Leviatã - Capítulo 12
Eu saí da estalagem antes dos primeiros raios de Sol, usando apenas as roupas de empregado que havia roubado. Caminhei pelas ruas, quase desertas, levando comigo apenas uma mochila na qual tinha escondido duas TNT. No dia anterior acabei comprando pólvora e areia vermelha para fabricar os explosivos.
Essa era a minha garantia de fuga caso tudo desse errado. O percurso até o castelo pareceu se encolher sobre a minha apreensão e em pouco tempo já havia atravessado todo o caminho até o castelo. Quando lá cheguei, avistei Jefferson em frente ao portão, com quatro guardas à sua volta.
Não sendo lento, tão pouco sendo rápido, me aproximei dos guardas calmamente. Todos os quatros usavam uma armadura completa de cor preta, carregando consigo duas espadas na cintura esquerda e uma arma de pólvora pendurada por uma alça em seu ombro esquerdo.
— Pare!
Um dos guardas se adiantou e levantou a mão. Olhei para Jefferson que fazia de tudo para não parecer nervoso, escondendo as mãos que tremiam nos bolsos.
— Senhor, sou o substituto de Raimundo.
Os guardas se olharam com dúvidas em seus olhos: — Raimundo?
Jefferson se adiantou para esclarecer as coisas aos guardas: — É um dos servos responsável pela parte da cozinha e pelas escadas.
O guarda que havia me parada franziu as sobrancelhas: — Você sabe o que aconteceu com ele?
— Não. Raimundo nunca faltou desde a sua contratação. Talvez esteja doente.
O guarda que havia me parado continuou em silêncio e eu esperei pacientemente uma reação de sua parte. Até que um outro guarda pegou em seu ombro e reclamou.
— Deixe ele passar, de qualquer jeito nosso turno já acabou.
— Tudo bem.
Assim os guardas realmente me deixaram entrar na mansão e foram embora. Infelizmente, eu sabia que o quartel ficava a poucos minutos do castelo, então os substitutos chegariam logo.
— E os outros guardas?
Jefferson deu de ombros e disse sem se importar: — Eles já foram a algum tempo, às vezes eles fazem uma competição de queda de braço e o grupo perdedor fica enquanto o outro vai embora. Parece que você tem alguma sorte.
— Tanto faz.
Atravessamos o jardim e subimos os degraus da entrada, logo depois Jefferson esticou os braços e empurrou as portas do castelo. Logo de primeira, avistei o salão principal e o longo tapete azul que ia até o trono junto a três pilares de cada lado do tapete. O trono por sua vez ficava acima de um pequeno palanque e o trono em si era feito de madeira, mas incrustado com algumas pedras preciosas.
— O que você vai fazer se encontrar os outros servos, nem todos chegaram, mas alguns já estão espalhados pelo castelo.
— Vou tentar ignorar obviamente. Me dê uma vassoura, o resto deixa comigo.
— Tudo bem. Me siga.
Seguir Jefferson pelo corredor direito, mas antes que chegássemos ao final, passamos por uma outra porta.
— O que tem dentro deste salão?
Jefferson olhou para o lugar sem se importar muito: — É o salão das refeições, curiosamente é onde o governador passa a maior parte de seu tempo.
Deixando minha curiosidade de lado, segui Jefferson até o fim do corredor e encontrei outra porta: — E essa daqui?
— Essa é a cozinha, esta é a entrada para os cozinheiros, do lado de dentro existe uma entrada diretamente para o salão das refeições. Esses vários quartinhos até o fim do corredor são para que alguns servos e guardas possam permanecer no castelo com o objetivo de servir a qualquer pedido do governador. Essa portinha é obviamente a entrada para o jardim dos fundos. Aqui ao lado é o depósito.
Entramos no depósito e uma escada se apresentou, nos levando para um pequeno lugar com três quartos: — O que tem nesses quartos?
Jefferson apontou e disse um por um: — Esse aí é o dos grãos e alimentos, atualmente está vazio. Esse ali é dos vinhos, tendo mais de cem garrafas de vinho, todos muito valiosos. O nosso é esse daqui, onde colocamos nossos produtos de limpeza.
