Genkai o koete : Além do limiar - 1
O apartamento estava mergulhado em sombras, com a chuva incessante batendo contra as janelas. Atsuya, sentado à beira da vidraça, olhava para a cidade com um vazio nos olhos. Ele via o movimento das luzes lá fora, mas era como se tudo passasse por ele sem deixar rastro. Seus pensamentos vagavam, distantes, sem foco.
Ao seu redor, livros antigos acumulavam-se em pilhas desordenadas. Eram volumes raros, que ele havia reunido ao longo dos anos. No passado, devorava essas obras com uma facilidade que espantava os outros, mas agora elas pareciam apenas objetos perdidos no tempo, sem o fascínio de antes.
Naquela noite, enquanto a insônia o mantinha desperto, seus olhos caíram sobre um manuscrito particularmente antigo. Ele conhecia bem aquele texto, cheio de teorias e símbolos que poucos sequer tentariam decifrar. Tratava de outros mundos, portais para realidades que existiam além da nossa. Atsuya sempre achou essas ideias fantasiosas.
Mas agora, movido por uma inquietação silenciosa, ele folheava as páginas. Não era pela curiosidade de quem busca respostas, mas pela ausência de qualquer outra coisa que pudesse ocupar sua mente. A promessa de poder, descrita no manuscrito, era algo que talvez pudesse romper a monotonia que o cercava. Ele sempre teve facilidade em compreender o que os outros consideravam complexo, e talvez isso o movesse. Não era pela crença, mas pela simples constatação de que, se houvesse algo ali, seria ele quem o encontraria.
Então, com uma mistura de ceticismo e curiosidade, ele decidiu seguir os passos descritos no manuscrito. Ele segurava o livro antigo com firmeza, seus olhos percorrendo os símbolos e instruções detalhadas que prometiam abrir um portal para outra dimensão. O livro não era comum; suas páginas estavam repletas de constelações e diagramas astronômicos, com estrelas e constelações mapeadas em uma rede complexa de linhas e símbolos.
Com precisão, Atsuya alinhou o livro sobre uma mesa, posicionando-o de acordo com as direções que parecia refletir a disposição das constelações. Ele ajustou a orientação do livro, alinhando-o com um conjunto específico de estrelas desenhadas nas páginas, como se estivesse sincronizando com uma configuração celestial.
À medida que ele seguia as instruções, uma energia sutil começou a se concentrar no espaço à sua frente. O livro parecia emitir uma luz suave que correspondia à configuração das constelações, e essa luz começou a se intensificar. O ambiente ao redor começou a se alterar conforme a energia do livro se espalhava.
O manuscrito brilhava, com as constelações nas páginas começando a se iluminar e projetar padrões luminosos no ar. As estrelas desenhadas no livro formavam uma rede de linhas brilhantes que se entrelaçavam, criando um vórtice de luz radiante que parecia conectar o espaço à sua volta com um cosmos invisível.
O livro, agora com suas páginas brilhando como uma galáxia em miniatura, parecia dissolver-se em partículas de luz, que se fundiam com o vórtice em formação. O efeito visual era fascinante, com o brilho do portal refletindo uma série de padrões geométricos inspirados nas constelações.
Atsuya observava com um olhar frio, a tensão se acumulando em seu semblante. O portal, agora completamente formado, emitia uma luz que preenchia o ambiente com uma energia enigmática, como se a própria estrutura do cosmos estivesse se manifestando diante dele. O livro, cumprindo seu papel como um catalisador, havia desaparecido, consumido pela luz do vórtice.
A ideia de outros mundos sempre lhe parecerá absurda, uma fantasia para mentes fracas. No entanto, ali diante do portal, o impossível estava se tornando realidade. O desconhecido estava ao seu alcance. Não havia excitação, apenas um reconhecimento calculado da oportunidade diante dele. O que houvesse do outro lado pouco importava; o essencial era que ele estava prestes a explorar algo que até então considerava impossível.
A chuva continuava a bater nas janelas, mas o som parecia distante e abafado pela presença do portal. Sem hesitar, Atsuya deu o primeiro passo em direção ao vórtice. Ao cruzar o limiar, ele se deparou com uma paisagem urbana que mesclava o antigo e o moderno. Torres góticas se erguiam imponentes, suas pedras milenares entrelaçadas com filamentos de luz que pulsavam ao ritmo da cidade. No céu, dirigíveis flutuavam preguiçosamente, suas silhuetas recortadas contra um pano de fundo de céu vasto. Atsuya observou tudo com uma curiosidade fria.
