Knight Of Chaos - Capítulo 504
Após obter a aprovação de Wedsnagauer, Fernando e Alfie Caiman saíram do armazém. Antes de irem para seu objetivo, o rapaz passou rapidamente em seu quarto, para vestir sua armadura, após isso foram em direção ao escritório, para se encontrarem com o General.
Enquanto caminhavam pelo corredor, o jovem Tenente olhou de relance para o sujeito que caminhava logo atrás, tentando entender o que se passava em sua cabeça. Ele estava seriamente temeroso sobre o homem assassiná-lo em algum momento, pois o mesmo não só tinha a capacidade para isso, como também já havia lhe deixado um aviso intimidador.
“Você parece um pouco nervoso, Tenente Fernando.” Alfie disse, com um sorriso gentil.
“Não, nem um pouco…” O rapaz respondeu indiferente, com um rosto inexpressivo, mas internamente seus pensamentos fervilhavam.
“Não se preocupe tanto, quanto ao que eu disse naquele dia… Bem, as coisas mudaram um pouco.” O homem falou, com uma expressão relaxada, como se soubesse o que se passava em sua mente.
Ouvindo isso, Fernando ficou surpreso.
Por que ele está agindo tão diferente, será que quer me fazer baixar a guarda? pensou, imaginando o que o teria feito mudar nesses poucos dias. Da última vez, sentiu que o mesmo estava falando bem sério.
Apesar de confuso, o jovem pálido deu de ombros, suspirando internamente, aliviado. Se Alfie realmente não o visse mais como um empecilho, isso era algo bom, independente do motivo por trás disso.
Olhando para as costas do rapaz que caminhava a sua frente, o homem levantou seus óculos, com uma expressão séria no rosto.
A verdade, não era que ele havia ficado ‘bonzinho’ de repente, mas nos últimos tempos, desde que Fernando havia começado suas aulas de Runas, o sujeito mudou totalmente sua perspectiva sobre o garoto.
Inicialmente ele estava um pouco receoso com Fernando, por ele arrastar o Doutor para a guerra e fazê-lo ajudar uma Legião, mesmo que indiretamente. Em sua visão, o Tenente não passava de um risco desnecessário para Wedsnagauer. Entretanto, após presenciar com seus próprios olhos o talento monstruoso de Fernando no campo das Runas, todos os seus pensamentos haviam mudado, deixando imediatamente de vê-lo como uma ameaça, mas sim como uma esperança.
Mesmo a inveja e sentimento de injustiça, pelo Mestre de Runas tê-lo tornado um Aprendiz, enquanto ele próprio ainda era um mero Assistente, haviam sumido completamente.
Pode ser que ele consiga aquilo… pensou, em um conflito interno.
Se alguém assim fosse devidamente treinado, talvez os dias de glória do campo de Runas voltassem ao seu ápice, e mesmo que fosse apenas uma chance remota, eles poderiam enfim atingir o que almejavam por tanto tempo, algo que ele e Wedsnagauer foram incapazes de alcançar sozinhos por todo esse tempo!
Além disso, existia algo mais nisso tudo. Ele havia observado o Doutor ultimamente e sentiu que os ‘surtos’ do velho homem haviam diminuído consideravelmente desde que o mesmo passou a focar em ensinar Fernando e Emily. Era como se a sua doença e todo o desespero que carregava em seu peito, se esvaíssem sempre que lecionava para eles, melhorando muito seu humor.
Mesmo que parecesse algo estúpido, Alfie desejou que as coisas apenas continuassem assim. Esse sentimento e essa harmônia, o lembravam vagamente da época em que era apenas um membro comum da Guilda Solus, porém, depois da tentativa de assassinato realizada pela Família Lopes, percebeu que isso era impossível.
Se eles quisessem treinar Fernando devidamente deveriam fortalecer suas bases, e como o rapaz se recusava a deixar o exército, o melhor meio para isso era melhorar sua influência dentro dos Leões Dourados, assim ele estaria mais seguro. Era por isso que não se recusou a ajudá-lo novamente com as Balistas, já que estaria cumprindo esse objetivo.
