O Mistério das Realidades Alternativas - Capítulo 4
Em um passado não tão distante, existia um casal de jovens, um rapaz energético e amante da cultura jovem oriental, Otávio, de vinte anos e uma moça, Tereza de dezenove. Eles se conheceram tão novos por coincidência ao participarem de um encontro em um fliperama bastante popular entre os jovens da época.
Em um dia qualquer, o garoto havia se reunido com alguns amigos colegiais para ir em uma casa de animes e jogos, famosa naquela cidade onde vivia. Um grupo de meninas também tinha marcado de ir no mesmo local, porém, uma que foi forçada a ir, pois tinha adiado demais com as amigas. Era Tereza, também uma colegial.
Ela era uma garota experta e temperamental em algumas ocasiões. Entretanto, não sentia gosto em animes e nem em jogos, mas sim em livros de ficção com pegadas fora da realidade. Além de inteligente e pouco romântica, mas ignorada pela maioria dos meninos. Nesse dia, ambos os grupos se encontraram e resolveram se divertir juntos, mas Tereza não se sentia à vontade naquele lugar, entretanto, ficou ali em consideração as amigas.
Um tempo se passou, a jovem andava por ali só olhando as pessoas jogando e assistindo, mas ainda assim não via gosto, até que algo inesperado a deixou curiosa. Otávio, que estava longe dos amigos em outra sala, estava lendo um livro sobre viagens no tempo e isekais, algo que não fazia sentido nenhum, mas adorava.
Tereza ficou chocada em ver o garoto, pois tinha o mesmo gosto que ela por livros daquele tipo, algo que a maioria dos garotos que conhecia não possuía.
— Você… que livro é esse? — Perguntou para o garoto, que estava concentrado e imersivo na história.
— A.… oi, é um livro sobre viagem no tempo e realidades diferentes, tipo isekai — respondeu para a garota estranha — E quem seria você? Nunca a vi antes.
— Eu não curto muito vir em lugares assim, fui meio que forçada na real — deu uma rasa explicação sem responder as reais perguntas do menino — Eu vi que você gosta desses tipos de livros, também curto eles. Na verdade, é a minha paixão secreta.
— Entendo. Eu comecei a ler esses tipos de livros tem pouco tempo, uns dois há três meses, se não me engano. — Otávio explicou do porquê de ler livros do tipo, dando algumas poucas gargalhadas.
— Posso me juntar a você na leitura? Achei os temas curiosos.
— Não vejo problema. Claro, sente-se, fique à vontade.
Tereza sentou-se junto a Otávio, e os dois começaram a ler aquele enigmático e misterioso livro, ali, naquele lugar e dia. Foi quando eles se conheceram, conversaram e começaram a conversar mais vezes sobre o assunto. Os meses foram passando e passando, eles começaram a sair juntos, curtindo sempre as mesmas coisas e lugares.
As famílias gostaram da amizade, pois Tereza não era muito de sair com garotos, então a evolução com Otávio foi bem significativa. Ele curtia muito assistir animes e ler mangás estilo isekai. Já Tereza, lia livros sobre, como também novels, para se aproximar ainda mais do garoto, e assim, se apaixonando por ele. Depois de um ano com a amizade, acidentalmente Tereza engravidou de Otávio, sem nem ter feito relações sexuais com o mesmo.
Tudo era inexplicável, Otávio se via em um beco sem saída, pois ainda não tinha começado a trabalhar, e Tereza estava terminando de estudar, se preparando para a futura faculdade. A gravidez foi algo que abalou a todos de ambas as famílias, porém, o aborto não era uma opção, não naquele momento.
Perto do nascimento, eles foram forçados a se casarem e morarem na mesma casa, para criar o futuro filho, que se chamaria Jack Park. Jack vinha do nome Jackie Chan, um famoso ator que era mestre no kung fu na vida real tanto em filmes antigos quanto novos. Já Park vinha de Peter Parker, um herói dos quadrinhos que ainda jovem se dividia entre a vida de herói e a sofrida vida de universitário.