Ele observou ao seu redor, notando como as pessoas tratavam sua chegada com uma indiferença notável. Continuavam com suas atividades cotidianas, sem demonstrar surpresa com o fenômeno do portal. “Interessante”, refletiu. “Em um lugar onde o extraordinário faz parte da rotina, as reações não são medidas pela novidade, mas pela funcionalidade. Se atravessar portais é algo comum aqui, deve haver uma estrutura e uma lógica que mantém a ordem. Entender essa lógica será essencial para se ajustar.”
Ele avançou com um semblante distante, absorvendo as peculiaridades do novo ambiente. “Este mundo, com suas características incomuns, pode oferecer uma pausa da monotonia que me cerca. Um livro, um artefato aparentemente trivial, foi o catalisador para esta dimensão. Agora, o que se revela não é apenas uma nova realidade, mas uma chance. Não posso me contentar em ser um mero espectador; preciso captar cada nuance e reação. A mente deve estar atenta, cada detalhe e escolha precisam ser considerados com cuidado. Compreender este lugar é crucial, e até que tudo se torne claro, a cautela será meu guia. Afinal, em um cenário com tantas variáveis, a capacidade de antecipar o inesperado pode fazer a diferença.”
Ele parou por um momento, seus olhos atentos capturando cada detalhe de uma aeronave que estava diante dele. A estrutura desafiava as normas de seu antigo mundo, uma fusão intrigante de tecnologias e estilos que pareciam fora de lugar em qualquer era. À medida que a poeira ao redor se assentava e a porta da nave se abria lentamente, seres de outro mundo começavam a aparecer. Suas silhuetas e movimentos eram ao mesmo tempo exóticos e desoladores, refletindo uma complexidade que fazia Atsuya sentir-se ainda mais afastado.
Ele sussurrou para si mesmo, enquanto uma enxurrada de pensamentos inundava sua mente:
“Que fascinante… a variedade de formas de vida aqui é algo que transcende o entendimento comum. Estruturas externas que indicam adaptação a ambientes hostis, talvez de alta gravidade ou com atmosferas ásperas. E esses membros, seriam instrumentos de manipulação ou meios de comunicação? Este planeta… é um mar de existências, um lugar onde a vida não se limita à presença humana.”
Atsuya observava cada detalhe com um interesse profundo, compreendendo que o que via era uma peça de um enigma muito maior. Seu olhar atento não buscava apenas conhecimento, mas também entendia a complexidade desse novo cosmos onde humanos eram apenas uma parte do todo.
Com um sorriso quase imperceptível, ele seguiu caminhando pela cidade. À medida que avançava, seu interesse parecia se intensificar, substituindo a frieza inicial com um ar de superioridade mais incisiva. Seus olhos encontraram um holograma gigante. Um mapa tridimensional diante dele brilhava com intensidade, marcando cada localização com precisão. Seus olhos percorreram as ruas e avenidas até que algo chamou sua atenção no canto do mapa: um símbolo de um dragão entrelaçado ao sol, vibrante e cheio de promessas.
Abaixo do símbolo, uma descrição meticulosamente gravada em letras douradas revelou a existência da Guilda Solaris. A inscrição dizia:
“Na confluência de coragem e sabedoria, a Guilda Solaris se ergue como um farol para os destemidos. Aqui, guerreiros e sábios, artífices e exploradores unem forças sob o estandarte do dragão alado, símbolo de nossa eterna busca pelo conhecimento e poder. Estamos recrutando novos integrantes que compartilham do nosso ardor e desejo de transcender os limites do possível. Se você possui a chama da curiosidade e a força de vontade para moldar o futuro, junte-se a nós. A aventura aguarda aqueles que ousam voar em direção ao sol.”
— Uma guilda, que típico… mas… por enquanto, talvez possa ser útil.
Enquanto Atsuya avançava pela cidade, seus olhos captaram a visão de uma academia de artes marciais. O local exalava uma aura de disciplina e dedicação. O design do edifício, com suas linhas elegantes e a grande fachada envidraçada, fez com que ele se lembrasse de um passado distante.
Um flashback se desenrolou em sua mente, transportando-o de volta ao dojo de seu avô. Lembrou-se do ambiente, das paredes adornadas com espadas e pergaminhos antigos. O som dos golpes de treinamento, o cheiro do tatame e as lições impartidas com rigor e precisão. As memórias vinham acompanhadas de um senso de respeito profundo por uma tradição que moldou seus princípios e habilidades.
