O Mistério das Realidades Alternativas - Capítulo 5
Após alguns dias que Otávio e Tereza chegaram na cidade, foram em busca de um presente para Jack, algo que o faria feliz mesmo depois de anos abandonado pelos pais, mas essa missão não era fácil. Encontrar algo que o garoto poderia vir a sentir afeto mesmo sem nem o conhecer direito era uma tarefa quase impossível.
A avó os acompanhou durante todo o tempo, para entendê-los, tirar as dúvidas e ajudá-los no que seria necessário. Jack, por outro lado, nem desconfiava que a sua avó saía para encontrar seus pais. Para ele, estar com Jhenefer e Michel era o mais importante. Era como se eles fossem seus pais, só que em forma de amigos.
— O que será que ele poderia gostar? — indagou Tereza com pensamentos altos.
— Ele é um garoto imprevisível eu diria. Não dá para acompanhar o seu raciocínio de vez em quando. Só se abre totalmente com os amigos. Eles devem saber o que Jack mais gosta — a avó respondeu Tereza também com incógnitas em seus pensamentos.
— Acho que eu tenho uma ideia — disse Otávio, pensando algo fora da caixa.
— O que seria? — Tereza perguntou curiosa.
— Vão saber em breve!
— Mas o quê… diga logo o que é! — Tereza retrucou já sem paciência com o seu marido, pois o mesmo estava mantendo segredo de sua esposa e sogra.
— Não se preocupem, vão saber em breve.
— Como você pode ser tão repugnante? Vai mesmo esconder?
— O bom é que será uma surpresa para todos! — salientou em gargalhadas — Você não vai se arrepender da espera, e da curiosidade também.
— Eu espero que você não cause tumulto lá. Já sabe como Jack está se sentindo conosco, não queremos deixá-lo pior do que está agora.
— Pior do que isso não pode ficar. O que poderia dar errado?
— Nunca, em hipótese alguma fale essa frase. Sempre algo de ruim acontece depois dela.
— Não leve tudo ao pé da letra, isso é só um mito.
— É o que você acredita, não eu.
— Vocês dois querem acabar com o bate-papo e andarem mais rápido? O dia já é amanhã, temos que organizar logo! — berrou a avó já sem paciência com o casal, que estava discutindo algo fuleiro e sem necessidade.
Eles continuaram a andar durante todo o dia, mas sem se aproximar dos lugares onde Jack e os amigos frequentavam. Muita meticulosidade foi envolvida, Otávio estava ansioso pelo presente misterioso que havia pensado para o seu filho, e Tereza sem entendê-lo, mas continuava procurando algo que a agradasse e pudesse presentear.
O dia passou, a noite chegou, o casal já estava de volta em casa no apartamento onde se hospedaram, se preparando para o grande dia que viria logo em seguida. A ansiedade estava a mil, pouco menos de um mês se passou desde que chegaram, e só no dia seguinte que iriam ver o filho que não viam há praticamente dezesseis anos. A reação dele já era algo esperado bem antes, mas tudo seria uma grande surpresa, para o lado bom e ruim.
No dia seguinte…
O sol amanheceu e iluminou toda acidade com seus raios fortes e quentes. Eram seis horas da manhã e todos já acordavam para levantar e começar um novo dia de rotina matinal e trabalho. Porém, aquele dia seria único para Otávio e Tereza, pois iriam conhecer seu filho depois de anos fora de contato.
— É hoje! — disse Otávio já sentado na cama, já acabado de acordar.
— Nada pode dar errado… pelo menos, assim espero — Tereza respondeu também sentada na cama, com mais cara de sono do que ele.
— Vamos ter que nos acostumar com os horários daqui, já que lá onde morávamos, essa hora já era quase de noite.
— Não acho que vamos ficar por muito tempo aqui. Lembre-se da nossa vida e emprego, que deixamos lá temporariamente.
— Eu sei, só não quero voltar muito rápido, acabamos de chegar.
