Leviatã - Capítulo 9
Em pouco tempo chegamos próximo ao porto. Mesmo naquela hora podíamos ver as várias pessoas indo e vindo no cais. Tivemos um pouco de sorte por conseguir um lugar para atracar logo depois de chegarmos, a 22ª ilha teve um cais e um porto maior que o da 8ª ilha, graças a isso não tive que subornar ninguém. Depois de levantarmos as velas e baixamos a âncora, os Sparrows desceram um por um do navio para aproveitar a sensação de terra firme.
A única que ficou no navio foi a navegadora Hela, e a pedido do capitão, também permitir que dois de meus servos permanecessem no navio para protegê-lo.
— Preciso ir capitão, voltarei pela manhã.
Deixei Jack com sua tripulação e fui embora com Douglas e Hugo, precisava encontrar aquela mulher de qualquer jeito. Camila me disse para procurar no Bar da Lua.
Perguntei para um guarda do porto onde ficava esse Bar da Lua, naquele momento achei até engraçado, mesmo os filhos de um Governante não saem de suas ilhas de nascimento, é claro que o herdeiro seria o único com o privilégio de conhecer outras Ilhas ou até mesmo o Continente.
O guarda nos informou que o Bar da Lua era um lugar de classe e ficava no centro da cidade. Rapidamente me dirigi para a cidade, estava tão ansioso que nem me dei o prazer de apreciar o lugar diferente.
O Bar da Lua valia a sua fama, perguntamos mais algumas vezes até o encontrar, mas todos pareciam conhecer o lugar e quando o encontrei, percebi logo que era diferente dos da 8ª Ilha. Do lado de fora era grande e parecia ter quatro andares e já na entrada tive que passar por um guarda, percebi que mesmo sendo só um porteiro, não tinha menos força que Douglas e Hugo, ambos estando no pico do nível Especialista.
Já do lado de dentro, existiam sofás confortáveis, onde as putas se debruçam sobre os homens, sejam eles jovens ou velhos, eles bebiam de suas taças cheias de vinho em companhia das diversas drogas disponíveis a essa gente.
Mais a frente tinha um palco onde uma banda se apresentava, eu até gostei da música tocada pela banda quando fui até o homem do Bar, o Bar ficava do lado esquerdo sendo o balcão uma longa peça de mármore. Douglas e Hugo não se sentaram, eles fizeram o certo ficando atrás de mim, logo eu que não confiava em meu próprio sangue, obviamente não iria confiar em estranhos.
— O que vai querer?
— Hidromel.
O barman serviu o meu pedido depois de um tempo, mas agarrei sua mão antes que saísse e pedi o que realmente queria: — Quero conhecer a dona do Bar da Lua, diga que fui recomendado pela Camila!
O barman puxou seu braço me lançando um olhar afiado: — Aproveite seu hidromel, cliente! — Ele se afastou de mim e sussurrou alguma coisa para uma das vadias que estava com um cliente ao meu lado direito. Ela até mesmo parou de rir enquanto olhava em minha direção.
Com um sorriso em meu rosto, levantei minha bebida como saudação e tomei. Ela gentilmente se levantou, afastando o cliente, e me convidou para conhecer a dona.
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— Para onde vocês vão?
— Eu irei com John, Tim e Paty comprar mantimentos, um mês no mar gastou todos os nossos recursos. E você, Thomaz?
— Vou tentar relaxar e dormir um pouco.
— Tudo bem.
Depois de me despedir de Jack, fui atrás de Yuri discretamente, enquanto mudava minha aparência no caminho. Infelizmente não pude ouvir a conversa de Yuri com o guarda, naquele momento pensei em como as magias importavam na vida de um Leviatã.
Yuri seguiu para a Cidade e eu estava logo atrás, entramos no centro da cidade em algum momento, já era noite, mas como qualquer cidade, tudo estava agitado e movimentado. O nome Céu da cidade parecia ser do grande castelo no centro da cidade, muito maior que o da 8ª Ilha.
Observei Yuri entrar, junto com seus servos, em um lugar chamado Bar da Lua. Eu segui logo atrás, mas diferente de Yuri, eu não estava vestido ricamente.
O porteiro me barrou na porta e eu sorri para o seu rosto ranzinza: — Acho que tenho as qualificações para entrar, não é? — Levantei uma moeda de ouro para o guarda que arregalou os olhos, até que ele concordou com a minha entrada. Então joguei a moeda para ele.
Eu não iria passar por esse brutamonte se usasse uma moeda de prata, mas a moeda de ouro não era um simples suborno também. Significava que não só eu tinha dinheiro, como também estava no mesmo nível, ou maior, que todos os outros clientes.
Quando entrei, me sentei um pouco longe de Yuri que foi em direção ao homem do Bar. Uma linda garota ainda me serviu uma dose de cerveja e eu sorri. Provavelmente ela era uma bem inteligente já que todas as outras me olhavam com desprezo.
— Se sente ao meu lado.
— Sim, Jovem Mestre.
