Knight Of Chaos - Capítulo 481
Ao contrário do começo da guerra, quando os Orcs invadiram a Zona Divergente, causando uma debandada de fugitivos da guerra e refugiados que se dirigiam para o Norte, agora um movimento contrário havia se iniciado.
Devido ao armistício em vigor, Garância se tornou uma fatia suculenta para mercadores, Grupos Comerciais e Guildas Mercenárias que estavam em busca de oportunidades de altos ganhos, mesmo que para isso tivessem que correr grandes riscos.
Não somente Garância, mas as dezenas de cidades avançadas. Todos sabiam que as legiões dominantes dessas cidades estavam desesperadas para usar esse tempo para reforçar suas defesas, o que consequentemente exigiria uma grande mão de obra e recursos, sendo um cenário favorável para obter riquezas. Entretanto, ao contrário dessas pessoas, para a maioria dos Avalonianos a atual situação era um verdadeiro inferno.
Com a fuga dos civis para dentro das Grandes Muralhas do Território Humano, todas as cidades do Sul, principalmente nos entornos de Meridai, tornaram-se superlotadas, causando uma grande disputa por alimentos e moradia.
“General, outra revolta começou no distrito nordeste!” Um homem gritou, ao adentrar no escritório, aparentando estar desesperado.
Suspira!
Ao ouvir a notícia, um sujeito alto, de rosto firme, cheio de cicatrizes e cabelo curto negro, levantou-se, parecendo estar acostumado a isso. Este era Ox Von, também conhecido como Cavaleiro da Glória, sendo da Legião Imperial, uma das Dez Grandes Legiões, ele era o atual Comandante da Cidade de Meridai.
Existia um ditado entre as legiões: Não importa quanto território seja perdido, contanto que os Cinco Pilares estivessem a salvo, a Humanidade jamais seria derrotada.
Meridai, o Portão do Sul, Erchomos, o Portão do Oeste, Anatolis, o Portão do Leste, Aquilones, o Portão do Norte e por fim Magnus, o Centro do Poder. Estas cinco compunham os Cinco Pilares, as maiores cidades defensivas do Território Humano.
Por se tratarem de pontos estratégicos, construídos com o sangue e suor de toda a raça Humana, nenhuma Legião, mesmo dentre as Dez Grandes, tinha o direito ou capacidade de monopolizar seu controle. Era por isso que o comando da cidade era alternado uma vez por ano, e, desta vez, o comando estava nas mãos da Legião Imperial.
“Maldição, mais dois meses e eu não teria que lidar com nada disso…” Ox murmurou, consigo mesmo, relutante. O prazo para a troca de Comandante de Meridai estava logo a frente, mas devido à guerra, qualquer substituição de pessoas importantes poderia causar desordem na cadeia de comando, por isso todo o revezamento do Sul foi interrompido até que a guerra acabasse, ou que o Conselho Superior assim decidisse.
Normalmente, a posição de Comandante de um dos Cinco Pilares era extremamente disputada pelas Dez Grandes Legiões, pois a legião por trás daquele que ocuparia o cargo, poderia, inevitavelmente, assumir um grande controle sobre a cidade e, consequentemente, obter lucros e poder pelas sombras, contudo, no atual momento, Meridai não se encaixava nisso.
Devido à invasão da Zona Divergente, o Portão do Sul, havia se tornado uma enorme batata quente que nenhuma das Dez Grandes Legiões gostaria de receber.
Nos últimos meses, um influxo de milhões de refugiados cruzaram seus portões, em busca de comida e abrigo. Mesmo que tentassem realocar parte dessa massa populacional para outras cidades usando a malha ferroviária, ainda era um enorme trabalho logístico e diplomático para se realizar, já que muitas cidades se recusavam a aceitar um grande excedente de pessoas, principalmente os Avalonianos, que só trariam mais pobreza a seus territórios, fazendo com que, apenas no último mês, um total de mais de cinco milhões se reunissem no local, sem ter para onde ir.
O mensageiro, que estava na porta, parecia nervoso e hesitante, enquanto aguardava em silêncio.
“Qual a situação?” Ox perguntou, carrancudo.
“Ainda não conseguimos identificar os líderes da revolta, mas já enviamos dois Capitães e um Major para contê-la, tudo deve ser resolvido até o fim do dia” O rapaz disse, nervosamente. “Porém, a inteligência está monitorando outros pontos da cidade e há indícios que novas revoltas vão estourar em breve.” O homem disse, entregando um relatório e mapas com indicações.
