Leviatã - Capítulo 13
Tosse!Tosse!
Quando a grande quantidade de fumaça abaixou, foi quando vi o que tinha acontecido. A explosão foi muito mais forte do que tinha imaginado, me lançando com força contra a parede.
Como havia segurado a porta para suportar o impacto, não sofri ferimentos. Tirei a porta de cima de mim, que caiu ao meu lado direito fazendo um grande barulho.
Quando olhei para a esquerda e vi Mao Lien que havia chegado no último segundo, minha mente se afundou em uma neblina confusa sem pensamentos.
Como uma pessoa comum, Mao Lien provavelmente estava destinada a nunca crescer além dos limites da 22° ilha. Mas agora sua cabeça estava esmagada por uma porta de quase dois metros. Mesmo o piso junto a grande porta fora manchado por um vermelho sangrento. Sendo o mais notável o seu uniforme, antes branco, agora carregando o próprio sangue.
Em poucos minutos o seu corpo passaria de quente a frio. Enquanto eu a olhava, pensei que por toda a vida me lembraria daqueles olhos claros, já fechados para sempre e de seus cabelos cobertos de sujeira e sangue.
Virei meu rosto para a frente e suspirei, apertei os punhos e entrei no salão das refeições do governador uma última vez. O lugar estava totalmente destroçado, chamas cobriam boa parte das paredes, mesmo a longa mesa de carvalho encontrava-se totalmente destruída. Passei diretamente por seus destroços e olhei para o grande buraco que tinha feito na parede onde a coisa que eu queria estava.
Agora, não existia mais parede, nem lareira e pude ver que a cabeça do lobo empalhado tinha sido destruída em mil pedaços que cobriam todo o chão. Mas bem no centro dos destroços da lareira estava o motivo do meu sorriso e de todos os meus esforços.
Um cofre, com um pouco mais de um metro e meio, feito a chumbo. A explosão acabou abrindo o cofre, o que já era um grande favor. Me aproximei dos destroços, joguei todos os entulhos para o lado e puxei o cofre para fora do buraco.
Puxei a porta do cofre já meio aberta e avistei várias coisas ali dentro. Dois sacos grandes, três livros grossos e uma espada curta.
Sem tempo para analisar tudo, peguei um dos sacos e rapidamente enfiei dois dos três livros que estavam ali, puxei o outro saco e coloquei o terceiro livro dentro. Enfiei tudo na mochila que estava comigo e por último peguei a espada.
Sem olhar para trás, atravessei para o salão à frente, que agora estava totalmente aberto pela explosão ter destruído quase toda a parede.
Mas a explosão não alcançou a porta daquele salão, então a empurrei e saí dali. Não olhei para o outro lado, apenas corri para o corredor à minha direita e entrei na passagem secreta que ali havia.
Levantei a portinha da passagem e pulei no esgoto. Já no esgoto, um dos lados destinados para a possível fuga do governador estava totalmente iluminado por tochas, mas o outro lado estava totalmente escuro.
Infelizmente os guardas logo iriam descobrir meus rastros até a passagem, então só me restava seguir pelo lado esquerdo totalmente escuro.
Andei e andei por vários minutos, talvez até mais. Tudo que conseguia ouvir era o som das águas do esgoto escorrendo para algum lugar, então minha única opção em meio àquela escuridão era seguir o fluxo das águas até onde a mesma caia.
” Acho que devia ter aprendido Brilho o quanto antes… mas não será tarde demais depois que eu sobreviver!”
Lentos eram os meus passos já que não podia correr pela grande escuridão que estava ali embaixo. Pude apenas caminhar esperando não bater em nada. Somente depois de quase meia hora foi que vi a luz no fim do túnel, ou melhor, do esgoto.
Rapidamente corri até a luz e uma vista sem precedentes se apresentou, eu estava no alto do monte, abaixo da Cidade do Céu, olhando para todo o porto Águas do Céu.
A água do esgoto da cidade seguia o fluxo e caia em um canal que ficava no fundo do porto e seguia até o mar. Nessa situação, a minha única opção era…
— Você não vai pular né?!
Um frio que nunca senti em minha vida atacou a minha espinha… Não! Eu já tinha sentido aquilo antes, estava um pouco longe, mas era como a pressão que meu pai emitia em nossas lutas.
Me virei e encarei um homem sem armadura alguma, carregando apenas uma única espada em sua cintura. Assim como muitos outros, tinha cabelos curtos e pretos, olhos escuros, carregando um sorriso sarcástico em seu semblante. Provavelmente tinha seus trinta e poucos anos, mas parecia tão forte quanto possível.
Sorri depressivamente — Acho que não rola fingir que nunca nos conhecemos?
O homem sorriu e em um piscar de olhos só pude ver sua espada acima de mim, desviei para a esquerda, apenas para sentir um frio congelante em meu pescoço. Por puro reflexo me abaixei sem pensar e me distanciei em um piscar de olhos para a minha esquerda.
