Hino da Criação: A Reencarnação da Deusa - Capítulo 2
— LILITH! MARAVILHOSA! EU SOU O SEU FÃ! — bradou o apresentador Black, eufórico, enquanto retirava o seu blazer ao vivo, mostrando, em rede universal, a regata que vestia.
Sendo ela, estampada com o rosto da Lorde Vampira.
E não se contentando com apenas isso, ele também sacou do seu bolso: o seu cartão de fã clube aficionado, e o exibiu — para o mundo inteiro — como se fosse o maior tesouro de sua vida.
Enquanto Black declarava — sem um pingo de vergonha — o seu amor eterno à vampira, o seu colega se levantou da cadeira, e aproximou-se dele.
— Calma, meu parceiro Jack! Calma! — disse White, em um tom descontraído. — Você está deixando a nossa convidada sem jeito!
— Hahaha! Impossível! — respondeu o outro, se sentando novamente. — Alguém do calibre dela, nunca ficaria intimidada só com isso! Na verdade, ela me parece bastante satisfeita!
White virou o seu rosto na direção da vampira, e a observou por um tempo, e após examinar a sua reação, concordou com a opinião de seu colega.
— Realmente! — respondeu ele, incrédulo. — Ela está bastante satisfeita!
— Eu não disse?! Hahaha! — completou Black, se gabando.
Com o fim daquele comentário, todas as atenções se voltaram para o centro da arena, e conforme o árbitro da partida se aproximava, a ansiedade pelo início do evento, se intensificava.
— Finalmente, meu caro amigo Jack! O momento tão aguardado por nós, finalmente chegou! — disse White, com o seu coração quase lhe escapando pela boca. — O meu braço está todo arrepiado, e–
Ele interrompeu a sua fala, e arregalou os olhos.
— JACK!!! VOCÊ VIU ISSO?! — bradou o segundo, eufórico.
— MAS O QUE?! — reagiu o outro, sem palavras, incapaz de descrever o que havia acontecido.
— ELA… ELA! — continuou White, ofegante.
— VEJAM, MEUS CAROS TELESPECTADORES E OUVINTES! — disse Black, exaltado. — A NOSSA ILUSTRE CAMPEÃ, ACABA DE SE CURVAR PARA A SUA DESAFIANTE!
A multidão vibrou vendo aquela cena, e mais uma vez, uma salva de palmas ecoou por todo o estádio.
— Mas que ato de respeito, meu caro amigo Jack! Não sabemos o motivo, e nem dos detalhes, mas primeiro ela se curva, e agora as duas apertam as mãos! — comentou White, radiante.
— Que momento maravilhoso! Que linda cena para se ver! O esporte realmente une as pessoas! — acrescentou o primeiro, batendo palmas.
— A contagem regressiva começou! O gongo está prestes a tocar! Venha, comigo!
— É pra já, meu parceiro Rabino!
E de maneira intercalada, eles seguiram:
— Cinco!
— Quatro!
— Três!
— Dois!!
— Um!!!
‘TUUUUUUUUMMMMMMMMMMMM!’
— O evento de Artes Marciais, das Olimpíadas de Inverno, começou!
— O evento de Artes Marciais, das Olimpíadas de Inverno, começou!
Anunciaram os dois, em uníssono.
Sábado, 24 de dezembro de 21XX, 14:00h – Arena do Prédio Olímpico de Artes Marciais.
— Não será permitido o uso de nenhum equipamento nesta luta, ou de qualquer outra habilidade que não tenha sido devidamente cadastrada, ou catalogada na sua ficha de inscrição — exclamou o árbitro da partida, gesticulando com as mãos. — Alguma dúvida até aqui?
— Não senhor. — respondeu Lumine.
— Nenhuma! — disse Lycoris, em resposta.
— Excelente! — declarou o rapaz, balançando a cabeça em sinal de afirmação.
Ele fez uma pausa, e encarou as duas atletas.
— Reforçando mais uma vez — continuou, em seu tom habitual. — A partida será dividida em três estágios, e a cada queda, seguida de um golpe, será contabilizado um ponto! E até que vocês desistam, ou sejam nocauteadas; a partida irá durar, um total de quinze minutos!
— Afirmativo!
— Entendido!
O rapaz cumprimentou as duas atletas, e acrescentou com uma expressão alegre:
— Tenham uma boa luta, meninas! Façam dessa abertura, a melhor de todas! Boa sorte, e em suas posições!
Ele se moveu para o lado delas, e as câmeras principais deram um close nas atletas. E no instante seguinte — sem que houvesse qualquer aviso prévio — Lumine se curvou.
— Representante da ‘Grande Vontade!’ — disse ela, sorrindo, enquanto levava a sua mão até o peito.