— Isso só vai depender de como Jack responder a nossa presença. Vamos, temos muito o que preparar até a noite.
— Certo, já deve estar na hora dela chegar.
Os dois se vestiram, arrumaram as camas e saíram para a rua, para prepararem todo o esquema de noite, o que viria a ser a grande surpresa do garoto, uma festa de aniversário para os corações saltarem de alegria, assim esperavam.
O dia passou, a festa estava nos conformes. Jack e os amigos estavam fora de casa, andando pela cidade, enquanto a avó havia chamado os vizinhos e alguns amigos íntimos do garoto. Otávio estava com um grande embrulho em forma de cudo de trinta centímetros por trinta. Tereza estava ao seu lado andando na rua em direção a casa de Jack, para fazer a surpresa.
Sabino, um dos primeiros homens que Jack conheceu e quem até aquele dia tinha um grande afeto, sendo considerado um tio para o garoto, também estava indo em direção a festa, como se fosse outra surpresa. Eram exatas sete horas da noite, todos saindo do trabalho para voltarem para a casa, vários carros transitando e buzinando, emitindo um grande barulho por onde passavam.
— Espero que ele goste do presente! — disse Otávio com ansiedade para conhecer o filho e presenteá-lo.
— Eu nem posso dizer nada, não sei nem o que é isso — Tereza respondeu sem muita alegria demonstrada por fora, mas estremecida e ansiosa por dentro.
— Não se preocupe, até você vai se surpreender.
— Espero que seja uma surpresa boa, nem pense em passar vexame logo hoje.
Enquanto andavam, Sabino os notou, mas sem acreditar que eram eles mesmos.
— Eles voltaram? Não pode ser! Depois de anos resolveram aparecer assim, do nada? É muito estranho — indagou para si mesmo ainda sem acreditar que eram mesmo os pais de Jack. Como a curiosidade era grande, resolveu segui-los para saber até onde iriam.
Cada passo dado era mais cauteloso que o anterior, para não ser percebido por eles, não para reconhece-lo, e sim pensarem que fosse algum bandido ou até mesmo a pessoa que eles mais temiam.
Ele os seguiu por um minuto, até que algo surreal aconteceu. Um círculo começou a ser desenhado lentamente no chão, com um raio de um metro, aproximadamente.
— Ham? Mas o que é isso? O que está acontecendo? — Tereza começou a gritar em desespero, pois não conseguia mover os pés daquele local para sair dali.
— Calma, tenha calma, tente não se expressar, tem muitas pessoas em volta.
— Otávio, vê se acorda imprestável, não podemos nem sair do lugar! — berrou mais ainda para o seu marido, começando a chorar sem parar.
— Isso quer dizer que… o presente… a festa… não iremos?
— É isso que está aparecendo para você agora, seu corno?
— Calma lá, não precisa xingar logo aqui!
No meio a gritaria e aos brandos, o círculo já desenhado começou a pulsar lentamente e foi aumentando a intensidade, como se fosse batida de coração acelerando cada vez mais. Logo, eles desapareceram instantes depois, deixando o embrulho no chão empoeirado sem ninguém perceber.
— Mas o quê… o que aconteceu? — Sabido se perguntou perplexo sem acreditar no ocorrido — Eles desapareceram? Como assim? Para onde foram? — sua cabeça se enxia de dúvidas enquanto tentava processar toda aquela situação alucinante que presenciou.
Chegando mais perto do local, os passos foram diminuindo lentamente, começando a sentir medo do quer que fosse o fenômeno desconhecido. Como nada havia acontecido até então, ele acalmou o corpo e a mente e resolveu analisar o local. Ninguém estava por perto, só os carros enfileirados na rua próxima buzinando sem parar. Sabido pegou o presente no chão e o colocou embaixo de seu braço direito, o segurando por baixo para que não caísse.
