O Mistério das Realidades Alternativas - Capítulo 2
Logo após a ligação de sua suposta mãe, Jack retornou o seu trauma que tentou aprisionar durante tanto tempo. Sua cabeça parecia uma tempestade turbulenta, e ele, era só um barco, no meio de tantas dores e incógnitas. A sua avó que percebeu todo o alarde, foi ao amparo de seu neto, com a intenção de tentar entendê-lo e aliviá-lo:
— Jack, Jack, o que aconteceu? Por que você está assim? — indagou preocupada pela situação desesperadora.
— Uma mulher que dizia ser a minha mãe acabou de ligar. Ela sabia meu nome e disse que foram eles que me deram. — disse choramingando deitado no chão acanhado.
Depois da resposta, a avó se ajoelhou perto dele e o colocou em seu colo cuidadosamente, passando a mão levemente em seus cabelos meio espetados curtos, o fazendo acalmar um pouco e parar de chorar, porém, ainda soluçando em pequenos intervalos:
— Ela falou qual era o nome dela?
— Não, só disse que era a minha mãe.
— Então não precisa levar a sério. Pode ser qualquer uma outra pessoa passando um trote, não e se pode acreditar em tudo que dizem. Relaxe um pouco e vá sair com seus amigos para aliviar a mente e se distrair.
— Tudo bem, obrigado vó.
— Não tem de que meu filho.
Um tempo se passou, Jack se preparou e foi dar uma volta pelo bairro com Jhenefer e Michel. Ambos estavam preocupados pelo seu estado físico e mental, pois sabiam que ele era emocionalmente instável. As ruas por onde andavam eram cheias de ladrilhos quadrados bem arrumados. As casas eram todas com dois andares de telhados triangulares.
As crianças andavam e corriam soltas por algumas ruas, pois mal passava carro por ali e era estrada de pedestres, que dava acesso ao parque central. Era lá que Jack, Jhenefer e Michel se reuniam para brincar, descansar e descarregar as mágoas e tristezas da vida. A casa de madeira era o lugar preferido deles, pois ali, poderiam se isolar de tudo e todo mundo. Era um mundo escondido da terra o qual só eles tinham acesso.
— Agora conte para gente. O que aconteceu para você ficar nesse estado melancólico? Parece que viu a morte de perto! — Jhenefer perguntou iniciando a conversa.
— Tenho certeza que foi algo pior que a morte, para você ficar assim igual era antes… só algo de muito ruim aconteceu. — Michel continuou também estranhando o comportamento desde mais cedo de Jack.
— Algo que eu nunca poderia esperar aconteceu, ou foi apenas alguém querendo me fazer sofrer. Uma mulher ligou para a minha casa dizendo que era a minha mãe, e que foi ela que me deu esse nome incomum.
Jhenefer ficou sem palavras, e Michel triste, pois sabiam da história por trás de seu nascimento, e eles foram os únicos a ficarem do lado dele durante anos o protegendo de tudo o que era ruim e de todos que tentavam fazer mal contra ele. Depois de Jack dizer o que havia acontecido, começou a chorar novamente, mas não tão agitado igual a última vez.
— Pela a sua reação, você logicamente, acreditou, né? — perguntou Jhenefer retoricamente triste pelo o seu amigo, que havia parecido ter caído em alguma pegadinha de alguém ou em um trote.
— Se eu fosse você, esqueceria essa ligação e tocaria novamente a vida como se isso nem tivesse acontecido. — disse Michel também chateado, porém, com alguma raiva dentro de si por maltratarem seu amigo.
— Se eu pudesse, queria estar em uma família diferente, pois eu teria pais melhores e talvez até irmãos que eu poderia me divertir sem ter que ficar preocupado com as pessoas me julgando.
— Ousado em! Não imaginava que esse seria o seu desejo. — retrucou Michel.
— Mas é só um simples pensamento. Não é como se eu pudesse criar uma família do zero ou simplesmente ir para outra. Entretanto, se isso acontecesse seria ótimo.
— Cuidado com os seus desejos, eles podem se realizar. — alertou Jhenefer preocupada ainda mais com os sentimentos e desejos de Jack aflorando de uma forma que se era compreensível, mas doloroso de se pensar.