Ao ouvir isso e olhar os mapas, o Cavaleiro da Glória bateu com o punho na mesa, expressando seu descontentamento.
“Malditos rebeldes, causando problemas num momento como esse.”
Mesmo que o Conselho Superior fosse a lei absoluta na superfície, nem todos estavam dispostos a aceitar esse fato. Devido a isso, diversos grupos insurgentes nasceram ao longo do tempo. Normalmente, esses grupos rebeldes não teriam coragem de se mostrar e enfrentar abertamente as Dez Grandes Legiões, mas agora, usando do caos causado pela invasão Orc, esse havia se tornado o momento perfeito para agir!
“O que os Supervisores estão fazendo?” perguntou, com uma carranca.
“Isso… Alguns disseram que estão ocupados demais com assuntos extraordinários e outros não deram uma resposta ao seu chamado, Comandante.”
Esses desgraçados vão insistir nisso até o fim… O homem pensou, irritado.
Além de Ox Von, cada uma das outras Grandes Legiões enviou para Meridai um representante, seja Grande Mago ou Cavaleiro, com o objetivo de ‘supervisionar’ e lhe ‘apoiar’, mas ele sabia que isso era apenas papo furado, essas pessoas só estavam ali para observá-lo, sem intenção de agir ou ajudá-lo, muito menos obedecer suas ordens. Afinal, se o Cavaleiro da Glória cometesse um grande erro, eles poderiam usar isso para culpar a Legião Imperial e diminuir sua influência dentro do Conselho Superior.
Devido a isso, o homem não teve escolha senão evitar usar as forças das outras Grandes Legiões, optando por usar principalmente a mão de obra das Legiões de Médio Porte.
Apesar do comando dos Cinco Pilares serem exclusivos para membros das Dez Grandes Legiões, não significava que essas cidades estavam fora de alcance para as demais. Qualquer Legião registrada junto ao Conselho Superior, de pequeno a médio porte, tinha o direito de comprar ou alugar territórios nesses lugares, ganhando assim o direito de implantar tropas estacionárias e ter bases operacionais.
Mesmo que fosse extremamente caro e dispendioso, deter esses direitos em pelo menos um dos Portões era fundamental para qualquer legião que quisesse se expandir, afinal somente explorando territórios e recursos na área fora do Território Humano é que elas poderiam ganhar mais riquezas e poder.
Dentre as Legiões de Médio Porte atualmente com direitos de residência em Meridai, Ox Von havia escolhido três delas que estavam demonstrando pró-atividade, além de terem boas relações com a Legião Imperial.
“Convoque os Generais Estacionários das Legiões Escudo de Prata, Centuriões e Leões Dourados!” O Cavaleiro ordenou, com impaciência.
Assentindo, o mensageiro saiu apressadamente e não muito tempo depois dois homens e uma mulher entraram na sala.
“Saudamos o Cavaleiro da Glória!!” As três figuras declararam assim que entraram na sala, levando seu punho direito ao peito esquerdo.
Uma das figuras era um homem forte e alto, a outra era um velho de cabelos brancos e a última era uma mulher em torno da meia-idade.
Ox Von olhou para os três com um olhar carrancudo.
“Vocês têm me servido bem nos últimos meses, garantirei que seus esforços sejam recompensados futuramente. Mas preciso que se esforcem um pouco mais. Irei designar uma área a cada um onde estarão atuando no controle dos refugiados.”
Ouvindo isso, os três Generais, apesar de não dizerem nada, sentiram que isso cheirava a problemas e era exatamente como pensavam.
As áreas eram justamente os pontos que o setor de inteligência da Legião Imperial haviam identificado como as prováveis próximas áreas de atuação dos rebeldes.
“Escutem bem, não importa o que precisem fazer, e fundamental que mantenham essas regiões sob controle, se for necessário, vocês têm autorização para matar alguns milhares!” O Cavaleiro declarou, com um tom sanguinário.
Apesar do título de ‘Cavaleiro da Glória’, Ox Von não era considerado alguém benevolente ou que ajudava os fracos, ainda mais quando a maioria esmagadora dos refugiados era composta de ‘simples avalonianos’, que, a seu ver, eram simples peças descartáveis.
Os três Generais se entreolharam levemente consternados, principalmente ao receber sinal verde para massacres dentro das muralhas. Apesar disso, nenhum deles eram pessoas comuns e estavam acostumados a todo tipo de coisa, recuperando rapidamente a compostura.
“Entendido, Sir!”