Ela parou por um segundo, e se corrigiu:
— Não… ‘Imperatriz da Humanidade!’ — completou, em um tom que indicava devoção.
Lycoris arregalou os seus olhos — surpresa — e observou aquela cena paralisada.
“Imperatriz?!”, pensou ela, ofegante, enquanto os seus olhos cor-de-rosa brilhavam como luzes de Neon.
— Por que você está se curvando para mim, Lumine, rs? — indagou ela, intrigada, enquanto a sua adversária exibia um sorriso cheio de excitação.
Lumine ergueu o seu rosto, e de maneira firme, respondeu:
— Essa é a minha forma de demonstrar respeito a ti, ‘Legado do Inimigo de Toda a Criação!’
A garota se levantou logo em seguida, e estendeu a sua mão.
— Então, agora — continuou ela, exibindo um sorriso excêntrico. — Deixemos as formalidades de lado, e apertemos as mãos, como boas atletas, Étoile!
Uma sensação de arrepio percorreu a espinha da primeira, e respondendo à sugestão de sua adversária; ela pegou na sua mão, e de maneira oficial, as duas se cumprimentaram de modo formal.
— Te desejo uma boa luta, Lumine! — disse Lycoris, em um tom provocativo.
— Igualmente, Étoile! — respondeu a outra, esboçando um sorriso sinistro.
Após se cumprimentarem, as duas garotas se afastaram uma da outra, e logo em seguida, se posicionaram bem no centro da arena.
E conforme eram ovacionadas — pelas duas torcidas que gritavam os seus nomes — Lycoris fechou os seus olhos, cerrou a sua mão, e inspirou profundamente.
A sua respiração estava calma, o seu corpo relaxado, e os seus punhos cerrados, diferente do seu coração, que se mantinha agitado. E apesar do barulho ensurdecedor dos aplausos, e dos gritos da torcida, nada daquilo atrapalhava os seus sentidos.
A passagem do tempo parecia uma eternidade na perspectiva dela, e a cada segundo que se seguia, era prolongado a sensação de nervosismo que sentia.
“Ah, que sentimento maravilhoso!”, pensou Lycoris, sorrindo.
E no instante em que o sinal tocou, ela abriu os seus olhos — radiantes — que brilhavam como luzes de neon, e recitou, expressiva:
— A Vontade dos Criadores! — disse, estalando os dedos.
Os céus se abriram como resultado do comando dela, e diversos feixes de luz iluminaram a arena.
E à medida que o teto do estádio era distorcido — abrindo uma fenda para o espaço sideral — era possível observar, e também sentir; uma entidade, sem forma física, se manifestando no verso físico.
— Contemple, Filha das Estrelas! — disse a voz, que vinha do alto, em um tom potente. — O mundo que a ‘Virtuosa’, uma vez idealizou!
Lycoris voltou a sua atenção para cima, e contemplou — em toda a sua glória — a perfeita criação da Virtuosa.
E apesar daquele céu se assemelhar a tantos outros, era possível perceber, em cada um de seus detalhes, todo o esforço — e o carinho — que a sua Criadora havia depositado nele.
Com um sentimento de fascínio, aliado à sensação de arrepio, ela concluiu, em seu tom lírico:
— Terceira Melodia do Hino: Labirinto da Bruxa – País das Maravilhas!
Os seus olhos brilharam mais uma vez, e uma dimensão alternativa se manifestou com o seu comando.
Conforme o mundo físico oscilava, entre a realidade abstrata e a fantasia psicodélica, o chão da arena se partiu em milhares de pedaços como vidro, e ela — junto do árbitro, de sua adversária, e de seus respectivos treinadores — foi tragada por um profundo, e infinito abismo.
E no instante em que se viu em queda livre, Lycoris pôde observar, e mais uma vez sentir, toda a extensão do espaço sideral — que era iluminado por milhares de partículas, semelhantes à uma aurora boreal — até que finalmente pôs seus pés no chão, e uma paisagem estonteante se destacou de muitas formas.
Com o seu toque suave — após ter reduzido a velocidade de sua queda, manifestando, na sua mão direita: um guarda-chuva — Lycoris espalhou, para todos os lados, milhares de pétalas de incontáveis flores.
Que cobriam, de maneira natural, um vasto campo aberto de uma ilha flutuante.
Esse arquipélago — que era decorado com várias cartas de baralho, e pedras de dominó. Dados de seis lados e relógios de bolso. Além de vários riachos, e gramados extensos — era muito parecido, com uma pintura aquarela.
Sendo a sua composição: harmônica e sofisticada.
Satisfeita com aquela vista — retirada de um conto de fadas — Lycoris pegou na barra de seu vestido, deu um passo para frente, e fez uma reverência para sua adversária.
— Seja bem vinda, ao ‘meu’ País das Maravilhas! — disse ela, exibindo um sorriso sinistro.