Lumen Saga - Capítulo 15
A península da ordem é uma região equivalente a um reino dividido em cinco cidades. Na cidade central, está localizado o maior forte militar dos três grandes impérios, sendo o lugar mais seguro de todo o mundo conhecido: a capital da Ordem. Cercando a capital, encontram-se as quatro cidades que representam as quatro grandes ordens: a Ordem de Vagus, a Ordem de Solomon, a Ordem de Fulmenbour e a Ordem de Myrddin.
Cada cidade é rodeada por uma muralha e estão separadas por mais de cinco horas de viagem. Nos arredores das muralhas, estão pequenas cidades de comerciantes e camponeses. Foi em uma delas que Theo batalhou contra Sigmore há cinco dias.
Há nove horas, as duas carruagens da classe especial de Wispells, da ordem de Vagus, chegaram a Fulmenbour. Ivan foi atendido no hospital, mas logo foi liberado, afinal, usou mais esforço físico, tal que pode ser facilmente curado com algumas horas de sono.
Aryna, Rebecca e Antony tiveram que passar três horas sob observação médica devido à alta distribuição de energia. Antony criou mais de seis armas que exigiram muita força, Rebecca passou cinquenta minutos criando barreiras e Aryna gastou o dobro de energia dos outros dois com apenas três ataques.
Quanto a Theo teve que ficar internado. Além de gastar uma quantidade enorme de energia com a flecha de Ártemis — feitiço que ele usou involuntariamente —, ele também sofreu um enorme desgaste físico e mental.
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— Olha só! Que lindo! — Aryna exclamou babando em uma vitrine.
“Essas crianças do interior…” reclamou Paul.
— Olha só o tanto de joias neste colar! — exclamou em outra vitrine.
— Como faz para elas pararem? — reclamou Antony, vendo as duas garotas quererem comprar tudo que tivesse uma joia, nem que fosse um diamante falso.
— Preferia ficar no hospital… — Ivan resmungou tentando manter distância das duas garotas.
— Vocês tem que socializar — disse Paul. — Ainda mais o Tony. Como segundo filho do rei do norte, você deveria ter uma posição social bem alta…
— Isso é algo que me incomoda… — Ivan argumentou. — Você é um futuro rei e está brincando de… aventureiro.
— Grandes reis são aqueles que batalham, não os que ficam sentados — retrucou Antony. — Além de que, não posso me tornar rei sendo a sombra do meu irmão mais velho.
— Vai ter que batalhar para ser uma estrela ao lado do seu irmão — disse Paul. — Tentar se equiparar a um Titã não é uma tarefa difícil, mas sim impossível.
— Você não deveria incentivar?…
— Ele está certo — retrucou Ivan. — Um Titã é um cargo tão alto que nem mesmo mil desviantes de grau dez conseguiram se equiparar. Você é de grau um considerando suas limitações… Demorará mil anos para isso. E ainda estou sendo humilde.
— No problem. Que demore um milhão!
— Ele falou no idioma do império unido? — Ivan cochichou para Paul.
— Sim — respondeu Paul.
Mesmo com um idioma mundial, onde todos os impérios e reinos falam a mesma língua, cada região tem um idioma criado por seus exércitos. Na época de guerra, os soldados criaram um idioma específico para se comunicarem sem que seus adversários entendessem o que eles falavam. Com isso, em todos os reinos é ensinado dois idiomas: o idioma mundial e o nacional.
— Elas sumiram do meu campo de visão… — comentou Paul, tentando achar as duas meninas.
— Vi as duas entrando naquela loja — apontou Ivan, para uma loja à esquerda. — Entraram quando o bebê começou a berrar.
— Podem voltar para casa sozinhos? Vou ter que acompanhá-las.
— Sem problemas — retrucaram os dois.
— Mas antes… — disse Antony. — Você vem comigo — apontou para Ivan, por sua vez, este assentiu que não. — Vem sim. Visitaremos a oficina de Vulcanus.
— E o que te leva a crer que irei com você?
Oficina de Vulcanus
— 08:17 am —
Em Snegriya — país de origem de Ivan —, os anões são bastante cobiçados, já que são os melhores na criação de armas. Desde que Fulmenbour foi fundada e se tornou a principal fonte de comércio do continente inteiro, os anões começaram a migrar de todos os cantos do mundo, tornando a raça rara no continente gélido de Snegriya.
