O Mistério das Realidades Alternativas - Capítulo 27
CAPÍTULO 27 – Corações Inseparáveis
Realidade Média, em algum lugar de Terra-03
Enquanto Jack, Jhenefer e Michel enfrentavam os monstros no início da terceira fase do labirinto, o sinal dos elementais se espalhava mais longe do que eles imaginavam. Em outra parte do planeta, em uma pequena cidade com poucos moradores, mas vastas plantações, vivia uma família composta apenas por mulheres. A cidade, cercada por campos férteis, produzia arroz, trigo, feijão, soja e algodão, que eram vendidos local e externamente.
A casa da família, embora modesta, não era pequena, pois abrigava três mulheres: a mãe e suas duas filhas. A matriarca, dona de todo o terreno, era respeitada pela qualidade de suas colheitas e seu sucesso comercial. As duas filhas, porém, eram como cão e gato: raramente se davam bem e constantemente provocavam uma à outra.
Luna, a mais nova, tinha dezesseis anos. Era introspectiva e tímida, evitando interações sociais sempre que possível. Seus cabelos lilás eram volumosos, sua pele clara e seu corpo magro, mas bem definido. Dália, sua irmã mais velha por apenas alguns minutos, embora com a mesma idade, aparentava ser muito mais madura, com um físico mais desenvolvido. Seu cabelo, longo e liso, era branco como a neve, e ela era alguns centímetros mais alta que Luna.
Apesar das diferenças físicas e intelectuais, ambas tinham algo em comum: olhos de cores diferentes e estranhos símbolos no abdômen. O olho esquerdo de Luna era lilás claro, enquanto o direito era branco. Já Dália tinha o olho direito branco e o esquerdo de um roxo escuro. Os símbolos que carregavam também eram diferentes: Luna tinha uma lua minguante, enquanto Dália exibia uma lua nova.
Dezesseis anos se passaram, e os símbolos, antes inativos, começaram a reagir de maneira estranha. Seus olhos pulsavam e brilhavam, causando dores intensas. Os símbolos no abdômen também mudavam, ficando mais escuros a cada dia.
— Luna! Dália! Venham aqui! — gritou a mãe, preocupada, ao ver as filhas sofrendo com os mesmos sintomas. — O que será isso? Vocês sempre tiveram esses sinais, mas por que só agora começaram a causar dor?
— Isso é bem mais que um simples resfriado — respondeu Luna, suando, com o corpo febril e um dos olhos fechados de dor.
— Se está acontecendo com nós duas ao mesmo tempo, deve ser algum tipo de magia ou feitiçaria — especulou Dália, lembrando-se das magias que já testemunhara fora da cidade.
— Eu sinto como se alguém estivesse me chamando… uma energia que não é minha, mas está dentro de mim — disse Luna, estranhamente calma, embora a dor persistisse.
— Será que é essa pessoa a responsável por tudo isso? — indagou a mãe, preocupada.
— Um homem apaixonado que tenta nos tomar à força? — sugeriu Dália, com um olhar sinistro para a irmã, provocando-a.
— Se fosse isso, ele já teria vindo atrás de nós duas, não acha? — retrucou Luna, irritada.
— Chega, vocês duas! Vão direto para o quarto! Vou preparar outro remédio. Pode não curar, mas ao menos aliviará a dor — disse a mãe, severa, pondo fim à discussão.
As irmãs foram para seus quartos, cada uma imersa em seus próprios pensamentos. Luna sentia um calor que não era dela, mas que, de algum modo, a acalmava, fazendo-a esquecer a dor. Em sua mente, a silhueta de um garoto com cabelos pretos aparecia, mas sua visão não conseguia ir além disso.
— Eu preciso encontrar essa pessoa… mas como? — murmurou Luna, perdida em seus pensamentos.
No quarto ao lado, Dália ouviu os murmúrios da irmã e riu baixinho. Embora desprezasse a ideia de sua irmã, ela também sentia os mesmos sintomas. Decidida a agir primeiro, planejou sair em busca desse garoto misterioso, embora não soubesse por onde começar. Tudo o que tinha eram seus próprios sintomas como pistas.