O olhar de Atsuya se suavizou por um momento, antes de ele se focar novamente na realidade à sua frente. Com um gesto quase imperceptível, ele se afastou da visão da academia, retornando à sua análise da cidade.
Ele ajustou o casaco, sua mente já mapeando as rotas mais eficientes enquanto avançava pela cidade. Ele analisava cada detalhe ao seu redor, desde o padrão de tráfego dos veículos aéreos até a disposição arquitetônica que revelava as camadas históricas da metrópole. Seu olhar era incisivo, desvendando as sutilezas da interação entre os habitantes e a infraestrutura urbana.
Ele notou como as redes de energia se entrelaçavam com os sistemas de comunicação, criando uma sinfonia de dados que fluía invisível aos olhos desatentos. Ele ponderava sobre cada elemento, considerando suas implicações e como poderiam servir aos seus propósitos.
Ao chegar à Guilda Solaris, foi recebido por uma diversidade de existências que desafiava qualquer classificação prévia. O espaço interno era um microcosmo da cidade lá fora: humanos, máquinas e seres de origens indeterminadas interagiam em uma complexidade organizada. Alguns membros pareciam mais máquina do que carne, com membros cibernéticos e interfaces neurais, enquanto outros exibiam traços biológicos adaptados para ambientes extremos.
Atsuya observava, sua mente catalogava cada nova descoberta. Ele sabia que compreender a dinâmica deste lugar seria crucial para navegar com sucesso em suas águas desconhecidas. Cada criatura, cada conversa captada ao acaso, era uma peça do quebra-cabeça que ele começava a montar.
De repente, a luz ambiente se atenua até que tudo se torna escuridão. As portas se fecham com um silêncio solene, e um holograma feminino emerge da penumbra, sua voz ressoando pelo espaço agora confinado.
— Sejam todos bem-vindos à Solaris. Ficamos felizes que vocês tenham vindo se candidatar à nossa guilda. Infelizmente, nem todos farão parte da Solaris, mas já que estão aqui, vocês receberam uma ficha. Nela, colocaram suas informações. Em seguida, vocês receberam um número. O número será equivalente a uma porta — ela aponta para as portas que acendem os números de um a dez em sua frente. — Cada um de vocês irá para a porta que corresponde ao seu número e lá vocês receberão outro número e será sorteado. Então, realizaremos um teste de admissão.
Atsuya observa a cena com uma serenidade calculada. ‘Um processo de seleção baseado em números e portas aleatórias? Interessante. Isso adiciona um elemento de sorte ao processo, mas a verdadeira habilidade será demonstrada no teste de admissão. Vamos ver como a Solaris separa o joio do trigo,’ pensa ele, enquanto um sorriso sutil se forma em seus lábios.
— Bem, espero que o número da sorte não seja o único talento necessário para entrar na Solaris — murmura Atsuya, sua voz carregada de um leve sarcasmo. — Seria uma pena se a habilidade para apertar o botão certo no elevador fosse o ápice das competências exigidas aqui.
Ele pega sua ficha e se dirige à porta sete, pronto para enfrentar o que quer que a Solaris tenha preparado. A cada passo, sua mente se ajusta, transformando o jogo de admissão em mais um desafio a ser meticulosamente desvendado.
Atsuya foi sorteado com a bola com o número 3, seu olhar impassível enquanto observava os outros sorteados. Cada um deles era um enigma a ser decifrado: suas posturas, suas expressões, as sutilezas que revelavam suas habilidades e fraquezas. Ele já havia categorizado alguns como combatentes experientes, outros como novatos ansiosos. Mas, como sempre, a verdade estava nos detalhes que escapavam ao olho desatento.
O holograma se materializou novamente, e Atsuya ouviu as regras do teste de admissão. Torneios individuais primeiro, com adversários da mesma sala. Uma arena no andar acima, barreiras mágicas para evitar destruição. Nada de novo, mas a eficiência da organização era notável. A Guilda Solaris não desperdiçava tempo.
“Torneios, hein? Uma maneira eficaz de avaliar habilidades e temperamentos. E a proibição de matar… interessante. Parece que a Solaris valoriza a vida, ou talvez apenas não queira limpar sangue das paredes. De qualquer forma, é uma regra que pode ser explorada.”
