Leviatã - Capítulo 10
Jack partiu junto com o restante da tripulação para o local mostrado por aquela mulher, mas eu não ficaria com eles, precisava encontrar um meio para roubar as pedras de energia espiritual do governador desta cidade.
Olhei para o grande castelo na cidade, aquele era o meu alvo, felizmente quase todos os governadores e suas famílias permanecem na cidade central, imagino que os daqui não sejam diferentes.
Para essa missão, precisava reconhecer o terreno, então dei uma volta no porto o qual na última noite não pude observar. O porto águas do céu era maior que o porto da grande lua. Durante minha caminhada, percebi que o cais tinha um formato retangular que se estendia por até duzentos metros. O porto em si ficava abaixo de uma colina, e era acima da colina que ficava a cidade do céu.
Notei que neste porto encontrava-se uma quantidade maior de guardas e soldados, diferente do porto da 8ª Ilha, não se via círculos de apostas e lutas. Igualmente maior era a quantidade de navios atracados no cais.
Depois de percorrer todos os becos do porto, encontrei alguns bons lugares para fugas e esconderijos. Que incluíam entre estes os esgotos, casas abandonadas no fundo dos becos, entre os mendigos, e o mais interessante era abaixo do cais, onde encontrei um pequeno espaço. No fim fui para a cidade subindo o monte.
As torres da cidade, junto a suas muralhas, eram incrivelmente altas, em contrapartida a cidade não tinha uma área grande. Com o castelo localizando-se bem no centro, em sua volta existiam vários tipos de lojas, tabernas e estalagens.
Vaguei pela cidade por um total de duas horas procurando becos e espaços para minha fuga, também tomei nota de detalhes importantes como a unidade militar, localizada a cem metros do castelo.
Meu último ponto foi o castelo, que não só era alto, com quatro torres interligadas entre si, como também tinha um campo enorme em sua volta sem árvores. Não só a fuga seria difícil, como entrar também não seria fácil.
Na frente do castelo, o portão era guardado por quatro soldados totalmente armados e equipados, nas áreas laterais um total de dois guardas e no fundo quatro guardas também. Nenhum dos guardas mostrou o menor sinal de desleixo ou cansaço.
Usando uma luneta, observei que não existiam guardas na torre, mas mesmo assim percorrer o campo para entrar estava fora de questão. Fiquei observando o castelo pelo resto do dia à procura de uma brecha, qualquer que fosse.
“César!”
— Hum, Thomaz! Você ficou mais forte. Incrível.
“Sim, recentemente alcancei o fortalecimento dos ossos.”
— Tão rápido! Tem certeza que não está prejudicando seu potencial?
“Não, apesar de não poder dizer que estou alcançando grandes resultados. Ainda é o suficiente para nosso avanço futuro. Você voltou a cultivar as etapas anteriores?”
— Sim. Não acreditei que pudesse ter grandes efeitos, mas minha força realmente aumentou em 30%! Também confrontei o meu pai a respeito de nossas suspeitas, estávamos certos, Thomaz. O Clã do fogo realmente tem uma coleira em nossa família, até mesmo falar sobre é arriscado.
” Seu pai falou nas entre linhas?”
— Sim, mesmo assim ele não conseguiu transmitir todos os detalhes deste contrato. Eu preciso fugir! Mas não agora, não antes da gente alcançar o 2ª Estado. Mas entre as poucas informações que obtive, estava uma muito importante.
“Qual?”
— Existe um perigo oculto ao avançar para o 4ª Estado, mas os Estados anteriores estão relativamente seguros.
“Ótimo, também preciso de informações. Existe algum requisito para o armazenamento de pedras vitais em seu mundo?” (( Lembrando que no mundo dos espíritos existem as pedras vitais e no mundo dos humanos existem as pedras espirituais))
— Não posso falar sobre as pedras espirituais, mas quando se completa o primeiro Estado, os Leviatãs são muito sensíveis à energia vital em nosso mundo. Por isso a escondemos em baús de chumbo, mas isso só é seguro contra aqueles que estão abaixo do 3ª Estado.
“O baú que César usou parecia ser feito de chumbo também. Obrigado. Até mais César.”
— Até mais, Thomaz.
Após minha breve conversa com César, consegui algumas informações sobre onde possivelmente estaria as pedras de energia espiritual. Não seria fácil encontrar algo do tamanho de um punho em um castelo enorme.
E minhas observações deram bons resultados, no fim do dia eu já tinha um plano para entrar no castelo. Os servos saíram todos juntos ao pôr do Sol. Sorri com confiança enquanto escolhi o único servo a qual os guardas fizeram questão de se despedir.
Segui o homem simples por alguns minutos até uma área residencial a dezenas de metros do castelo, ele entrou em uma das casas e eu fiquei do lado de fora observando pacientemente.
