Internet Cjaos - Capítulo 2
Os dois amigos olhavam um para o outro sem saber o que fazer em seguida. Até que dois aparelhos eletrônicos na caixa começaram a emitir um barulho de alarme. Ambos os dispositivos possuíam uma tela e dois botões na parte de baixa, um marcado com um Y e o outro com um N.
— Qual o plano? — indagou Mike para o seu amigo, igualmente perdido.
Charlie apenas o encarou no fundo dos olhos e não disse uma única palavra. Seu olhar era o suficiente para transmitir tudo o que desejava. Mike rangeu os dentes e voltou sua atenção para o dispositivo que segurava em sua mão.
Era um display de mensagens eletrônicas muito antigo, com uma tela verde que acendia conforme as letras passavam. Os dois botões não ajudavam muito a operar o aparelho. Nem mesmo a marca desenhada no verso era de conhecimento de nenhum dos dois, dizia “Nyrzyr Industries”, fabricado no ano de 1972, lote número 2.
— Vou repetir minha pergunta Charlie, tudo isso está me deixando preocupado. Qual é o plano? — perguntou Mike novamente.
— Não sei — respondeu em um tom frio sem ao menos voltar o olhar ao seu amigo, sua atenção estava vidrada no objeto em suas mãos.
O dispositivo de Charlie emitiu um único bite agudo e começou a transmitir uma mensagem na tela: “Olá sujeito número 1509, nós da U.E.E.I ficamos felizes que tenha requisitado sua inscrição no programa imperial de recrutamento de novos talentos, em breve daremos mais informações sobre o local e a hora que deve comparecer para iniciar a seleção.”
— Você também recebeu um número? — questionou Mike, que olhava para o seu próprio aparelho, enquanto lia a sua mensagem.
— Número 1509, e você?
— Número 1511, não parece tão ruim.
— Nossos números estão separados por apenas um dígito. Agora me pergunto quem é o sujeito número 1510. Os números são atribuídos por ordem de chegada? Ou são totalmente aleatórios?
— Perguntas para as quais não temos respostas. Pare de questionar o que não importa. Primeiro, precisamos saber: “Quem é seu pai?” Charlie, desculpe, mas ele o abandonou. Você realmente quer confiar nele e entrar nisso? Pode ser qualquer coisa, desde tráfico de órgãos até recrutamento de terroristas extremistas.
— Minha mãe confiava nele… E eu farei o mesmo…
Mike suspirou. Seu amigo, normalmente racional, estava deixando as emoções tomarem conta. Ele procurou um argumento para fazer Charlie pensar com clareza, mas não encontrou nada. Só podia esperar pelo momento certo, quando Charlie usasse a cabeça em vez do coração.
— Está bem, podemos seguir com isso, mas podemos sair desse porão? Essa poeira está acabando comigo. Você não limpa essa bodega há quase um ano — reclamou Mike enquanto espirrava.
— A pior parte é ficar sem jogar nada… Acho que sou um viciado. Estar sem internet está me matando por dentro — disse Charlie, rindo enquanto subia as escadas de volta para a cozinha.
Ele olhou para o relógio pendurado na porta da cozinha, parte da coleção de seu pai. Ainda não eram seis da manhã, e o dia nublado contribuía para a melancolia.
Mike entendia os sentimentos de Charlie: ódio, ressentimento, alegria e ansiedade. Sabia que tinha que auxiliar o amigo a manter a sanidade.
— Estamos sem internet, não sem energia. Você não tem nenhum jogo offline no computador?
Charlie olhou para Mike, pensativo.
— É verdade, parece uma boa ideia.
— Sempre tenho as melhores ideias… — Mike piscou. — Bem, tenho que ir para casa. Levarei isso comigo. Seja lá o que for. — Apontou ele para o objeto eletrônico que segurava.
— Você não precisa fazer isso por mim, posso encarar isso sozinho.
— Não estou fazendo isso por você. Se os rumores forem verdadeiros, estou escolhendo o melhor futuro. É bom encontrar ordem no caos que está por vir.
— Há um minuto, alguém sugeriu sobre uma organização de tráfico de órgãos.
— Não se preocupe. Se for necessário, entrego os seus. — Mike brincou.
— Muito engraçado. Estou morrendo de rir.
Mike deu um último sorriso e foi embora. Charlie, agora sozinho, deitou-se no sofá, reflexivo sobre qual era a melhor decisão a se tomar, seu pai sumira por quase dez anos e do nada resolveu reatar o relacionamento com ele. Se bem que, não foi assim tão do nada… O mundo estava caótico, se realmente haviam explodido uma bomba de cobalto em São Francisco e a internet global havia caído após tais eventos, existia, sim, um forte motivo de seu pai o contatá-lo. Mas agora, só restava esperar o que iria acontecer.
Seus olhos se fecharam vagarosamente, não houve nenhuma resistência da parte dele para não pegar no sono. Charlie só acordou devido ao barulho super alto dos bipes incessantes do dispositivo eletrônico que havia deixado na cabeceira do sofá.
Ainda meio sonolento, ergueu-se e verificou o horário. Já passava do meio-dia; dormira por mais de seis horas, algo incomum em sua rotina. Eram raras às vezes que conseguia quatro horas de sono por noite, então momentos como aquele eram preciosos para compensar o déficit acumulado.
Uma nova mensagem apareceu: “Olá sujeito número 1509, os drones da UEEI entregarão em breve o pacote básico do kit de sobrevivência do recruta, isso inclui: mudas de roupas padronizadas no seu tamanho, suprimentos básicos para quatro dias, cinco litros de água que devem ser racionados em caso de emergência e um documento sobre o local de pouso do veículo que o levará até a nossa base, fique atento aos céus. Tenha um bom dia e lembre-se: O Império sempre vem primeiro!”
— Mas que… — Charlie se conteve de dizer o que desejava com um longo suspiro.
Seu dia estava apenas começando, o pior ainda estava por vir.