Invoker - Capítulo 4.2
O cheiro de sangue sufocava suas narinas, a sensação de sapatos molhados e o ouvir do gotejar alheio, essas eram as sensações que Allister tinha quando acordou, seus olhos estavam vendados, a escuridão tomava conta, ele sabia que estava sentado, porém amarrado, havia um aperto em seu pulso esquerdo, e sua boca estava tampada, talvez com algum tipo de magia, mas ele não sabia o quê.
Um ruído começou a ser ouvido, era fraco, mas perceptível, eram pessoas conversando, o tom parecia de agressividade, porém não era possível entender precisamente o que estava sendo dito.
Allister teve a brilhante ideia de se balançar, mesmo não tendo a visão do que estava em seu lado, seus pés tinham um pouco de movimentação, podendo forçar a corda, ele bateu o pé na perna que logo se rompeu, o derrubando porém chamando mais atenção que o desejável.
— Você acordou— Disse uma voz calma.
As vendas de Allister foram retiradas, era Linea que estava a sua frente.
— Linea, me desamarre, eu vou te derrotar aqui e agora.
Linea prontamente obedeceu, e quando Allister estava livre, ele pulou da cadeira, seu foco era achar uma saída daquele local, ele olhava para os cantos e não via nada além de paredes.
—Eu usei magia em você, não tem como ver nem perceber a porta.
Allister ficou impressionado, ele tinha um grande oponente a sua frente, mas mesmo assim em sua mente ele precisava passar por aquele desafio.
Ele levantou as mãos direcionando a palma da mão direita a Linea enquanto a mão esquerda servia de apoio, um golpe forte estava por vir, Allister começou a carregar um pouco de mana, uma bola de luz começou a se formar, Linea via aquilo sem mover um músculo, como se ela não se importasse com o que estava ocorrendo.
A bola ficou com o tamanho da palma da mão, então ele disparou, sem nomear e sem linguagem rúnica, a velocidade daquele golpe era surpreendente, nem um olho humano conseguia acompanhar.
Linea recebeu o golpe com força, causando uma cortina de fumaça, Allister estava atento, em modo de combate, pronto para rebater com socos, eis que da fumaça surge um vulto, Allister consegue com sua velocidade rebater o soco, porém seu corpo sente um peso muito acima, em seguida o ele recebe o impacto do ar que foi acelerado, o jogando para a parede.
Linea havia acabado de dar um soco com magia de aceleração, jogando parte do ar a sua frente em formato de vários socos, acertando em cheio seu oponente, um golpe formado tanto pela habilidade quanto pela estratégia.
Allister se levantou da parede ativando novamente 3 circulos, suas mãos começaram a fluir em chamas, bolhas de ar começaram a aparecer em volta de seu corpo, e eletricidade começou a irradiar de suas vestes, Alister correu pra cima de Linea, que se preparou para receber aquele golpe, era possível notar um sorriso saindo de seu rosto.
Allister foi com tudo, e quando o soco iria atingir Linea, ela revidou com um soco também, o impacto gerou uma onda de choque, quebrando tudo o que havia de frágil naquela sala, Allister sentiu o pulso e logo recebeu uma onda de ar, o jogando novamente em direção a parede, Linea seguiu o corpo sendo repelido e aplicou um gancho , mudando a trajetória de Allister para o teto, porém antes de que ele pudesse acertar aquele concreto todo, seu corpo parou, o cheiro de rosas tomou conta da sala, Allister logo identificou que Selena havia chegado.
— Pare com isso, Linea.
— Ele precisa apanhar.
— E com isso ele vai passar a confiar em nós? só está gerando o efeito contrário.
Allister estava com medo, seus pensamentos estavam confusos e ele queria fugir dali.
— Vamos deixá-lo ir, eu quem sempre estrago tudo.—Disse Selena, olhando fixamente para Linea.
Selena estava com um semblante bastante triste, o que logo foi sentido por Allister.
— Por que? Vocês duas só me trataram mal desde que cheguei, por que?—Retrucou o invocador, com uma certa raiva.
— Desculpa, eu achei que éramos amigos, mas só invadi seu espaço.— Disse Selena, numa voz seca e com um olhar sério.
Ele se acalmou instantaneamente. Selena desceu e ao estalar os dedos uma porta de saída apareceu.
— Vocês….. não querem me prender? não são espiãs?—Retrucou Allister confuso
— Não, pode ir, está livre.— Disse Selena baixando a cabeça e apontando para a porta
Allister se levantou e correu para a porta, ao abrir ele olhou para trás e viu Linea abraçando Selena, o rosto da maga era de profunda tristeza, algumas lágrimas saindo e seus braços devolvendo o calor que Linea estava lhe passando.
— Desculpa.— Disse Linea num tom entristecido e quase em torno de lágrimas.
Allister começou a refletir sobre tudo, ele fechou a porta e ficou andando, o cheiro de gaze e soro fisiológico voltou a suas narinas, porém sua mente estava muito estranha, ele parecia querer ficar com as meninas, mas outra parte dizia para ele sumir, pois foi atacado.
ele se sentou em um banco e ficou pensando no que havia acontecido, muitas perguntas estavam no ar, nenhuma resposta, sua mente doía de tanta informação a processar, mas uma frase começou a pipocar diversas e diversas vezes.
“Um coração que tem vontades, é um coração que vale a pena ouvir”
Sua cuidadora, a quem ele deve muito foi quem lhe falou essa frase, dizia que pessoas loucas são as melhores em suas aventuras, pois elas tem vontades próprias, não são controladas nem são ovelhas que seguem o que o pasto determina.
Allister estava se sentindo um pouco mal, mas ele respirou fundo e disse em voz baixa.
— Eu sou louco mesmo,acho que sem elas minhas aventuras serão monótonas, preciso delas ao meu lado.
Ele se levantou e voltou a sala onde havia deixado Linea e Selena, ele sentia que sua cuidadora estava lhe dando um abraço e sorrindo, como se ela estivesse orgulhosa dele pela atitude, mas no final era só uma sensação que ele tinha por conhecer bem a pessoa que o criou.
Ao entrar correndo pela porta, Allister agarrou Selena e lhe deu um abraço forte, a garota assustada deu uns dois tapas com a mão esquerda e um com a direta até perceber que era Allister, Linea que no movimento foi jogada no chão, se levantou e abraçou os dois.
— No final das contas eu sou bem louco mesmo, eu não sei nada de relações humanas, eu vivi com apenas quem me criou, eu não sou comum, e nem vocês, mas espero mesmo poder contar com vocês no futuro.— Disse Allister com uma calma no coração
Selena sorriu e começou a chorar mais forte, mas era de alívio, Linea ficou abraçada aos dois.
Depois de um tempo, o trio saiu daquela sala e foram para uma sala com macas intactas, ao chegarem, Allister sentou na primeira maca, Selena ficou de pé e Linea se sentou numa cadeira.
— Por que você voltou? achei que eu era um estorvo.— Disse Selena curiosa
— Você só pareceu, mas acho que eu também não conversei direito contigo, eu fui babaca também.
Linea levantou e se curvou:
— Nunca mais brigo com você, desculpa.
Selena sorriu, então o trio ficou conversando sobre o mundo, estreitando as relações e melhorando a convivência, o coração de Allister voltou ao seu normal e um calor em seu corpo começou a subir, era o sentimento de pertencimento, ele talvez poderia ter encontrado pessoas que se importam com ele.