel colado em suas costas desde que Sarah chegou. Uma mensagem que mobilizou a ação daqueles que a identificaram. Sarah havia feito apenas um gesto e todos rapidamente avançaram.
Após um chute na canela, Marie caiu. Em seguida, outro chute nas costas a fez contorcer.
Marie estava passando por uma tempestade tempestuosa de reações, que os olhos de Sarah captaram com maestria. Quando notaram a expressão desnorteada desta, todos ao seu redor não puderam deixar de sorrir com um sentimento de satisfação.
A situação se repetia, cada vez mais violenta.
As agulhas perfuram a pele como pequenas lanças, rompendo a epiderme.
As roupas, que antes eram um escudo protetor, despedaçam-se com a aproximação dos fios agudos e metálicos sem tréguas.
O gume afiado da lâmina desenhava um percurso sinuoso através do corpo, produzindo feridas profundas e carnudas a deixar um rasto escarlate que maculava impiedosamente o chão.
Marie, vítima de tortura grave, tinha sua voz silenciada, não por sua própria decisão, mas pelos cortes horríveis no pescoço. A asfixia tornou-se uma amiga inesperada, e a morte iminente era um fantasma de olhos vazios que a observava.
Os seus gemidos agonizantes são silenciados enquanto ela se balançava no precipício da morte, olhando para o nefasto precipício.
A escola testemunhou sua agonia. Marie não poderia mais continuar, e eles sabiam disso.
Alguém inábil havia rompido a máscara de Marie, revelando uma vulnerabilidade que ela não conseguia admitir nem para si mesma. Ela ainda acreditava no amor, mesmo que não soubesse disso, algo que a mesma não conseguia compreender.
Sarah, no entanto, tinha acabado de começar a demonstrar um interesse intrigante nela. Essa garota era diferente das outras por causa de seu comportamento estranho e aparência distinta. O desconforto de Sarah aumentava apenas com a presença de Marie.
A ansiedade e a insegurança de Sarah fez com que ela tivesse uma necessidade quase doentia de manter o controle sobre sua vida. Ela havia se esforçado bastante para estabelecer sua reputação e status na escola, de modo que a ideia de Marie competindo com ela era inaceitavelmente ofensiva.
Parecia que a própria presença dela ameaçava sua entorpecida posição de poder.
Ninguém, entretanto, tinha a capacidade de influenciar suas percepções e avaliações internas. Sarah e Marie eram pessoas autônomas que não podiam ser coagidas a pensar ou sentir de determinada maneira.
Cada uma delas tinha uma jornada interna a ser concluída.
Outrora, contemplar o significado da vida representava um dilema desafiador. Entretanto, essa questão parece mais frágil e delicada que nunca.
Ninguém estava imune aos efeitos ocasionalmente paralisantes da incursão, apesar de seu incrível poder. Mesmo com todas as tentativas de manter viva a chama da esperança, ela frequentemente tremeluzia e acabava morrendo.
Era um fato inevitável.
O otimismo acabou sendo uma estratégia mais eficaz do que a rigidez mental diante dessa realidade. Na maioria das vezes, as pessoas simplesmente seguiam em frente depois de aceitar essas constatações.
Tudo se resumia à fé – a convicção de que, apesar das incertezas e do ceticismo, a vida tinha um significado e um propósito que acabariam se tornando claros.
Como isso se objeta?
— É por isso que você enlouquece e decide afogar esses filhos da puta em sofrimento. — Sarah acrescentou.