O Mistério das Realidades Alternativas - Capítulo 11

Era começo de tarde, o sol estava escaldante. Eles conseguiam sentir seus corpos ficando quentes e o suor invadindo os olhos, incomodando sua caminhada e suas gargantas ficando secas, por falta de hidratação, seguido com o céu rosado e a pequena lua no horizonte, sinalizando que a próxima noite seria de lua cheia.

Jack, Jhenefer e Michel estavam chegando na entrada do labirinto. Ao longe, havia uma armadura reluzindo ao sol, um sujeito de cabelos grisalhos e com barba já esbranquiçada, que aparentava ter seus 50 anos e 1,60 metros de altura com sua armadura completa. Ao que parecia, era realmente bem similar com as do período medieval, mas nada em especial que poderia diferenciar a Terra-3 da Terra-1.

– Ei! Quem são vocês? – Berrou o homem que demonstrava raiva em demasia um rosto endurecido como se já quisesse estrangular ou socar qualquer um à sua frente. Seu corpo baixo e acima do peso o fazia ser motivo de piadas constantes, entretanto, em vez de suportar ele simplesmente espancava qualquer um que o zombava.

“É, pelo que vejo, não será fácil de entrar. Acho que será pior ainda na saída. ”

Pensou Jhenefer, preocupada com a aparência furiosa do mesmo.

Assim que se aproximaram, o céu escureceu por alguns segundos e um feixe de luz arroxeado  o cruzou. Naquele momento, Jack sentiu um desconforto no corpo e no peito. Estranhando a reação do físico, seu inconsciente começou gradativamente a entrar em desespero, pois algo anormal havia acontecido.

“O que está acontecendo com meu corpo?” Pensou em um tom elevado de preocupação e impaciência.

– O que crianças como vocês querem por essas bandas? Sabem onde estão por acaso? – Disse o guarda com a expressão fechada e os olhos arregalados para o grupo, que reagiram de maneira assustada, afastando-se do mesmo, que aparentava sempre seus picos de exaltação.

– Senhor, boa tarde! Viemos de muito longe, passamos por uma longa floresta em dois dias e estamos cansados da viagem. E ainda por cima, estou tão impaciente que não iria ousar presenciar. Só queremos entrar logo neste maldito labirinto, treinar e sair, de preferência vivos.

– Podem dar meia volta. Vocês sabem o que é esse labirinto? Simplesmente o mais aterrorizante e sangrento lugar em que uma pessoa pode se treinar. Não é impossível de sair, mas se conseguirem, vão ser apenas de duas maneiras: mortos ou quase mortos e invalidados. Poucos ainda conseguem sair andando, mas ainda assim, todos ficam dilacerados.

– É o seguinte, a atendente da guilda nos informou sobre isso, nos disse que esse é o único lugar para pessoas como nós. A indicação dela não foi o que eu esperava, mas nós obrigatoriamente aceitamos. Então, nos deixe passar – Retrucou com certo autoritarismo já ficando agitado com a situação.

– E quem seriam vocês afinal? O que eu percebo são três imundos plebeus que se acham corajosos só por terem cruzado uma floresta – Perguntou o homem intrigado pela falta de intimidação que o garoto demonstrava à sua frente, e isso o fazia ficar mais enraivado.

Naquele instante, Jack fechou sua expressão e  fixou seus olhos no homem à sua frente, esses que surpreendente começaram a brilhar, gerando um feixe de luz em larga escala. O homem que estava em sua frente caiu sentado no chão com olhos arregalados e boquiaberto com saliva escorrendo lentamente pelos cantos dos seus lábios, ele literalmente havia se esborrachado no chão, os lugares abertos onde a armadura não alcança ficaram levemente machucados, alguns arranhões mínimos cobriram seus braços e joelhos do forte baque no chão, e ele praticamente sussurrou em um lapso de incredibilidade e um misto de confusão mental, em um tom assustado:

– Não me diga que vocês são…

– Exatamente o que pensou. Então pare de ficar nos encarando achando que somos meros plebeus desta sua terra de merda.

– Vocês são as reencarnações dos magos?

– Se quiser, posso mostrar outra prova. Não acho que seria necessário, mas você está meio que pedindo por isso – Encarou severamente o homem com uma expressão que o fazia frenético e assustador, porém, ele não estava em uma condição mental que poderia se considerar calmo.

Sem saber se era mesmo aquilo que pensava ou só uma leve especulação, rapidamente levantou a sua camisa de cor amarronzada clara, demonstrando outra esperada prova na esperança do homem ver que toda aquela situação era realmente verídica

– Agora percebi o porquê desse nível de astúcia e atrevimento, você é a reencarnação do mago da sabedoria elevada, mesmo que ainda não pareça nem um pouco que tem algum conhecimento nessa sua cabeça de vento.

