Hino da Criação: A Reencarnação da Deusa - Capítulo 08
24 de dezembro de 21XX, 18:00h – Ala Médica do Prédio Olímpico de Artes Marciais.
“Mamãe, estou com medo…”
“Estou com muito medo!”
“Estou com muito medo de morrer!”
“Tudo está ficando tão escuro… e gelado!”
“Mamãe, por favor… me ajude, me salve!”
“Eu não quero morrer!”
!!!
— MAMÃE!!! — Lycoris bradou, assustada, enquanto se levantava abruptamente da cama.
A sua respiração estava pesada, o seu corpo paralisado e a sua mente nublada, diferente do seu coração, que se mantinha agitado. Um terror desconhecido havia tomado conta dos seus sentidos, ao passo que uma extrema sensação de agonia atrapalhava o seu raciocínio.
Ela tentou se mover e não conseguiu. Tentou recuperar o seu fôlego, mas o seu estado de choque não a permitiu. E notando que a sua voz não saía, ela logo percebeu que alguma coisa pressionava a sua laringe.
“O que é isso? O que é essa sensação ruim no peito? Esse… vazio?!”, pensou ela, aflita, enquanto as suas memórias lhe traíam. “Por que eu sinto que estou me afogando em um profundo e infinito abismo?!”
Ela levou as suas mãos até o pescoço e do pescoço até o seu rosto, e logo percebeu que estava chorando.
“Isso são… lágrimas?!”, questionou, de forma retórica.
Lycoris moveu o seu rosto para os lados — tentando identificar o ambiente em que estava — e no instante em que a sua visão se acostumou com a pouca iluminação da área, ela pôde observar, parado de pé e bem na sua frente; uma criatura distorcida, e sem forma física, a encarando.
E no momento em que os seus olhos se encontraram com os da sombra — se é que haviam olhos naquele ser incorpóreo — o espectro sorridente exclamou:
— Você não se esqueceu de mim, esqueceu?! — disse a entidade, em um estado claro de euforia.
A criatura esticou o seu corpo, aproximou-se do rosto aterrorizado da garota, e em seguida, sussurrou em seus ouvidos:
— Eu sou espadas, eu sou arma. Eu sou sede e também a fome. Eu sou doença e também a morte! Eu sou o medo. O seu medo da morte! Eu sou medo! O medo! MEDO!
Lycoris arregalou os seus olhos — desesperada — e logo em seguida exclamou, horrorizada:
— A Presença do Medo!
Uma extrema sensação de agonia tomou posse dos seus sentidos, e a sua percepção cognitiva foi gradativamente sendo suprimida. E no instante em que ela estava para se entregar completamente ao medo; um abraço apertado, e relativamente gelado, a envolveu.
— Princesa! — bradou uma garota de cabelos loiros e olhos vermelhos, após se jogar na direção da primeira. — Você despertou, Princesa! Você finalmente abriu os olhos! Ainda bem…
Ela abraçou o corpo da garota de olhos cor-de-rosa com ainda mais intensidade que antes, e enquanto a envolvia em seus braços, completou, com o seu rosto cheio de lágrimas:
— Estou aqui, Princesa. Aqui! Aqui com você…
O terror que havia se apoderado do corpo da primeira, desapareceu logo em seguida. E junto dele, a presença da entidade sorridente que até então observava tudo; foi imediatamente dispersada.
— Catherine? — disse Lycoris, baixinho, após recobrar os seus sentidos.
— Sim… Sim! — respondeu a segunda, aliviada, por estar ouvindo claramente a voz da outra.
Então, percebendo que o corpo da primeira ainda tremia, a garota de pele pálida questionou:
— O que houve, Princesa? Por que você está chorando?!
E com a sua voz soando um pouco trêmula, Lycoris respondeu:
— Eu acho que tive um pesadelo…
— Um… pesadelo?! — repetiu a segunda, com os seus olhos arregalados.
— Sim! Ele parecia tão real… e vívido! Que acabou afetando todos os meus sentidos, rs! — acrescentou a garota de cabelos escuros, sentindo um calafrio, ao passo que seus olhos brilhavam como luzes de neon.
Com o seu coração quase lhe escapando pela boca, Catherine perguntou:
— Você poderia descrever o que viu, Princesa? — disse a garota, enquanto enxugava gentilmente as lágrimas da primeira.
E com um sinal de sua cabeça, Lycoris concordou.
— Não me recordo muito bem dele… — disse ela, enquanto a sua mente tentava recuperar os fragmentos de memória perdida. — Apenas que eu estava em uma sala mal iluminada, trancada e sozinha…
O seu coração disparou por um segundo, e uma sequência de várias imagens distorcidas — e incompreensíveis à primeira vista por ela — se espalharam pela sua mente.
— Não… eu não estava sozinha — se corrigiu a garota, enquanto as suas memórias fluíam. — Quero dizer, haviam algumas pessoas na sala comigo…
Os seus olhos passaram a brilhar com ainda mais intensidade que antes, e enquanto o seu coração era preenchido pela raiva, ela bradou, cerrando os dentes:
— Vampiros! Haviam vários vampiros na sala! Dezenas deles! E todos eles empunhavam adagas!
A sua cabeça começou a latejar, sua mente girar e o seu coração a doer. Um barulho ensurdecedor tomou conta dos seus ouvidos, ao passo que uma intensa chama carmesim iluminou as suas pupilas.
— Eu estava amarrada, presa à um altar, sendo observada por eles…
A temperatura no quarto caiu abruptamente, e as luzes que até então estavam acesas; tremeluziram repetidamente. Vários sons estranhos ecoaram do lado de fora da janela, e uma inquietante sensação de estar sendo vigiada por incontáveis olhos invisíveis, fez o seu coração acelerar.
— Eu senti um medo tão profundo… e intenso! Que era difícil até mesmo de respirar! — continuou ela, com a sua voz soando ainda mais aflita. — E após ouvir diversos silvos e gritos estridentes, percebi que apenas o meu peito doía. Em seguida, minha visão escureceu, o meu corpo estremeceu, e por fim, eu… eu…
Lágrimas rolaram de seu rosto entorpecido pelo desespero, e enquanto ela tentava se livrar do medo que a consumia; Catherine a envolveu em um abraçou ainda mais apertado e aconchegante.
— Foi só um sonho, Princesa. Só um sonho! — disse ela, bem próxima de seu ouvido. — Nada disso é real!
Ela apertou o corpo da primeira com ainda mais intensidade, e completou enquanto as suas lágrimas também caiam:
— Você está segura, Princesa. Ouviu?! Segura! Eu vou te manter segura!
Ela ergueu o seu rosto e encarou — com os seus olhos cheios de raiva — a entidade sorridente que as observava.
“Eu não vou deixá-la ser consumida pelo desespero, Presença do Medo!”, proclamou a garota, decidida, enquanto fitava a criatura. “Desta vez, eu não deixarei ela morrer!”