Guerra de Deuses - Capítulo 13
Atenas possuía um costume engraçado.
Muitos cogitavam que o próprio mundo possuía uma consciência e esta consciência era cruel ao máximo.
Uma existência psicótica. No entanto tudo não passava de rumores, achava Arskan. Lembrava-se de uma conversa de bar.
Estava sentado em um canto e escutava dois homens conversando.
— A sua segunda onda foi chamada de Ascensão dos Goblins?
— Sim. Eu dei muito azar no primeiro dia. Maior parte dos membros do meu tutorial eram crianças e adultos. Perdemos quase todos ainda na primeira onda.
— A minha se chamava Vingança dos Goblins. No primeiro dia, nós destruímos eles completamente. No meu tutorial tinha dois medalhista olímpicos, membros de gangue, alguns policiais e até um soldado de elite.
— Mas qual era a diferença?
— Sinceramente, sei lá…
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Arskan descobriu a diferença pessoalmente. O número de goblins na Vingança era quase o dobro da Ascensão.
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2° Onda: Vingança dos Goblins
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Enquanto estava parado, viu um brilho prateado surgir do meio da floresta e moveu o pescoço um pouco para o lado.
Logo, um som suave passou pelos seus ouvidos e uma flecha ficou cravada no chão atrás dele.
— Eram 100 no primeiro dia e deveriam ser 200 no segundo, mas ali deve ter uns 350… não, são 400 — comentou.
Todos tinham armas e equipamentos. Não era nada substancialmente decente, mas ainda era melhor do que os dos humanos.
O goblin que tentou acertar Arskan fez uma expressão ruim enquanto movia a mão para mirar outra flecha em sua cabeça.
Porém ele se surpreendeu com a expressão do rapaz. Engoliu seco quando notou o olhar frio; sentiu-se com uma lâmina afiada no pescoço, como se uma cobra se enrolasse no seu corpo e o seu veneno percorresse-o da cabeça aos pés.
Seu semblante se tingiu de terror e ele abaixou o arco e flecha lentamente e, em seguida, mirou em outra pessoa, ignorando a existência daquele humano. Fingia que ele não existia.
— Eles também estão mais organizados. Aparentemente não tem uma liderança.
Depois de medir a força adversária, não se preocupou muito consigo mesmo. Se não fosse cercado, poderia lidar bem com um grande número deles.
O problema era…
“Vai haver muitas baixas…” Bem, não era algo que pudesse dar muita atenção.
Ele sacou seu Alfange em uma mão e na outra estava a espada longa.
— Podem vir!
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Kyler parou em uma boa posição por detrás das pessoas. Subiu em um dos pilares quebrados e preparou seu arco e flecha.
Era um sujeito esperto e demonstrava uma boa engenhosidade. Pensava: “para que preciso me arriscar, se posso atirar de um lugar seguro?”
— Vamos ver… qual deles?
Olhou o campo de batalha. A barulheira ao redor atrapalhava um pouco, mas ele logo se acostumava.
Viu um homem comum ser pressionado contra dois dos pequenos. Ele sofreu alguns cortes e desesperadamente batia com a sua lança contra as criaturas.
— Alguém me ajuda! — exclamava com o suor escorrendo pela cabeça.
Um dos goblins lhe acertou um corte no antebraço e o jogou no chão; prestes a acabar com a sua vida. Porém foi interrompido por uma flecha que acertou o olho esquerdo.
A criatura caiu no chão gritando e o homem conseguiu se recuperar. Vendo a oportunidade, a coragem cresceu.
Pegou sua arma e acertou o peito do goblin. Ele não morreu instantemente, então o homem teve que continuar pressionando várias e várias vezes até o corpo ficar irreconhecível.
Em seguida, ele continuou em seu ímpeto e rapidamente abateu o outro. Jogou-se ao chão depois de concluir a tarefa; mãos tremendo, mas um sorriso de um alívio no rosto.
Olhando para de onde a flecha veio, localizou um rapaz de pé em um pilar de pedra. Ele colocava a flecha lentamente no arco, puxava para trás e, com um som suave, o objeto voava direto em uma das bestas verdes.
Kyler notou o homem, colocou dois dedos próximos a sobrancelha e fez um gesto de aceno para frente com a mão. Um sorriso confiante brotou do seu rosto.
O homem comum ficou extremamente agradecido, mas não teve tempo para pensar. A batalha continuava.
Kyler voltou ao próximo de localizar, preparar e atirar.
Parecia inconscientemente buscar dar apoio a quem precisava, salvando-os de apuros.
Percebeu uma movimentação incomum dos inimigos. Os goblins concentravam os ataques de um dos lados, mas não conseguiam avançar.
Algo os impedia.
— Hm — Kyler sorriu. — Você não precisa de ajuda.
A espada tingida de sangue bateu contra a cabeça de outro goblin. Não ocorreu um corte, pois a lâmina já estava cega, mas a cabeça ainda foi esmagada contra o ferro.
Arskan fez um movimento para baixo, jogando o sangue da lâmina contra o chão.
— A durabilidade dessa aqui está acabando — comentou decepcionado.
E, como previu, assim que atacou o próximo inimigo, a espada longa se partiu ao meio com fragmentos de ferro caindo aos montes pelo chão.
— Tsk! — Ficou apenas com seu Alfange do Guerreiro. — Vou roubar algo de algum corpo.