— Vamos mudar de assunto, está muito melancólico por aqui. — disse Michel em um grito espantando os seus amigos, que mudaram de expressão num instante. — O seu aniversário está chegando, já pensou em o que vamos fazer?
— Acho que a minha avó vai fazer só um simples bolo, igual aos anos anteriores. Não é como se eu fosse ganhar uma grande festa de aniversário. — Jack retrucou meio entristecido com o fato de não conseguir ter mais amigos além do que era esperado por ele mesmo.
— Bom, muita coisa pode acontecer, não é mesmo? — indagou Michel intrigado pela reação de seu amigo.
— Claro! Já se passaram dezesseis anos, precisamos fazer algo grande e novo, você não acha? — Jhenefer indagou para Jack, com esperanças que ele elevasse a ansiedade e ficasse mais alegre com o momento, mas nem tudo era sucesso garantido.
— Vocês dois já são meus presentes mais valiosos, e eu não poderia querer mais nada além disso. — falou Jack com um grande amor único em seu coração pelos dois, pois ele sabia que aquelas pessoas mudaram a sua vida assim que chegaram nela, e depois disso foi um carrossel de sentimentos únicos e contagiantes.
Jhenefer tinha quinze anos e era muito inteligente e estudiosa, tanto que ela desde pequena havia aprendido a falar inglês e francês, pois viajava com frequência com os seus pais e aprendeu os idiomas na escola e nas suas viagens. Depois que conheceu Jack, sua vida mudou completamente, pois ele abriu portas para sentimentos nunca antes vistos por ela.
Michel, o mais extrovertido, tinha a mesma idade de Jhenefer, considerado quase um irmão dela, pois eles só eram uma semana mais velho que o outro e também eram bem próximos. Ele era um garoto energético e com um temperamento elevado de vez em quando, e, ao contrário dela, adorava jogar bola e basquete, e tinha um sonho de ser o melhor e maior jogador de futebol do mundo.
Depois daquela conversa, eles tentaram se planejar o máximo que conseguiam, e nisso, um mês se passou. Jack já havia esquecido sobre a suposta ligação de sua mãe e estava ansioso pelo o seu aniversário. Ele era um garoto que escondia tudo o que não gostava dentro de si, e dificilmente se abria com outras pessoas, a não ser seus dois amigos.
Finalmente chegou o dia, ele acordou mais disposto e com uma boa energia. A sua avó fez o café da manhã com torrada, dois ovos fritos e um bom café forte com leite quente contente que Jack estava comendo tudo com uma felicidade que ela julgou até estranho demais para o garoto, mas longe de ser ruim.
Ainda de manhã, ele foi dar uma volta pela vizinhança, mas como não era muito próximo dos vizinhos, alguns não o viram, muito menos o parabenizou, o que já começava a entristecer o garoto. Porém, sem perceber, Jhenefer e Michel o gritaram mais atrás dele, sinalizando a localização.
Um sorriso disfarçado tomou conta de sua expressão. A aura densa e triste foi substituída por uma leve e feliz, mas não tão grande. A manhã se passou, o sol forte deu lugar para as nuvens que inibiam o calor e sombra. Já era meio dia, hora do almoço.
— E então, o que quer comer no seu dia especial? — Jhenefer perguntou para Jack ansiosa para saber qual era o seu desejo no dia de seu aniversário.
— Não tenho nenhuma preferência, qualquer coisa já está de bom tamanho. — respondeu ao questionamento de sua amiga, que ficou decepcionada pela resposta. Jack não era um garoto de preferências, pelo menos, não até aquele presente momento. Ele não provava muitas coisas novas e quase sempre se alimentava do mesmo, mas com preparos diferentes a cada vez.
— Esse é o seu problema! Precisamos te levar para comer coisas novas. Ficar na mesmice é idiotice. — Michel retrucou a resposta dada por Jack para Jhenefer. — Acho que é isso o que vamos fazer hoje, te levar em lugares que você nunca foi para experimentar novos sabores.
— O quê? Você acha que eu sou rico por acaso para ir de lugar em lugar comendo tudo o que puder?
— Não se preocupe, tenho os meus contatos.