Realidade Média, Terra-03 – Labirinto de Treinamento
Enquanto Luna e Dália lidavam com seus dilemas, Jack, Jhenefer e Michel lutavam pela sobrevivência. O labirinto se tornara ainda mais traiçoeiro, com monstros surgindo a cada esquina, corredores apertados e o fedor do sangue impregnado nas paredes. Foram três dias de batalhas, pausas para descanso e movimentação constante até que, exaustos, chegaram ao meio da terceira fase.
Seus corpos estavam cobertos de cicatrizes e suas roupas, rasgadas. Os olhos, antes brilhantes de magia, agora refletiam o desgaste físico e mental. Aquele trio que havia entrado no labirinto dias atrás já não existia mais; haviam se transformado, superando todos os desafios até então.
Finalmente, chegaram a uma área mais ampla, uma espécie de clareira dentro do labirinto. Cautelosos, avançaram em silêncio, atentos a qualquer movimento.
— Estão ouvindo esse tremor? — disse Jack, atento. — Michel, consegue dizer quantos são?
Michel tocou o chão e ativou seu poder de terra, expandindo sua percepção para além de cinco quilômetros.
— Consigo ver cinco monstros… mas há mais escondidos. Eles têm mais de quatro metros, mas não sei dizer de que raça são — respondeu Michel.
— Isso já é suficiente. Vamos avançar. Jhenefer, fique preparada para usar o vento. Se algo imprevisível acontecer, nos jogue para o alto — instruiu Jack, assumindo a liderança.
À medida que avançavam, o chão começou a tremer mais intensamente. Logo, conseguiram avistar quase dez monstros, cada um de uma raça diferente. Sem hesitar, ativaram seus poderes e partiram para a batalha.
Jack enfrentou um monstro de rocha coberto de fogo, absorvendo o elemento e desferindo socos poderosos, drenando sua energia até derrubá-lo. Michel, por sua vez, criou grandes raízes que se transformaram em braços extras, enquanto golpeava seus inimigos com precisão. Jhenefer, ágil como o vento, levitava, atacando com uma espada de ar, enfrentando criaturas de chamas, ferro e madeira.
Juntos, com a ajuda de seus elementais e as memórias ancestrais, o trio superou as próprias expectativas. Lutaram sem descanso, com poucos recursos e sem dormir. Quando o último monstro caiu, Michel sugeriu uma pausa.
— Vamos parar um pouco. Depois daquele enxame, acho que temos alguns minutos de respiro — disse ele, ofegante.
— Como será que as outras pessoas estão passando por isso? — perguntou Jack, preocupado.
— Bom, faz dias que as explosões cessaram. Se não morreram, devem ter passado da segunda fase — respondeu Michel.
— Será que foi um trio como o nosso que entrou depois de nós? — questionou Jhenefer, pensativa.
— Só saberemos quando sairmos daqui — respondeu Jack, olhando para o céu, agora iluminado pela lua minguante.
A luz da lua o confortava, trazendo uma sensação de paz que ele não conseguia explicar.
Realidade Média, em algum lugar de Terra-03
— Wi… Wisdom…? Não consigo enxergar direito… está tudo tão embaçado… — murmurou Luna, deitada em sua cama, observando a lua minguante pela janela.
— Acho que estou conseguindo ver algo… — pensou Dália, no quarto ao lado. — Cabelos pretos… olhos vermelhos e prateados… Wisdom?
Curiosamente, Dália captava mais sinais do que sua irmã, enquanto a luz da lua iluminava Jack e seus amigos, no labirinto. As duas estavam ligadas a diferentes versões do mesmo garoto: Luna via sombras, enquanto Dália conectava-se com Wisdom, encarnação anterior do mago. Sentiam a presença dele, mas não sabiam quem ele realmente era. Jack, por sua vez, sentia-se observado, embora não soubesse por quem.
Continua…