Lumen Saga - Capítulo 25
— Inexistência? — Theo arqueou as sobrancelhas, curioso.
— Uma névoa negra. Foi isso que você viu? — Alexander inclinou-se para frente, um brilho de excitação em seus olhos.
— É. Ela exalava uma sensação meio…
— Morta? Porque é isso que ela representa.
Os dois se acomodaram em cadeiras. Alexander procurou por um livro chamado “Non-esse: Viam Baal” (Inexistência: Caminho de Ball). A capa mostrava apenas uma gota de sangue caindo sobre o título, enquanto as letras douradas eram devoradas pela escuridão.
— Esse livro foi escrito por uma das mentes mais brilhantes sobre desviantes. Nalleth Zala, um cientista e também o antigo rei do que hoje chamamos de Império do Caos. Nalleth escreveu durante a revolta do mundo, uma guerra na qual todos se voltaram contra seu império.
— Por quê?
— Nalleth, apesar de ser um cientista brilhante, era excessivamente curioso. Os desviantes manipulam a ciência nas leis universais da physis. Mas Nalleth foi além. Ele começou a estudar magia, o oposto de nossa ciência. Algo proibido atualmente em todo o mundo, já que representa um perigo extremo. Quando descobriram, todos os reinos e impérios, humanos e não humanos, se uniram para lutar contra Nalleth.
— Então não foi contra o império dele, mas contra um único homem?
— Um homem que desafiou seis nações e prolongou uma guerra por cem anos, saindo vitorioso no final…
— Como? — Theo ficou intrigado.
— É exatamente o que você testemunhou. No livro, Nalleth descreve três maneiras de realizar magia: pela capacidade do conjurador, por meio de rituais e sacrifícios, e há uma terceira forma. Nalleth descobriu que a magia, assim como a ciência, utiliza alguma essência. Enquanto a ciência possui mais de cinco tipos de energia, a magia tem apenas uma substância. Ele a chamou de inexistência, anti-energia ou anti-vida. Aquilo que tudo o que toca, corrói…
— Então foi isso que causou o cataclismo?
— As informações se mantiveram apenas no campo científico, mas sim. Encontramos anti-existência nos destroços, então presumimos que tenha sido um ataque terrorista em vez de um mero erro de cálculo. Mas nunca vimos ninguém que tenha testemunhado a anti-existência em sua forma mais pura… Você chegou a ter contato com ela?
— Não. Fiquei apenas a observando corroer toda a natureza… Mas, se foi um ataque terrorista, por que ninguém está investigando e procurando os culpados? — questionou Theo.
— Mas estão — respondeu Alexander. — Todos os Titãs são líderes de alguma ordem ou legião, como William Windsor, que comanda vinte legiões, ou Lincoln Di Ham, que lidera a ordem de Lótus, entre outros. Todos têm um esquadrão especializado nesse caso. O problema é que o culpado agiu e desapareceu. Não podemos simplesmente invadir o Império do Caos acusando-os, porque também poderia ter sido algum culto seguidor de Nalleth que provocou tudo isso.
Theo estalou a língua.
— Então, como exatamente funciona a inexistência? Há alguma forma de se proteger dela? — questionou, curioso.
— Para a última pergunta: não. Funciona como uma energia, mas é interdimensional, além da nossa dimensão. Tudo que ela toca, destrói. Energia, matéria, mana, éter, vida… tudo pode ser dizimado por essa anti-energia. Ela se manifesta limitadamente em nosso mundo, criando apenas zonas chamadas de “regiões da anti-vida”.
— Já ouvi falar. São áreas protegidas mundialmente. Ninguém pode chegar perto… — Theo assentiu.
— Exatamente. A inexistência não se espalha, ela fica onde foi convocada. Mas, como você disse, possui esporos. Caçam fontes de energia, como os núcleos dos desviantes. Quando atingem um núcleo, acontece a “infecção da anti-vida”. Gradativamente, corroí o núcleo até a morte do desviante…
Theo suspirou e relaxou os ombros, desviando o olhar para o chão.
— Perdoe-me. Sei que é um assunto delicado para você, mas falei tudo isso muito alegremente. Peço mil perdões — lamentou Alexander.