Entramos no quarto que ficava ao lado dos degraus. Jefferson se adiantou e puxou uma vassoura e a entregou para mim. Eu peguei e fui embora para cima.
— Espera! O que você vai fazer exatamente?!
— Farei o que vim para fazer. Você já pode fazer o que faz todo dia, ou até mesmo fugir. Eu não ligo.
Quando saí do depósito, não voltei para o salão principal. Fui até o fim daquele corredor, passando pela cozinha e pelos vários quartinhos que existiam ali.
Dobrei para o corredor à esquerda e segui adiante, ainda carregando a vassoura e a mochila comigo. Obviamente eu não poderia deixar aquela mochila longe de mim, sendo a solução carregar a mesma por todo o castelo.
Quando encontrei a escada para o segundo andar, repentinamente me deparei com uma serva. Ela usava uma roupa serviçal simples, seus cabelos eram castanhos junto aos seus olhos que me encararam estranhamente.
— Quem é você?
— Estou aqui para substituir Raimundo.
Ela arregalou os olhos com alguma surpresa: — Ele estava bem ontem. O que aconteceu?
— Amanheceu doente, você faria bem em visitá-lo.
A serva assentiu: — Tudo bem, como você é novo aqui, não deve conhecer os outros. Atualmente chegou Shentu Lan, Xi Lihwa, Tao Wuzhou e eu, pode me chamar de Mao Lien. Atualmente Shentu Lan e Xi Lihwa estão cuidando dos quartos do segundo andar, Tao Wuzhou está com o terceiro, eu preciso ajudá-lo. Você poderia ficar com o quarto?
— Tudo bem. — Eu concordei com Mao Lin a princípio. Já estava em meus planos conhecer todos os andares, começar pelo quarto seria o melhor.
— Ótimo. Irei pegar umas coisas no depósito e você pode me encontrar no terceiro.
Ela saiu de minha presença e eu fui para o quarto andar, as escadas estavam todas do mesmo lado, então não tive que ir para o outro lado do castelo. Quando cheguei ao quarto andar pude sentir a forte brisa dos vento vindo da abertura das quatro torres.
Caminhei até uma das aberturas e dali consegui ver toda a cidade do céu, o mais impressionante eram as pessoas tão pequenas, dava para ver até mesmo o porto abaixo da colina e os pequenos navios. Me perguntei se podia ver a casa para onde Jack e os outros tinham ido.
Caminhei até o outro lado do castelo e observei todo o campo fora da cidade. Realmente a uma distância não muito grande, conseguir ver a casa onde Jack e os outros deveriam está. Até mesmo observei o Sparrow atracado ao longe.
Me desvencilhando de meus pensamentos, me concentrei em encontrar o lugar onde as pedras estariam. Após rondar todo o quarto andar, descobri que existia apenas uma única porta e um único salão, onde dentro existia uma enorme biblioteca.
A biblioteca de dentro continha um andar superior e um interior, cada um devia ter mais ou menos dois metros de altura. Aquela biblioteca devia servir apenas para o relaxamento, existiam sofás e poltronas ao lado das estantes de livros, com mesas de jogos e um bar no andar de cima.
Procurei por toda a biblioteca, observei cada uma das estantes e até mesmo o piso e as poltronas, não achei nada. Quando subi para o segundo andar, esperando encontrar algo. Tive a decepção de encontrar apenas mais estantes e o bar.
Ainda sim observei atentamente cada pedacinho daquele andar, o piso, as estantes, os livros. Tudo. Apesar de que, segundo o que César disse, as pedras estariam em algum recipiente de chumbo não muito pequeno. Mas não podia simplesmente ignorar o que estava à minha frente.
Depois de não achar nada, saí da biblioteca e procurei em todo o quarto andar, onde a única coisa que existia fora as paredes, eram alguns vasos de flores.
No final, desci para o segundo andar decepcionado. Mas infelizmente para aumentar minha apreensão me deparei com um guarda totalmente armado na minha frente no último degrau.