A garota se sentou ao meu lado, coloquei levemente meu braço pelo seu pescoço e sussurrei para ela: — Ver aquele homem com aqueles dois brutamontes? Vá até ele agora e me diga depois o que ele está falando, pode até ficar a vontade com aquele outro cliente ali. Essa é a sua primeira recompensa. Leve a bebida, eu não bebo.
Empurrei a moeda de ouro para o decote da menina, que quase teve os olhos pulando de suas órbitas quando viu o brilho do ouro. Eu sorri e observei a moça levando de volta a bebida e se aproximando daquele outro cliente que estava ao lado de Yuri.
Somente após uns minutos foi que a jovem cumprimentou Yuri, eu não estava preocupado que ela tivesse pensamentos estranhos, até mesmo porque uma moeda de ouro poderia ser o suficiente para uma pessoa viver bem por muito tempo.
Infelizmente não pude seguir Yuri quando a garota o levou escada acima, então chamei outra menina e pedi algo bom para comer com água enquanto apreciava a música da banda.
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A prostituta me guiou até o quarto andar, o segundo e terceiro andar eram quartos privados para clientes que queriam serviços especiais. Muito diferente dos outros andares, o quarto não tinha portas, era uma área livre com um bar e com uma área confortável do outro lado, tinha até mesmo um parapeito com uma vista pra cidade.
Levantei a mão para que Douglas e Hugo ficassem ali e segui com a vadia até o parapeito, onde finalmente encontrei quem eu queria. E ela era realmente linda, usava um vestido branco semi transparente, que revelava levemente o decote.
Seus longos cabelos loiros que chegavam até suas costas combinavam perfeitamente com seus olhos azuis, uma raridade junto a sua pele branca delicada, verdadeiramente muito bonita, diferente do que imaginei para uma cafetina. E ela ainda reinava no submundo dessa ilha e de algumas outras, jogando no lado dos Rebeldes e dos Continentais.
— Mestre Yuri, imagino.
— É uma honra que saiba meu nome, e o seu é?
—Turquesa. Preciso dizer que as notícias sobre o Mestre Yuri se espalharam por todas as ilhas a esse ponto.
— A fama persegue os fortes e obstinados, minha Lady.
—Então o que um homem tão obstinado e forte procura em meu Bar da Lua.
— Preciso de um mapa para o Sul com as informações completas sobre as ilhas e o sistema de identificação dos sulistas, também preciso de um contato para ter algum apoio. Isso não seria um problema, seria?
— Mestre Yuri está me pedindo algo extremamente perigoso. O que eu ganharia com tudo isso?
— O que acha de uma pedra de energia espiritual, Lady Turquesa deve conhecer sua raridade e seu valor de centenas de moedas de ouro — Eu estava sorrindo, mas por dentro estava xingando terrivelmente, no tesouro da família tinha conseguido apenas 8 pedras e para garantir o sucesso no meu ritual, usei até mesmo três ao invés de apenas uma. Contudo, esse era o valor para essas informações tão valiosas e exclusivas.
— Pode ser providenciado, no entanto, o contato que Mestre Yuri pede é complicado. Vou precisar de uma semana, a partir de amanhã, para organizar tudo adequadamente. Gostaria de convidar o Mestre Yuri e seus convidados para permanecerem em minha mansão fora da cidade.
“ISSO!” — Aceito humildemente o seu convite.
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Não demorou muito para Yuri descer com um sorriso largo e óbvio, eu abaixei a cabeça quando ele passou próximo a mim. E foi a minha vez de sorri quando vi a moça vindo em minha direção e sentando ao meu lado discretamente.
— O que você ouviu?
Ela abaixou a cabeça e basicamente murmurou: — O homem que acabou de sair veio até aqui através de uma tal de Camila, não sei quem é, mas parece conhecer a Dona. Quando o levei para ver a Dona, ele pediu um mapa para os Mares do Sul e informações exatas sobre as ilhas e a identificação usada pelos sulistas. Ele ainda quer um contato nos mares do Sul para ter uma ajuda quando chegar e prometeu uma pedra de energia espiritual para a Dona como pagamento, eu não sei o quê é isso.
— Qual foi a resposta da Dona?
— Ela concordou e pediu uma semana para arrumar tudo.
“Muito bem.” — Aqui está a sua recompensa, não gaste tudo, okay? Hihihi. — Coloquei mais duas moedas de ouro no decote da menina e saí dali, naquele momento não precisava mais saber o que Yuri iria fazer.
Mas antes de sair, olhei para o Bar da Lua e tive um pressentimento estranho, algo estava errado e eu não sabia o que era, meu pai sempre dizia que os maiores perigos são aqueles que vão além dos sentidos. Infelizmente já tinha espiado o bastante por uma noite.
Fui para outra hospedagem e cultivei pelo restante da noite, com o tempo, descobri que o cultivo profundo poderia substituir o sono, mas não por completo. Então ainda dormi algumas horas depois.
Acordei cedo no dia seguinte, pedi um prato de comida e fui embora em direção ao porto. Quando cheguei, Jack já estava me esperando sozinho.