Após isso, o atual patriarca fundou, há dois mil anos, a oficina de Vulcanus (referência a uma crença cultural de Romerian, tal qual se refere ao deus do fogo e das forjas). Desde então, todos os nobres e caçadores desejam ter suas armas feitas pelos anões dessa oficina.
Por isso, após uma pequena chantagem, Antony conseguiu trazer Ivan até a fábrica. Afinal, como Ivan, que veio de uma tribo de caçadores, poderia fugir de uma reunião com o rei anão?
— Ei — chamou Antony, apontando para uma foice. — Faz o seu estilo, não?
— Até que sim — respondeu Ivan. — Mas não sei ainda… armas não são muito bem meu ponto forte.
— Entendo. De qualquer forma, não estamos aqui pelas armas. E sim pelo criador delas…
Caminhando até um elevador restrito no canto da loja, Antony e Ivan foram barrados por um segurança.
— Convidados? — indagou o segurança.
Antony coçou a garganta.
— Sou Antony Windsor, da família real Windsor, reino norte do grande império. Estou aqui para uma reunião com o patriarca…
“Ele está fingindo ser alguém formal?…” Ivan questionou-se.
— Isso é um encontro familiar? Outros dois membros da família Windsor chegaram há alguns minutos.
— Foi? — indagou surpreso. — Bom, podemos entrar?
— Claro, por aqui. — O segurança guiou os dois até o elevador onde mexeu em uma alavanca e logo uma engrenagem girou acima de suas cabeças, deslocando o pequeno compartimento e soltando-os para um túnel vertical.
Durante vinte metros, eles foram lançados sem nenhum apoio. No entanto, a cada vinte metros, uma onda de energia se encontrava com um cristal no chão do elevador, fazendo com que a queda fosse amortecida. Sendo o primeiro contato, Ivan se surpreendeu com a engenharia dos anões, só não estava mais surpreso com a cena que vislumbrou.
O primeiro motivo para os anões migrarem para Fulmenbour, não foi o comércio, mas sim algo no subsolo do perímetro: um meteoro. Cientistas ainda estudam, mas não adquiriram nenhuma teoria ou conclusão plausível. Enquanto isso, os anões usam os minérios — após tirarem a radiação cósmica — para criar suas mais poderosas armas.
Ao caírem por quase 300 metros com o elevador, eles pararam em um trilho que ligou a todos os pontos da indústria. Os trilhos levaram a plataforma do elevador até uma sala um tanto quanto distante do meteoro.
— Esta é a sala do Patriarca. Sugiro que tome cuidado e não mostre nervosismo na presença de vossa alteza — indicou o segurança.
— Sim, senhor — retrucou Ivan, antes que Antony comentasse algo.
Os dois saltaram da plataforma, que, por sua vez, deslocou-se e retornou pelo trilho em alta velocidade — em poucos segundos já havia desaparecido do campo de visão dos dois.
Eles caminharam até uma porta de madeira enorme de quase cinco metros.
— Se são anões, então por que ter algo tão grande? — Um comentário genuíno escapou da boca de Antony.
— Sei lá. Pergunte ao patriarca.
— Vou tentar me lembrar. Abre a porta aí.
— Não. Você quem veio falar com ele. Estou aqui apenas para lhe acompanhar.
Antony estalou a língua de insatisfação antes de abrir a porta. Ele realmente pensou que conseguiria fazer Ivan entrar antes dele.
Ao entrar, os ombros de Antony relaxaram e sua postura voltou a uma postura formal. Não pelo Patriarca, mas sim pelos parentes que estavam presentes: assim como Antony, um casal de gêmeos de cabelos castanhos próximos a um ruivo. Olhos verdes, ao contrário dos olhos castanhos de Antony. Ambos cobertos por uma túnica preta que escondia um traje militar por baixo.
O rapaz olhou para Antony, mas logo desviou o olhar para o chão, demonstrando um tanto quanto desconforto. A jovem moça olhou para seu irmão mais novo e logo um sorriso belo se abriu.
A primeira observação que Ivan fez foi olhar o brasão no ombro dos dois: uma coroa real, acompanhada pela árvore do mundo — Yggdrasil, na mitologia nórdica, cujo influencia na crença antiga do grande império.
Logo após notar o brasão da família imperial, Ivan levou a mão direita até seu peito esquerdo e curvou levemente sua coluna para a frente.
— Não precisa. — Candice corrigiu. A filha mais velha dos Windsor caminhou até Antony e o abraçou. — Pensei demorar a te ver, meu irmão. O que faz aqui?
