Lumen Saga - Capítulo 26 –
— Um momento… — pediu, sua voz calma ecoando pelo vasto plano espiritual sem direção aparente. A dona daquela voz mergulhou nos pensamentos de Luanne. — Ah, sim, seu afilhado. Como ele está?
— Melhor agora. Usei a ametista lunar de éter que a senhora recomendou, agora o núcleo dele está entrando em harmonia.
— Entendi. Então, por que está pedindo ajuda em relação a ele?
— Ressonância elementar. Quando ele adormeceu para o Nirvana, eu notei a marca surgir em sua mão. Estava exalando um éter úmido e frio. Com certeza é a marca do vento norte… Conversei com o mentor dele, e aparentemente o Theo usou algum feitiço tão poderoso que causou uma ventania na floresta inteira…
— Compreendo. E o que deseja saber exatamente? A magnitude disso tudo?
— Exatamente. Qual o formato da marca? Teste o potencial, veja se há ligação com algum cardeal…
— Hm… — resmungou. — Só não sei até onde posso ir com ele… Tenho receio dele ser incapaz de acompanhar meus métodos…
— Por quê? Se ele for incapaz, quem está falhando será você. Luanne, minha filha. Você veio aqui apenas por… insegurança? Você não precisa necessariamente de mim, mas ainda acha isso. Por quê?
— Não sei — balbuciou. — Estou tão perdida com ele. Resolvemos um problema porém… Sempre aparece outro. Ele é assim desde criança. Não sei por onde começar…
— Desviantes problemáticos são os mais complexos, isso significa força. Igual a Amiah Neidr, o senhor de Chaos. Me recordo de quando vocês se conheceram… Ele estava tão sem rumo que não conseguia sequer respirar. Mas se lembra do que ele fez para superar isso? — indagou Alune.
Luanne ponderou por um momento até se lembrar do que aconteceu há oitenta anos.
— Passou o próprio limite batalhando contra aqueles vinte mil homens do reino Sul — respondeu Luanne.
— Está aí a resposta. Extrapole os limites e veja o ser que Araav criou.
— Extrapolar os limites, é? Obrigada pelo conselho! Inclusive — recordou-se. — Ele já começou a utilizar o codinome Lumen. Realmente não há problemas, né? Digo, ele utilizar o nome do seu filho. O que o mestre Lumen acharia disso?…
— Lumen não tem nada do que achar. Ele está morto, decidiu confiar nos homens e sacrificar a própria vida para salvá-los. E não, não há problemas. Meu filho foi o único homem que recebeu minha bênção, e como afilhado seu, não vejo problemas em herdar esse nome. Afinal, é apenas um nome para mim, jamais deixará de ser isso.
— Ainda não entendo seu ponto de vista, mas basta apenas obedecer. Mesmo que a senhora algum dia me leve à morte…
— Não irei. Voltando ao seu Theo… Force-o a utilizar tudo que conseguir extrair dessa marca. Quanto maior for a proficiência dele, a essência irá se apresentar melhor. Teste-o durante a noite também, quero ver um resultado…
— Senhora Alune…
— Dei permissão para pronunciar meu nome? — Seu tom de voz ficou sombrio. Luanne engoliu em seco, mas logo Alune gargalhou. — Estou apenas brincando. Está liberada, volte ao trabalho!
Luanne abriu os olhos e desceu do altar. Olhando as gravuras nas paredes, ilustrando batalhas antigas e mitos relacionados a Alune, Luanne bateu as mãos em seu rosto e continuou indo até a porta.
As três figuras de antes receberam Luanne novamente. Porém, antes que falasse algo, Luanne olhou para uma das duas garotas e ordenou: — Você! Virá comigo.
— Posso saber por quê? — indagou Mahina.
— Um favor para mim e Alune…
☽✪☾
Theo girava incansavelmente em uma cadeira de escritório. De olhos fechados, ele não ficava tonto, mas conseguia sentir tudo. Controlando a própria respiração, ele tentava se acalmar.
