Knight Of Chaos - Capítulo 493
Naquela noite, Fernando compareceu ao refeitório do Batalhão Zero, algo que era totalmente fora do comum. Normalmente suas refeições seriam feitas em um local isolado, como seu escritório ou em seu quarto, longe dos olhares alheios.
“O Tenente está aqui!” Um Soldado anunciou, ao vê-lo chegando. Ao redor dele estavam Theodora, Ilgner, Thom e vários dos Oficiais e Cabos.
“O que diabos está havendo? Algum evento importante vai acontecer?” Outro questionou, ao notar a comitiva.
Com exceção de alguns dos Cabos e Oficiais, a maioria deles raramente se reunia ali em horários movimentados como o daquele momento, no qual iriam começar a servir o jantar. Mas agora, todos estavam ali!
Isso, obviamente, causou alguma comoção, fazendo com que muitos Soldados se agrupassem no refeitório após ouvirem as notícias. Tirando aqueles que estavam fazendo a guarda ou os que estavam com tarefas essenciais, a maioria dos membros do Batalhão rapidamente se reuniram ali.
Como aquele prédio era outrora a sede de uma antiga Guilda de Garância, obviamente tinha espaço para inúmeras pessoas, então comportar algumas centenas de indivíduos num refeitório não era um grande problema.
“Olha o que você causou, líder.” Theodora comentou, de forma brincalhona, enquanto observava o alvoroço que ocorria ao redor.
“Qual o problema dessa gente? Parece que nunca nos viram.” Emily resmungou.
“Hahaha! Todos apenas estão curiosos, afinal nosso Tenente antissocial realmente veio, todo mundo quer ver isso com os próprios olhos.” Lance falou, rindo, enquanto o grupo se acomodava em torno de duas enormes mesas colocadas juntas.
“Muitos também devem estar preocupados pelo que aconteceu mais cedo.” Noah lembrou, mencionando o ocorrido.
Quando Kelly retornou a sede temporária do Batalhão Zero, trazendo noticias sobre o incidente, a Subtenente havia feito vários Esquadrões varrerem as ruas da cidade em busca de Fernando. Mesmo que a informação tenha sido abafada pelos Generais, o assassinato de dois membros habilidosos simplesmente não poderia ser escondido.
O jovem Tenente também sabia disso, mas mesmo que contrariasse as ordens dos Generais, ele não tinha intenção de ocultar a causa da morte daqueles homens, afinal eles pereceram tentando protegê-lo. Pelo contrário, ordenou que ambos fossem homenageados publicamente e mandou que, caso tivessem família, seriam devidamente indenizadas. Também pediu para que anunciassem que eles haviam caído com dignidade em batalha e os culpados por isso seriam punidos, apenas instruindo os membros centrais para que não entrassem em detalhes!
Fernando analisou pessoalmente a ficha dos dois homens, mesmo não interagindo muito com eles, gravou seus rostos e nomes profundamente em sua mente, ele fazia isso com todos seus subordinados, desde a época de Vento Amarelo.
As tropas, obviamente, notaram que algo sério havia definitivamente acontecido e apesar das dúvidas, sabiam que se nada foi explicado ao público, significava que era um problema realmente grave. Alguns boatos até começaram a se espalhar de que foram atacados por remanescentes da Guida Fúria de Belai e que Fernando estava gravemente ferido.
Se fosse em outros Batalhões comuns, o ato de superiores não revelarem o motivo da morte de alguém poderia ser visto com desconfiança e até receio pelos membros de baixo escalão. Quem poderia garantir que eles não foram mortos pelo próprio Tenente Fernando em algum tipo de acesso de loucura? Entretanto, por mais que os Soldados tivessem uma visão estranha do rapaz, ao ponto de chamá-lo de ‘Tenente Lunático’ e alguns outros apelidos assustadores, a verdade é que muitos o viam com bons olhos por suas ações.
O ato de ousar atacar uma Guilda apenas para resgatar um de seus subordinados em Belai, ao ponto de quase ser preso pela Legião, somada a sua declaração de que quem ousasse tocar nos membros do Batalhão Zero seriam seus inimigos, tocou o coração de muitos. Se eles tivessem em um Batalhão diferente, outro Tenente faria o mesmo por eles? Era improvável!