Faltando dias, um incidente aconteceu com o casal jovem. Eles tiveram que fazer uma escolha cruel por conta disso em relação ao futuro filho. Logo após o nascimento, a criança foi deixada para os avós maternos criarem, e os pais fugiram sem dar explicação e nem mesmo aparecerem.
Dezesseis anos se passaram, Otávio já estava com trinta e cinco anos, enquanto Tereza com trinta e seis. Ambos moravam em outro país, bem distante de todos da família e amigos, já trabalhavam em um bom emprego numa corporação de multimídia e não tiveram outros filhos, pois não tinham coragem o bastante.
— Tereza, já está perto dele fazer dezesseis anos, temos que ligar para ele, pelo menos para saber se está vivo ou morto.
— Mas e se aquele cara descobrir? Vai nos matar, você sabe disso! — respondeu aflita sobre o assunto, já estremecida, só em citar o acontecimento.
— E como podemos saber se ele o matou ou não?
— Isso é óbvio há dezesseis anos Tereza, temos que ligar para ele.
— Eu espero que aquele cara não apareça novamente.
— Vamos confiar! Ligue para ele.
Tereza tomou coragem pela a primeira vez em anos e ligou para Jack. Ficou feliz por ele ainda está vivo, mas entristecida pelas as duras palavras ditas pelo garoto. A mulher se desabou no choro deitada no sofá e ficou ali durante alguns minutos, até Otávio a acalmar e servir um copo de água, para se hidratar, por tanto ter chorado.
O aniversário de Jack estava se aproximando, mas sempre Otávio e Tereza sentiam medo de que visitando o garoto, poderiam mata-lo indiretamente, pois algo incomparável os separaram durante a gravidez, e eles se arrependeram por todos os anos que ficaram longe dele.
— Tereza, vamos tentar visitá-lo dessa vez? Já se passaram anos, ele nem deve saber como são nossos rostos. Já somos adultos agora, podemos protegê-lo — Otávio começou a conversar para tentar convencer a sua mulher de que já eram experientes, pelo menos era o que achavam.
— E por que você não falou isso há anos atrás, quando estávamos aqui fugidos daquele cara? Sentiu coragem só agora? — questionou o convite de Otávio indignada pelo o mesmo não ter tomado a mesma atitude há anos atrás.
— Nós já temos mais de trinta anos, experiência das costas e na cabeça. Sabemos o que fizemos de errado e temos que concertar, é o mínimo!
— Mas pelo jeito que Jack falou pelo telefone não parece que ele quer nem ver ou conhecer nós dois.
— Vamos levar um presente para fazê-lo mudar de ideia. O que me diz, vamos parabenizar os dezesseis anos dele?
Com a conversa concluída, o tempo passou e logo o dia de viagem chegou. Eles estavam ansiosos e com medo, tudo junto, pois já sabiam que a reação do garoto não seria boa, mas era algo que precisava ser colocado para fora, pois era um sentimento guardado há muitos anos. Chegando no aeroporto, alguns desconfortos começam a aparecer em ambos.
Dores de cabeça, dor estomacal, fraqueza nas pernas… parecia uma maldição que não os deixava sair daquele lugar. Porém, encararam com o resto de coragem que ainda possuíam e embarcaram no avião. Eles moravam em outro país, então a viagem seria longa e cansativa, mas algo necessário.
— Quando chegarmos lá, temos que manter contato com aguem pelo menos, para nos guiar. Muita coisa deve ter mudado e dezesseis anos — Otávio afirmou para Tereza, na esperança que o pensamento dela estivesse alinhado com o seu.
— E quem poderíamos contatar sem risco de morrer? Perguntou precavida para se algo viesse a acontecer.
— Quem mais seria? — respondeu em forma de sarcasmo para a mulher, que na hora, já havia sacado a jogada de Otávio.
— Não… não, não! Não podemos falar com ela, Jack iria nos matar se descobrisse que estávamos falando com a avó e não com ele, ainda mais escondendo dele.
— Quem seria melhor em nos ajudar do que a sua mãe? Pense direito! Os meus pais provavelmente me odeiam ou já estão mortos, pois, aquela doença deles ela interminável, a nossa única ajuda lá seria ela.
— Dentre tantas pessoas naquela região… porque justo ela Otávio?