“Nalleth Zala. Chaos Empire. Marca, ressonância elementar. Limitação do núcleo, demônios… Por que estou me importando com coisas além do meu alcance? Por enquanto, só minhas limitações importam… O resto, deixe para a guarda. Talvez no futuro eu tente me juntar a eles…”
A imagem de uma jovem sem rosto surgiu na mente de Theo, abrindo uma reflexão para ele.
“Coisas que estão além de mim… Acho que isso me resume bem.”
— Para de girar, vai ficar tonto dessa forma — ordenou Luanne, parando bruscamente a cadeira. Theo foi jogado contra a cintura de sua madrinha.
— Você chegou… — murmurou Theo, tentando descartar a tontura momentânea.
— Sim, e já estamos saindo novamente. Está preparado?
— Não…
— Ótimo! Alex, vocês se deram bem?
— Sim. Conversamos um pouco sobre meus projetos. Ele é inteligente — respondeu Alexander.
— E até demais… Obrigado por tudo. Voltamos em breve. Vem, Theo.
Luanne tentou distrair a mente de Theo no caminho até as montanhas de Fulmenbour, mostrando pontos turísticos e contando mitos sobre a religião cultura — um assunto que ele ama.
Para os moradores de Fulmenbour, o conceito de ciência é absoluto. E se algo realmente acontece, deixa de ser “mágico” para ser algo “real”. Eles costumam carregar uma vida de trabalho e mais trabalho, sem descanso aparente apenas para descansarem no final do dia.
Para Luanne, eles carregam uma vida triste. Escravos de si próprios e de algumas cédulas. Obrigados a trabalhar para comprar alimento e algo que é a base da vida: água. E o maior absurdo de todos para a sacerdotisa; pagar por conhecimento.
Água é a base e razão de existir vida, e conhecimento é o que torna a vida humana uma existência tão complexa. Então por que eles se matariam, trabalhando durante horas e mais horas apenas para… viver?
Infelizmente essa é a rotina da humanidade, porém, muito mais presente na cidade comercial de Fulmenbour. Theo entendeu cada palavra de sua madrinha e concordou com tudo. Afinal, sua criação sempre foi contra isso: Sir Ethan é um duque que busca sempre menos esforço humano e mais prosperidade.
Uma das medidas que o duque achou, foi o uso da tecnologia. Num mundo onde todos estavam acostumados com o trabalho manual, Ethan, junto dos anões, tentou trazer a tecnologia para avançar a humanidade na totalidade. Após Ethan, vários duques e reis também abraçaram a ideia, levando as máquinas de mana criadas pelo físico, inventor e engenheiro Christopher Laste.
Contudo, não podia dar mais errado. Num dia abaixo de um céu sem nuvens, todas as máquinas nos dois continentes aliados explodiram simultaneamente às 10:30 da manhã. Naquele dia, o mundo inteiro deu um passo atrás na confiança que tinham na tecnologia.
Conforme caminhavam até as montanhas, um brilho tomou a retina de Theo. O templo do sol ficava num ponto onde o sol iluminava no meio-dia e refletia diretamente na cidade. Porém, o que Theo menos esperava era que sua própria madrinha o estava levando para algo exaustivo…
Acompanhando o templo do céu, sol e lua, estavam várias montanhas suspensas pela região. De difícil acesso, era necessário subir as escadas, já que as carruagens não conseguiam chegar tão próximo. Nessas mesmas montanhas, estavam os mosteiros de cada religião (para cada membro da trindade citada, existe uma religião devota).
Vendo a maior montanha de Fulmenbour e sabendo o caminho até o mosteiro de Alunne, Luanne se virou para seu afilhado e apenas disse: — Sua missão é chegar ao mosteiro de Alunne sem utilizar seu atributo vento. Terá de subir degrau por degrau até o topo… Te vejo lá em cima!
— Madrinha, espere!
— Achou que eu só ia te ajudar com o amplificador e deixar você ir embora? Errado. Já conversei com seus mentores, e você só voltará para Vagus quando eu te ajudar com tudo que for necessário. Se quiser mais respostas, suba a escada! — incentivou, desaparecendo subitamente do campo de visão de Theo.
— Desgraçada! — amaldiçoou. — É sério que terei de subir tudo isso? — resmungou, encarando toda aquela escadaria ofuscada pela névoa densa.