Após isso, o Cavaleiro passou mais algumas ordens gerais para o posicionamento de tropas e vistorias. Apesar da guerra, a coleta de taxas e impostos jamais seria deixada de lado, já que as famintas Legiões sempre estavam sedentas por mais dinheiro, além disso, precisavam de grandes somas para comprar grãos e manter os custos operacionais da enorme cidade.
Quando os três Generais começaram a caminhar para a saída, a voz de Ox foi ouvida.
“Os outros podem sair, mas você deve esperar um momento, Lenon.”
Quando essas palavras soaram, o General dos Centuriões e a General da Escudo de Prata lançaram olhares zombeteiros em relação ao velho homem, sabendo que algo ruim estava prestes a acontecer com ele, apressando-se para partir o mais rápido possível para não serem implicados.
Lenon tinha um rosto calmo, apesar de sentir seu corpo pesado, devido à pressão do homem com cicatrizes no rosto.
“O que mais posso fazer pelo senhor, Sir?” perguntou, de forma humilde.
“Acho que você sabe porque te fiz esperar, certo?” perguntou, levantando-se de sua cadeira, então abrindo uma pequena gaveta num armário próximo e jogando alguns papéis sobre a mesa.
Sem abaixar o rosto, os olhos do velho homem voltaram-se para baixo, sua expressão escurecendo.
“A inteligência tem notado um número anormal de comboios comerciais e tropas mercenárias enviados por você a Belai e Garância nos últimos tempos.” disse, aproximando-se do velho General, que era mais de um palmo menor que ele. “O que é intrigante é que eu descobri que há um mês a sua legião fez um pedido extraordinário por tropas e suprimentos para La Rosa, e esse pedido não só não foi atendido, como foi ocultado. Você não deveria ser o responsável pelos assuntos da sua legião?”
Em resposta a isso, Lenon não se moveu no mínimo, enquanto o Cavaleiro estava a dois palmos de seu rosto, seu hálito quente podendo ser sentido.
“Identifiquei que os números de La Rosa e suas rotas são suficientes para suprir suas necessidades Sir, enquanto isso há um deficit em Belai e Garância, que são cidades importantes.”
Ouvindo a resposta, Ox franziu a testa.
“Corta essa merda Lenon, sei que destino teve sua cavalaria pessoal. Ouça bem, não estou interessado na briga de gato e rato de peixes pequenos como vocês, mas a Legião Imperial tem um acordo com os Leões Dourados, você entende o quanto é importante que parceiros comerciais mantenham sua palavra?” A voz do homem soou, em uma entonação cruel. “É melhor manter isso em mente, você trabalha bem, mas se entrar no meu caminho e causar bagunça em meu território, para mim sua vida não terá mais valor do que a de um maldito avaloniano qualquer, entendeu?”
Nesse ponto, o velho homem ainda mantinha um rosto calmo, mas não ousou retrucar.
“Eu entendo Sir, não irá se repetir.” garantiu, com a cabeça baixa.
Ox varreu seu olhar sobre o velho General.
“Vá fazer seu trabalho!” ordenou, dispensando-o.
Com suor escorrendo pela testa, Lenon saiu da sala, com uma expressão séria.
Perdão velho amigo, esse é o limite do que consigo ajudá-lo. A partir de agora você está por conta própria. pensou, lembrando-se de Dimitri.
…
Em Garância, boatos sobre o jovem Tenente do Batalhão Zero haviam se espalhado nos últimos tempos. Pelo que se dizia, o rapaz havia se isolado nos últimos dias, recusando-se a aceitar visitas.
“Ouvi dizer que o Tenente foi muito afetado por ter que demitir o Oficial Archie.”
“Será que é isso mesmo?” Outro Soldado perguntou, de forma irônica.
“O que você quer dizer com isso?”
“Pelo que eu soube, o Oficial Archie foi demitido por insubordinação. Você realmente acha que nosso Tenente ‘cara pálida’ deixaria isso acabar assim mesmo? Ninguém vê ele faz um tempo.” Ao dizer isso, o Soldado baixou sua voz, cochichando. “Há um rumor rolando… dizem que o Tenente seguiu o Oficial Archie depois que ele saiu da cidade…”
Ouvindo isso, o outro homem ficou surpreso.
“Você quer dizer…?”
Em resposta a isso, o sujeito assentiu, fazendo um sinal de corte na garganta. Isso fez o outro homem engolir em seco.
“Realmente parece algo que ele faria.” O outro homem concordou, assustado.