O homem não falou mais nada só me encarou de volta após seu primeiro ataque. Infelizmente naquela única investida percebi que ele estava muito além de qualquer adversário que já havia enfrentado, um verdadeiro mestre queria a minha morte!
Respirei profundamente e soltei o ar, tirei a mochila de minhas costas e a joguei no chão ao lado. Por último tirei a bainha da única arma que tinha comigo, a espada que havia roubado do cofre.
Ambos entendemos que só um de nós sairia vivo dali hoje, então avançamos em busca do que queríamos; a morte um do outro!
Ataquei verticalmente com a espada, mas comprovando que aquela seria uma grande luta, meu aniversário revidou o ataque de frente. A minha espada foi enviada para trás pelo forte golpe e ele atacou logo depois, tentando perfurar diretamente o meu peito.
Instintivamente me esquivei para a esquerda, mas sua espada me seguiu em um ataque horizontal. Tentei suportar o ataque com a minha própria espada, mas sua força era tão grande que fui enviado um metro para trás, ficando nas bordas das águas do esgoto.
Sem tempo para respirar, ele se moveu como um fantasma me atacando em uma diagonal que descia da esquerda para a direita. Por um triz consegui me mover para a esquerda e saí do alcance da espada. Não demorei para o atacar, mas ele em um rápido movimento posicionou sua espada para me bloquear.
Esperando uma disputa de forças, na qual ele teria a vitória iminente, ele sorriu. No entanto, para a nossa surpresa, a minha espada simplesmente estraçalhou a sua espada e o forte barulho, como o de um trovão, não foi o suficiente para impedir o meu ataque que cortou sua garganta.
Antes mesmo que eu pudesse reagir, ele deu apenas três passos para trás, com um olhar de descrença e medo em seu rosto, segurando sua garganta e caindo no chão logo em seguida.
Eu não me dei ao luxo de entender como tinha vencido alguém bem mais forte, apenas peguei minha mochila e pulei nas águas do esgoto, segurando firmemente a espada que me trouxe a vitória.
***************************************************
— Por aqui! Vamos, rápido!
— É o comandante! Ele está sangrando, rápido!
Chegamos quando já não havia mais ninguém além do comandante encostado na parede com a mão na garganta. Coberto por sangue.
Nós não sabíamos o que havia acontecido, mas o olhar de satisfação no rosto do comandante era de alguma forma estranho, pela situação ele parecia que havia perdido a luta. Infelizmente nós nunca iríamos saber o que realmente aconteceu entre o comandante e o ladrão.
Carregamos o capitão em uma maca improvisada com trapos e saímos do esgoto, mas antes de ir, olhei para o porto e me perguntei em que lugar estaria o ladrão que seria caçado como o único a ter coragem de roubar de um governador. Sendo procurado por todas as ilhas como o maior ladrão dos mares do Norte.
***************************************************
Segui o canal do porto até o cais para me esconder dos guardas, o que não foi fácil após cair de uma altura de mais de 10 metros em merda e sujeira de esgoto.
Apesar de ter vencido uma luta difícil, não estava machucado, mesmo assim já não tinha forças para continuar. Então me escondi no espaço que encontrei abaixo do cais.
Entre um suspiro e outro, tirei a mochila já molhada de minhas costas. Primeiramente eu levantei a espada que me trouxe a vitória e examinei a estranha lâmina. Só agora eu pude notar pequenos pontos brilhantes em todo o corpo da lâmina. ” Ferro Estelar…”
Talvez o maior prêmio do roubo tenha sido aquela lâmina de Ferro Estelar, feita de um material muito raro. Destinado àqueles que estavam no Terceiro Estado do poder ou ainda mais alto.
Coloquei a lâmina de lado e tirei os sacos da mochila, o primeiro era um saco feito de um tecido fino roxo. Primeiramente retirei o livro cuidadosamente e o deixei de lado, o livro estava completamente molhado, então só me restava esperar secar naturalmente.
Já dentro do saco encontrei uma grande quantidade de riqueza. Ouro e jóias preciosas cobriam praticamente todo o interior do saco. ” Isso vai compensar minhas perdas… agora o outro.”
Peguei o segundo saco,este já era feito de um tecido grosso e era muito maior que o anterior. Retirei os dois livros de dentro e os coloquei ao lado do primeiro e finalmente vi as pedras de energia espiritual.
Tirei uma do saco e olhei contra a luz, mas contrariando minhas expectativas ela não brilhou mais intensamente. Emitindo apenas seu já natural brilho branco, outro detalhe era que não sentia o mínimo de peso da pedra. Apesar de ter um brilho branco, a pedra em si tinha uma cor cinza claro.
Retirei outra pedra e desta vez a cor era de um cinza um pouco mais escuro. ” Talvez a cor da pedra seja um indicativo de qualidade e seu tamanho de quantidade?”