Percebi que ele não ia sair tão cedo, então, quando já não havia mais pessoas nas ruas, coloquei o meu capuz e fui até a porta de sua casa e nela bati três vezes.
Do lado de fora, as crianças rindo eu ouvia junto as vozes de uma mulher, alegre ela parecia estar, provavelmente sendo a esposa do servo que eu segui, todos pareciam felizes naquela noite.
Quando o homem apareceu, pude avaliar mais sua aparência. Mas no final tudo que percebia era a felicidade em seu rosto.
— Posso ajudar?
— Gostaria de conversar a sós com você.
O servo do castelo se virou e fechou a porta, naquele momento bati rapidamente em sua nuca e observei ele caí no chão. Talvez pelo rápido movimento de meu corpo, o capuz que eu estava usando também caiu.
Eu só pude ouvir o barulho da porta, que se abria, quando um pequeno garoto fofo apareceu e olhou diretamente em meus olhos, iluminados pela luz que vinha do interior de sua casa.
Coloquei o capuz, me abaixei e carreguei o pai da criança em meu ombro direito, enquanto o garoto olhava para mim ainda paralisado, joguei uma moeda de ouro para dentro da casa.
— Cresça forte, criança.
Levei o homem embora sem olhar para trás. E em pouco tempo estávamos nos esgotos da cidade, um lugar escuro, úmido e aparentemente enorme.
— Acordar, acordar agora!
Dei uns tapas na cara do homem que por instinto tentou se afastar encontrando apenas a parede atrás de si. Sem chances de fugir da realidade.
— Quem é você?! Porque tá fazendo isso caramba?! Dinheiro?!
Joguei uma bolsinha com vinte moedas de ouro na frente do homem, mostrando que dinheiro não era problema para mim. Eu poderia ameaçar ele, mas precisava mostrar benefícios para evitar problemas.
— Preciso de sua ajuda. Se você me ajudar, essa bolsinha vai ser sua.
O homem olhou para o ouro que reluzia com a luz da tocha que tinha trazido, e ele ficou paralisado, o que não era de se estranhar. Vinte moedas de ouro era o bastante para vinte anos de despesas. Um dinheiro que muitos não ganhariam nem em vinte anos de trabalho.
— O que você quer?!
— Preciso que me conte tudo que sabe sobre o castelo do governador. Desde de sua arquitetura ao horário dos guardas, até os mínimos detalhes. Entendeu bem?
— E eu tenho escolha?
— Não me enrola! Mas não se preocupe. Conte-me o que eu preciso saber e você sairá daqui mais rico do que quando entrou.
O homem olhou para as moedas e respirou profundamente: — Trinta moedas!
Eu sorri em satisfação: — Combinado.
Enquanto respirava fundo, em uma tentativa de se acalmar, o homem contou sua história.
— Meu nome é Jefferson, trabalho como ajudante de mordomo a três anos para o governador Zhou Hai. A princípio o governador e sua família ficam na Cidade Central, junto com o mordomo da família. Eu e mais dois ajudantes de mordomo ficamos responsáveis por manter o castelo limpo, cada um tem sua semana de trabalho. O castelo tem um total de 12 guardas de elite guardando o perímetro exterior e outros vintes na parte interna que se dividem nos 4 andares do castelo. Existem dois grupos de 32 guardas que alternam a segurança do castelo a cada 4 horas. No dia seguinte, dois grupos diferentes do dia anterior ficam responsáveis pela segurança do castelo. Os servos totalizam 7 mais um ajudante de mordomo. Isso é o suficiente?
Estava satisfeito com a colaboração de Jefferson, mas ainda não podia liberar esse servo: — Preciso que você me ajude a entrar no castelo
Jefferson sorriu de forma depressiva: — Como exatamente vou fazer isso? Os guardas não são como aqueles inúteis que ficam nas ruas.
— Acha que eles vão notar se eu me disfarçar como um dos servos? — Esse era o meu plano, dado as circunstâncias, qualquer plano mais seguro levaria dias de preparação.
— Não, mas os servos começam seu trabalho ao amanhecer e terminamos ao pôr do Sol. Você teria apenas esse tempo para conseguir o que você quer lá dentro.
— Isso basta, você tem um uniforme?
— Não, mas sei onde você pode conseguir.
— Onde?
— Raimundo, um dos servos mais recentes. Ele parece ter mais ou menos sua estatura e é responsável por limpar os cômodos.
— Me leve até ele.
Carreguei Jefferson para fora do esgoto, não antes de pegar o saquinho de moedas. Já fora, tomei cuidado para não ser pego pelos guardas, dando um passo para trás a cada dois para frente. Depois de vários becos e esquinas, chegamos às periferias da cidade do céu.
— Como você sabe onde Raimundo mora? — Perguntei para Jefferson em dúvida.