No espaço de alguns segundos, fiquei sem nenhuma reação, esperando me despertar de meu devaneio. O guarda acabou falando ao invés de mim.
— Você deve ser o substituto de um dos servos, não é mesmo?
Abaixei a cabeça e respondi calmamente: — Sim, este sou eu.
— Hum. Qual seu nome?
— Pode me chamar de…Yuri! Senhor.
O guarda coçou o queixo e concordou: — Você não é do Continente despedaçado, não é mesmo?
— Não senhor, a minha família se mudou a séculos atrás. Infelizmente nunca soube de onde viemos.
— Entendo. Porque você carrega essa mochila?
Senti uma apreensão no fundo de minha mente, enquanto conversava com o guarda persistente: — Roupas, senhor.
O guarda arqueou as sobrancelhas: — Abra a mochila.
Tirei a mochila de minhas costas e abri, mas ainda a mantive firme em minhas mãos. O guardou olhou para o interior da mochila e não achou mais do que eu tinha falado.
— Tudo bem, volte ao seu trabalho.
O guarda passou por mim e foi para o quarto andar. Felizmente eu havia escondido os explosivos em um compartimento secreto dentro da mochila e como eu a tinha segurado todo o tempo, o guarda não sentiu a diferença de peso por muita sorte.
Já no terceiro andar, me deparei logo em seguida com um homem que tinha vindo do lado direito do terceiro andar.
— Você é o substituto de Raimundo? Mao Lien falou sobre você.
Olhei para o jovem servo e assenti: — Vim ajudar a limpar o terceiro andar, parece que o quarto não tinha muito o que fazer.
— Hahahaha, na realidade é o mesmo para todos os outros andares. Nosso trabalho na realidade consiste em procurar por algo que escapou da primeira limpeza ou até mesmo insetos ou ratos.
— Entendi. Como é o terceiro andar, quantas salas tem?
— O terceiro andar tem um salão para o café da manhã e o café da tarde. O escritório do governador e o quarto do mesmo.
— Você pode me levar até eles?
— Hahahaha! Claro, claro. Todos querem vê o castelo. Vamos lá, trabalho aqui a alguns anos. Poucos conhecem esse lugar melhor do que eu sabia.
Sorri para o jovem e o segui pelo terceiro andar. À nossa frente existia o escritório do governador e onde ele recebia a maioria dos relatórios. O lugar era incrivelmente luxuoso, existia uma grande mesa no canto esquerdo, estantes de livros nas laterais, bem como armaduras luxuosas, quadros junto a animais empalhados.
Existindo também três portas, uma à minha frente e uma à esquerda: — O que existe na porta esquerda?
— Ali é o quarto do governador, e aquela porta à frente e por onde as criadas podem entrar para que sirvam o governador.
— Posso olhar por aí?
— Claro, só não quebre nada ou todos estaríamos mortos! Preciso ir vê Mao Lien.
Depois que ele saiu, comecei minha procura. Examinei cuidadosamente o escritório, as armaduras, os livros, a mesa, os quadros e até mesmo o animal empalhado.
Decepcionado, fui para o quarto do governador. Uma longa cama se apresentava, ainda existindo um armário ao lado direito da porta. Era tudo que existia naquele lugar. Com exceção de uma janela que ficava ao lado da cama do governador.
Novamente comecei a procurar, só que depois de examinar a cama e o armário, comecei a tocar nas paredes e finalmente ouvir um click.
Uma pequena parte da parede foi para o lado esquerdo e uma passagem escura para o fundo apareceu! Peguei a vassoura que carregava comigo e joguei dentro do buraco. Somente depois de 12 segundos ouvir o barulho da vassoura atingindo o chão.
Comecei a descer pela escada que existia e depois de um tempo cheguei em um pequeno compartimento totalmente escuro. Depois de uma análise rápida concluí que estava em uma das torres, sendo aquele um espaço secreto para uma fuga.
