Guerra de Deuses - Capítulo 0
667° Mundo Divino – Reino: Jotunheim
No topo da montanha mais alta, muito acima dos céus, uma batalha se desenrolava. Era um confronto de proporções inimagináveis.
O vento frio, de congelar a alma, batia contra o rosto daqueles que observavam. Uma multidão de diferentes espécies olhavam para o único inimigo à frente.
Estavam boquiabertos. Eles não podiam acreditar nos próprios olhos, mas quem acreditaria naquilo? Um único homem, apenas um, colocou medo em seus corações.
Ele estava de pé em cima de um cadáver; este pertencente a um Gigante de Gelo, criaturas de poder incomparável.
No entanto aquele não era um simples membro dos gigantes, mas seu Rei. Apenas a cabeça da criatura possuía dezenas de metros.
Um par de chifres partia do crânio e formava uma coroa para cima. Um símbolo imponente de poder; usado pelo homem como um simples apoio para manter-se de pé.
Rondando o corpo do Rei, estavam quatro clãs diferentes. Eles se reuniram anteriormente para enfrentar os Gigantes de Gelo, porém foram surpreendidos pela presença daquele terrível homem.
O novo oponente era ainda mais aterrador. Corpos jaziam frios na neve. Rios de sangue desciam a montanha e congelavam rapidamente. O homem apenas observava os seus inimigos.
Ao respirar, sentia como se agulhas perfurassem os seus pulmões. Quando tentava caminhar, facas atravessavam a sua pele.
Encarou a aparência lastimável a qual se encontrava. Deu uma leve risada. O corpo dele parecia o de um moribundo. Alguns pedaços até congelaram.
— Onde… — murmurou enquanto procurava por algo. — onde está meu machado?
Olhando para o lado, notou um cabo vermelho. Havia uma fita azul saindo da guarda. O cabo estava quebrado ao meio e a outra parte há muito desapareceu.
Provavelmente estava debaixo de algum corpo, ou da neve ou do sangue. Não se podia saber.
Voltou a sua atenção para os inimigos. Aqueles que notaram engoliram em seco. Uma peça se encaixou na sua mente e, de súbito, lembrou-se da razão para estar ali.
“Estou no meio de um massacre…”
Com este vislumbre, todas as memórias retornaram. Ele focou-se.
Sentiu o frio bater no corpo, a fumaça branca saia a cada respiração e engolia em seco; a saliva rasgava a garganta. Abriu os olhos e saltou de cima do cadáver.
Caiu no solo e a neve voou em várias direções, restando no chão um enorme buraco, vazio. Os inimigos tremiam, não pelo frio, mas pelo medo da criatura à frente, o monstro.
Fugir? Esconder-se? Correr? Escapar! Render…
Todos eram pensamentos que tinham, mas sabiam que aquela besta não os deixaria partir. E, entre todos eles, havia um que era o mais temeroso, pois reconhecia o homem.
Ele sabia que ninguém ali conseguiria sobreviver.
A besta se aproximou devagar de um elfo, que segurava uma lança. O lanceiro, desesperado, tentou atacar. Mirou no peito e perfurou.
No entanto, o homem agarrou o cabo e ergueu o elfo junto da lança. Ele, então, puxou o lanceiro assustado para perto. Socou o seu rosto com a parte detrás do punho.
O corpo do elfo caiu na neve gelada, mas a cabeça foi arremessado até os pés de um dos seus companheiros, que caiu no chão vomitando.
Observou, portanto, a lança que sobrou em suas mãos. Levemente brandiu o cabo. Demonstrava não estar habituado a utilizá-la.
“Não deveria ter apenas me concentrado em uma arma”, pensou “, mas agora é tarde demais.”
Seus olhos fixaram nos inimigos. Uma aura sombria desceu sobre todos eles. Alguns largaram as armas no chão; outros caíram de joelhos e oraram.