– Está me chamando de burro, velhote? Eu ainda não sei nada sobre esse “mago da sabedoria” ou sei lá o que, mas se for preciso passar por cima de alguém, isso eu faço sem pensar duas vezes.

– Que bicho te mordeu, garoto? Está muito audacioso para alguém da sua idade! Você deve ter o que, quinze anos? – Indagou tentando demonstrar superioridade pela sua idade e sabedoria, com um rosto expressando dúvida, mas não se arrependendo por sua parte.

– Para sua informação, temos dezesseis anos. Se acha que pode nos impedir, pode tirar seu cavalinho da chuva, ou mais simples, só tirar seu lindo corpo da entrada já nos ajuda.

– Ora seu… Como ousa me enfrentar com tamanho desrespeito, quer morrer seu fedelho imundo? – Gritou em uma raiva tremenda e rosto avermelhado com suas veias saltando, os olhos esbugalhados, pronto para matá-lo ali mesmo.

– Durma. – Disse uma voz misteriosa fazendo o homem disparar de uma vez no chão, assim dormindo profundamente.

– Quê? O que foi isso? Ele dormiu?– Se perguntou assustado pela reação inesperada.

– Avancem logo vocês três, não temos tempo para jogar conversa fora. Lembre-se que vão passar dias aí dentro, então quanto mais cedo entrar, mais cedo vão sair – Disse a criatura dentro de Jack, o fazendo engolir a sua saliva e concordar com o mesmo.

– Vamos gente! Vocês ouviram ele, teremos que fazer tudo com muita rapidez!

– Certo, vamos.

– Antes de entrarem, preciso alertá-los de algo. Nós somos criaturas criadas a partir dos poderes e memórias dos magos antigos. Como eles passaram e lutaram em vários universos, seus poderes se esvaíram e foram retirados à força deles. Por consequência, nossos resquícios de memória ficaram espalhados pelos universos. Concluindo, vocês precisarão recuperá-los para conseguir usar os poderes em sua força total.

– Então como vamos aprender alguma coisa se nem vocês mesmos se lembram? – Indagou já enfurecido por receber tal informação logo em cima da hora.

– Nós ainda possuímos o começo das memórias deles, de como aprender o básico dos poderes. Porém, o modo de como usar vai depender unicamente das imaginações de vocês, os resquícios de memória vão ajudá-los a elevar o nível de poder, mas não dará novas habilidades. Contudo, tem um lado bom. Com eles vocês vão ter as mesmas lembranças deles, saber como era a vida e o modo que usavam os poderes. Entretanto não poderão usar os mesmos, terão que criar as suas próprias habilidades.

– Vocês são um pé no saco – Retrucou indignado.

No momento em que entraram, conseguia-se sentir o cheiro de sangue por todo o chão, e isso os fez se deixarem mais cautelosos e amedrontados, pois não sabiam o que, nem quem encontrariam naquele local misterioso e inexplorado. O cheiro de podridão invadia suas narinas, Michel sentiu um revertério em seu estômago, Jack encolheu-se e Jhenefer deixou suas pernas fraquejarem por um instante, os três sentiram-se desconfortáveis com a forma que o local se apresentava para eles, destruindo seus últimos resquícios de esperança de que sairiam com vida daquele labirinto.

– Certo, agora que já entraram, vamos liberar a primeira memória para vocês. Com ela vão saber como usar os poderes de seus elementos. Fechem os olhos, e só abram novamente quando o processo estiver finalizado.

Eles fecharam os olhos e se concentraram, assim que a memória era liberada, começaram a brilhar lentamente demonstrando que o processo estava em andamento. Depois de alguns minutos, seus olhos voltaram ao normal e os abriram novamente, como se estivessem nascendo de novo.

– Ele era assim quando tinha minha idade? Agora sei o porquê do nome dele, realmente combina com a personalidade. Wisdom high né, nomezinho esquisito esse, porém é a cara dele – Disse Jack um tanto surpreso, mas pelo nome em sí do que pelos poderes.

– O nome da minha maga era Thinker Skillful, é difícil de pronunciar. Mas ela era uma mulher bem sábia e esperta. Pena que só vimos o começo da adolescência deles – Afirmou Jhenefer curiosa para saber mais informações.

– A minha reencarnação… Eu já estava esperando que fosse igual a mim. Nome de quem gosta de lutar, Heated Fighter. Sinceramente? Gostei dele – Terminou Michel, que por algum motivo, se sentia animado.