No chão existia uma outra passagem, depois de abrir, vi que levava para os esgotos. Mas não desci, comecei a tocar nas paredes e ouvir outro click, novamente uma parte da parede se moveu para o lado direito e estava eu no primeiro andar novamente.
Peguei a vassoura e saí dali, toquei novamente no tijolo certo e a parede voltou para o mesmo lugar. Sem pensar muito fui para o salão principal e para a minha decepção avistei vários guardas e servos por toda a parte.
” Demônios! Agora tudo ficou mais difícil. Mas as pedras dificilmente vão estar no segundo andar. A passagem de fuga está no terceiro e no primeiro, então deixei algo passar!”
Voltei pelo corredor e entrei no único quarto que não tinha entrada, naquele lugar, encontrei diversas armas nas paredes. De todos os tipos, katanas, bastões, machados e lanças. Até mesmo armas de fogo.
Dei início a minha busca logo em seguida, comecei a tocar nas paredes procurando um espaço oco. Até que eu realmente ouvi algo na parede a minha frente, infelizmente depois de tatear no lugar não encontrei nenhuma abertura.
“Não tem entrada…desse lado!” Novamente comecei a tocar nas paredes, até que finalmente achei o que procurava no canto direito do salão de armas. Uma das lanças não saía da parede, estando totalmente presa.
Pressionei o cabo da lança que afundou imediatamente, abrindo um espaço para o primeiro cômodo que vi quando entrei no castelo; o salão das refeições! Eu não tinha entrado pela primeira vez, o que se provou um erro.
“Jefferson disse que o governador fica a maior parte do tempo aqui, droga! Como eu não percebi isso antes.”
Tinha ignorado a informação, mas não me importei. Entrei no salão e observei atentamente todos os objetos. Contudo, o único objeto próximo ao espaço oco era a cabeça de um lobo empalhado e a mesa de jantar, também tinha a lareira.
Primeiro comecei pelo lobo, mas nada aconteceu e nenhum espaço abriu. Depois procurei na lareira, infelizmente não aconteceu nada novamente. Dei a volta na longa mesa, mas não encontrei nada. Precisava de ajuda.
“César!”
— Thomaz, o que aconteceu?
” Estou no castelo, acho que encontrei o local, mas não achei nenhum mecanismo para abrir o espaço”
— Não é uma notícia boa, algumas famílias antigas possuem um método para travar um local usando um determinado círculo mágico.
” Eu não li nada sobre isso no manual, César.”
— Não é estranho que não encontre esse tipo de informação, a não ser que você consiga uma herança antiga, muito dos conhecimentos sobre o mundo dos Leviatãs seria passado oralmente. Tente achar alguma espécie de inscrição que emita os padrões de um círculo.
Procurei pelo o que César disse, e realmente achei um pequeno círculo mágico branco desenhado discretamente acima da lareira e abaixo da cabeça de lobo.
“César, como eu faço para ativar o círculo?”
— Existem vários mecanismos diferentes, o mais comum é colocar um pouco de sua energia vital no círculo, mas no seu caso seria a energia espiritual. O mais complexo que conheço é que talvez seja um fator linhagem, aí você não conseguiria ativar tão facilmente o círculo
Coloquei minha mão acima da lareira e inseri um pouco de energia espiritual, infelizmente não aconteceu o que eu esperava. Retirei e abaixei a mão e contatei César novamente.
” César, não deu certo. “
— É uma trava com um fator linhagem, mesmo um Leviatã do terceiro Estado não conseguiria ativar o círculo, claro que não quer dizer que ele não conseguiria forçar a entrada.
” Forçar… tive uma Ideia.”
— Boa sorte, Thomaz.
Depois de conversar com César, retirei cuidadosamente os dois explosivos que tinha fabricado. Tinha meio kg de pólvora dividido entre os dois, mas coloquei apenas um acima da lareira e usei a pederneira da lareira para fazer fogo e ascender o pavio.
Peguei a mochila do chão, dei a volta na longa mesa e saí do salão. Por conseguinte me encostei em uma das portas para segurar a explosão.
— Você de novo? O que está fazendo aí…
“Mao Lien!”
Boooooom!