Atsuya se levantou, ajustando o colarinho de sua camisa com uma leveza quase imperceptível. Ele subiria aquelas escadarias com a mesma calma com que traçava estratégias. O teste em equipe viria depois, e ele já estava calculando possíveis alianças e traições. Afinal, em um torneio onde a vitória dependia de fazer o oponente desistir, a mente era a arma mais afiada.
O holograma terminou sua explicação, e Atsuya não pôde deixar de sorrir ironicamente.
No andar de cima, a tensão pairava no ar enquanto os números 5 e 9 se posicionavam na arena. O homem, robusto e imponente, parecia uma muralha de músculos. Seus olhos estreitados indicavam confiança, e os outros participantes murmuravam, esperando um bom combate.
A mulher, número 9, era uma figura contrastante. Pequena em estatura, mas com uma presença que não podia ser ignorada. Ela segurava a espada com destreza, a lâmina ainda embainhada. Seus movimentos eram fluidos, como se a arma fosse uma extensão de seu próprio corpo. Atsuya observava, sua mente registrava cada detalhe.
O gongo soou, e a luta começou. O homem avançou com um golpe pesado, sua força bruta visando esmagar a oponente. Mas a garota se esquivou com agilidade, deslizando sob o ataque como uma sombra. Ela usava a bainha da espada como uma extensão, golpeando os pontos de pressão do homem, enfraquecendo-o.
Ele grunhiu, tentando agarrá-la, mas ela girou, escapando de suas mãos. A espada permanecia embainhada, mas Atsuya percebeu que ela estava estudando seu oponente. Cada movimento, cada padrão de ataque, era registrado em sua mente afiada.
O homem investiu novamente, más ela saltou para trás, deslizando a espada para fora da bainha. A lâmina brilhou à luz da arena. Ela era rápida, seus golpes precisos e calculados. Seu adversário estava ofegante, sua força diminuindo. Ele tentou um último ataque desesperado, más ela desviou, girando e acertando-o com um golpe certeiro na têmpora.
Ele caiu, inconsciente. Todos aplaudiram, surpresos com a vitória da garota. Atsuya sorriu, admirando a sua estratégia. A aparência enganava; a verdadeira força estava na mente, na habilidade de ler o oponente e adaptar-se rapidamente. A mulher, apesar de menor, era uma espadachim formidável. E, como sempre, Atsuya apreciava a ironia da situação: o homem grande e forte derrotado por uma lâmina ágil e uma mente afiada.
O suspense pairava no ar enquanto o sorteio da próxima luta se desenrolava. Os números giravam na esfera de vidro, e os olhares dos participantes se fixavam na sequência que se formava. O número 7 foi revelado primeiro, seguido pelo número 3. Atsuya, o número 3, analisou a situação com uma calma calculada.
Seu oponente seria Kento, um leão humanoide. A criatura era uma combinação intrigante de majestade e ferocidade. Sua pelagem dourada e acinzentada brilhava à luz da sala, e suas garras afiadas prometiam um combate brutal. Kento possuía olhos ferozes, e sua postura indicava anos de experiência em batalha. Atsuya percebeu que a força física não seria seu trunfo nesta luta.
Enquanto subia as escadas em direção à arena, Atsuya traçava estratégias. “O leão confia na força,” pensou ele. “Mas a força bruta pode ser contornada. Preciso explorar suas fraquezas, encontrar brechas em sua guarda.” Ele lembrava das palavras de estrategistas lendários, de seu mundo. “Desviar, cansá-lo, esperar o momento certo.” Ele imaginou movimentos precisos, golpes calculados. A vitória não estava na força, mas na inteligência.
Os ventos da arena carregavam o cheiro de ferro e suor, um prelúdio para o confronto iminente. Atsuya e Kento, posicionados em lados opostos da arena, encaravam-se com intensidade. Atsuya, analisava cada detalhe de Kento, assim como o ambiente ao seu redor. “Em um combate corpo a corpo, eu não tenho a menor chance,” pensava ele, enquanto seus olhos calculavam cada movimento possível.
Quando o gongo soou, ecoando pelas paredes de pedra, Kento revelou suas garras imponentes, que brilhavam com uma promessa de violência. Ele disparou em direção a Atsuya, a terra tremendo sob o peso de sua corrida feroz. Com um rugido que parecia rasgar o ar, Kento desferiu um golpe vertical, visando deixar atsuya inconsciente e finalizar o combate com uma única e devastadora investida.