– Temos um aviso para vocês. De acordo com a progressão que forem ter, as personalidades irão mudar aos poucos, pois seus subconscientes estão com memórias de duas pessoas diferentes, então uma hora elas vão se fundir, formando uma só. Não é só o conhecimento dos poderes que vão adquirir, mas as personalidades também, o que é bom já que essas de vocês não são boas para crianças dessa idade.

– Isso você não tinha nos dito antes. Por que nos disse agora?

– Vocês não precisavam saber disso, mas vão descobrir por conta própria… Nos seus sonhos futuros.

– Não está dizendo coisa com coisa. Mas dos poderes pelo o que entendi, podemos usar tanto a nossa magia quanto tudo ao nosso redor, e também modelar a forma que é liberada. Mas o que foi isso? Como eu consegui falar tudo isso? – Perguntou assustado pelas palavras súbitas que pronunciou sem ter ideia alguma do que eram.

– A memória dele já está fazendo efeito em você, meu jovem. Acostume-se com isso. Mas é exatamente assim que vão usar seus poderes.

– Agora sei por que você nos disse para criar nossas próprias técnicas. As que eles criaram eram proibidas, certo?

– Exatamente! Por esse motivo eles eram um tanto quanto temidos em alguns universos, exatamente porque eram fortes demais e possuíam técnicas proibidas.

– Bom, vamos começar logo com isso. Quero ver como isso funciona na prática. Vocês dois também, dêem o seu melhor nisso para sairmos daqui juntos e vivos.

– Está certo! – Respondeu os dois confiando em seu melhor amigo.

Realidade média, Terra 03, Labirinto.

Eles conseguiram entrar com sucesso no local de treinamento, mas não sabendo se iriam sair dali vivos ou mortos. Como passariam mais de uma semana naquele lugar, exigiria uma mudança drástica nas atitudes e nas decisões, isso iria decidir todo o jogo. Eles passaram pelos primeiros três corredores sem grande dificuldade, já achando que seria fácil pois nada ali os ameaçava naquele momento. Porém, algo inesperado aconteceu.

– Vocês escutaram? – Indagou Jack focando a sua audição aos arredores.

– Sim, escutei.  Mas foi baixo – Respondeu Jhenefer, tirando a dúvida do seu amigo.

– Será que é um monstro? Se for, deve ser pequeno. Nós estamos no fácil, não faria sentido se ele fosse muito forte. – Disse Michel argumentando sobre o misterioso som que o fez arrepiar.

– Vamos seguir em frente com cuidado e alerta – Pronunciou para seus dois amigos, que estavam com os nervos à flor da pele.

Em um rápido movimento de pernas, eis que o monstro surgiu. Esse que era totalmente de pedra com mais de dois metros de altura e quase um metro de largura. Era quase como um ser humanoide feito de pedregulhos, rochas extensas e com suas formas totalmente diferentes umas das outras. Antes que o monstro os acertasse de primeira, eles conseguiram se esquivar por sorte e correr o mais rápido que podiam.

– O que? Um monstro de pedra, e dessa altura? Tem certeza que estamos no modo fácil aqui? – Gritou Michel desesperadamente enquanto corria freneticamente do monstro, que estava a alguns centímetros deles.

– Não é porque estamos no fácil que quer dizer literalmente fácil. Esse monstro deve ser o mais fraco por estar logo no começo, mas não quer dizer que para a gente ele é fraco. – Respondeu Jack na mesma situação do seu amigo.

Antes que eles conseguissem escapar, o monstro deu um pulo gigante no ar, como se estivesse voando, e aterrissou quase acima deles. Mas o impacto foi tremendo que os fez apagarem por um instante.

–Wisdom… Wisdom, não tenha medo, eu sou a sua protetora, não vou deixar nada te abalar. – Disse uma voz feminina e leve na sua mente.

– Não temas Wisdom… a sua ganância está contigo em todo lugar onde for, eu sou a sua melhor companheira. – Falou outra voz feminina, essa que era mais carismática e perspicaz.

– Protetora? Ganância? O que é isso, quem está falando comigo?– Indagou com as vozes em sua cabeça. Ele estava começando a se perder em meio aos seus devaneios mentais.

– Eu sou a sua proteção, eu sou a lua minguante que vai iluminar teus caminhos para a vitória. – Falou a primeira voz, como se quisesse tranquilizá-lo e motivá-lo à algo.

– Eu sou a sua ganância, eu sou a sua lua nova, aquela que vai conseguir qualquer luz, não importa onde esteja e pegarei só para você. – Falou a segunda voz, como se quisesse tudo para ela e mais ninguém.

– O quê? Quem são vocês? De quem são essas vozes?

– Nós somos a metade uma da outra, mas com você, nos completamos. Somos suas luas.

Continua…