Além disso, as condições oferecidas pelo Batalhão Zero eram simplesmente incríveis. Não só o salário era mais alto do que o padrão, como recebiam equipamentos e poções incríveis de acordo com suas contribuições, a Unidade de Logística também era uma grande facilitadora para os Soldados, fazendo todo tipo de tarefa e os apoiando o tempo inteiro. E, caso possuíssem famílias, as mesmas seriam indenizadas em caso de óbito, algo extremamente radical e arriscado de se fazer em Avalon, onde a morte era tão comum quanto respirar.
Havia alguns poucos Soldados avalonianos em meio as tropas, esses em especial, que já haviam passado por outros locais e experimentado um pouco de tudo, sentiam que aquele era definitivamente o melhor lugar que já estiveram e com as melhores condições envolvidas.
Levando em conta todos esses aspectos positivos, nenhum deles conseguia sequer imaginar que o Tenente prejudicaria algum de seus homens intencionalmente sem motivo.
Fernando, que estava em silêncio, ouvindo a conversa de todos, tinha uma expressão calma. Naquela noite, seu objetivo não era apenas distribuir a sopa de Delgnor, mas também acalmar o coração de suas tropas.
Inicialmente ele pretendia distribuir a Sopa de Delgnor apenas no dia seguinte, mas levando em conta o clima pesado em meio ao Batalhão, optou por fazê-lo naquela mesma noite, pois queria passar uma mensagem, de que não só estava realmente bem, como o que sofreram naquele dia não seria perdoado.
Família Lopes, um dia acertaremos essa dívida. prometeu a si mesmo, mentalmente.
O jovem Tenente sabia que o poder esmagador dessa Guilda das Trevas não era algo que alguém como ele poderia lidar agora, mas isso não o impediu de fazer uma anotação mental. Atualmente ele não era diferente de uma formiga um pouco maior em relação a essa organização, mas contanto que sobrevivesse, estava decidido a retribuir.
“Afinal, por que nos chamou aqui, Tenente?” Nesse momento, Trayan questionou. Depois da reunião de mais cedo, o rapaz havia os convidado para jantar juntos, algo que ele nunca fez antes. “É sobre o novo regime de treinamento?”
Para ele, o atual modelo de treino já era mais do que suficiente, mesmo em sua antiga Guilda Valorosos eles não se esforçavam ou gastavam tanto no treinamento das tropas, pensar que iriam aumentar ainda mais o rigor era algo difícil de acreditar, isso lhe causou alguma preocupação sobre a insatisfação dos homens ou se os Soldados sequer conseguiriam manter esse tipo de rotina pesada.
Gabriel, Noah, Lenny e até a própria Karol, sua esposa, e muitos outros, também pareciam interessados em saber, pois as suas ações pareciam muito estranhas.
Fernando não respondeu imediatamente. Observando ao redor, notou que a maioria dos membros do Batalhão Zero que estavam livres e puderam vir ao refeitório, já se encontravam ali.
“Vocês logo vão saber.” afirmou, com um rosto inexpressivo. Então olhou para Thom.
O jovem Sargento, que estava sentado não muito longe, entendeu o significado de suas palavras, ele parecia um pouco nervoso por ter que assumir tal função, mas como havia se comprometido não tinha escolha, então respirou fundo e levantou-se.
“Atenção todos!” gritou, de repente, batendo palmas, atraindo a atenção das centenas de pessoas no refeitório, incluindo todos da alta cúpula do Batalhão que estavam nas duas mesas.
O que está acontecendo? Theodora perguntou-se, assim como os demais Oficiais e Cabos. Primeiro Fernando estava agindo estranho e agora até mesmo Thom.
“Em nome do Tenente Fernando, tenho um anúncio importante a fazer. Isso já foi previamente discutido com todos os Cabos e Oficiais, mas a partir de amanhã o Batalhão Zero estará iniciando um rigoroso esquema de treinamento que englobará todos os Esquadrões, sem exceções!”
Quando essas palavras foram ditas, um alvoroço explodiu entre as tropas.
“Porra! Eu sabia! Onde tem fumaça há fogo!” Um Soldado falou, resmungando.