— Se eles estavam mesmo indo para a festa e desapareceram assim repentinamente, por hora não posso fazer nada, não teria nem como chamar a polícia, seria perda de tempo. Vou falar para Jack o que aconteceu e lhe entregar o presente, só espero que ele aceite.
Ele saiu dali com a consciência pesada, pois não poderia fazer nada, mas queria. A única coisa a seu alcance ali era dar as notícias e presentear o garoto, que já sofria pelos pais desde que nasceu.
Depois de alguns minutos…
Em algum lugar desconhecido, Otávio e Tereza estavam deitados no chão, que mais parecia asfalto extremamente liso. Eles acordaram lentamente, com a visão turva e cabeça pesada, como se algo tivesse os atingidos em cheio. O lugar parecia uma beira de estrada no meio do nada, somente montanhas em volta e uma longínqua cidade ao norte dali, com grandes prédios pouco visíveis.
— … ai, minha cabeça! — disse Tereza já despertada ainda sentada no chão sem entender nada.
— Nossa… que lugar é esse? — Otávio indagou para si mesmo também sem entender o que estava acontecendo.
Eles se levantaram ainda cambaleando e perceberam que as suas roupas haviam sido trocadas, mas sem saber quando. Elas eram parecidas com roupas de astronautas, só que mais leves, menos calorosas ao sol e não esfriavam no frio, eram isolantes térmicos perfeitos para qualquer temperatura.
— Tereza, preste atenção a volta… parece que ainda estamos na mesma cidade, ou quem sabe, na mesma Terra?
— E por que você diz isso?
— Olhe em volta, nada disso aqui é normal, as montanhas, a rua, as roupas principalmente! Sem contar com a cor do céu e o formato do sol.
— Não pode ser verdade. Deve ser algum sonho ou algo do tipo, precisamos acordar, agora! — Tereza gritou o mais alto que conseguiu esmurrando com as costas das mãos o peito de Otávio e chorando loucamente, com o rosto inchado e olhos vermelhos.
O desespero já tomava conta deles. Parar em um lugar desconhecido totalmente diferente do que conheciam era um choque anormal na vida de ambos. Mas Otávio, que era otaku, havia percebido semelhanças da situação com as dos animes que assistia quando mais novo.
— Isso deve ser algum isekai, não tenho dúvidas!
— Como assim isekai?
— Você não se lembra quando éramos mais novos que liamos livros sobre pessoas que eram invocadas ou transportadas para outros mundos de fantasia? Não parece que estamos na mesma história?
— Não pode ser, seve ser alucinação!
Enquanto Tereza berrava loucamente, seus olhos começaram a se avermelhar e brilhar intensamente, fazendo um feixe de luz sair em alta velocidade, partindo uma montanha próxima que a mesma estava observando na hora.
— T-Tereza, o que você fez?
— Eu não sei, eu não sei!
— Isso for um poder? Nós temos poderes aqui?
Sem acreditar no ocorrido, as mãos dele estremeciam aceleradamente e também brilhou, fazendo uma cratera se formar a menos de dez metros dele, com uma profundidade de mais de vinte metros. Depois do ocorrido, as mãos se acalmaram e a luz emitida foi apagada.
— Eu também tenho poderes? Que legal!
— Como você pode estar animado com isso? Sabe em que estado estamos? Não temos nada e acabamos de fazer um incidente. E você ainda está contente?
— Eu sei que tudo isso é desesperador. Alguém deve ter nos trazido para esse local estranho. Primeiro precisamos de um lugar para ficar. Como tem uma cidade próxima, vamos para lá verificar como podemos pedir ajuda, certo?
— Mas e quanto a esse estrago todo, o que vamos fazer?
— Deixe aí, não podemos fazer nada quanto a isso, pelo menos não agora.
Enquanto ainda se perguntavam o que iriam fazer, o casal partiu para a cidade, em busca de ajuda. Todo aquele alvoroço havia começado a iniciar uma série de conflitos que viriam a transformar as suas vidas, mas tudo aquilo era bem denso para se pensar em um único instante.
Continua…