— Onde está Yuri e os outros?
— Um de seus servos apareceu aqui mais cedo e disse que Yuri foi convidar alguém para conhecer a gente. Os outros estão na cozinha comendo.
— Quem ele vai trazer?
— Não sei, mas acredito que toda essa viagem foi por causa desse alguém.
— Tudo bem, você se cultivou?
— Sim, confesso que duvidei muito no início e levei muito tempo para me acalmar e ainda mais para colocar ordem em minha energia vital. Mas a melhoria chega a ser assombrosa.
Jack estava com uma carranca no rosto, e existia tantos motivos para isso quanto se podia imaginar, o mais óbvio era a diferença enorme entre os guerreiros cultivadores e os não cultivadores, para ser mais direto, anos ou décadas eram necessários para um guerreiro atingir um novo nível e nem era garantido, ainda sim eles tinham que treinar e lutar de forma constantes sem muitas esperanças.
Já os cultivadores tinham algo que beirava um milagre para os guerreiros; Certeza. Certeza de que quando o amanhã chegar, eles estarão mais fortes, possuindo esperanças de se libertarem das próprias fraquezas e de derrotar seus inimigos.
Em seguida, Jack deve ter pensado na lacuna descomunal ou muito além do imaginado entre aqueles no nível Grão Mestre, Mestre e os abaixo desse nível. O próprio Jack devia saber disso melhor do que ninguém, estando a um passo do pico do nível Especialista. O mais difícil deve ter sido o conhecimento de que anos seriam levados para superar a muralha entre os Especialistas e os Mestres. Para aqueles que não tinham um manual.
A diferença entre os Mestres e os Grão Mestres era de apenas uma barreira, os Mestres estavam no pico do Primeiro Estado e os Grão Mestres estavam oficialmente no Segundo Estado, apenas com isso podia-se dizer a diferença entre suas forças.
— Nós não podemos reclamar, capitão, entre muitos outros, já podemos ser considerados sortudos.
Jack fez uma expressão meio depressiva: — E desde de quando você lê mentes, garoto ? Podemos ficar ricos com isso.
— Posso imaginar o que te atormentou essa noite, também tenho esse hábito.
— Por isso que você sai no meio da madrugada?
— Hihihih, eu nunca tentei me esconder capitão, apenas que vocês nunca me perguntaram sobre.
— Sei, todos tem seus segredos e, inicialmente, todos têm problemas para se adaptar à vida nas águas. Mas você está certo, Thomaz, você está certo.
Jack ainda abaixou a cabeça e suspirou: — Você chegou a lutar com seu pai?
— Todos os anos, todos os meses, todas as semanas e todos os dias. Milhares de vezes eu apanhei daquele monstro, o mais engraçado é que quando você tem uma compreensão verdadeira da força desses poucos humanos, você fica até feliz de perder ou não morrer com um único tapa.
— Chega a ser irreal, ontem a noite eu fiz uma pequena estimativa da força de seu pai e usei toda a minha experiência em anos, não só como guerreiro, mas como capitão. O resultado foi que esses monstros têm o poder de um exército no corpo de um homem.
Quando Jack disse isso, ele estava sendo literal, um exército de mil homens talvez não tivesse garantia de ganhar essa luta. O detalhe estava na força mental desses poucos guerreiros para lutar durante horas e horas, com pessoas normais, sem derramar uma gota de suor, tamanho era o seu poder.
— De qualquer jeito, esqueça isso. Olhe, nosso cliente está chegando e está trazendo um convidado, seja legal.
Yuri chegou ao lado de uma linda mulher, com seus guardas logo atrás: — Que dia lindo esta capitão, muito bom para se fazer novas amizades, não é mesmo? Essa linda mulher, ao meu lado, é a Lady Turquesa. Ela vai conseguir o que precisamos para nossa viagem dentro de uma semana, até lá, vamos ficar em sua mansão fora da cidade.
Foi incrível como Yuri disse tantas informações importantes sem o mínimo de consideração, mas não importava. Jack sabia como lidar com essa gente, talvez melhor do que eu.
— Bom, tenho a honra de conhecer alguém tão importante quanto a Lady. Mestre Yuri já deve ter falado sobre mim e sobre a minha tripulação, mas uma semana é…
Jack não estava preocupado à toa, em uma semana já teríamos sido descobertos pelas forças policiais ou por um mercenário bem informado, nesse ponto, estaríamos em perigo mortal.
Só que a mulher sorriu e se aproximou sutilmente de Jack com uma leve inclinação: — O capitão Jack pode ficar despreocupado quanto a isso. Em minha mansão existe um espaço adequado para posicionar o seu navio, um navio muito bom sendo sincero. Podem ficar tranquilos, combinei com Mestre Yuri que todos terão privacidade e seu barco será vigiado e protegido todos os dias. Eu garanto.
Jack olhou para mim e eu acenei, então sorriu e apertou a mão de Turquesa: — Se é assim, acho que não posso recusar sua oferta.
— Claro que não. Meu capitão Jack.