Após pouco tempo, ambos chegaram ao escritório. Ao vê-los entrar, Dimitri e Lerona, que estavam sentados, enquanto Lina servia uma bebida e biscoitos para os dois, levantaram-se.
“Achei que havia dito para se apressar garoto, estava prestes a sair para te buscar!” Dimitri esbravejou, aborrecido. Apesar disso, seus olhos se voltaram em direção ao homem ao seu lado. Um sujeito com uma aparência relativamente comum, um longo cabelo castanho e uma barba bem feita, somado a seus óculos, lhe davam uma aparência de um estudioso. “Então aqui está o ‘especialista’, queria ter falado melhor com você antes, mas esse garoto realmente trabalhou duro em escondê-lo.”
Em resposta a isso, Fernando não disse nada, afinal era verdade.
“É um prazer falar com você diretamente General Dimitri, eu me chamo Alfie Caiman.” disse com um sorriso gracioso, de forma respeitosa, mas sem prestar continência ou dar qualquer sinal de servidão.
Dimitri e Lerona perceberam isso, mas nenhum dos dois ficou surpreso. Era de conhecimento comum que especialistas em Matrizes eram pessoas orgulhosas e difíceis de lidar, mas os de Runas eram ainda mais excêntricos, então era normal que alguém desse campo não se curvasse para um militar.
Quanto a não prestar continência, nenhum dos dois viu isso como uma falta de respeito da sua parte, afinal ele era alguém contratado de fora e não servia a Legião, logo não tinha obrigação de fazer isso, mas ainda, sim, isso poderia ser visto como uma forma de desrespeito.
Lina, que estava na sala, estava trêmula de nervosismo, ainda mais depois disso.
“General, quanto ao pagamento…” Fernando disse, com uma entonação calma, mudando o assunto, para evitar qualquer tensão. Além do mais, já que não houve formas de se esquivar dessa questão, ele deveria pelo menos garantir que conseguissem um bom lucro.
“Garoto, não seja tão ganancioso. Eu já lhe disse, vocês serão devidamente recompensados! Podemos discutir os detalhes no Salão.” O velho homem falou, descontente pelo rapaz pensar tanto em dinheiro. “Aliás, deixe-me apresentá-lo adequadamente, talvez você já tenha ouvido falar dela, essa é Lerona Muller, ela liderou a Cavalaria Blindada Nagalu na última batalha.”
Ouvindo isso, Fernando ficou surpreso. Isso não significava que essa mulher havia sido a Comandante da Segunda Divisão? Quando a viu antes, achou que era apenas alguma pessoa aleatória, mas na realidade era alguém relativamente importante.
Ele havia lido alguns relatórios de inteligência que Theodora e Bianco haviam trazido, onde detalhavam os acontecimentos da batalha na área central. Neles dizia que após a queda do Major Comandante Rayzor, sua segunda na linha de comando, a Capitã Lerona, havia assumido a liderança da Segunda Divisão, realizando várias manobras ofensivas com a Cavalaria, que ajudaram grandemente a Terceira e Quarta Divisões a manterem suas posições, mesmo com a diferença de força entre ambos os lados. Não só isso, como eles haviam encabeçado o ataque inicial, assumindo grandes perdas no processo, incluindo seu Comandante.
“Tenente Fernando, do Batalhão Zero, é um prazer conhecê-la, senhora.” Fernando cumprimentou, saudando-a formalmente, levando seu punho direito ao peito esquerdo.
“Ouvi grandes histórias a seu respeito, Tenente. Mesmo que seu Batalhão seja novo, suas contribuições foram realmente significativas.” A mulher ruiva elogiou, olhando-o fixamente, ainda surpresa com quão jovem o rapaz era. “Também soube que os bombardeios que eliminaram grande parte dos Ogros foram por suas ordens, aquilo realmente nos ajudou muito, aquelas coisas mataram muitos dos nossos.”
“Apenas fizemos nossas obrigações, Capitã.” respondeu, de forma humilde.