A batalha estava um grandíssimo caos. Além dele, vários grupos tentavam defender-se contra o ataque, mas ainda era como no primeiro dia; cheio de covardes.
O número de adversários era quadruplo e eles não pareciam ter vim. A vingança era brutal, porém Arskan era mais.
Ele mudou o seu estilo de luta ao ter apenas uma espada. Antes, cortava despreocupadamente, mas agora, controlava seus ataques.
A leve curvatura da arma lhe permitia cortes limpos próximos da cabeça. Eles eram capazes de arrancar uma cabeça sem danificar a lâmina com facilidade.
Arskan era especialista no uso de machados. Se pudesse escolher qualquer tipo de arma e dizer que era um mestre; poderia apenas falar dela.
No entanto, além do machado, ele poderia dizer que não era um ignorante na arte das espadas curtas. Um mestre? Nunca diria isso, porém tinha experiência.
Outra cabeça rolou pelo chão branco e o sangue respingou sobre a sua face. Tantos corpos estava sob seus pés que ele mal conseguia contar.
O rumo da luta estava mudando em favor dos humanos… porém!
Agnus observava a selva enquanto coordenava o seu grupo para atacar e defender. De repente, após matar um dos goblins, escutou um grito vindo do seu lado.
— Agnus! P-pegaram… Eles o pegaram! — Era a mulher do dia anterior.
De dentro da selva, um grupo surgiu. A agonia era espalhada pelo ar; o alto clamor reverberava até os ouvidos de todos.
Seis homens ainda vivos eram carregados pelos goblins. Olhos, braços, pernas e língua arrancados e por pouco se mantinham vivos.
Eram usados como uma espécie de escudo humano.
Agnus olhou para aquilo. Os dentes bateram um no outro com um aperto firme e o terror foi expresso pelo seu rosto.
Até Arskan ficou surpreso com a ação deles. Aquilo era aterrador para qualquer ser vivo.
— Agnus! — A mulher gritou desesperada. Um dos homens era o irmão dela.
— Chamem a Natália! Talvez aja um chance… — Ele disse isso para ela, mas a paralisia a impedia de pensar. — O que está fazendo?
— M-meu… i-irmão….!
— Vá logo!
Com o grito, ela caiu no choro e correu para seguir a ordem.
“Estou cercado de incompetentes”, pensou.
A lâmina fria de Arskan atravessou mais um dúzia de corpos. Perfurações rápidas em pontos vitais.
Seguiu pelo campo de batalha freneticamente. Os goblins eram obrigados por Atenas a continuar lutando até a morte, mas eles poderiam ignorar um alvo, então as coisas mudaram.
A caça se tornou o caçador.
Ele eliminou sozinho um quinto dos adversários.
— Ei! Pare! Por favor, alguém me ajuda! — O som de um velhinho gritando ressoou.
Arskan já estava profundamente entranhado na batalha. Não poderia dar atenção para aquilo, mas Kyler estava próximo de onde o som surgiu.
Virou-se e avistou a situação. Um senhor de idade era empurrado na direção dos goblins por um jovem.
— Você já está velho! Desapareça de uma vez! — exclamou o delinquente.
Ele tinha o cabelo raspado, tatuagens no pescoço e roupas largas típicas de um gangster.
Chutava o velho na direção dos monstros.
Kyler desceu do pilar e correu em auxílio. Antes que pudesse chegar, viu uma garota se colocar entre eles.
— Pare com isso! — Ela abriu os braços para proteger o idoso.
— Quem é você? Não vê que vamos todos morrer?! Saia da frente ou eu também vou te jogar aos goblins!
O arqueiro finalmente alcançou a confusão e apontou seu arco na cabeça do delinquente.
— Ameaças vazias, rapaz — A ponta da flecha estava mirada entre os olhos dele.
— Você acha que tenho medo de você? Você é só um covarde que fica naquele pilar atirando de longe.
— Eu posso até ser, mas essa lâmina no seu pescoço não é.
— Hã…?
O delinquente sentiu uma pontada. Olhou para baixo, deparando-se com o ferro quente que tocava a sua garganta na exata circunferência do seu pescoço. Um puxão e já era.
Do outro lado do Alfange, viu os olhos negros e profundos de Arskan lhe roubarem os sentidos.
— Se não quiser perder a cabeça, dê meia-volta e suma da minha frente.
Conseguiu ver o delinquente engolindo em seco e abaixando sua espada.
— Cedo ou tarde vocês vão se arrepender disso — disse ele.
— Cala a boca e some daqui — respondeu Kyler.
Ele então latiu com a ponta da língua e saiu recuado.
— Kyler, cuide do resto. Vou segurar os monstros.
— Certo!
Arskan sacou o Alfange do Guerreiro e voltou ao campo de batalha. Kyler, por sua vez, ajudou o idoso a levantar.
— Você está ferido?
— Não muito. — O idoso agradeceu a ajuda e conseguiu ficar de pé, mas tinha vários cortes e hematomas pelo corpo.
— Eu posso ajudar! — Aquela garotinha surgiu outra vez. Ela levantou as mãos e um brilho surgiu.
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Enquanto cortava a cabeça de outro monstro, Arskan sentiu uma fragrância permear o ar.
Era algo puro; lembrava-o de um dia fresco de verão.
— Isso é… — uma energia que acalmava, que era confortável e que tocava o coração — o poder de uma Santa.