— Vim falar com o senhor — disse Antony, respondendo sua irmã ao mesmo tempo que olhava diretamente para o Patriarca dos anões.
Aiden Bladesmith, o Patriarca ou então, rei dos anões, é um propriamente dito anão de cabelos ruivos como a brasa. Sua pele era ressecada e as mãos calejadas. Mesmo sendo o rei de sua espécie no geral, Aiden continuou sendo o melhor ferreiro na área das espadas. Por isso, por apenas um dia no mês, Aiden age como um rei de verdade, enquanto nos outros dias ele é apenas um ferreiro de espadas.
O motivo dos dois irmãos de Antony estarem ali era bastante simples: queriam apenas novas espadas para a tropa especializada de Windsor — para o grande mestre e seus aprendizes.
— Decidiram fazer um encontro familiar no meu escritório? — indagou Aiden, com sua voz rouca e lábios ressecados enquanto despejava saliva no ar. — O que tens a me dizer, jovem mestre Windsor?
Antony engoliu em seco antes de falar: — Vim pedir ao senhor para que me contrate.
William, o irmão mais velho de Antony, se confortou em sua cadeira e olhou para o chão em direção ao irmão mais novo. Candice também se interessou com as palavras de seu irmão, então buscou se escorar na bancada do rei anão.
Aiden, então, saltou de sua alta cadeira e caminhou com passos pequenos — literalmente — até Antony. Repousando a mão no queixo, o patriarca questionou:
— Por que eu deveria? Não, não. Primeiramente: qual seu desejo com isso? Seja sincero e talvez iremos para o segundo passado.
O segundo filho da casa Windsor trocou olhares com Candice e o patriarca. Engolindo a vergonha, Antony retrucou:
— Devido ao interescolar. Preciso de uma indicação para participar, então vim ao senhor…
— E por quê? Vagus tem mais de cem pequenas organizações para você tentar adentrar e receber créditos o suficiente para ser indicado…
— Tony é um suporte-ferreiro. — Ivan respondeu a Aiden. Desgrudando da parede e indo ao lado de seu colega, continuou: — Um ótimo suporte-ferreiro. No calor e pressão da batalha, ele consegue criar armas perfeitas de metal.
Aiden voltou seu olho para Antony.
“Que frio na barriga!” pensou Ivan. “Falar com alguém como um rei realmente não é fácil…”
— Exemplos — disse Aiden.
— Há pouco mais de dez anos, eu descobri meu atributo: manipulação de metais — retrucou Antony, gesticulando suas mãos. — Desde então, me aperfeiçoei para criar as mais perfeitas armas para as pessoas ao meu lado.
— Sou a prova de que são realmente perfeitas. Mesmo sendo de puro metal, são confortáveis, leves e poderosas. A sim. A lâmina é tão bem afiada que invejaria qualquer estagiário de Vulcanus.
Claro, Ivan estava exagerando em algumas palavras. No entanto, realmente é um fato. As armas criadas por Antony na luta contra o cristal foram perfeitas para Ivan e Theo, tanto que os dois sentiram-se tristes por perderem aquelas armas.
Uma espada longa foi gerada nas mãos de Antony. A lâmina fina, porém afiada e todos os detalhes feitos com perfeição chamaram atenção de Aiden. O patriarca dos anões arregalou seus olhos e franziu suas sobrancelhas grossas. No entanto, antes que o rei anão realizasse algo, William se levantou da cadeira e foi até Antony.
William pegou a espada das mãos de Antony, com isso, Ivan, que estava logo atrás, quase foi sufocado com uma gama densa de energia natural. Ficando levemente cansado apenas pelo contato e altamente intimidado, William se desculpou com o garoto ao perceber isso.
— Patriarca. Qual sua rocha mais difícil de ser cortada? — perguntou para Aiden.
O anão foi até uma prateleira e caçou uma pedra coberta por um domo de vidro.
— Ei, você. Salvador do jovem mestre. Você mesmo — chamou por Ivan. — Venha até aqui.
Em apenas quatro passos, o garoto chegou onde o patriarca estava. Absorvendo isso como uma alfinetada contra sua altura, Aiden ordenou bravo:
— Pegue aquela pedra! — Ao se virar, o rei anão deu um soco fraco no joelho de Ivan.
“O que eu… Foi os meus passos longos…?” questionou-se a si. “Caramba, isso é pesado.”
