Lumen Saga - Capítulo 27
Uma gota de suor se misturou com as pedras da escadaria. As pessoas fofocam nas beiradas enquanto Theo sobe degrau por degrau. Já se passaram horas, tanto tempo que ele decidiu abandonar a contagem após cinco minutos. Permitiu a si, por um momento, o luxo de aproveitar o ar fresco, distante de qualquer usina, antes que a pressão atmosférica afetasse sua respiração.
Suas pernas já fraquejaram inúmeras vezes, porém, nunca parou para descansar. A maneira que achou para distrair sua mente foi observar a natureza em seus mínimos detalhes.
“Esse lugar…” refletiu. “A escadaria me lembra bastante uma que estava no monte Tiānshān… — a cordilheira do império Xin —… todos aqui vestem uma roupa mais leve, solta. Eles se parecem com o povo de Zhuang…”
Theo finalmente parou. Porém, somente por um instante. O suficiente para alongar as costas e os joelhos, para então voltar a subir a escadaria.
“Mosteiro de Alunne… Eu sei lá onde fica isso. Mas, Alunne é a lua, não? É sério que é aquele lugar?” Questionou-se, observando de longe um mosteiro sob montanhas suspensas. Um enorme templo greco-romano com uma lua na entrada. No lado oposto, está um templo semelhante, porém com um sol ao invés da lua.
Theo reclamou consigo, desistindo e jogando os braços para baixo. Recebendo uma lufada de ar na cara, ele se encorajou.
O motivo da desistência? O caminho que leva ao mosteiro está, pelo menos, a cem metros abaixo de Theo. Ou seja, ele subiu mais do que deveria. Após descer tudo, começou a gargalhar sozinho para o alto. O desânimo era tão notável que ele apenas queria se jogar no chão e descansar. Ao chegar no caminho que o levaria até o templo de Alunne, Theo se deparou com uma ponte de cinquenta metros.
— Não é o suficiente — murmurou.
Pisando fortemente na ponte de madeira, continuou a caminhar enquanto tentava vencer o cansaço próprio.
Mosteiro de Alunne, “Lunar temple”
07:38 PM
Escorado no muro natural de rochas, Theo se esforçava para chegar até a entrada principal. Um portão formado por um arco, de mármore e altura significativa. A escadaria em que Theo se encontrava agora ficava em uma espécie de gruta, iluminada apenas por algumas tochas a cada dez metros.
Sentindo finalmente a luz do sol tocar sua pele, Theo utilizou suas últimas forças para alcançar o portão o mais rápido possível. Ele foi banhado pelos últimos raios de luz solar. Uma lágrima de exaustão e alegria deslizou por seu rosto.
— Pensei que demoraria mais tempo para te ver. Mas, já que está aqui… Vamos começar — disse Luanne, caminhando até seu afilhado. As pernas de Theo fraquejaram naquele momento, quase fazendo-o cair no chão. — Não está acostumado a fazer algo tão exaustivo quanto subir uma imensa escadaria?
— Não.
— Já imaginava. O que você pensou enquanto subia? O que concluiu? — indagou Luanne.
Theo a encarou de forma quase cômica. — Era para eu ter pensado em algo? — retrucou.
Pasma, Luanne desanimou totalmente. — Sim, era… — respondeu.
— Bom… aprendi a ter paciência e controlar minha ansiedade, conta?
— Hum… Sim, serve — retrucou Luanne, caminhando até Theo para abraçá-lo.
Toda a fraqueza física de Theo foi se recuperando com o abraço de Luanne. Sem perceber, sua madrinha realizou um compartilhamento de energia consigo. Em outras palavras, ao tocar em Theo, Luanne fez uma ligação covalente com seu afilhado, recompondo suas energias e força física.
“Puro… um abraço tão puro!” pensou Theo. “É como se ela não tivesse nenhum arrependimento.”
Luanne bagunçou o cabelo de Theo, descendo o braço até o ombro dele, conduzindo-o por um pátio de pedras brancas.
— Theo. Mostre-me até onde você consegue chegar com o seu atributo — disse Luanne.
— Como assim?
— Eu regenerei seu vigor, então está no seu cem por cento agora. Sir Amiah me passou todos os seus treinamentos, então me baseei no que me foi recomendado.
— Mas ele sequer me treinou direito…
— O que ele já fez?
— Hm… Me ajudou a desbloquear o chakra do terceiro olho, somente.
“E ele já iniciou o processo… Agora é só questão de tempo”, pensou Luanne, coçando a garganta. — Certo. Theo, sabe o porquê você ficou aquele tempo meditando, certo?
— Não foi para equilibrar minhas emoções e núcleo? — indagou Theo, com a cabeça inclinada.
— Sim. Contudo, também por outro motivo.
Soltando Theo, ela avançou alguns passos e ficou parada. Abrindo os braços e respirando profundamente, uma linha de energia vermelha cobriu todo seu corpo. Theo surpreendeu-se, pois, mesmo sendo uma fina camada, a energia que a envolvia seria equivalente a um núcleo de energia.
— Isso é o que chamamos de “essência inicial”. Uma forma quase perfeita de manipular a energia do nosso núcleo e expô-la para fora do corpo, como uma espécie de aura. É isso que eu quero ver você desenvolver no momento.