“Droga, se eu soubesse que era por isso que o Tenente tinha vindo ao refeitório, nem teria vindo…”
“Mais treinamento, eles querem nos matar? Aquela maldita brux- digo, belíssima Subtenente Theodora, já está tirando nosso couro todos os dias, só falta ela começar a usar um chicote!”
“Mas ela já usou um em mim…” Outro respondeu, apático, como se lembrasse de algo ruim.
Reclamações foram ouvidas por todos os lados. Apesar de ser um Batalhão considerado ‘novato’, o treinamento deles não era menor que o de outros, pelo contrário, em muitos aspectos parecia ser até mais intenso! Mesmo assim, eles queriam que treinassem ainda mais?
Alguns começaram a se questionar se o Tenente, Subtenentes e Oficiais eram secretamente sádicos que gostavam de ver seu sofrimento. No caso de Theodora em específico, que costumava fazer alguns deles chorarem durante o treinamento, enquanto sorria como uma valentona, eles já tinham certeza absoluta.
Thom ficou em choque com a repercussão e alvoroço, não sabendo o que fazer e até pensou em pedir ajuda para Theodora ou Fernando, mas esse pensamento só durou um segundo.
Porra, eu sou um Sargento, uma das patentes mais altas daqui! Não posso deixar me intimidarem!
“Calem a boca, seus malditos, e me escutem!” gritou, em plenos pulmões.
Essa atitude repentina pegou todos de surpresa, mesmo aqueles que o conheciam de longa data, como Emily, Lance, Ronald e os outros. Theodora, em especial, parecia chocada, pois estava acostumada com a personalidade relativamente passiva do rapaz, então sorriu.
Interessante. pensou.
Os Soldados também estavam perplexos com isso. Todos estavam acostumados com a atitude dura dos Subtenentes, até mesmo com a de certos Oficiais e Cabos, porém, o Sargento Thomas era visto como alguém relativamente ‘bonzinho’, nunca passando treinamentos muito ruins ou os deixando em situações desconfortáveis como os outros. Muitos até o viam como seu anjo da guarda, o buscando quando sentiam que os seus superiores estavam sendo muito cruéis, para que ele intercedesse a seu favor, o que o rapaz fazia quase sempre. Às vezes alguns até se questionavam se ele deveria ser mesmo um Sargento, já que era tão gentil.
Embora alguns, por meio dos membros mais antigos, tivessem ouvido falar do título de Assassino das Chamas, que Thom havia recebido na batalha de quebra de cerco em Belai e até tivessem o visto lutar algumas vezes, não achavam que era alguém realmente assustador. Obviamente, o fato dele ter desferido o golpe fatal no líder da Guilda Fúria, Kifon, ou de o mesmo já ter derrubado um Ciclope sozinho e até mesmo matado Orcs Líderes na última batalha, não era conhecido por muitos e para alguns destes, não passava de boatos exagerados.
Fernando, que estava sentado, deu um leve sorriso ao ver isso. Ele sinceramente acreditava que Thom tinha um grande potencial e era por isso que sempre que podia lhe dava tarefas difíceis. Somente ao sair de sua zona de conforto, alguém poderia evoluir, ele sabia disso por experiência própria. Contanto que o rapaz continuasse amadurecendo, eventualmente se tornaria mais forte e destemido, tudo que lhe faltava era mais experiência de vida.
Mesmo que o sujeito tivesse demonstrado ser bastante capaz em muitos momentos críticos, ainda tinha vezes em que mostrava hesitação, algo que poderia ser fatal num campo de batalha.
Um intenso silêncio logo tomou conta de todo o enorme refeitório, quando os Soldados não se atreveram a falar mais nada.
Vendo isso, Thom limpou a garganta, continuando.
“Como eu estava dizendo, o programa de treinamento iniciará amanhã e espero que todos não vejam isso como um fardo, mas como uma oportunidade! Em breve o Tenente estará remontando alguns Esquadrões, caso alguém se destaque, terá a oportunidade de uma promoção!” explicou, conforme o que havia discutido com Fernando anteriormente.
Quando os Soldados ouviram isso, os olhos de muitos brilharam, cheios de expectativa.