Os poucos restantes gritaram do fundo dos seus corações. Ergueram suas armas e correram na direção da besta. Aqueles que largaram as armas, correram na direção contrária.
— Ninguém vai sair daqui vivo… — disse, avançando. — Ninguém mesmo!
O homem era o juiz, o júri e o carrasco de todos.
Explosões de cores diversas estouraram nos arredores. Lanças e flechas voaram. Espadas cortaram. Martelos se chocaram. Correntes arrastaram.
Mortos-vivos se levantaram e correram. Invocações foram chamadas. A união de clãs tentava, a todo o custo, combater o inimigo, porém nada parecia o impedir.
Eles executavam aquele impiedoso ataque suicida, mas de nada adiantara.
O homem firmou a sua lança com ainda mais força e, com um impulso para frente, chocou-se contra os que lhe atacavam. A cada corte, sem maestria alguma, que acertava, enviava uma dezena para a boca da morte.
Não possuía técnica. Aquilo era puro poder bruto. Cada golpe enviava ondas de energia gélida penetrante pelos ares.
Arrancava cabeças, decepava membros e congelavam aqueles que passavam perto. Até que, em certo instante, a lança não aguentou mais a pressão e quebrou.
Contudo a besta não parou!
Destruía crânios, arrancava braços e os seus punhos pareciam raios de poder e velocidade absolutas. Era irreal. Um massacre unidirecional ocorria.
Não tardou para que metade dos reunidos ali, caíssem sob os ataques. O destino do combate já fora decidido. Quanto mais lutava, mais forte parecia se tornar, ele.
Ele, entretanto, não permanecia em perfeito estado. Já estava ferido da última luta. Agora, recebeu mais inúmeros golpes. Alguns poderiam dizer que ele estava a um passo de dar um abraço na morte.
E, mesmo assim, continuava lutando, como se fugisse dela, à morte. Os dois dançavam uma valsa, um passo em falso e já era.
O sangue ensopava o corpo dele. Um dos seus braços havia sido arrancado. Metade do seu torso estava congelado.
Centenas caíram ao seu lado, e milhares, à sua esquerda, mas ele não fora atingido. Somente os seus olhos podiam entender a razão para isso, sua recompensa.
Além dele, havia um único outro homem. Estava caído; de joelhos no chão. Olhar vazio, feridas expostas e tremendo por inteiro.
Ele tinha uma série de escamas negras por todo o corpo. Possuía um corpo forte e alto, além de cabelos negros. Anteriormente, também tinha asas, mas foram arrancadas no início da luta, junto da sua cauda de lagarto.
As características não enganavam a ninguém. Ele era um Diacrônico, uma mistura de dragões humanóides com sangue demoníaco.
Ele também foi aquele que profetizou à morte de todos.
Levantou a cabeça e olhou para o homem à frente. Tirando a aparência destruída, viu um jovem de cabelos negros longos, olhos azuis brilhantes, algumas cicatrizes no rosto e uma barba malfeita.
— Q…quem és tu? — perguntou-lhe. — Porque me deixara por último? E, como, como pode estar vivo?
Uma risada fria vazou da besta.
— Solomon — chamou a besta. —, a culpa de tudo é sua e somente sua.
Lágrimas caíram do rosto do Diacrônico. Ele não conseguia acreditar que, mesmo após tudo, o inimigo ainda permanecia vivo.
— O que fiz? Porque me persegue e pune a outros?
— Esqueceu de mim? Você me olhou nos olhos e perfurou meu coração com uma lâmina. Eu sou um humano, Solomon, um do Jardim do Éden.
Subitamente, a expressão de vazio de Solomon foi substituída por choque e descrença.
“Impossível!”, pensou.
— Lembro-me de ter matado a todos. Como pode estar vivo? O sistema declarou, à mim, vencedor.
— Você confia demais no sistema. Ele pode ser enganado. Ainda mais quando se volta à vida.
