Ithy - Sombras de Eberus - Prólogo
O vento assobiava, fazendo a janela de madeira bater. O quarto, quase sem mobília, revelava bem o quão humilde aquela residência era. Uma névoa violeta invadia o ambiente, cobrindo o piso.
Na cama, um casal dormia. Um leve rangido sinalizou que a porta do quarto se abrira. Uma garotinha com laços em suas tranças, usando um vestido de bolinhas, segurava uma faca em sua mão. Ela entrou desajeitadamente, balbuciando frases incompreensíveis.
A pequena criança não aparentava ter mais do que sete ou oito anos. Ela alcançou a cama, subiu com cuidado para não os acordar, olhou para a porta, sorriu, ergueu a lâmina e começou a golpear o peito do homem, que acordou com um urro de dor.
Os olhos do homem a encaravam fixamente, enquanto sentia sua vida deixando o corpo. A mulher, que acordou assustada, foi a próxima. Antes que pudesse se levantar, a garotinha saltou sobre ela, acertando a faca várias vezes.
Após terminar de tirar aquelas vidas, a pequena caminhou até o lado do guarda-roupa, sentou-se no chão e começou a brincar com uma boneca de pano, que lhe fora entregue por uma mão de dedos compridos e finos.
Horas se passaram e amanheceu quando dois homens adentraram o quarto. Um deles era alto, com o rosto quadrado e uma barba falhada e mal feita. Segurava um pedaço de capim na boca. O outro era um anão de barba longa e branca, assim como sua única trança solitária na cabeça raspada, exibindo desenhos de runas.
— Que porra é essa? — Exclamou o anão.
— Salim, como te informei a caminho daqui. A praga atacou de novo.
Salim caminhou até a cama, passando pela garota que os ignorava, mas eles agiam como se não a vissem sentada com sua boneca.
— Sempre me pergunto por que tem dois carneiros mortos em cima da cama e o que aconteceu com os Lopes.
— Droga, vamos limpar essa bagunça e esperar que o grã-mestre de Carcovíck cuide disso, — falou o Salim analisando um símbolo circular com uma estrela de cinco pontas dentro, estava brilhando em violeta. — Pedro, preciso que me ajude com os vagabundos curiosos da vila.
— Claro!
O velho anão se afastou e foi até o guarda-roupa, sentiu um calafrio percorrer a espinha. Olhou ao redor e não via nada além de Pedro, verificando tudo o que podia próximo aos cadáveres.
— Garoto sonso, devemos ser rápidos para limpar essa bagunça, estou sentindo um Ithy maligno, — disse Salim ao lado da criança, que se levantou.
— A mamãe e o papai poderão brincar comigo o dia todo agora? — Perguntou a pequena olhando para cima.
Ela acabara de dar a mão para uma criatura humanoide alta, estava coberta por um vestido velho longo, seus capelos estavam escorridos como se estivessem molhados, seus braços eram finos e alongados, fazendo com que os dedos quase tocassem o chão. O rosto, se que aquilo tinha um, não possuía olhos e nem nariz, apenas uma enorme boca arqueada com dentes pontiagudos.
— Brincarão, sim, minha pequenina, — respondeu à criatura com uma voz meiga e feminina.
A menina sorriu, soltou a faca no chão e pegou sua boneca, em seguida acompanhou o monstro que a guiava para fora do cômodo e depois da casa, onde várias pessoas estava esperando Pedro e Salim saírem, porem nenhum deles pareciam seque notar a presença das duas passando por entre eles.
Não demorou para elas chegarem até a entrada da floresta por onde seguiram.