— Primeiro, ela e da nossa família, e segundo, ela é a sua mãe!
— E se aquele cara descobrir tudo isso, o que será deles? O que será da gente?
— Já estamos indo preparados para o que pode ou não acontecer. O mais provável é que Jack mate-nos antes daquele cara.
— Suas piadas agora não Otávio, por favor!
O casal já estava em conflito sobre a pessoa que iria os ajudar quando chegassem na cidade. O problema seria passar meses em contato sem que Jack descobrissem, e isso, eles não sabiam se a avó iria concordar, ela um tiro no escuro. Porém, de todas as pessoas mais próximas, ela era a única provavelmente viva da família, mas não havia garantias disso.
Depois do longo voo, eles alugaram um quarto de hotel para passar os dias sem que ninguém percebesse e começaram a ligar frequentemente. Para a sorte, na primeira tentativa de ligação, quem atendeu foi a avó logo de cara, pois Jack não estava em casa, por que ainda era de manhã e estava em horário de aula.
— Alô mãe?
— Essa voz… Tereza? É você?
Já começando a chorar de saudades e a soluçar, Tereza relembrou os tempos em que passava com a sua mãe e lembranças de vários anos guardadas. O sofrimento era enorme pela distância que ficaram separadas, mas era algo necessário, para a sobrevivência de todos ali, até da avó.
— Sim mãe, sou eu Tereza, como está? Tudo bem com a saúde?
A avó também começou a desabar em choros e soluços. Depois de anos sem notícias, sem saber se estavam vivos ou mortos, aquela ligação foi a garantia que estavam realmente vivos, e que a ligação anterior para Jack não foi trote, como ela pensava.
— Onde vocês estão? Não estão feridos né?
— Não, estamos bem! Voltamos para a cidade para o aniversário de Jack, ficamos em um hotel aqui perto do aeroporto. Depois de anos, sentimos que poderia ser seguro retornar para visitar, mas não planejamos ficar, não por enquanto.
— E por que desapareceram do mapa durante todo esse tempo? Querem me matar de preocupação? Vocês são malucos? Sabem como é difícil para uma senhora da minha idade criar um garoto que tem traumas pesados de não ter os pais por perto? Eu deveria dar uma surra grande em vocês e não seria o suficiente!
— É imperdoável o que fizemos para vocês dois, mas irei te explicar melhor no decorrer do tempo, falta alguns dias até o aniversário dele, temos tempo de colocar tudo em dia. Vamos ficar aqui no hotel, iremos te passar o endereço. Peço que venha sozinha sem ser notada, para a sua própria segurança.
— Mas por que falar assim? Tem alguém atrás de vocês? Estão sendo perseguidos?
“Perseguidos durante dezesseis anos…”
— Iremos te explicar melhor quando chegar mãe. Otávio está aqui também, mas acabou capotando na cama de sono, a viagem foi bem desgastante.
— … Certo, ainda hoje à tarde irei aí ver vocês, não saiam para lugar nenhum!
— Estaremos esperando aqui mesmo. E mãe, é tão bom poder falar com a senhora de novo… — afirmou chorando novamente com o nariz escorrendo ainda por cima.
— Eu realmente pensei que os dois já estavam mortos. Todos esses anos em ligar e aquela ligação repentina… eu não acreditei por mais forte que fosse a reação de Jack. Todos achamos que era trote. Por um lado, estou muito feliz que estejam bem, mas por outro, estou decepcionada por tudo o que fizeram mais ele do que eu passar.
Sem saber o que responder, Tereza somente abaixou a cabeça e fechou os olhos, como se estivesse reverenciando a sua mãe, mas sem conseguir pedir o perdão, o que era impossível.
— Até logo, mãe, vamos ficar no aguardo — Encerrou a conversa desligando o telefone intencionalmente, antes que a mãe pudesse se despedir.
A dor era algo sem precedentes, a angustia enorme, e a tristeza os fazia sofrer por dentro e por fora. Faltava vinte dias para o aniversário, Jack não poderia saber de nada, e essa seria a missão da avó, esconder tudo do garoto até o grande dia da festa. Não seria algo bom de se fazer, mas necessário, para todos, até mesmo para ele.
Continua…