— Este é um fragmento do núcleo daquele meteoro. Quando caiu, ele estava aberto e apenas esse fragmento era solto. Até hoje, não desenvolvemos uma ferramenta capaz de quebrar essa pedra.
Ivan foi até a mesa de Aiden e deixou o fragmento do meteoro. Com a espada de Antony em mãos, William se posicionou: colocando a perna esquerda para trás e erguendo a espada para cima. Com um movimento tão ágil que surpreendeu até mesmo a William, um corte silencioso vagou da espada até a rocha.
Obviamente, não a quebrou, mas fez algo que antes ninguém havia efetuado: arrancou um fragmento de quase seis centímetros e dois milímetros de espessura.
William foi até o pedaço arrancado e o analisou: parecia ferver onde o corte atingiu. Uma zona vermelha de ferrugem foi das bordas até o centro do fragmento antes de se desfazer.
— O fragmento aparenta absorver a vibração… — comentou William.
— Sim. Ele absorve as vibrações e também a força… — disse Aiden, procurando pegar o cristal. — Hum… Realmente aparenta ser forte. Mas também foi empunhada por alguém forte.
— Mesmo assim — interrompeu William, balançando a espada. — A espada que o Tony fez em poucos segundos tem uma qualidade semelhante às espadas usadas por um tenente de infantaria… Imagine-o com seu treinamento. Não estou usando o sobrenome que não me pertence, mas indicando de cliente para produtor, Sor Aiden.
— Hum… — suspirou o patriarca. — Pirralhos, quem são seus mentores e a qual classe pertencem? De que academia.
— Academia Wispells, classe especial. Mentores: Amiah Neidr e Paul… Não sei pronunciar o sobrenome dele — respondeu Antony.
— Paul Llamarada. — William corrigiu.
“Paul Llamarada? O descendente dos druidas?” pensou Aiden, perplexo.
— Hum… Certo. Enviarei uma carta para seus mentores. Conversarei melhor com eles. Se é realmente tudo que diz ser, em uma semana estará me servindo.
— Muito obrigado, senhor!
— A. Uma última dúvida. Suas armas desaparecem caso fique sem energia para sustentá-las?
— Não — retrucou Antony. — Após serem criadas, minhas armas só desaparecem caso eu deseje isso. Elas também não enferrujam naturalmente, sendo necessário um feitiço de vibração ou algo que afete a idade do metal. Também não estou preso a criação de armas. Posso entregar pedras de metal para o senhor forjar e…
— Entendi. Dispensados.
Os dois rapazes despertaram rápido. Notando que, obviamente, os adultos tinham muita coisa para conversar.
Candice apertou as bochechas de Antony como despedida.
Ao saírem da sala, Antony suspirou enquanto Ivan ainda estava suando um pouco frio, vislumbrando de canto William.
Um guarda fora do escritório fechou as imensas portas.
— Sabia! Eu me esqueci de perguntar das portas… — comentou Antony.
— Sei que você usou uma de suas mais fortes criações para cortar a pedra… Pensei que não gostasse da sua família — comentou Aiden.
— Do que está falando? Eu apenas detesto o nome Windsor e todas as regras da minha família. Continuo amando o Tony como sendo meu irmão — retrucou.
— O Will apenas não consegue expressar essas coisas; por isso, é uma porta ambulante. Porém, patriarca — disse Candice, puxando a atenção para o assunto que falavam antes dos garotos chegarem. — Está disposto a apoiar a casa dos Windsor em caso de guerra?
— Isso acontecerá mesmo? — indagou Aiden.
— O império do Caos está atacando nossas bases militares sorrateiramente.
— Desculpe o pedido egoísta e sem critérios da minha irmã. Não estou falando como um príncipe.
Aiden se esforçou para subir em sua cadeira, mas assim que virou, William bateu as mãos na mesa e o encarou com um tom sério.
— Estou falando como general, e também vice-líder dos Titãs. Estamos a beira de uma guerra e queremos saber se vocês, os anões, continuarão ao nosso lado ou não.
— Todas as dores que aquele povo gerou no passado… Sem contar no conceito distorcido deles de justiça… Ainda tem dúvidas da minha lealdade, senhor Windsor?
— Ótimo — respondeu William.
— Perfeito! Agora… Podemos falar de economia? — Candice indagou alegre, batendo palmas uma vez.
“Mercenária…” foi a única palavra que Aiden e William conseguiram pensar para descrever Candice.