Enquanto Solomon falava desesperado, o homem respondia com calma. Concluiu o seu objetivo; não se preocupava com mais nada.
— De jeito nenhum. Impossível! Matei todos os humanos.
— Não com a ajuda da Dríade Demoníaca.
O caído ficou boquiaberto e a fúria lhe assaltou os olhos.
— Aquela meretriz! Maldita que arda no outro mundo!
— Calado! — Pela primeira vez, fúria também surgiu no rosto da besta. — Não ouse falar dela.
Solomon encarou o rosto dele e as peças conectaram-se em sua mente.
— Você, você o fez por ela? Matara milhares e as consequências matarão milhões. Acabou de vez com quaisquer chances de sobrevivência do meu povo. Somente por ela?
— Assim como suas ações levaram a extinção dos humanos, as minhas levarão a do seu povo. Estamos quites.
— Vingança…
— Adeus, Solomon. Saiba que morreu pelas mãos do último humano, Arskan.
Moveu então as mãos e, como uma cobra, envolveu o pescoço dele, quebrando-o. Uma onda de puro poder cortou o ar com o estalo do grosso pescoço de Solomon.
O Diacrônico caiu no chão, morto.
Em seguida, uma dúzia de mensagens surgiram aos olhos de Arskan.
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Derrotando o Rei dos Gigantes de Gelo, você recebeu direito ao domínio do pico mais alto de Jotunheim
Você cumpriu quase o impossível ao derrotar sozinho 4 dos 13 mais poderosos clãs do Inferno de uma única vez
Por exercer domínio quase perfeito do campo de batalha, receberá um aumento em Força
Por exercer domínio sobre a magia de gelo [Coração de Cristal], receberá um aumento na Inteligência
Por exercer uma pequena capacidade de combate com lança, receberá a habilidade [Maestria com Lança]
Por exercer…
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O Guardião da Vida lhe observa
O Mestre do Caos lhe parabeniza
O Senhor da Morte lhe observa
A Rainha de Gelo se encantou
O Príncipe Glacial está orgulhoso
…
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As mensagens continuaram por um tempo, entregando-lhe recompensas e enaltecendo suas conquistas, porém ele não prestou atenção nisso.
Observou então a sua tela de status, mas também não deu muito atenção. Apesar de ter orgulho das estatísticas que cultivou, não eram de grande ajuda agora.
Graças a habilidade Coração de Cristal, conseguiu poder o bastante para vencer, mas isto também acabou o amaldiçoando.
O seu corpo congelava por causa do próprio poder gélido que adquiriu. Afinal, adquiriu um poder semelhante a de um Deus, mas era tarde demais.
Tornar-se um Deus era o objetivo de todos que viviam naquele mundo. Para virar um, era necessário um poder absoluto.
As mensagens que lhe diziam sobre o seus observadora, tratavam-se deles os tais Deuses. O poder que adquiriu também veio de um deles: O Príncipe Glacial.
Contudo, após provar do poder de um deles, sabia que havia algo ainda mais forte. Algo acima desse poder. Porém a sua vingança era mais importante.
— Eu cumpri com ela…
Ele não mentiria. O sentimento da vingança era extasiante; ele não se arrependia de tê-lo o feito. Entretanto ainda tinha raiva.
Raiva de si, por recorrer a este método. Raiva dos Deuses por deixarem ele seguir por este caminho. Raiva daqueles acima e abaixo.
Aquele sentimento quase ingênuo de querer ver o que viria a seguir, abateu-lhe. Sua vida passou diante dos olhos e a mensagem, a mensagem que começou tudo, tocou na sua mente.
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Os novos Deuses precisam ser Encontrados
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O corpo dele terminava de congelar. O último ser humano estava para morrer. Assim que a vida começou a se esvair, uma última mensagem tocou.
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Urano lhe concedeu a [Benção de Cronos]
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