A mulher ficou um pouco surpresa com isso. No meio militar, apenas ações não eram suficientes para garantir destaque. Se você almejasse crescer, deveria fazer as pessoas conhecerem seu nome. Era por isso que ser humilde não era algo comum, pelo contrário, um soldado sempre deveria se orgulhar e até contar vantagem de seus atos, mas as ações do Tenente eram o oposto disso.
Realmente uma criança sem experiência… pensou, suspirando. Mesmo que o Tenente tivesse tido contribuições significativas, ainda era alguém jovem demais que tinha um longo caminho pela frente.
Enquanto ambos conversavam, a expressão de Dimitri mudou, quando recebeu uma mensagem.
“Vamos nos apressar, houve uma mudança de planos, o Alto Comando já está nos esperando nas muralhas.” falou.
Em pouco tempo o grupo já estava fora do prédio, então Dimitri olhou para Fernando.
“Já aprendeu a voar certo? Não temos tempo a perder, então vamos pelo ar.”
Normalmente, o ato de voar pela cidade sem autorização prévia, ainda mais próximo às muralhas, era algo estritamente proibido, mas com um General ali, isso não seria um problema.
Fernando assentiu, então olhou para Alfie, pensando em perguntar se ele conseguia voar, já que nunca o tinha visto usando essa magia, mas logo balançou a cabeça, pensando que isso era uma pergunta idiota, quando viu o homem sendo o primeiro a decolar.
Logo Dimitri começou a levitar, seguido por Lerona, restando apenas Fernando no chão.
Vamos lá, agora é para valer! pensou, ao ver o céu azul.
Diferente do local isolado e de teto baixo da sala de treinamento, que ele poderia usar para controlar suas tentativas, esse seria seu primeiro teste de voo real em um local aberto. Focando sua mente, começou a imaginar seu corpo leve.
Ele havia aprendido a Magia de Levitação com alguma facilidade, principalmente por seus conceitos terem alguma similaridade com a Magia de Gravidade na questão de visualização quando se diminuía o peso. A diferença é que no lugar de usar um elemento, se usava apenas o mana e mais nada.
Liberando o mana em torno do corpo e fazendo-o circular em uma certa velocidade, criava-se uma certa ‘barreira’ em torno do corpo, ao mesmo tempo, ao agitar as partículas desse mana, poderia então aquecê-lo ou esfriá-lo, conforme a velocidade, obtendo-se uma diferença de temperatura que poderia ser usada tanto para subir como para descer.
Vendo o rapaz ainda no chão, em silêncio, Dimitri parou no ar.
“Vamos logo garoto, não temos o dia todo.” gritou, impaciente.
Olhando para o alto, Fernando não hesitou mais, dando alguns passos a frente, começou a agitar o mana ao seu redor, então de repente, seus passos tornaram-se cada vez mais leves, até que finalmente deixaram o chão.
Quando o jovem Tenente se deu conta, estava subindo para o alto, a visão do chão afastando-se rapidamente o assustou um pouco, mas rapidamente tentou controlar sua mente, se perdesse o controle acabaria caindo.
Felizmente, em relação à Magia de Gravidade, que demandava um controle constante, a Magia de Levitação era muito mais simples. Contanto que ele ordenasse o mana e mantivesse uma quantidade mínima de atenção nisso, a função seria continuada enquanto houvesse mana suficiente, o que era algo bem prático.
Consegui!
Logo Fernando atingiu a altura que Dimitri, Alfie e Lerona estavam, que era um pouco mais altos que os prédios, o que o deixou satisfeito, contudo sua expressão mudou quando passou rapidamente por eles, continuando a subir.
Droga, droga… Isso é bem alto! pensou, tentando controlar o mana para cessar sua subida.
“Para onde ele vai?” Lerona perguntou, ao vê-lo passando direto e continuando a subir para o céu, cada vez mais alto.
“Quem sabe…” Dimitri respondeu, olhando essa situação estranha.
Alfie que estava ao lado, olhou tudo isso com curiosidade, mas não parecia muito interessado em intervir.
“Será que ele ainda não dominou totalmente a magia?” A mulher perguntou, surpresa, ao ver que o rapaz continuava a subir sem parar.
“Bem, se for isso, da Matriz ele não passa…” O velho General falou, rindo e achando toda essa situação engraçada.