Em seu quarto, Fernando estava completamente inconsciente dos boatos que suas tropas estavam espalhando sobre ele.
“Você não está cansado disso?” Karol perguntou, ao ver seu marido sentado, lendo algo, enquanto continuava movendo os dedos no ar, como se estivesse escrevendo algo. No início ela acreditou que não era nada de mais, mas com o tempo começou a se preocupar. “Você está há cinco dias nisso…”
Em resposta a isso, Fernando coçou sua cabeça, entendendo que sua esposa ainda não entendia esse seu lado nerd. Apesar de se amarem, devido ao ambiente, ele nunca conseguiu mostrar tudo sobre si mesmo a ela.
A verdade é que o jovem Tenente tinha tirado os últimos dias para estudar sobre uma série de coisas, além de continuar praticando suas Inscrições de Mana. Isso revelou-se ser um ótimo calmante para sua mente, ele sentiu que era muito melhor fazer isso do que ter que lidar com problemas o todo tempo.
Se os dias apenas pudessem continuar assim para sempre… pensou. Durante o dia ele apenas praticava Inscrições e lia, a noite desfrutava da companhia de sua esposa, enquanto comia algumas refeições trazidas por seus subordinados. Em relação aos últimos meses, esses dias vinham sendo um paraíso para ele.
“Ah, não, já chega disso, vai dar uma volta vai!” Karol falou, ao vê-lo preparar-se para começar a ler um livro sobre ‘Os trinta e dois pontos de prazer de um Anão’.
Apesar das tentativas do rapaz, em explicar que isso era ‘conhecimento’ e ‘treinamento’, ela não se importou, expulsando-o do quarto antes de sair para seu esquadrão.
“Acho que não tenho escolha…” disse, suspirando.
Nos últimos dias, Fernando estava lendo o máximo de livros diversos que conseguia. Tanto os úteis, quanto os inúteis. Seu objetivo era entender os limites da sua memória eidética atual e o quanto ele conseguiria memorizar sem esquecer do que havia consumido.
Para sua surpresa, ele ainda conseguia lembrar-se perfeitamente de tudo que tinha lido. Apesar da maioria esmagadora dos livros que leu serem coisas sem sentido e inúteis, ele pôde finalmente confirmar as limitações disso.
Por mais que lembrasse de todas as informações com exatidão, percebeu que quanto mais informações memorizava, mais difícil era acessar algumas delas. Mesmo que lembrasse de tudo, se ativamente não tentasse se recordar, esse conteúdo não estaria de prontidão em sua mente.
“Então é assim…” pensou, enquanto caminhava pelos corredores do edifício.
Mesmo que houvesse essa limitação, ele ainda estava impressionado com o quanto sua memória eidética melhorou devido ao fortalecimento do mana em seu corpo.
Enquanto andava, pensou em aproveitar que foi ‘expulso’ de seu quarto para sair do prédio e ir a algumas lojas para reabastecer seu estoque de Poções de Mana para a Pedra.
“É ele…” Um Soldado que estava fazendo a guarda disse, ao vê-lo passar.
O outro Soldado ao lado, assustado, rapidamente fez um cumprimento militar.
“T-Tenente Fernando!” Uma voz soou, quando o jovem pálido cruzou os portões, pronto para sair.
Parando seus passos, o rapaz olhou para trás, apenas para ver Kelly, que caminhava, com dois Soldados ao seu lado.
“Precisa de algo?” perguntou, com um rosto inexpressivo, sua mente divagando sobre algumas teorias em relação a sua memória e a aplicação dela nas Runas.
“B-bem… Você está saindo, certo? A Subtenente Theodora ordenou que eu o acompanhasse caso saísse.”
Ao ouvir isso, Fernando, que estava pensando em outras coisas, voltou a si mesmo, erguendo uma sobrancelha.
“Isso não é necessário.”
“Mas senhor, a Subtenente ordenou que eu insistisse, mesmo que você negasse…”
“Já disse que não precisa.”
“Mas…” falou, hesitante e parecendo assustada, como uma criança que tinha que voltar para os pais e dar notícias ruins caso ele recusasse.
O jovem Tenente suspirou ao ver Kelly assim. Isso o fez perguntar-se que tipo de treinamento a Medusa estava dando a pobre garota.
“Tudo bem, apenas não me atrapalhem.” disse. Apesar de sentir que era incomodo ter três pessoas o seguindo por aí, acabou cedendo.