Uma gota de suor escorreu pelo rosto de Theo.
— De início, preciso entender seu limite — disse Luanne. — Claro, antes de entender sua essência. Ao terminar aqui, poderemos avançar para lá. — Apontou para um enorme portão branco, acompanhado por uma enorme lua.
— Aquilo é…
— O portão para a lua. Atrás dele, está o lugar que te levará à melhor versão de si. Porém, para isso, antes deve entender o você de agora. Então…
A fina camada desapareceu com Luanne, que apareceu agilmente atrás de Theo e dobrou seu joelho, fazendo-o cair sentado.
— Crie um vórtice na sua mão e segure o quanto conseguir. E claro, ao mesmo tempo, medite.
— Quê?
— Comece. Apenas veja o resultado.
Theo abriu a boca para argumentar, porém, percebeu a perda de tempo. Se tentasse rebater, iria perder para sua madrinha e perderia alguns minutos de evolução.
Ele sentou-se no chão, de pernas cruzadas, com a mão esquerda segurando o joelho e a outra com a palma virada para o céu. Na mão direita, ele gerou um vórtice de vento fraco. Theo fechou os olhos e entrou em meditação profunda.
✳
Paul folheia alguns documentos na mesa enquanto seu cigarro está prestes a acabar. Ele bate na apostila e joga a cadeira para trás. Expelindo a fumaça para fora, Paul caminha até Amiah, que estava meditando num sofá. Observando seu colega no momento de concentração, Paul pressiona o cigarro contra a testa de Amiah.
— Isso realmente funciona bem — comenta Paul, vendo o cigarro se desintegrar ao tocar em Amiah. Ele dá um passo para trás e continua: — Ouve aqui, estrangeiro.
— Algum problema? — pergunta Amiah, franzindo a testa e abrindo os olhos.
— Então… Já faz mais de uma semana desde que viramos mentores?
— É, acho que sim.
— Até agora, não agimos como tal.
— Eu agi. Você só deu uma surra neles.
— Não foi bem uma surra. Técnica… Mas o ponto é: eles com certeza vão querer participar do intercolegial daqui a dois meses. Somente alguém de grau sete ou superior pode indicar, e só pode ser um…
— Sim. O rapaz dos Windsor já procurou sua indicação, menos uma preocupação. Você quer saber dos outros, certo?
— Exato. Podemos indicar dois, com Antony pedindo a indicação do patriarca dos Anões… dois vão ficar de fora.
— Tire o Theo da lista.
— Vai indicá-lo?
— Não. Mas, considerando a personalidade dele, vai querer conseguir a indicação sozinho. Então sobram apenas Ivan, Rebecca e Aryna.
— Treinarei e indicarei Rebecca. Entendo como é ter uma habilidade inata e sentir que é inútil. Acho que conseguirei me dar bem com ela.
— Entendido. Vou trabalhar com o Ivan, então. Fica faltando a Aryna…
— Vou cuidar dela — diz Luanne, surgindo no banco ao lado.
Paul dá um pequeno salto para trás e pergunta:
— Você não estava com Theo? — gaguejou.
— Reflexo lunar — responde ela. — Estou com Theo agora, mas projetei um pouco da minha consciência aqui para ver o que estavam fazendo.
— Intrusa… é mais uma violação de privacidade… — diz Amiah.
— Não é nada disso! Só estou compartilhando informações com os mentores do meu afilhado. Bom, Amiah já explicou tudo. Theo quer encontrar sua indicação sozinho. Por isso, vou cuidar da namorada dele.
— Eles namoram? — Paul cochichou para Amiah.
— Não — respondeu Amiah.
Com um sorriso desajeitado, Luanne continua:
— Pelo que vi dela, a garota tem o núcleo teórico de energia infinita, então… Quero fazer uns testes!
— Vai envolver dissecação? — indagou Amiah. Por sua vez, a reação de Paul foi arregalar os olhos.
— Claro que não! — exclamou Luanne, em negação. — O sirius que eles trouxeram já é o suficiente para testes…
— Então, está autorizada — interrompeu.
— Obrigada! — agradeceu. — Por enquanto, retornarei ao mosteiro. Até mais, professores — se despedindo, o reflexo de Luanne desaparece sem deixar rastros.
— Você tem certeza? — perguntou Paul. — Pelo que sei, ela é um pouco maluca…
Se alongando, Amiah intervem: — Questione os métodos dela, mas não os resultados. Luanne é responsável pela criação de diversos monstros desviantes…
— Eu sei, eu sei. Mesmo assim, não consigo confiar nela tão facilmente quanto vocês. Não depois do que ela fez com os druidas.
— É melhor irmos. O tempo não espera só porque estamos sentados. — Indo até a porta do comodo, Amiah ignora as preocupações de Paul. — Tenho que falar logo o que tenho em mente para o rapaz, senão esqueço e já era. Até — despediu-se, com um aceno de dedos enquanto saia do escritório.
Paul acende outro cigarro. Olhando para Fulmenbour pela janela, ele esmaga o cigarro com a mão junto de uma face de insatisfação.
— Hora de trabalhar — murmurou.