— Daquele celular que mais parece uma folha de ofício que fica dando problemas direto? Claro, vou acreditar.
— Ele custou caro só para você saber! Tive que deixar de comprar a minha bike para comprar o celular.
— Pelo o tanto que você gasta de concerto dele, já dava para comprar umas 3 bikes facinho.
— Isso não é importante agora. Não se preocupe com dinheiro, vamos ter que andar o dia inteiro, prepare-se para voltar gordo para casa.
— Se você está dizendo…
— Então vamos garotos? Já está passando do meio dia! — indagou Jhenefer chamando os dois para partirem.
A tarde passou lentamente. Os três foram em todos os lugares que imaginavam ter alguma especiaria diferenciada para Jack degustar, e foi um sucesso. O garoto conseguiu comer tanto que não aguentava andar de barriga cheia.
— Acho que hoje foi o dia que eu mais comi na vida, nem andar eu consigo.
— Mas é claro que não consegue, tem que esperar o corpo processar toda a comida primeiro. Vamos descansar em algum lugar.
Aquela tarde calorosa e divertida se passou. Jack por alguns momentos parecia estar pairando em seus sonhos mais profundos, estando ao lado dos seus amigos. Entretanto, mal sabia ele o que aquele final de dia iria lhe proporcionar. Tudo o que começa bom demais sempre estraga, e era por esse estrago que o garoto estava esperando, mas não deixava transparecer o sentimento.
A noite com o céu azul escuro com poucas luzes no céu transpareceu bem mais cedo que o esperado. Jack, Jhenefer e Michel partiram para a casa a fim de encerrar o dia juntos assistindo filmes e comendo porcarias, para contrariar. A rua de casa estava escura, sem ninguém por perto.
O medo era algo óbvio naquele momento, pois eram três jovens andando na rua sozinhos no escuro sem ninguém junto, e logicamente eles apressaram o passo para chegar em casa o mais rápido possível. Chegando na porta, o medo se passou, mas o mistério tomou conta. Todas as luzes estavam desligadas, porém eles entraram mesmo assim.
Nenhum barulho era emitido, nenhuma gota de suor ou fôlego excessivo era gerado. Chegando no corredor, eles tiraram os calçados e adentraram na casa de Jack:
— Vó? A senhora está em casa? — Jack indagou dando um leve grito na esperança de alguém responder.
— Estou aqui na cozinha, podem vir! — respondeu a senhora chamando o seu neto com uma voz alta.
Chegando lá, uma coisa inesperada aconteceu. A luz foi ligada e a avó junto com alguns vizinhos gritaram surpresa! Para Jack e os amigos, fazendo o mesmo levar um susto grande. Tudo aquilo não era nem de longe o esperado por ele, pois todos os aniversários anteriores não tiveram festa alguma, era só um bolo simples para comemorar a data.
Logo após serem surpreendidos, a festa começa. Músicas são tocadas, confetes são jogados pela casa e todos curtiam, e Jack se sentia feliz, pois percebeu que as pessoas na verdade estavam fazendo uma festa surpresa e não o abandonando. A noite durou por muitas horas, até que no final, a campainha tocou. Jack ja alegre, foi atender esperando que fosse outro convidado, mas foi surpreendido.
— Sabido? O que você está fazendo aqui a essa hora da noite? — Jack indagou para a pessoa a sua frente. O nome dele era sabido, e era um amigo da família há muitos anos. Ele acompanhou o crescimento de Jack e o auxiliou em algumas questões pessoais.
— Eu vim te trazer uma má notícia.
— E o que seria? Fale logo, estou ficando assustado!
— Seus pais sumiram!
— Que? O que você está dizendo? Eles me abandonaram assim que eu nasci, eu já sabia disso. Pare de falar bobagens e entre logo.
Vendo que o garoto não lavou a sério, Sabino segurou nos dois braços de Jack firmemente e olhou nos olhos do garoto. Naquele momento, lágrimas escorriam de seu rosto, pingando no chão.
— Me escute. Seus pais sumiram agora! Eles estavam vindo para cá, e eu estava perto deles quando desapareceram. Um círculo brilhou no chão de repente o fez com que eles desaparecessem. Por favor, acredite em mim!
Continua…