Saindo pelas ruas de Garância e vendo-as movimentadas, com pessoas para lá e para cá, com reformas acontecendo por todo lado, Fernando notou que a situação estava muito melhor agora.
Lembrando-se de quando entrou na cidade pela primeira vez, vendo-a banhada de sangue e corpos, sentiu que aquela cena grotesca agora era penas um pesadelo distante.
Passando por algumas lojas e restaurantes, o rapaz não pôde evitar sentir vontade de provar algumas comidas. Afinal, enquanto se moviam por aí, na maior parte do tempo comiam grãos cozidos e carne assada de animais e monstros. Mesmo que não desgostasse e fosse muito melhor do que o que ele geralmente comia na Terra, sentiu que não havia problemas em aproveitar um pouco.
Enquanto pensava sobre em qual estabelecimento devia entrar, Kelly e os dois Soldados estavam logo atrás, acompanhando-o a alguma distância.
“Ei, olha, aquele não é o Tenente Fernando? Aquele herói que ajudou a ganhar a batalha?” Um homem gordo gritou ao longe.
Ouvindo isso, Fernando congelou no lugar, surpreso.
“É ele mesmo, o herói do Batalhão Zero!” Outra pessoa comentou ao longe, logo vários olhares admirados voltaram-se na direção do jovem pálido e os outros três.
Eu, um herói? pensou, sentindo-se estranho com os comentários. Normalmente apenas rumores estranhos espalhavam-se sobre ele, coisas como ‘maniaco’, ‘maluco’, ‘psicopata’ e coisas do gênero, chegou num ponto em que ele simplesmente não se importava mais. Mas agora alguém realmente estava elogiando-o? Isso definitivamente era algo novo!
Enquanto pensava nisso, um garoto, com roupas velhas e rasgadas, de treze ou quatorze anos, aproximou-se, com um papel em mãos.
“S-senhor, pode me dar um autógrafo? Você é meu ídolo!”
Ao ver isso, tanto Fernando quanto Kelly e os dois Soldados, ficaram espantados.
“Eles realmente tão falando do Tenente?” Um dos homens cochichou, chocado.
“Não tenho certeza, talvez tenha algum outro Batalhão Zero por aí.” O outro respondeu, cético.
“Calem a boca, vocês dois!” Kelly repreendeu logo a frente. Mesmo que ambos falassem numa entonação baixa, devido a seu alto Físico, a garota conseguia ouvi-los perfeitamente.
Fernando, obviamente, também pôde ouvi-los e tinha uma expressão complicada em seu rosto, principalmente ao comparar os comentários de seus próprios subordinados com os de estranhos. Isso o fez perguntar-se por que ele só liderava gente esquisita.
“Senhor?” O garoto falou, confuso, ao ver o rapaz parado, então ergueu a mão com o papel novamente.
“Tudo bem.” respondeu, de forma simples.
Ao receber a afirmativa de Fernando, o garoto aproximou-se com um largo sorriso animado em seu rosto.
Até mesmo Kelly estava impressionada ao ver isso, não imaginando que seu líder seria alguém tão famoso assim com as massas, fazendo-a ficar impressionada. No entanto, enquanto pensava nisso, notou algo estranho.
As pessoas ao redor pareciam estar se aglomerando em seu entorno, como se fechassem um círculo. Havia homens, mulheres e velhos, pessoas de todos os tipos, mas apesar disso, ela sentiu que havia algo de errado.
“Líder…” Kelly falou, atrás de Fernando.
O jovem pálido ouviu a voz dela e estava prestes a se virar, quando o garoto chegou a sua frente, oferecendo-lhe o papel em branco.
“Eu sou realmente um grande fã seu, Tenente Fernando!” O garoto disse, com um sorriso.
Fernando assentiu, lisonjeado, mas sem expressar muita reação devido ao seu jeito, então ergueu a mão, para pegar a folha.
“Eu acompanho os seus feitos há muito tempo, desde Belai.” O garoto continuou dizendo.
Inicialmente o jovem Tenente não pensou muito nos elogios do garoto, mas quando ele disse as próximas palavras, seu corpo congelou.
“Principalmente desde que você matou o irmão Kifon…”
As pupilas de Fernando encolheram-se, quando seus olhos voltaram-se para cima, apenas para ver o rosto outrora sorridente do garoto, agora frio e sanguinário. Antes que pudesse reagir corretamente, sentiu algo frio em sua garganta, enquanto sua armadura banhava-se de vermelho de seu próprio sangue.
“A Família Lopes mandou saudações, Tenente Fernando.”