Leviatã - Capítulo 18
Ao chegar com os primeiros corpos no navio inimigo, encontramos muitas das coisas reviradas. Mas não era importante, sabíamos que se fosse uma tripulação cívil ou até o próprio barqueiro, nenhum deles iria alertar os guardas já que roubariam o navio, levando tudo que conseguissem.
Foi por esse e outros motivos que Hela, John, Paty ou eu decidimos não subir a bordo do navio de Sotaro. Além do quê, Thomaz, Jack, Yuri e os outros estavam todos muito feridos. Tivemos, ainda, que lidar com as bizarrices que surgiram após a batalha, seja a espada de Thomaz, a arma de Sotaro ou o homem que virou múmia em poucos minutos.
Como médico, ou mesmo como guerreiro, tive mais surpresas em uma noite do que queria para toda a vida. E eu tive certeza, após a batalha, que o mais assustador ainda estava por vir.
Naquele momento olhei para Jack levantando mais um corpo e indo para o navio. Ele é um exemplo de bizarrice que não deveria ser possível, até onde meus conhecimentos iam, o impacto em sua mandíbula quase a quebrou, não seria estranho ele dormir por um ou dois dias. Mesmo que acordasse, o estresse mental da quase morte, não lhe permitiria exercer qualquer esforço.
Mas indo contra todas as expectativas, Jack não só havia acordado, como também estava se recuperando tão rapidamente que chegava a ser espantoso. E eu tive certeza, em meus pensamentos, que Jack quebrou seus limites e tornou-se um verdadeiro Mestre por direito, sendo a elite entre os guerreiros.
Graças a isso, levamos apenas quarenta minutos para carregar todos os corpos para o navio. Mas não acabou por aí, nós organizamos os corpos verticalmente, tiramos as armaduras junto às roupas e limpamos seus corpos, após isso, colocamos novamente as armaduras em cada um e posicionamos suas espadas e armas ao lado de seus corpos.
Por último carregamos o corpo daquele homem, mas o mantivemos em cima da mesa de ferro, em seguida levamos o corpo de Sotaro e o pusermos na mesa de ferro, ao lado do que seria seu melhor guerreiro.
Quando terminamos, duas horas já tinham se passado e Hela, John e Paty ainda não tinham voltado: — O que fazemos agora ?
— Procure qualquer coisa que seja útil nesse navio para nós.
Percebi que Jack ainda estava mal humorado, mas não era para menos. Quase morremos e muitos dos nossos estavam em coma sem hora para acordar.
Revistamos todo o navio, recolhemos armas, armaduras e mesmos os tanques de mantimentos foram todos transportados para o Sparrow.
Depois de tudo, voltamos para a mansão. Infelizmente Jack não queria conversar e se plantou em frente a porta esperando Hela e os outros. Eu também não estava bem depois daquela noite, mas me concentrei em cuidar dos feridos e trocar as ataduras, aplicando mais remédios em suas feridas.
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Foi somente ao fim da tarde, quando o Sol estava se pondo, que Hela e os outros chegaram, trazendo consigo cinco grandes carroças: — Tim! Venha e ajude-nos a tirar os mantimentos.
Me aproximei de Hela que já havia descido de uma das carroças: — Fiz tudo que pediu Jack, seguindo a orientação de Paty e John, acho que temos mais do que o suficiente para o tempo que iremos passar nas águas.
Eu assenti com a cabeça, não esperava menos de Hela e dos outros. Quando Tim chegou, começamos a descarregar os mantimentos. Hela e os outros não compraram apenas grãos e carne seca, havia muito mais, como materiais para o reparo constante do navio, até mesmo quatro velas enormes foram trazidas.
Finalmente, quando o céu escureceu, terminamos de carregar todos os mantimentos para dentro do Sparrow. Naquele momento senti uma inquietação em meu espírito, pois tinha certeza que os perigos daquela noite seria apenas o início de uma luta constante por espaço nesse novo mundo.
No fim daquele dia, nem Thomaz, nem Yuri e seus guardas tinham acordado. Mesmo sabendo que poderiam ficar dias sem abrir os olhos, ainda tive esperanças de vê-los bem naquele dia: — Tim, ajude-me com John a carregar Thomaz, Yuri e seus guardas para o navio. Hela e Paty, vocês dois devem se preparar para que logo depois de zarparmos, possamos incendiar o navio deles.
Paty olhou para Hela e concordaram com um aceno, Paty ainda me ajudou, junto a Tim, a improvisar uma maca dupla, que pudesse sustentar dois ao mesmo tempo.
Quando chegamos na mansão, o primeiro a levarmos foi Hugo, um dos guardas de Yuri, que havia morrido em batalha. Por respeito, o levarmos sozinho até o navio e antes de voltarmos a mansão, com a ajuda de Paty, construímos no centro do navio um repouso feito de madeira para que pudéssemos queimar e espalhar suas cinzas pelo mar.
Quando olhei para o pequeno centro de madeira, coloquei em seguida o corpo de Hugo ali com cuidado e perdido em pensamentos, lembrei-me da antiga história que tinha por trás de queimar os guerreiros do mar e espalhar suas cinzas pelo vento. Dizia que seus espíritos seriam carregados até seu local de descanso eterno.
Antes de queimar Hugo, voltamos à mansão e carregamos Yuri e Thomaz, depois carregamos os guardas de Yuri e antes que o último fosse levado, me virei para a mansão de Turquesa com um turbilhão de emoções. Balancei a cabeça e acendi o explosivo que Thomas havia preparado e joguei para dentro da casa a qual havia coberto de óleo.
Antes que tudo explodisse, saí com Tim e John dali. Em seguida um grande Boommm soou e atrás de nós uma grande fumaça que subia aos céus se formou, mas não paramos até que finalmente subimos no navio, levantamos âncora, baixamos as velas e zarpamos para o Sul.
De longe avistei a mansão de Turquesa, junto com seu corpo, se transformar em cinzas e não pude deixar de sorri em satisfação ” Sobrevivemos!” Quando chegamos a dez metros do pequeno cais, Paty me deu um arco e uma flecha em chamas, mesmo não possuindo nenhuma habilidade com o arco flecha antes, após a minha chegada abrupta ao nível Mestre, todos os meus sentidos foram melhorados.
Não tive nenhum problema para mirar na vela do navio de Sotaro que após o meu disparo, também entrou em chamas. Quando já estávamos no horizonte, todo o barco de Sotaro já tinha pegado fogo junto ao seu corpo e os corpos de seus homens.
Não sabia se essa seria a vontade de Yuri, mas era a minha, por isso também peguei uma tocha em chamas com Tim, caminhei até o corpo de Hugo e coloquei a mão sobre seus olhos: — Que você seja feliz na próxima vida, amigo de batalha.
Após isso, coloquei fogo no corpo e na madeira e todos olharam para as chamas que se levantou aos céus: — Que o fogo e o ventos do mar carreguem as cinzas de um guerreiro que em frente a morte, não recuou ou hesitou, lutando pelos seus companheiros até a morte. Que descanse em paz.