Tirei uma terceira pedra e esta já não era cinza, era de um branco leitoso. Novamente tirei uma quarta pedra e esta já não tinha uma cor aparente, emitindo apenas seu brilho branco, a quarta pedra era transparente.
Depois de analisar todos os quatros tipos de pedra, contei quantas tinha no total e o número me surpreendeu; 25 pedras espirituais!
” Incrível, mesmo César não pode tirar muito mais que isso em pedras de energia vital. Mas é Yuri? Quantas pedras ele conseguiu roubar de sua família?”
Em sua totalidade, existiam 13 pedras transparentes, 6 de um branco leitoso, 3 de um cinza claro e outras três de um cinza escuro.
“César! Eu consegui!”
— Excelente, Thomaz. Acreditei que nunca mais falaria com você se não tivesse conseguido.
“Passou muito perto, tive de encarar um terrível guerreiro do nível Mestre. Apenas tive a sorte de vencer aquela luta”
— Como você fez isso?!
” Dentro do cofre existia, além das pedras, uma espada, só tive tempo de observar ela agora, mas acredito que seja feita de ferro Estelar!”
— Ferro Estelar?! Só aqueles do Terceiro Estado podem conseguir um pouco desse minério raro. Mas apenas os Leviatãs que já estão no Terceiro Estado a algumas décadas podem encontrar esse Ferro junto a um Ferreiro com as habilidades necessárias para forjar uma arma desse material.
” Sua família tem uma arma de Ferro Estelar?”
— Não. Minha família possui quatro tesouros de herança. Atualmente eu possuo 1 deles. Eu desconheço quais são os outros três, mas meu ancestral deixou uma relíquia em forma de anel para aqueles que seguem o caminho do Leviatã em nossa família.
” Uma relíquia?”
— Relíquias são diferentes de armas mágicas. Elas podem ser literalmente qualquer coisa, menos uma arma. A minha relíquia é um anel com três poderes mágicos. Bola de fogo, invisibilidade e uma habilidade passiva que aumenta minhas habilidades de reação e concentração. Bola de fogo e invisibilidade só posso utilizar duas vezes ao dia e ambas são poderes do Primeiro Estado, mas a habilidade passiva é do Segundo. Infelizmente quando eu alcançar o Terceiro Estado terei que devolver a família ou oferecer algo de igual valor.
” Incrível.” Olhei para a lâmina com admiração, mas notei que a mesma não tinha nenhum poder vindo de si e não existia nenhuma inscrição em seu corpo. Então tive dúvidas se a espada seria uma arma mágica.
” Todas as armas mágicas possuem inscrições e poderes?”
— As de primeira classe sim, as de segunda não. Vale ressaltar a dificuldade de um Leviatã sem um clã ou um poder atrás de si para conseguir esses tesouros. Mesmo meu ancestral só conseguiu essas heranças por ser um Leviatã do Quarto Estado e depois de décadas de serviço para o clã das Chamas o que seria diferente se ele entrasse oficialmente como um membro do clã.
” Pois bem. Preciso saber se existe alguma classificação em seu mundo para as pedras de energia vital.”
— Óbvio. Existem quatro tipos de pedras. As transparentes, as brancas, as cinzas claras e as cinzas escuras. A diferença é que a cada nível, a concentração de energia pelo menos duplica. Quantas pedras você conseguiu?
” 25! 13 pedras transparentes, 6 de um branco leitoso, 3 de um cinza claro e outras três de um cinza escuro.
Mas como é calculado o valor de cada pedra?”
— Seguimos o padrão de uma pedra transparente já que a mesma vale uma unidade e as seguintes valem duas, três e quatro unidades respectivamente. No caso, você teria 46 pedras de energia espiritual. Mas não tenho certeza se no seu mundo é assim. Isso é uma quantidade muito grande Thomaz, mesmo eu só consigo tirar esse tanto se pedi meus últimos favores ao meu pai. O que mais você encontrou?
” Livros. Provavelmente sobre o cultivo Leviatã. Infelizmente ainda não estou totalmente seguro, César. Preciso ir. Até a próxima.”
— Até a próxima, Thomaz.
Depois que me despedi de César, peguei um dos livros molhados e abri. A capa do primeiro livro era de um couro grosso e escuro e não dizia nada. Virei a capa, só que antes que pudesse tentar ler seu conteúdo um papel caiu do interior.
Peguei o papel com um olhar curioso e o desdobrei em quatro partes. Naquele momento um sorriso se fez presente em meu rosto, o que estava diante de mim era outro tesouro tão valioso quanto ouro. Um mapa do continente despedaçado estava em minhas mãos, com dezenas de marcações por todo o continente.
Infelizmente o mapa estava completamente molhado, então o deixei de lado enquanto esperava secar. Peguei o livro no qual estava o mapa e comecei a ler. O título da primeira página era História dos Leviatãs e seus Mistérios.