— Não há necessidade — repreendeu Theo. — Você não teve culpa. O que passou, passou. Não há como trazer vidas de volta. O simples fato de estarem trabalhando nisso já me deixa um pouco melhor. Mudando de assunto para não deixar essa primeira impressão sombria entre nós dois… Dr. Alexander, você pesquisa sobre desviantes, certo? Por acaso já ouviu falar sobre uma marca verde em formato de flecha?
— Está buscando ressonância elementar? — concluiu Alexander. — Por que o interesse?
— Para tirar uma conclusão… Como funciona?
— Bem… ressonância elementar é quando o conjurador está em perfeita sintonia com seu elemento. Não depende de táticas, habilidades ou experiência de batalha, mas sim de sintonia. Quando um conjurador elementar está em perfeita sincronia, quando compreende tão bem o elemento que se torna um só… É como se houvesse um espírito para personificar um elemento, e o conjurador estivesse em sincronia existencial com esse ser.
— Isso é real? — Theo se ajeitou na cadeira.
Alexander estalou o pescoço e os dedos, demonstrando interesse como especialista e professor.
— Sim. São divididos em categorias: natural, artificial e primordial. A natural desperta naturalmente em um desviante após uma crise específica. Já a artificial é criada em laboratório, ilegal. A primordial… é como mencionei. Espírito, sintonia, etc. Todas representadas por uma marca que aparece espontaneamente no corpo. A que você mencionou é o “Vento da liberdade”, representando o norte.
Alexander mostrou quatro logos em seus documentos. Uma apontava para cima, como uma flecha indicando o norte, as outras indicavam as outras direções cardeais (sul, leste e oeste).
— Essas são as marcas do vento, divididas em quatro. Com uma marca primordial, mas, muitas vezes adotam características de seus usuários. Por que o interesse? — Alexander questionou novamente.
— Só curiosidade. Apenas vi algo sobre o assunto e queria saber de um especialista.
— Entendo. Theo, voltarei à pesquisa. Se quiser passar o tempo, irrite um pouco a Isabel. Ela precisa se distrair.
— Tudo bem.
Theo recostou a cabeça no encosto da cadeira, olhando para o teto. “Essa será uma nova dor de cabeça…”, pensou, levantando a mão esquerda ele a encarou. “Antes era o éter, agora isso. Esse corpo não para de surpreender.”
☽
Luanne atravessa um templo de mármore, situado no monte Celeste, o pico mais alto de Fulmenbour. O templo, deixado pelos antigos de Romerian, foi erguido para adoração da trindade celestial: Alunne, a lua; Ciel, o céu; e Surya, o sol.
Ao adentrar um cômodo por um arco de pedras mais escuras que o mármore, Luanne se depara com apenas três pessoas. Duas adolescentes de cabelos curtos e escuros, envoltas em vestidos pretos que cobrem cada centímetro de pele branca. Uma idosa, também vestida da mesma forma, aguarda Luanne junto a um altar.
— Sacerdotisa Luanne, faz muito tempo desde nossa última vez.
— De fato, sacerdotisa Mahina — respondeu Luanne. — Meninas — acenou para as jovens. — Estou com pressa. Posso usar o altar sozinha?
— Claro. Meninas, por favor, saiam.
Luanne se encaminhou para um altar diante de uma enorme janela de vidro. A luz das fases da lua se derrama em ouro, contrastando com o vidro azul transparente.
— Senhora da noite, com tua luz suave. Neste momento de pureza a brilhar, convido-te a visitar meu coração. Pelas estrelas cintilantes no vasto céu noturno, pelas marés que dançam em ritmo eterno e profundo — ela rezou, colocando a mão sobre uma pedra cinza de éter. — Com a pedra da lua em minhas mãos, eu te chamo. Pela canção da noite, que nossas almas se entrelacem. Que nosso encontro vá além do tempo e espaço…
— Luanne — uma voz feminina a chamou. — Ainda não é noite.
Abrindo os olhos, Luanne se viu em um plano escuro. O chão era coberto por uma fina camada de água, a lua refletindo na noite escura, obscurecida pelas nuvens cinzentas.
— Senhora da noite — curvou-se Luanne.
Uma sombra feminina, indo do mar aos céus, cobriu o ambiente. Permitindo apenas que a lua brilhasse mediante a própria criação.
— Deusa da lua, necessito dos seus conselhos…