Más Atsuya, ágil como o vento que agora lhe soprava às costas, desviou no último instante. A lâmina afiada da garra de Kento passou zunindo. No entanto, o ataque não foi totalmente em vão; um corte superficial apareceu no braço de Atsuya, um lembrete vermelho e ardente de que mesmo os erros de Kento poderiam ser fatais.
Ele recuou rapidamente, abrindo distância da fera imponente. Enquanto se movia, um pensamento lhe ocorreu, “Será que essa criatura não se lembra das regras?” Ele sabia que o combate não era até a morte, mas a agressividade de Kento sugeria o contrário. Atsuya não podia se dar ao luxo de subestimar seu oponente, nem de ignorar as regras do duelo.
Com olhos analíticos, ele escaneou a arena danificada. Ele notou como os destroços da luta anterior poderiam ser usados a seu favor. A arena não era apenas um campo de batalha; era um tabuleiro de xadrez tridimensional onde cada movimento poderia ser fatal ou salvador.
Ele observou as poças d’água, agora espelhos traiçoeiros que refletiam a luz artificial de maneira enganosa. Os pilares rachados e as pedras soltas eram peças que ele poderia usar em sua estratégia. Atsuya começou a formular um plano, considerando cada variável, cada possível reação de Kento.
“Se eu o guiar para aquele pilar danificado,” pensou Atsuya, “posso usar sua própria força contra ele.” Ele calculou o ângulo, a velocidade, a trajetória. Tudo tinha que ser perfeito. Atsuya não estava apenas lutando contra Kento; ele estava lutando contra o ambiente, contra o caos da destruição que o cercava.
Com um sorriso irônico, Atsuya fez sua jogada. Ele correu em direção ao pilar, provocando Kento a segui-lo. O leão humanoide, impulsionado pelo instinto de caça, não percebeu a armadilha. Atsuya, com um empurrão calculado, desestabilizou o pilar no momento exato, fazendo com que ele desabasse sobre Kento.
Uma voz ressoou pelo espaço, clara e inconfundível, anunciando o desfecho da batalha.
— Vencedor: Atsuya Gen. Kento Aya, eliminado — O eco da proclamação preencheu a arena, selando o destino dos combatentes.
Atsuya, com o sangue ainda marcando sua pele como fitas escarlates, começou a descer as escadarias. Cada passo era medido, um reflexo da cautela que o caracterizava. Ele retornava ao salão principal, onde os olhares dos presentes pesavam sobre ele, misturando admiração e cálculo.
No salão, as mãos habilidosas dos curandeiros trabalharam rapidamente, tratando suas feridas com ungüentos e bandagens. Enquanto o sangue era estancado e a dor suavizada, Atsuya observava as lutas subsequentes. Ele analisava cada movimento, cada estratégia, armazenando informações valiosas para as batalhas futuras.
Após o último golpe ser desferido e o último suspiro de tensão ser liberado, a arena silenciou, marcando o fim da primeira fase do teste de admissão. Os combatentes, exaustos mas vitoriosos, aguardavam o próximo desafio. Foi então que um holograma cintilante emergiu novamente, sua luz azulada dançando no ar carregado da arena.
— Vencedores da primeira fase, preparem-se — anunciou a voz sintetizada do holograma. — A segunda fase começará em instantes. Por favor, dirijam-se ao portal.
Atsuya observava enquanto a estrutura do portal começava a se materializar. Era um espetáculo comum nesse mundo, onde a ciência e a magia se entrelaçavam de maneiras que desafiavam a compreensão. Ele via as partículas de energia se condensando, formando um arco que pulsava com uma energia que parecia viva. Atsuya, com seu olhar, estudava o portal. Ele notava os padrões de energia, os fluxos e refluxos que indicavam a complexa tecnologia por trás daquela maravilha.
Ele se lembrava do portal pelo qual havia chegado, um vórtice de luz e som que o havia deixado impressionado demais para analisar. Mas agora, com sua mente fria, ele desvendava os segredos daquela tecnologia apenas observando. “É tudo uma questão de padrões e energia,” ele pensava, um sorriso sádico delineando seus lábios. “Assim como no xadrez, cada peça, cada movimento, tem seu lugar e função.”
Atsuya sabia que, assim como havia dominado a arena com sua mente, ele poderia dominar os mistérios daquele portal. E com essa certeza, ele deu um passo à frente, pronto para a próxima fase, pronto para qualquer desafio que aquele novo mundo pudesse lhe apresentar.