Respirando pesadamente, Jefferson me deu a única resposta provável entre muitas: — Eu o recomendei.
Jefferson permaneceu em silêncio enquanto eu observava a casa de Raimundo na esquina de um beco.
— Fique aqui.
Já encapuzado, andei pela rua vazia e com poucos passos já estava de frente para uma simples casa. Me agachei e olhei atentamente a tranca da porta, utilizando apenas dois pedaços de ferro consegui arrombar facilmente a porta. Uma habilidade que aprendi com meu pai entre muitas outras que não envolviam o simples combate físico.
Já dentro da casa, pude observar nada além de uma pequena mesa no centro, uma cozinha no fundo, armários nos lados e uma escada para um segundo andar que ficava à minha frente.
Calmamente subi a escada, o que me saudou foi um quarto sem adornos ou extravagâncias. Logo na entrada existia um armário e ao meu lado, dormindo profundamente, Raimundo em sua cama.
Percorri a curta distância até a borda de sua cama e observei o que seria uma das primeiras vítimas de minha ascensão; um inocente que não tinha relações comigo.
Suspirando pesadamente, peguei um dos lençóis e pressionei contra o rosto de Raimundo sem hesitação! Gemidos de sufocamento ele exalou, lutou com todas as suas forças na forma de arranhões e chutes, até que por fim parou de resistir contra a minha força.
Tirei o lençol de seu rosto e toquei em seu pescoço, ainda estava vivo. Eu realmente não planejava matar Raimundo, a não ser que fosse necessário, não iria matar inocentes. Agora com liberdade, baguncei o armário de Raimundo a procura do uniforme, até que o achei no fundo de uma das gavetas interiores, totalmente arrumado.
Antes de ir, peguei uma corda que carregava comigo e amarrei firmemente Raimundo na cama, com uma mordaça e os olhos vendados. Com a corda fiz um nó de azelha com duas alças((https://www.google.com/search?q=n%C3%B3+de+azelha&oq=n%C3%B3+de+azelha&aqs=chrome..69i57j0i512j0i22i30l5j0i10i22i30.3122j0j7&client=ms-android-samsung-gj-rev1&sourceid=chrome-mobile&ie=UTF-8#imgdii=CmLmlNEs3FbgjM&imgrc=NfRcSJnQh0F2LM)) junto a nós cegos para que a cada tentativa de ser solta, mais preso Raimundo ficasse.
Saí da casa carregando apenas o uniforme, já na rua encontrei Jefferson me observando sem muita expressão em seu rosto, nem mesmo indignação.
— Porque não fugiu?
— Eu conseguiria?
— Não.
Jefferson olhou para o uniforme em meus braços e perguntou com um olhar vazio: — Você matou ele?
Balancei a cabeça em negação: — Raimundo ainda vive, mas vai precisar da sua ajuda quando tudo acabar. Aqui, pegue suas trinta moedas, você deve me encontrar em frente ao castelo ao nascer do Sol. Não se atreva a fugir ou me enganar!
Deixei o Jefferson com as trinta moedas e fui embora. No resto daquela noite eu permaneci no quarto de uma estalagem em cultivo.
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Estava uma noite sem estrelas, o céu estava coberta por densas nuvens. Eu estava na sacada do Bar da Lua, vendo as costas da Dona que observava a cidade do céu, usufruindo de seu vinho.
— O quê você vai fazer com os Sparrows?
— Eu? hahaha, eu não vou fazer nada com os SPARROWS.
Lady Turquesa riu, mas eu não me sentia seguro ouvindo aquele riso, era certo que a Dona já tinha planejado o destino dos Sparrows.
Balancei minha cabeça e joguei o assunto para o fundo de minha mente: — O que eu devo fazer?
— Prepare a minha fuga, depois que todos morrerem, eu não vou arriscar que o Huáng Xiēzi estrague tudo.
— Tem certeza que a Lorde Camila vai nos ajudar? O lorde Xiēzi vai caçar a gente em todos os cantos.
— Yuri deve ter mais cinco pedras espirituais fora aquela que me ofereceu, as tropas de seu segundo irmão chegarão amanhã ao pôr do Sol. Também ouvi dizer que os Sparrows possuem uma riqueza generosa. Depois que eu matar todos eles, Camila não vai conseguir recusar a minha ajuda. Sei que Camila está querendo dar um duro golpe nos lordes da 8ª ilha agora que o pai de Yuri morreu e seu filho fugiu com metade de sua herança. A estrutura frágil do poder daquele lugar será a minha oportunidade.
Estremeci por dentro, não pensava que a Dona tinha planejado tão longe, mas…: — La..dy Turquesa planeja pescar em águas turbulentas?
Lady Turquesa se virou para mim e sorriu: — Eu planejo caçar em águas turbulentas amigo meu, volte para o bar. Não deixe nossos clientes esperando.